domingo, 29 de abril de 2018

A arquitectura é inovação e é polémica

A SNCF possui alguns terrenos disponíveis no centro da cidade de Toulouse pelo que decidiu convidar arquitectos e projectistas para apresentarem um projecto para a ocupação daquele espaço. O venceder do concurso foi Daniel Libeskind, um arquitecto americano de origem polaca, que apresentou uma proposta para a construção de um arranha-céus com 150 metros de altura e com 40 andares, a ocupar por escritórios, lojas e uma centena de residências, além de um restaurante panorâmico e um hotel da cadeia Hilton. O edifício foi de imediato baptizado como a Torre Occitania, em homenagem a esta região administrativa do sueste da França.
O projecto destina-se à transformação do centro da cidade e assenta na transformação da actual estação ferroviária de Toulouse-Matabiau num grande centro multimodal, que racionalize as funções ferroviárias com outras funções urbanas e ficará integrado no espaço urbano do Canal do Midi, que a UNESCO classificou como Património da Humanidade.
A área total de construção será de 30 mil m2 num terreno de 2.200m2 e as fachadas serão de vidro, com uma sucessão de terraços em cada andar que formarão uma fila vegetal a envolver o edifício.
A cidade de Toulouse é conhecida pelas suas ruas históricas e planas e, por isso, a construção deste edifício confronta-se com um movimento de oposição denominado “Non au gratte-ciel de Toulouse, collectif pour un urbanisme citoyen”, que tem como lema “Tour d’Occitanie: non merci!”. Os promotores do projecto querem começar a obra em 2019 para que possa ser inaugurada em 2022, mas os  oponentes contestam o projecto pela sua altura e por não ter sido democraticamente discutido com a população que vai ser afectada no seu modo de vida por esta obra. Hoje, o jornal Midi Libre de Montpellier edita um caderno especial sobre este projecto que, por ser inovador, também é polémico.

sábado, 28 de abril de 2018

A paz que se deseja na península coreana

Há poucos meses o mundo assistia preocupado à realização de testes nucleares e ao ensaio de mísseis de médio e longo alcance norte-coreanos, sempre acompanhados pelos ameaçadores discursos de Kim Jong-un, ao mesmo tempo que via Donald Trump responder àquela ameaça com o envio de porta-aviões para os mares da Coreia e com a promessa de “fogo e fúria”, em apoio do seu aliado sul-coreano Moon Jae-in.
Porém, no passado mês de Fevereiro vieram os Jogos Olímpicos de Inverno realizados em PyeongChang e a aproximação entre as duas Coreias começou a acontecer quando na cerimónia de abertura as equipas dos dois países desfilaram sob a mesma bandeira. Tal como acontecera noutros locais e noutras circunstâncias, a diplomacia desportiva deu frutos e o facto é que, dois meses depois, os presidentes Moon Jae-in e Kim Jong-un se encontraram na passada sexta-feira na Zona Desmilitarizada da Coreia. 
Desde que em 1953 se chegou ao cessar-fogo na guerra civil que dividiu a península coreana, este foi apenas o terceiro encontro entre os dois países e o primeiro ao mais alto nível. Segundo refere a imprensa e as televisões mostraram, o encontro começou com um longo aperto de mão entre Moon e Kim e terminou com um abraço caloroso. Entre esses gestos houve muita cordialidade e humor e, sobretudo, a assinatura de um acordo em que se abriu uma nova era de paz e de negociações para o início da desnuclearização da península da Coreia.  
Não é preciso ser especialista nestes assuntos para compreender a importância deste encontro para as duas Coreias e para o mundo, depois de 65 anos de tensão e de consumo de recursos e de energias que melhor teriam sido utilizados para promover o bem-estar dos coreanos do norte e do sul.
A China e os Estados Unidos que também combateram na guerra de 1950 a 1953, aplaudiram este encontro e o mundo suspira de alívio ao ver que, se a paz é possível na Coreia, também é possível na Síria e em todas as coreias e sírias que há pelo mundo.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Macron ou um novo Marquês de Lafayette

O Presidente Emmanuel Macron acaba de fazer uma visita oficial aos Estados Unidos e, de acordo com as imagens que foram divulgadas pelas agências noticiosas, o Presidente Donald Trump recebeu-o com grande proximidade e simpatia.
Não admira esta paixão repentina. O Donald precisa de ter amigos e nada melhor do que um compatriota do Marquês de Lafayette, o francês que foi um dos braços direitos de George Washington na Revolução Americana, enquanto com esta visita o Emmanuel aproveita esta oportunidade para brilhar, mesmo que tenha que esquecer o que há tempos disse do Donald quando ele denunciou os acordos de Paris. É a realpolitik e o preço foi apenas o lançamento de uns mísseis contra a Síria.
Naturalmente, o Donald e o Emmanuel foram as vedetas desta visita oficial e abraçaram-se, beijaram-se e apareceram em público de mãozinha dada, como hoje mostra a edição do The Independent. O diário The Times escolheu para título "La grande séduction" e escreveu-o em francês. Nem a Melania, nem a Brigitte, lhes chegaram aos calcanhares, apesar de terem aparecido exuberantes, com vestimentas novas e do melhor que os mais famosos costureiros produzem.
Os dois presidentes têm pouco em comum, mas cada um deles serviu-se do outro. Depois do apagado François Hollande, a França tem agora um Macron inteligente e ambicioso a querer liderar a Europa, embora não pareça que os franceses gostem desta amizade. Vamos agora esperar para ver como é que os parceiros europeus de Macron e a própria opinião pública francesa vão reagir a esta sua inesperada atracção pelo trumpismo.

Viva o 25 de Abril e a nossa liberdade

A poesia está na rua por Maria Helena Vieira da Silva
Perfazem-se hoje 44 anos sobre “a madrugada que eu esperava” e o “dia inicial inteiro e limpo, onde emergimos da noite e do silêncio”, como escreveu Sophia de Mello Breyner, um dia que foi recebido com muito entusiasmo e alegria por milhões de portugueses e foi aplaudido pela comunidade internacional.
Depois de um longo consulado de isolamento internacional, de um regime autoritário que perseguia os cidadãos e de uma guerra que trouxe dor e sofrimento a muita gente e deixou marcas profundas na sociedade, o país acordou de um sono profundo e de um enorme pesadelo. Desde então Portugal tem caminhado em frente, por vezes com alguma turbulência, mas sempre amarrado aos ideais da liberdade e da democracia que conquistara em 1974.
Passados 44 anos há que reconhecer que "as portas que Abril abriu", segundo a inspirada expressão de José Carlos Ary dos Santos, tudo mudaram e quase tudo mudaram para melhor. Tem sido um tempo de constante mudança e de muito progresso. Os portugueses têm sabido acompanhar os ventos da História e absorveram muitas das conquistas civilizacionais da Humanidade, sobretudo na saúde, na educação, na cultura e, de uma forma geral, na qualidade de vida.
Naturalmente, há muito para fazer e a lista das coisas por fazer é tão grande que nem me atrevo a enunciá-la aqui, embora saliente que me merecem mais atenção a segurança e a protecção das pessoas, o envelhecimento do país, a desertificação do interior, a defesa da natureza e do ambiente, a melhoria na saúde e na educação e a urgente necessidade de corrigir a justiça-espectáculo em que poucos acreditam.
Numa Europa de nações e de hegemonias regionais que se atropelam, apesar de todas as contrariedades que nos afectam enquanto país pequeno e periférico, os portugueses têm sabido conquistar um espaço de reconhecimento que só foi possível com a Liberdade e a Democracia que o 25 de Abril nos trouxe.
Por isso, comemoremos o 25 de Abril como um marco indelével da nossa História.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Macau sob os olhares atentos da América

Os americanos gostam de se meter em tudo o que se passa no mundo, como se tivessem a obrigação de o regulamentar e de o policiar ou, dito de outra maneira, entendem que o que é bom para a América é bom para o mundo. Para justificar essa ideia, a edição do hojemacau apresenta na sua capa a imponente fachada das ruinas do Colégio de S. Paulo, com a Estátua da Liberdade a espreitar...
Isto vem a propósito do mais recente relatório sobre os direitos humanos no mundo divulgado pelo Departamento de Estado norte-americano, que aponta aoterritório de Macau alguns problemas de direitos humanos, nomeadamente algumas restrições à liberdade de imprensa e à liberdade na vida académica, certas limitações na capacidade política dos cidadãos e, ainda, sobre tráfico humano.
O chefe do executivo macaense Fernando Chui Sai rejeitou os comentários contidos no referido relatório que classificou de “irresponsáveis” e afirmou que os asuntos nele tratados são “assuntos internos da China”.
Segundo o governo de Macau, nos termos da Constituição e da Lei Básica, estão garantidos ”os amplos direitos e liberdades, gozados pela população da RAEM”, mas em Washington há perspectivas diferentes. Um dos aspectos focados refere-se à autocensura dos jornalistas, mas esse é um problema universal dos mass media, isto é, o chamado jornalista independente tende a desaparecer para ser substituido por quem satisfaça a vontade do patrão ou do patrocinador.
O Departamento de Estado também refere que os académicos macaenses têm sido desencorajados ou impedidos de estudar ou falar sobre tópicos controversos relacionados com a China e salienta as limitações à participação política dos cidadãos. Outros aspectos citados no relatório são as desigualdades salariais entre homens e mulheres e a vulnerabilidade dos mais jovens e dos migrantes ao trabalho forçado e à prostituição. Porém, apesar das críticas, o documento saúda a atitude do governo de Macau relativamente a investigações feitas por organizações locais ou internacionais, sustentando que “operam sem restrições” e que, “na maioria das vezes, as autoridades cooperam e reagem de forma apropriada às suas opiniões”.

domingo, 22 de abril de 2018

A enorme insegurança pública no Brasil

Sob o título E agora, Brasil?, o diário Folha de S. Paulo iniciou ontem uma série de grandes reportagens sobre temas importantes para a sociedade brasileira, em que apresenta estatísticas, diagnósticos e propostas para reflexão dos seus leitores e da sociedade brasileira.
A primeira dessas reportagens é excelente, versou o tema da segurança pública e essa prioridade justifica-se: o Brasil é hoje o país com o maior número de homicídios do mundo e em 2016 foram contabilizadas 61.283 mortes, que é um número próximo da média anual de mortos na guerra civil da Síria. A violência e o desemprego constituem actualmente duas das maiores preocupações dos brasileiros, mas também das autoridades que, para atenuar o problema, se decidiram desde 16 de Fevereiro por uma intervenção federal na área da segurança pública e do combate à violência e à criminalidade no Estado do Rio de Janeiro.
O Brasil é reconhecido como um recordista mundial de mortes violentas e sete pessoas são assassinadas em cada hora. A taxa média brasileira de homicídios por grupo de 100 mil habitantes chegou a 29,7 em 2016, que é praticamente o triplo do padrão considerado aceitável no mundo, mas esse índice não é uniformemente distribuído. As enormes assimetrias regionais brasileiras também se verificam nos índices de criminalidade, porque enquanto no Estado de S. Paulo se verificam cerca de 10 homicídios por 100 mil habitantes, no Estado de Sergipe, no outro extremo do Brasil, ocorreram 64 mortes por 100 mil pessoas em 2016.
O Brasil também está entre os países com menor taxa de esclarecimento dos homicídios o que significa impunidade, por falta ou por ineficiência das investigações policiais. Em média, apenas são esclarecidos cerca de 15% dos assassinatos que acontecem no país, enquanto esses índices atingem números bem diferentes no Reino Unido (90%), na França (80%), nos Estados Unidos (65%) e na Argentina ( 45%).
Perante este quadro, entre outras interrogações, o jornal pergunta: investir nas polícias ou na redução das desigualdades socio-económicas brasileiras?
Daqui do outro lado do Atlântico observamos o Brasil a que nos ligam tantos afectos e não deixamos de ficar preocupados nem de torcer para que a situação social melhore.

sábado, 21 de abril de 2018

Sobre a língua portuguesa em Macau

Quando no dia 20 de Dezembro de 1999 se verificou a transferência da soberania de Macau para os chineses, já tinha entrado em vigor o decreto-lei nº 101/1999/M que consagrava as línguas portuguesa e chinesa como línguas oficiais e com a mesma dignidade na Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China. Embora a língua portuguesa nunca tenha tido uma difusão significativa durante os cerca de 442 anos em que os portugueses administraram o território de Macau, a partir de 1999 os cidadãos portugueses residentes que não dominassem o cantonense ficavam protegidos por aquela lei e podiam ser notificados pelos tribunais na sua própria língua. Porém, segundo revela o jornal hojemacau, a lei tem sido frequentemente ignorada pelos próprios tribunais e pelos juizes, que têm o dever de aplicar as leis, o que se traduz num grande prejuízo para os cidadãos.
A Associação dos Advogados de Macau tem denunciado essa situação que tende a excluir o português do sistema judiciário macaense e a acelerar o processo da sua transformação numa língua morta e alguns advogados até têm denunciado algum fundamentalismo patriótico na utilização da língua chinesa pelos tribunais.
O facto é que, de acordo com a lei, os tribunais são obrigados a comunicar com os arguidos numa língua que eles entendam e não é aceitável que uma sentença relativa a um cidadão português seja comunicada em língua chinesa.
Porém, o que está a acontecer só pode admirar quem não conhece o que foi a história da insignificância da língua portuguesa em Macau. Custa aceitar que a língua portuguesa seja lançada no caixote do lixo como sugere a imagem do hojemacau, mas o que tem que ser sempre teve muita força...

Trump e o poder pessoal acima do partido

Os Estados Unidos são, sob os mais diferentes pontos de vista, a maior potência do planeta. Esse facto é impressionante, sobretudo quando pensamos que a sua independência aconteceu há pouco mais de duzentos anos e que em finais do século XIX ainda as caravanas corriam para ocupar a costa oriental do continente, o chamado Far West. Pois esse país tem um presidente eleito e o actual é Donald Trump.
Nos últimos dias, algumas revistas internacionais de referência como The Economist, a Time e o Der Spiegel trouxeram Donald Trump para as suas primeiras páginas. A primeira foi a revista Time que, ainda antes dos bombardeamentos da Síria, mostrava uma imagem do Donald envolvido num temporal de vento, chuva e mar revolto e uma simples legenda: stormy. Depois, os alemães da revista Der Spiegel utilizaram a imagem de um Donald a incendiar o mundo, perante a apreensão de Angela Merkel e de um Emmanuel Macron empunhando um extintor, com a pergunta: quem vai salvar o ocidente?
Finalmente, a revista The Economist apresenta uma imagem na sua capa que sugere como tem evoluido o símbolo do Partido Republicano, que passou do tradicional elefante até ao rosto do próprio presidente e pergunta o que é que aconteceu ao partido.
Segundo a revista, o Partido Republicano está cada vez mais organizado em torno de um homem e da lealdade a esse homem, salientando que isso é perigoso. Naturalmente, os melhores presidentes da América também exigiam lealdade, mas faziam-no em nome de um princípio ou de uma visão, mas o Donald exige lealdade a ele mesmo e à enorme volatilidade das suas ideias. A revista acrescenta que todos os presidentes mentiram, intimidaram e atropelaram as normas presidenciais, mas nenhum foi tão longe como o Donald.
Porém, o problema não é só dos americanos que têm que conviver com um figurão destes que, no mesmo dia, tanto ameaça como abraça, homens como Kim Jong-un ou Vladimir Putin. O problema é que, como vimos recentemente, o Donald arrasta consigo alguns líderes europeus.

terça-feira, 17 de abril de 2018

A mesquinhez dos nossos deputados

Apesar de ter deixado de ser o que foi durante muitos anos, o semanário Expresso por vezes revela-nos assuntos de interesse, como agora aconteceu ao noticiar que os deputados das ilhas dos Açores e da Madeira, recebem uma compensação fixa de 500 euros por semana para viajar entre a sua residência nas ilhas e a capital, sem precisar de apresentar quaisquer comprovativos.
Os deputados têm uma remuneração mensal fixa de 3624 euros, ou de 3994 euros quando não têm outra actividade, mas a essa retribuição somam vários outros subsídios e despesas a que estatutariamente têm direito. E são muitas. No caso dos deputados que não vivem na área metropolitana de Lisboa, como acontece com os deputados das ilhas, eles têm direito a uma ajuda de custo de 69,19 euros por cada dia de trabalho no Parlamento. Ao fim do mês é muito dinheiro e bem sabemos como muitos destes servidores públicos pouco servem, para além de levantar o braço quando há votações.
Acontece que no contexto da redução dos custos da insularidade, os residentes das ilhas dos Açores e da Madeira podem beneficiar do Subsídio Social de Mobilidade que lhes permite pagar apenas 134 ou 86 euros por cada viagem de ida e volta das ilhas para o continente. Basta ir aos CTT, apresentar o respectivo comprovativo da viagem e logo se recebe o diferencial entre o valor que foi pago e os referidos 134 ou 86 euros.
Apesar da sua gorda retribuição que os coloca no topo dos mais bem pagos servidores públicos portugueses, a maioria dos deputados das ilhas não abdica de se aproveitar do  Subsídio Social de Mobilidade e, a maioria deles, para além de receber 500 euros fixos por semana, ainda vai aos CTT sacar o diferencial entre o que pagaram na sua viagem e os 134 ou 86 euros definidos como tecto para os residentes das ilhas.
Não sei se é legal ou não que os deputados possam receber duas vezes pelas suas viagens e onerem duplamente os contribuintes portugueses, mas é seguramente um caso de falta de ética, de mesquinhez e de ganância que os envergonha a todos e que, a mim, me dá vómitos ou vontade de rir. Nem sei. 

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Um rescaldo da ofensiva militar na Síria

A ofensiva militar dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França contra alvos sírios é um bom exemplo da complexidade da vida internacional e do poder que os mass media têm sobre as opiniões públicas (que votam e escolhem governos). Por isso, é muito difícil saber a verdade, tanto mais que o ataque ocorreu poucas horas antes dos peritos da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) iniciarem a sua investigação quanto à veracidade ou encenação do ataque químico que aconteceu em Douma. Um ataque químico do regime de Bashar el-Assad faria pouco sentido numa altura em que os "rebeldes" já estavam derrotados pelos soldados governamentais e pelos seus aliados russos. Assim,  há que desconfiar de tudo isto, até por uma questão de bom senso.
Parece, portanto, que os mísseis deveriam ter esperado pelos resultados da investigação da OPAQ e que, tanto Emmanuel Macron como Theresa May, não deveriam ter ido a reboque do impulsivo Donald, que o ex-director do FBI vem agora dizer que “é moralmente inapto para ser presidente”. Porém, os mísseis foram disparados e, dois dias depois, uma parte da história considera que a acção foi um êxito, enquanto a outra parte afirma ter sido um insucesso. Quem mente mais? Será o Donald que afirma ter sido uma vitória e que a missão foi cumprida, ou serão os russos de Putin que afirmam que dos 110 mísseis lançados houve 71 que foram interceptados pela defesa aérea síria e que os 12 mísseis que foram lançados sobre a base aérea de Dumayr foram todos abatidos?
Macron entusiasmou-se com os mísseis e aproveitou para ser pôr em bicos de pés, mas já percebeu que isso lhe pode trazer dissabores políticos internos pelo que já veio afirmar que não declarou guerra à Síria, como se os mísseis franceses levassem farinha em vez de alto-explosivo.
Theresa May também está atrapalhada porque quis agradar ao Donald sem ter apoio interno para isso, já que apenas 28% dos britânicos apoiaram a sua iniciativa, enquanto 36% a reprovaram, segundo uma sondagem publicada pelo The Independent. Jeremy Corbyn, o líder da oposição, já lhe declarou guerra e parece que o assunto não vai ficar por aqui, a lembrar a história de Tony Blair e a mentira sobre as armas de destruição maciça de Sadam Hussein que destabilizaram o Médio Oriente e o mundo.

Uma semana de festa rija em Sevilha

Começou no sábado quando eram 24 horas e só vai terminar às 24 horas do próximo sábado, isto é, a Feria de Abril ou Feria de Sevilla decorre exactamente durante uma semana e vai dar origem a um excepcional movimento de gente na cidade capital da Andaluzia.
A feira está considerada como Fiesta de Interés Turistico Internacional e tem um enorme impacto económico, social e cultural na cidade de Sevilha, mas também em toda a Comunidade Autónoma da Andaluzia, pois recebe diariamente cerca de 500 mil visitantes. Um dos pontos altos da feira é o programa tauromáquico oferecido pela praça de touros da Real Maestranza de Caballería, com quinze corridas de touros e sete novilhadas, mas a feira oferece muitas outras animações e uma grande diversidade gastronómica servida por inúmeros restaurantes, bares e bodegas, em que se destacam os vinhos brancos tradicionais da região, como o fino de Jerez de la Frontera e a manzanilla de Sanlúcar  de Barrameda, que foi celebrizada pela Carmen, a famosa ópera de Georges Bizet.
A feira também é uma quase “passagem de modelos”, com uma extensiva apresentação do trajo típico andaluz, tanto masculino como feminino. Este, é muito exuberante e é conhecido por traje de flamenca, apresentando-se com uma grande variedade de cores e de desenhos.
A edição sevilhana do jornal ABC destaca hoje a fotografia de duas sevilhanas em traje de flamenca, junto da Portada de la Feria de Abril, um ex-libris da feira que todos os anos é diferente, mas que é sempre imponente.
Sevilha não está longe da fronteira portuguesa e, por certo, não faltarão portugueses a divertir-se no recinto da feira que também é uma festa.

sábado, 14 de abril de 2018

Os mísseis do Donald já atacaram a Síria

Os Estados Unidos, o Reino Unido e a França lançaram esta madrugada uma operação militar contra a Síria, em resposta ao alegado ataque químico levado a cabo na cidade de Douma pelo regime de Bashar al-Assad. Embora não fosse inesperada, esta acção surpreendeu por ter acontecido à revelia dos apelos do Secretário-geral das Nações Unidas e numa altura em que os peritos da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) tinham começado a investigar no terreno o que realmente se passou.
Donald Trump tem andado à procura de um pretexto para mostrar ao mundo o seu poder militar e encontrou-o agora na Síria, até porque esta iniciativa lhe permite desviar as atenções da opinião pública americana das acusações que lhe são feitas por comportamentos pessoais inapropriados ou graves.
Porém, os americanos e os seus mísseis não foram sozinhos, pois tiveram o apoio dos aviões ou dos mísseis de Theresa May e de Emmanuel Macron, o que mostra quanto a Europa está dividida e como cada um procura tratar dos seus interesses nacionais sem cuidar de consultar os outros estados-membros. É caso para duvidar da coesão e do espírito europeu que existe numa União Europeia sem unidade, sem projecto e, talvez sem futuro, em que cada um actua militarmente como entende.
Os ataques desta madrugada terão sido concentrados em alvos seleccionados para evitar que as forças russas presentes no terreno fossem atingidas e terão sido eficazes, embora haja informação de que alguns dos mísseis tenham sido destruídos pela defesa anti-aérea síria, isto é, a guerra da propaganda vai funcionar como tem funcionado sempre.
Hoje, por todo o mundo, irão suceder-se as declarações a apoiar e a condenar esta iniciativa. Esta manhã, alguns jornais americanos e sul-americanos já divulgaram a notícia, caso de O Globo, mas não são ainda conhecidos os verdadeiros resultados desta acção, nem as reacções a este desafio que Donald Trump fez a Vladimir Putin, mas o que se deseja é que as coisas tenham ficado por aqui.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

A inoportuna e perigosa escalada na Síria

Os preparos para executar um ataque em grande escala continuam a avançar e os aliados Trump, May e Macron parecem estar de acordo quanto à necessidade de castigar o regime sírio por um alegado ataque com armas químicas contra Douma, em Ghouta Oriental, nos arredores de Damasco.
Porém, os russos insistem que tudo não passou de uma encenação e é por isso que os peritos da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), uma organização que tem sede em Haia e que em 2013 recebeu o Prémio Nobel da Paz, vão começar amanhã uma investigação in loco, tendo sido anunciado que as autoridades sírias estão prontas para garantir a segurança da equipa de peritos e levá-los onde eles quiserem.  
Entretanto, a resposta dos três aliados continua a ser preparada sobretudo ao nível das respectivas opiniões públicas nacionais, porque em cada um desses países se levantam vozes contra uma intervenção na Síria porque a consideram ilegal, inapropriada e de alto risco. Hoje o diário The Times publica uma fotografia do porta-aviões nuclear USS Harry S Truman e destaca que está em preparação a maior força de ataque desde a intervenção no Iraque.
No entanto, se esta força avançar vai enfrentar os russos que estão instalados no terreno e que, provavelmente, dispõem de tecnologia e capacidade militar para enfrentar este desafio. Trump e os seus amigos têm dado sinais contraditórios quanto às suas intenções pois conhecem os riscos que correm, mas também parece já estão numa fase de não retorno.
Temos que pensar que, se alguma coisa acontecer,que não sejam encontros entre russos e americanos, porque aí o caldo pode entornar-se... e ninguém quer o caldo entornado.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

A manipulação da verdade e os mísseis

A receita é bem conhecida: cria-se uma situação anómala que é divulgada pelas agências noticiosas internacionais amigas, fornecem-se imagens para os jornais e televisões e fica criado um estado emocional na opinião pública necessário para justificar uma intervenção militar, sem que se investigue se a mensagem divulgada é falsa ou verdadeira. O caso mais evidente passou-se em 2003 com as “armas de destruição maciça”, uma mentira que serviu para o ataque americano ao Iraque e para iniciar a destabilização que desde então tem atravessado o Médio Oriente e o Norte de África.
Porém, esse modelo que acusa e que incita à punição sem que sejam feitas as necessárias investigações independentes para apuramento da verdade, continua a ser usado pelos falcões de ambos os lados do Atlântico. Já em 1994 e 1995 tinha acontecido algo de semelhante com o massacre do mercado ao ar livre de Sarajevo, em que não houve o apuramento da verdade para se saber se foi da responsabilidade de sérvios ou de bósnios, mas que serviu para justificar a intervenção da NATO.
Vem isto a propósito das tentativas de assassinato do espião russo que aconteceu em Londres e que, sem o necessário apuramento da verdade, serviu para Theresa May e os seus aliados expulsarem diplomatas russos. Agora, são as imagens que mostram as vítimas do ataque químico acontecido na cidade síria de Douma que, sem que tivesse havido uma investigação independente e séria para apuramento da verdade, tem sido atribuído ao regime de Bashar al-Assad e tem servido para a ameaça dos falcões do costume para gastarem mais uns mísseis e, dessa forma, alimentarem as suas indústrias de armamento. O Donald prometeu retaliar e avisou a Rússia: missiles are coming. Naturalmente, o mundo está muito apreensivo.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

O incêndio da Trump Tower foi só fumaça

A fotografia ontem publicada na capa do jornal New York Post mostra os espessos rolos de fumo negro que no passado sábado foram vistos a sair do 50º andar do arranha-céus construido por Donald Trump em Nova Iorque e, sobretudo, recorda-nos a tragédia ocorrida no dia 11 de Setembro de 2001, quando dois aviões foram lançados por terroristas árabes sobre as Torres Gémeas, também em Nova Iorque, tendo causado a morte a mais de três mil pessoas.
O luxuoso edifício é conhecido como a Trump Tower e foi inaugurado em 1983, ficando situado na 5th Avenue, entre as ruas 56th e 57th, em Midtown Manhattan. Tem 202 metros de altura e possui 58 andares ocupados por escritórios, alguns espaços comerciais e apartamentos, um dos quais pertence desde 2015 a Cristiano Ronaldo que o adquiriu por 18,5 milhões de dólares e que fica alguns andares abaixo da residência privada do Donald.
O incêndio deflagrou no 50º andar do edifício e assustou muita gente, embora tivesse sido dominado pelos bombeiros ao fim de uma hora. A intervenção correu bem. Os incêndios em arranha-céus têm provocado algumas grandes catástrofes, mas desta vez foi só fumaça, o que mostra que a segurança funcionou.
O Donald agradeceu o bom trabalho feito pelos bombeiros e a ocorrência teve efeitos muito limitados, embora se tivesse registado a morte de uma pessoa.

O entusiasmo dos franceses pelo ciclismo

Realizou-se ontem a 116ª edição do Paris-Roubaix, uma prova clássica do ciclismo mundial, em que os ciclistas percorreram 257 quilómetros entre Paris e Roubaix, próximo da cidade de Lille e da fronteira belga. A prova é conhecida como “a rainha das clássicas”, mas também como “o inferno do Norte”, devido às várias secções do percurso que são feitas em estradas muito estreitas e de piso empedrado ou “pavé”. Na prova ontem disputada aconteceu uma tragédia quando o ciclista belga Michael Goolaerts sofreu uma queda num desses percursos de “pavé” e veio a falecer no hospital para onde foi transportado.
O vencedor desta edição do Paris-Roubaix foi o ciclista eslovaco Peter Sagan que é tricampeão mundial de estrada. Dois ciclistas portugueses da equipa espanhola Movistar participaram na prova: Nuno Matos chegou em 91º lugar e Nélson Oliveira não chegou ao fim.
O diário La Voix du Nord dedica hoje a sua primeira página a esta prova, com uma expressiva fotografia que mostra alguns ciclistas a pedalar por entre uma multidão entusiasmada que se atravessa na estrada para ver, fotografar, aplaudir e incitar. Essa é, de resto, a imagem de marca das provas ciclistas em geral e das provas francesas em particular, onde o entusiasmo pelo ciclismo parece “coisa de loucos” e é bem superior ao entusiasmo pelo futebol.
O Paris-Roubaix disputa-se desde 1896 e faz parte do pequeno número de provas desportivas que se disputam desde o século XIX, o que acontece por exemplo com a Oxford and Cambridge Boat Race (1856), a America’s Cup (1857), o Wimbledon Championship (1877), o US Open (1881) e o Roland-Garros (1891).

domingo, 8 de abril de 2018

Ex-presidente Lula divide o Brasil


O diário Folha de S. Paulo que se publica desde 1921 é um dos principais jornais brasileiros, tem uma orientação política conservadora e, no seu “cadastro”, tem inscrito o apoio que deu ao golpe militar de 1964 que estabeleceu a ditadura militar. Não admira, portanto, que esse jornal tenha estado sempre na primeira linha do combate contra o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O título que escolheu para a sua edição de hoje, por acaso igual ao que foi escolhido pelos diários conservadores O Estado de S. Paulo e O Globo, entre outros, é verdadeiro, mas aquelas duas palavras com caracteres desproporcionados só podem ser interpretadas como a satisfação de um desejo, ou como um grito de vitória.
Lula está preso desde ontem em Curitiba e o Brasil está dividido entre os que concordam com a sua prisão e aqueles que exigem a sua imediata libertação. Ninguém parece preocupar-se com a corrupção política brasileira que é uma coisa que vem de longe e que é transversal a todas as forças políticas. Só o caso de Lula parece interessar a justiça brasileira, certamente para o anular como símbolo político e para decapitar as forças políticas que ele lidera. 
Deste lado oriental do Atlântico recebemos o relato escrito e televisionado sobre as ligações perigosas que no Brasil existem entre a Política e Justiça e, também, a forma como tem sido conduzido o processo Lava Jato e, em especial, o processo contra o ex-Presidente Lula. Porém, a generalidade dessa informação não é independente e, por uma questão de bom senso, tem que ser vista com muitas reservas. O facto é que o Brasil está dividido, inquieto e muito nervoso por causa da prisão do ex-Presidente Lula, ao mesmo tempo que este caso passa para o exterior uma imagem negativa da judicialização da política ou até mesmo de um golpe no Brasil.
Que os brasileiros possam sair rapidamente deste imbróglio.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Os tempos difíceis por que passa o Brasil

O plenário do Supremo Tribunal Federal do Brasil (STF) decidiu ontem rejeitar por 6 votos contra 5, o pedido de habeas corpus preventivo que havia sido apresentado pela defesa do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, que tinha sido condenado a 12 anos e um mês de prisão na segunda instância, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Segundo se depreende da leitura da imprensa brasileira, o processo de Lula tem tanto de jurídico como de político, estando a suscitar muitas emoções e a dividir o Brasil. Para uma parte da sociedade brasileira a Justiça deve ser igual para todos e Lula terá de cumprir na prisão a pena a que foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro mas, para a outra parte da sociedade, o ex-presidente Lula é um ídolo que tirou milhões de brasileiros da pobreza, que prestigiou internacionalmente o Brasil e que está à frente das sondagens para as eleições presidenciais de Outubro.
O mais provável é que num país onde a corrupção dos políticos é muito elevada e a ordem pública está ameaçada, aconteça o paradoxo político de um ex-Presidente da República ir para a prisão por um delito menor no contexto da Operação Lava Jato, enquanto a grande criminalidade e os mais notados casos de corrupção parecem ficar impunes. O Brasil está a viver um processo de judicialização da política que é demasiado perigoso para os valores democráticos.
O jornal argentino Página/12 anteviu essa decisão do STF e, na primeira página da sua edição de anteontem, escreveu “golpe dentro do golpe”, significando que depois da destituição de Dilma Rousseff, o establishment brasileiro pressiona na Justiça e nos media para completar a operação de afastamento de Lula da Silva e dos seus aliados, com o chefe do Exército a pronunciar-se contra a impunidade e um outro general reformado a ameaçar com um golpe se Lula não for preso.
Os tempos vão difíceis para o Brasil e é necessária muita prudência para que as paixões pro-Lula e anti-Lula não se confrontem e o país possa viver em ordem e progresso, como está escrito na sua bandeira nacional.

Uma nova solução para a guerra da Síria

Os líderes das potências mais envolvidas na guerra da Síria - Vladimir Putin, Recep  Erdogan e Hassan Rouhani - reuniram-se ontem em Ancara para tentar encontrar pontos de convergência em relação aos seus diferentes interesses regionais e para decidir quanto a uma solução para a guerra, num encontro que assinala a derrota dos americanos e dos seus aliados que tanto apoiaram a revolta contra Bashar al-Assad e, também, a afirmação dos poderes russo, turco e iraniano naquela região do Médio Oriente.
O combate ao Daesh era a prioridade de todos e foi bem sucedido, mas em relação a Bashar al-Assad continua a haver muitas divergências, pelo que os interesses de cada um dos países que se reuniram podem confrontar-se. A Rússia e o Irão continuam a suportar o regime sírio que quer derrotar os rebeldes apoiados pela Turquia, enquanto a mesma Turquia quer derrotar os curdos que são apoiados pelos americanos. Todos estes interesses correm o risco de entrar em choque e, por isso, os amigos (Rússia e Irão) e os inimigos (Turquia) de Bashar al-Assad sentaram-se à mesma mesa, quase ressuscitando o encontro de Fevereiro de 1945 em Yalta, no qual Roosevelt, Stalin e Churchill acordaram estratégias e zonas de influência. Naturalmente, a Rússia domina e procura articular todos estes interesses entre países que não se entendem, não só da Síria e do Irão, mas também da Turquia que, apesar de ser membro da NATO, tem estreita cooperação com os russos que acabam de construir e inaugurar uma poderosa central nuclear na costa turca.
O jornal The Independent publicou a fotografia de Putin, Erdogan e Rouhani que tem o simbolismo de mostrar quem manda naquela região e de atestar que os americanos perderam a batalha da Síria.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Ronaldo: um génio ou um extra-terrestre?

Foi um momento de glória de Cristiano Ronaldo que o mundo do futebol reconheceu.
Aconteceu ontem no Allianz Stadium em Turim aos 64 minutos do jogo em que se defrontavam a equipa italiana da Juventus e o Real Madrid, quando a equipa espanhola vencia por 1-0. Jogava-se no meio-campo da Juventus quando a bola foi lançada para a sua grande área onde estava Cristiano Ronaldo que, de costas para a baliza, se elevou e estendeu a perna para chutar a bola a 2,38 metros do solo, com um pontapé de bicicleta. O pé direito de Ronaldo transformou-se numa verdadeira arma que fez um disparo a 72 quilómetros por hora em direcção à baliza de Buffon. Foi um golo excepcional e um momento raro no futebol. Ninguém ficou indiferente àquele momento e muitos adeptos de ambas as equipas aplaudiram aquele gesto que logo foi considerado uma obra-prima ou coisa feita por um extra-terrestre.
A fotografia do remate de Cristiano Ronaldo correu mundo e ilustrou inúmeras capas de jornais europeus e sul-americanos, como aconteceu com o diário desportivo espanhol Marca que escolheu para título ”o golo”. Porém, para além daquela fotografia, sucederam-se as reportagens e as declarações sobre aquele artístico e genial gesto de Cristiano Ronaldo e sobre as suas invulgares qualidades atléticas. Nunca um português teve tanta notoriedade no nosso planeta. Ele é realmente um génio futebolístico que muitas alegrias continua a dar aos portugueses. Agora, a expressiva fotografia vai rapidamente decorar o Museu CR7 no Funchal que retrata a história do mais famoso futebolista português.

terça-feira, 3 de abril de 2018

Estudantes gastam 4 milhões em Huelva

A moda já tem alguns anos e os estudantes portugueses finalistas do ensino secundário não abdicam dela, isto é, nesta altura das férias da Páscoa organizam excursões e dirigem-se para o sul de Espanha.
Ontem chegaram a Punta Umbria, uma zona de veraneio situada a menos de cinquenta quilómetros da fronteira de Ayamonte e localizada próximo da cidade de Huelva, cerca de 10.800 visitantes portugueses, entre estudantes e staff de apoio, que viajaram em 200 autocarros.
Pelo terceiro ano consecutivo e durante uma semana tomarão parte no Festival Village Resort Edition, o que representa uma ocupação hoteleira de 100% e um total de cerca de 64.800 pernoitas. Além disso, esta “invasão lusitana” implica a criação de cerca de 1.500 postos de trabalho temporário e um impacto económico da ordem de quatro milhões de euros para o municipio de Punta Umbria: dois milhões cobrados pelos hoteis por alojamento e pensão completa e 1,79 milhões de euros em despesas a efectuar no comércio local em supermercados, souvenirs, bares, cafetarias e outros estabelecimentos.
Punta Umbria tem boas condições para os pré-universitários portugueses que, com idades em torno dos 17-18 anos, podem aproveitar a praia e outros recursos turísticos, embora a maioria prefira a música que é o verdadeiro motor desta festa estudantil. Naturalmente, estas excursões estimulam muitos excessos, mas as autoridades e os organizadores devem estar prevenidos. Finalmente, para o comércio local a “invasão lusitana” é um balão de oxigénio, até porque a Semana Santa terá ficado aquém do desejável.
O jornal Huelva Información destacava hoje que 11.000 portugueses deixarão quatro milhões em Punta Umbria. Era uma grande noticia e um grande negócio proporcionado por gente com grande poder de compra.

A crise da banca é uma vergonha nacional

Segundo os dados ontem publicados pelo Banco de Portugal, o apoio do Estado à banca desde 2007 até 2017 já ultrapassa os 17 mil milhões de euros, embora também tenha sido divulgado que as operações de capitalização dos bancos pesaram 23,7 mil milhões na dívida em 10 anos. Com tantos milhões e com tanta manobra pouco clara para o cidadão comum, é caso para dizer que podem ser anunciados 17 ou 23 mil milhões de euros de ajudas, mas que a banca é cada vez menos confiável e é cada vez mais angustiante suportar a sua incompetente gestão. Os apoios públicos à banca portuguesa têm sido uma contínua conta de somar, numa soma que parece não ter fim. Começou com alguns milhões para acudir ao BPN e, certamente, para salvar uns amigos que por aí andam e, por vezes, com estatutos de gente séria. Depois juntaram-se mais uns milhões para socorrer o colapso do BES e, agora, foram os 3,9 mil milhões de euros entregues à CGD, para além de alguns milhares de milhões de euros em juros. Na passada semana também se soube que o Novo Banco, que ficou com os activos bons do BES, teve prejuízos de 1.395 milhões de euros em 2017 e que, uma vez mais, vai recorrer ao Fundo de Resolução que é do Estado e que é financiado pelos contribuintes portugueses. Tudo isto é demasiado opaco e ninguém ainda foi capaz de acabar com esta trapalhada.
A banca e os banqueiros continuam com os comportamentos e as mordomias de sempre, com as altas remunerações, as mordomias, os carros topo de gama e os cartões de crédito ilimitado. Não se percebe o que faz essa gente, para além de tratarem da sua vidinha. E como são todos muito amigos e muito compadres, até inventaram o termo imparidades para disfarçar os resultados dessa pouca vergonha que é a má gestão e a falta de coragem, mais os calotes, as fraudes e as burlas que consentem ou em que participam. Andamos nisto há dez anos. Ninguém devolve um cêntimo daquilo que desviou ou que roubou. Os jornais esquecem o assunto. Passam os governos e os ministros, mas esta desgraça parece não ter fim. A crise da banca é uma vergonha nacional.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Sevilha iniciou a temporada taurina

Ontem, dia 1 de Abril, aconteceu o Domingo de Resurrección en Sevilla, uno de los días grandes del año taurino, com a primeira das treze corridas de touros programadas para este mês na Real Maestranza de Caballería de  Sevilla.
Foi o início  da temporada sevilhana de 2018 e a edição local do jornal ABC dedicou a sua primeira página ao acontecimento e, tal como muitos outros jornais espanhóis, fez o relato técnico da corrida em que participaram os diestros Antonio Ferrera, José María Manzanares e Andrés Roca Rey com as suas cuadrillas, numa plaza de toros cheia e onde no cabía ni un alfiler. O peruano Andrés Roca Rey foi o triunfador do dia, enquanto José María Manzanares sofreu uma espectacular colhida, embora sem consequências.
A tauromaquia ou arte de lidar touros é uma antiga tradição ibérica que foi exportada para os países americanos de língua espanhola, mas é uma arte muito polémica que tem tantos apaixonados defensores, como persistentes detractores. Na maioria das comunidades espanholas as corridas de touros a pé ou a cavalo são legais e em algumas delas foram declaradas como “bien de interés cultural y patrimonio cultural inmaterial”, mas na Catalunha e nas Canárias foram simplesmente proibidas. Em Portugal existe a mesma polémica a respeito das touradas mas com aspectos próprios, até porque a morte dos touros foi proibida em 1836, tendo surgido desde então os grupos de forcados e as pegas ou imobilização dos touros só com as mãos, que são uma prática exclusivamente portuguesa.
Embora não sendo um aficionado por estas práticas, aprecio o entusiasmo espanhol pela festa brava e reconheço que há muita gente em Portugal que cultiva a cultura taurina, sobretudo no Ribatejo e no Alentejo.