terça-feira, 20 de março de 2018

Um país com demasiados Felicianos

É com muita mágoa que escrevo sobre a inusitada violência que se abateu sobre um Feliciano – é esse o título escolhido pelo jornal i – pelo que aqui declaro, que não é meu propósito atacá-lo pessoalmente, nem alinhar com os seus companheiros de partido que o espremeram, embora alguns deles sejam tão Felicianos quanto o Barreiras Duarte do Bombarral.
Um Feliciano não incomoda ninguém nem tem expressão estatística, mas o facto preocupante é que temos demasiados Felicianos no nosso país, isto é, gente que desistiu de estudar e de aprender, que optou pelo facilitismo, que se encostou ao oportunismo e que se tornou parasita da vida político-partidária, tratando da sua vidinha em vez de tratar do interesse público. São um tipo especial de xico-espertos sem pudor nem vergonha, que procuram uns títulos académicos para decorar o seu nome e disfarçar a sua ignorante pequenez, que não têm outro passado que não sejam os cargos que os compadrios da política lhe trouxeram, nem outra actividade que vá para além do uso e abuso das vigarices, das mentiras e dos truques.
Os Felicianos procuram escolas de segunda ou terceira categoria para sacar um qualquer grau académico que lhes dê importância social, não frequentam aulas e desconhecem o mérito resultante do valor do trabalho metódico e da humildade da aprendizagem. Fazem exames ao domingo, requerem indevidas equivalências, escapam-se aos exames e obtém generosas licenciaturas, como se viu com aquela enorme quantidade de doutores em Protecção Civil, certificados em Castelo Branco. Apesar de tudo isso, não abdicam de ser reconhecidos como o Doutor Feliciano e não tremem nem se envergonham por isso, com tantas vezes se viu com esse Feliciano de referência que continua a ser Miguel Relvas. São demasiados os Felicianos que optaram por se comportar como verdadeiros travestis académicos, fazendo-se passar por engenheiros, catedráticos, licenciados, mestres, doutores e visiting scholars.
Almada Negreiros no seu famoso Manifesto Anti-Dantas escreveu que “uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi”. Será que podemos plagiar Almada e imaginar um Manifesto Anti-Felicianos?

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