sábado, 24 de março de 2018

Facebook – a comunicação que ameaça

A notícia já corre há alguns dias e revela que o Facebook, ou feicebuque como o meu amigo JNB gosta de escrever, tratou de fazer batota e começou a explorar o exibicionismo dos seus utilizadores e a segmentá-los ou arrumá-los por perfis etários, psicológicos, económicos, culturais e outros. Assim, construiu uma monumental base de dados com milhões de registos de grande valor o que levou o deslumbrado Mark Zuckerberg, o criador do Facebook, a vender essas informações privadas a uma tal Cambridge Analytica.
Os efeitos sociais dos mass media já eram bem conhecidos desde finais da primeira metade do século XX, através dos trabalhos de Paul Lazarsfeld e do casal Lang, que estudaram os efeitos das notícias sobre os consumidores e sobre os eleitores, isto é, sobre o consumo e sobre o voto. Hitler e a sua equipa também conheceram essas teorias de manipulação das decisões das pessoas e o canadiano Marshall McLuhan veio dizer que, sob a pressão dos mass media, o mundo se tinha transformado numa aldeia, daí nascendo o conceito de aldeia global.
Com a televisão, com a internet e com as redes sociais, o problema aprofundou-se. É agora possível definir os públicos-alvo com grande precisão e ser mais directo e mais eficaz na transmissão de mensagens comerciais ou políticas, canalizando a mensagem para os alvos preferenciais, se necessário através das fake news ou as notícias produzidas expressamente para produzir certos efeitos, que são tão comuns em Portugal, sobretudo nas fugas ao segredo de justiça que condenam qualquer cidadão perante a opinião pública, antes do julgamento em tribunal.
Assim, a Facebok e a sua associada Cambridge Analytica trataram de manipular os perfis dos seus utilizadores para uso publicitário e eleitoral e, segundo parece, foi daí que resultaram as surpresas eleitorais que deram a vitória ao Brexit e a Donald Trump. O assunto é muito sério porque é um enorme perigo para a paz e para a convivência democrática, tendo sido retratado na capa da edição de hoje do Der Spiegel.
Bem pode Mark Zuckerberg pedir desculpas, mas o facto é que o nosso modo de vida está ameaçado.

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