terça-feira, 29 de maio de 2018

O enorme imbróglio da política italiana

As eleições legislativas italianas que se realizaram no dia 4 de Março e que elegeram 630 deputados, não gerou nenhuma maioria clara até que, recentemente, o populista Movimento 5 Estrelas liderado pelo jovem Luigi Di Maio e a nacionalista Liga Norte dirigida por Matteo Salvini, chegaram a um acordo de governo e indigitaram Giuseppe Conte para primeiro-ministro. Este formou o seu governo e nele incluiu o economista Paolo Savona como ministro da Economia.
Só que o presidente da República, Sergio Mattarella, decidiu não aceitar Paolo Savona por ser declaradamente anti-europeu e, com o seu veto, o indigitado primeiro-ministro decidiu renunciar à indigitação. A crise política ficou aberta e há acusações de todos os lados, pelo que o mais provável caminho para a Itália será a marcação de novas eleições. Os dois partidos mais votados nas eleições de 4 de Março, com cerca de 50% dos votos, foram o Movimento 5 Estrelas e a Liga Norte. São movimentos que o L’Espresso classificou como “política sem rosto”, pois são ambos populistas, eurocépticos e mais ou menos regionalistas. É difícil perceber, fora da Itália, o que representa cada um destes movimentos e porque razão ganharam tanta força em tão pouco tempo. Neles não tem sentido a tradicional separação entre esquerda e direita e das suas inesperadas posições podem sair propostas muito destabilizadoras sobre a permanência na União Europeia e na Zona Euro, mas também sobre a própria unidade política da Itália.
Com ou sem eleições, ninguém sabe o que vai acontecer, mas a preocupação é grande. Os italianos estão mesmo perante um grande imbróglio.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

CR7 ocupa a agenda mesmo sem golos

A equipa de futebol do Real Madrid ganhou a Liga dos Campeões da UEFA pela 13ª vez, o que é um feito desportivo notável e, dessa maneira, consolidou a sua liderança no futebol europeu, onde o Milan (com 7 vitórias) e o Barcelona, Bayern e Liverpool (com 5 vitórias), são os seus maiores rivais.
A festa madrilena foi grande, mas a sorte também foi muito grande porque na final disputada em Kiev, o guarda-redes Loris Karius que defendia a baliza do Liverpool teve uma exibição demasiado infeliz e “ofereceu” dois golos ao Real Madrid. Foram essas duas “ofertas” de Karius e os dois golos obtidos pelo galês Gareth Bale, um dos quais com elevada nota artística, que deveriam ter marcado aquela final. Aconteceu, porém, que Cristiano Ronaldo, o maior goleador da história da Liga dos Campeões da UEFA e que acabava de ganhar a prova pela 5ª vez, teve uma exibição vulgar e não marcou golo nenhum. Acontece a todos. Quando o jogo terminou, Cristiano até parecia ausente da festa e esteve apagado. Provavelmente não se sentiu no centro das atenções. Provavelmente amuou. Interpelado por um jornalista, tratou de dizer que “foi muito bonito jogar no Real Madrid”, o que foi interpretado como um pré-aviso de saída para outra equipa. Com aquela frase, espontânea ou premeditada, “marcou um golo” já depois do fim do jogo e inverteu os acontecimentos. Os jornais esqueceram os golos de Bale, as defesas de Navas, a lesão de Mohamed Salah, os frangos de Karius, o golo de Benzema e concentraram-se na declaração de Cristiano Ronaldo. Hoje, o diário desportivo Marca pede-lhe que fique, exactamente como fazem outros jornais espanhóis e o momento desportivo espanhol já não é a vitória do Real Madrid, mas apenas o futuro de Cristiano Ronaldo.
CR7 é um verdadeiro mestre em agenda-setting!

domingo, 27 de maio de 2018

Macau vai ter a maior ponte do mundo

É a maior ponte do mundo! Começou a ser construída em 2009, já está concluída e vai assegurar a ligação entre as três principais regiões administrativas do sul da China ou as três grandes cidades no delta do Rio das Pérolas, isto é, Hong Kong, Zhuhai e Macau. Tem cerca de 50 quilómetros de extensão e consiste numa série de três pontes suspensas e um túnel submarino de 6,7 quilómetros, além de três ilhas artificiais. Nestas ilhas haverá uma zona de controlo de fronteiras, parque de automóveis e áreas de lazer.
Chama-se Ponte Hong Kong - Zhuhai - Macau ou, mais simplesmente, Ponte HZM e espera-se que seja aberta ao tráfego rodoviário dentro de um mês, embora o jornal hoje macau anuncie que a inauguração está sem prazo à vista.
É um mega-projecto de engenharia e os chineses querem mostrar ao mundo que também são capazes nestas áreas tecnológicas. Por agora, o problema parece ser o movimento de viaturas e a gestão do tráfego, estando estabelecidas quotas para limitar o número de veículos que circularão na ponte. No caso de Macau, estão autorizadas 600 quotas para veículos macaenses autorizados a circular de Macau para Hong Kong ou Zhuhai, isto é, procura-se evitar que por um qualquer imprevisto a ponte fique congestionada por tráfego intenso e inesperado, o que significa que não vai ser possível a um qualquer cidadão macaense dizer para a família ou para os amigos: "Metam-se no carro. Vamos almoçar a Hong Kong".

sexta-feira, 25 de maio de 2018

A futebolização do nosso quotidiano

O futebol é uma arte e eu gosto muito desse espectáculo artístico, isto é, daquilo que se passa “dentro das quatro linhas”, onde me regalo a ver as fintas do Messi, os remates do Ronaldo ou das defesas do Casillas.
Porém, os interesses não artísticos do futebol invadiram a nossa sociedade e essa invasão é preocupante por ser um símbolo de mediocridade cultural e de retrocesso civilizacional, até porque a futebolização é particularmente activa na política e nos mass media.
A política está cada vez mais futebolizada e os pequenos políticos que querem subir nos aparelhos partidários não largam o futebol e fazem tudo o que consta na check-list do adepto, isto é, usam cachecóis, gritam, oferecem jantares aos presidentes dos clubes, sentam-se nos camarotes dos estádios e fazem-se comentadores futebolísticos. Estão em toda a parte e, muitas vezes, com absoluta falta de bom senso. Por este andar, a Assembleia da República ainda acaba por substituir os actuais grupos parlamentares  por novos grupos parlamentares em representação do Benfica, do Sporting, do Porto e de outros clubes.
Os mass media e, em especial as televisões, estão completamente futebolizados e contratam dezenas de comentadores que passam horas a fio a dizer o mesmo sobre o mundo que envolve o futebol, as contratações, as lesões, os treinos e os humores dos jogadores, mais os penaltis e os árbitros, os cartões e as agressões. É um massacre constante, a que não faltam gritos, insultos e ameaças de agressão.
Agora apareceu essa figura menor, essa espécie de Nicolas Maduro do futebol português e, sem que se perceba porquê, temos as televisões a dar horas e horas do seu tempo de antena a esta criatura menor e aos inúmeros comentadores que se atropelam à entrada das estações televisivas, muitos deles sem a menor noção do ridículo. Uma tristeza e uma lástima.

A corrupção que fez tremer a Espanha

A Audiência Nacional, que é um tribunal com jurisdição sobre todo o território e a principal instância penal espanhola, condenou ontem 29 dos 37 acusados no processo Gürtel a 351 anos de prisão. A Espanha naturalmente tremeu e muitos espanhóis ficaram em estado de choque, mas muitos outros também ficaram aliviados.
O caso Gürtel refere-se a uma rede de corrupção política ligada ao Partido Popular (PP) que era encabeçada pelo empresário Francisco Correa Sánchez, uma figura da alta sociedade de Madrid, tendo sido baptizado como Gürtel, a tradução alemã de Correa, talvez porque quando as coisas foram detectadas Francisco Correa tinha um estatuto de intocável e ninguém queria associar o seu nome a este caso.
A investigação foi iniciada em finais de 2007 e só agora houve sentença. Apurou-se que, durante muitos anos, nos municípios e comunidades autónomas governados pelo PP, eram adjudicados inúmeros serviços a empresas ligadas a Francisco Correa, a troco de subornos e presentes de elevado valor. Os lucros assim obtidos eram canalizados para contas secretas e paraísos fiscais às ordens do PP. Francisco Correa foi considerado o cabecilha deste caso e foi condenado a 51 anos de prisão, enquanto Luis Bárcenas, o ex-tesoureiro do partido, foi condenado a 33 anos de prisão e ao pagamento de uma multa superior a 44 milhões de euros, tendo a sua mulher, Rosalia Iglesias, sido condenada a uma pena de 15 anos de prisão. Ao todo, houve 29 condenações com 351 anos de cadeia. Uma bomba em Espanha!
Como hoje refere o El País, o PP foi condenado e a credibilidade de Mariano Rajoy, o líder do PP, está de rastos. Aproxima-se, portanto, mais uma crise política em Espanha, a juntar às que já por lá viviam.
Não sabemos se este caso teve ou não teve contágio em Portugal, mas ninguém tem dúvidas que muitas adjudicações por aí feitas ao longo dos anos, beneficiaram os amigos de todas as cores, por vezes escandalosamente.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Prémio Camões 2018 foi para Cabo Verde

O escritor cabo-verdiano Germano de Almeida foi galardoado com o Prémio Camões 2018 e o semanário Expresso das Ilhas, que se publica na cidade da Praia, destaca essa notícia na primeira página da sua edição de hoje, homenageando dessa forma o premiado.
O Prémio Camões foi instituído em 1988 pelos governos de Portugal e do Brasil para distinguir os autores que tenham contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua portuguesa. Desde então houve 13 portugueses, 12 brasileiros, 2 angolanos, 2 moçambicanos e 2 cabo-verdianos que receberam aquele prestigiado prémio e, nessa lista de 31 nomes, figuram por exemplo Miguel Torga, João Cabral de Melo Neto, Vergílio Ferreira, Jorge Amado, Mia Couto, José Saramago, Sophia de Mello Breyner, José Craveirinha, António Lobo Antunes e Manuel Alegre.
Germano de Almeida, o vencedor do Prémio Pessoa 2018, estudou Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e exerce a profissão de advogado na cidade do Mindelo, na ilha de S. Vicente. No campo literário a sua obra é vasta, destacando-se O testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo, publicado em 1991 e que teve grande êxito internacional. É uma obra que se recomenda vivamente.
Naturalmente, que aqui ficam expressas as minhas felicitações ao autor e a minha congratulação por este prémio ter ido para Cabo Verde, a terra da sôdade, da morna, da coladera e da cachupa.

R.I.P. Júlio Pomar

Ainda se sucediam as justas declarações elogiosas sobre a vida e a obra de António Arnaut, quando fomos surpreendidos pela morte de Júlio Pomar, que nos deixou aos 92 anos de idade e era um dos mais inspirados pintores do modernismo e uma figura fundamental da arte portuguesa.
Ao longo de sete décadas de actividade não foi apenas a arte nas suas múltiplas facetas que o atraiu, pois foi também um democrata convicto e um homem de grande empenho social e político, de que resultou ter sido preso pela PIDE nos anos 1950 e ter passado quatro meses no Forte de Caxias, ao lado de Mário Soares, de quem ficou amigo.
Na sua multifacetada obra destacam-se os temas do erotismo, do fado e da tourada mas, sobretudo, os retratos, em especial os que fez de Fernando Pessoa e de Mário Soares, que figura na galeria dos Presidentes do Museu da Presidência da República. Em 2013 a sua vasta obra foi depositada no Atelier-Museu Júlio Pomar, uma iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, onde pode ser visitada pelo público.
O percurso artístico de Júlio Pomar e o tempo que viveu em Paris, tornaram-no um ícone da arte contemporânea portuguesa e a sua partida é um momento triste para a cultura portuguesa.
Os principais jornais portugueses prestam-lhe hoje uma justa homenagem nas suas edições, a que me associo.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

R.I.P. António Arnaut

António Arnaut faleceu hoje em Coimbra com 82 anos de idade e com ele desaparece um homem que, como poucos, simbolizava a ética republicana, a integridade cívica e a devoção ao serviço público. Foi um dos fundadores do Partido Socialista e fez parte do pequeno núcleo de cidadãos que em 1973 esteve na reunião fundacional realizada na cidade alemã de Bad Münstereifel, nos tempos em que era precisa muita coragem para desafiar o Estado Novo.
Militou activamente na Oposição Democrática e, depois do 25 de Abril, foi deputado à Assembleia Constituinte e Ministro dos Assuntos Sociais no II Governo Constitucional presidido por Mário Soares e é considerado o criador do Serviço Nacional de Saúde, uma das mais importantes conquistas da democracia portuguesa. Depois da sua passagem pelo governo voltou à sua actividade profissional de advogado e não ficou pendurado às benesses do Estado, como tantas vezes acontece com os políticos. Escritor e poeta, tornou-se um exemplo de Cidadania e nunca abdicou da defesa da Liberdade, dos direitos sociais e do bem comum. Era presidente honorário do Partido Socialista desde 2016 e o Presidente da República tinha-o justamente agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
O exemplo de António Arnaut devia ser inspirador para os políticos portugueses e as instituições não deixarão de lhe prestar as homenagens que são devidas ao seu legado político, ao seu exemplo e à sua memória. O dia de luto nacional já anunciado pelo Presidente da República enquadra-se no sentimento de gratidão nacional a António Arnaut.

domingo, 20 de maio de 2018

A China e a sua aposta nos porta-aviões

O primeiro porta-aviões concebido e construído pela República Popular da China acaba de realizar cinco dias de provas de mar e já regressou aos estaleiros de Dalian, no nordeste da China. A notícia e a fotografia do navio apareceram nos maiores jornais chineses, como por exemplo no China Daily.
Actualmente, a Marinha chinesa apenas possui o porta-aviões Liaoning, que pertenceu à classe Kuznetsov da União Soviética e que foi adquirido em 2012, aparentemente para que os chineses pudessem aprender tudo sobre esse tipo de navios e os melhorassem, para que depois os pudessem construir, usar e e vender.
O novo porta-aviões desloca 50.000 toneladas, ainda navega sob o nome Type 001A e, segundo foi anunciado, é uma construção totalmente chinesa. Entretanto, em Xangai já está em construção um terceiro porta-aviões e os planos para construir um porta-aviões nuclear já estão em desenvolvimento.
Trata-se de mais um passo para reforçar a presença chinesa no mar da China e, também, no oceano Índico, onde os chineses já possuem uma base em Djibuti, oficialmente designada como base logística, mas também o porto de Hambantota no Sri Lanka que foi arrendado por 99 anos e o futuro uso do porto estratégico paquistanês de Gwadar, no mar Arábico, que estão a construir.
A China está assim a posicionar-se para dominar o mar da China, controlar Taiwan e disputar com a Índia o domínio do oceano Índico.

sábado, 19 de maio de 2018

Donald está a incendiar o Médio Oriente

A decisão do presidente americano de retirar os Estados Unidos do acordo sobre o nuclear iraniano e de transferir a embaixada americana de Tel-Aviv para Jerusalém, acelerou a espiral de confrontação no Médio Oriente, deteriorou a relação transatlântica e está a pôr em causa a anunciada cimeira com Kim Jong-un.
Na edição agora posta a circular, o Courrier International analisa a situação criada e dedica a capa ao Donald que classifica como le dynamiteur. De resto, são cada vez mais as grandes revistas internacionais que caricaturam o Donald e as suas constantes ameaças à paz, por paranóica obcessão ou por entender que o seu slogan America first se cumpre com os incêndios que vai ateando.
A política externa de Barack Obama é posta em causa todos os dias e agora, certamente por pressão de Israel, o Donald decidiu virar-se para o Irão e para o seu expansionismo regional, mas também para o Hezbollah e o Hamas, os históricos inimigos de Israel. Por agora, o Donald ainda não se envolveu directamente, mas já tratou de apoiar os falcões de Israel, inclusive usando o seu direito de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A situação é preocupante e o que se espera, como aqui já foi escrito, é que os políticos europeus se saibam distanciar do Donald e façam tudo para evitar o agravamento da tensão no Médio Oriente.

A festa e a força da língua galega

No dia 17 de Maio de cada ano comemora-se nas principais cidades galegas o aniversário da publicação de Cantares Galegos, a primeira e a mais apreciada obra da escritora e poetisa galega Rosalía de Castro, que nasceu em 1837 e é considerada a fundadora da moderna literatura galega. Em 1963, quando se assinalou o 1º centenário de Cantares Galegos, a Real Academia Galega instituiu essa data como o Dia das Letras Galegas e esse dia rapidamente tornou-se num dia de celebração nacional em torno da língua e da identidade galegas.
A língua galega e a língua portuguesa são irmãs, pois nasceram do galego-português ou galaico-português que foi a língua românica falada durante a Idade Média na Galiza e no norte de Portugal. Depois adaptaram-se para norte e para sul do rio Minho.
Através das fotografias publicadas pela imprensa galega, nomeadamente no diário el Correo Gallego, pode observar-se como o tema mobiliza a população e, em especial, os mais jovens. Assim, sobretudo nas escolas, foram promovidas as mais diversas actividades desportivas, musicais, literárias e artísticas, sempre sob o tema da língua galega.
O Dia das Letras Galegas tem o seu polo dinamizador em Santiago de Compostela e mobiliza milhares de galegos sob o tema “en galego, todos os dias”. Este ano, a cidade portuguesa de Valença associou-se pela primeira vez a esta festa galega e, aproveitando a presença de milhares de galegos que atravessaram o rio Minho, também animou o seu centro histórico com música, provas gastronómicas e venda de artesanato.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Angola e Portugal voltam a conversar

As condições meteorológicas estiveram desfavoráveis com muito vento e com o mar um pouco encrespado, mas o temporal parece que já lá vai e, de acordo com a edição de hoje do Jornal de Angola, está confirmada uma visita oficial a Angola do primeiro-ministro português António Costa, ao mesmo tempo que se anuncia a renovação de um acordo militar entre Portugal e Angola.
Ninguém desconhece que as relações entre os dois países são muito fortes, tanto no plano histórico, como no plano cultural. Esses planos são dois parâmetros essenciais das relações luso-angolanas e os políticos de ambos os lados não podem ignorá-los sob a pressão de assuntos menores ou de interesses conjunturais. Há milhares de angolanos a viver em Portugal e há milhares de portugueses a viver em Angola. Num lado ou no outro, ambos se sentem bem e ambos se sentem em casa. E há, ainda, aqueles portugueses que gostam de Angola e aqueles angolanos que gostam de Portugal.
O encontro do presidente João Lourenço com o primeiro-ministro António Costa pode ser, e espera-se que seja, o recomeço de uma relação sustentada entre os dois países, que vá para além do interesse económico, da afinidade política ou das circunstâncias da conjuntura, mas que seja uma relação cada vez mais fortalecida pela língua comum e pelo intercâmbio cultural intenso e com dois sentidos, por exemplo no desporto, na música e nas artes em geral.
É com natural satisfação que aqui se salienta este reencontro entre os dois países, através do encontro de João Lourenço com António Costa, agora em Luanda e, proximamente, em Lisboa.

Lula da Silva já anunciou candidatura

Desde o dia 7 de Abril que o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva se encontra numa prisão de Curitiba, por ter sido condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro, no âmbito da Operação Lava Jato.
O assunto diz respeito aos brasileiros e ao seu sistema de Justiça, não sendo um tema para ser tratado por estrangeiros que não conhecem a realidade brasileira. Porém, é interessante saber que numa sondagem feita entre os dias 9 e 12 de Maio, se verificou que 51% dos entrevistados considera justa a prisão de Lula, mas que 38,8% consideram a detenção do ex-presidente como injusta. Outra curiosidade da sondagem é o grau de confiança dos brasileiros na sua Justiça, pois 52,8% consideram-na pouco confiável, há 36,5% que a consideram nada confiável e apenas 6,4% a considera muito confiável. Outra curiosidade, ainda, é o facto de 49,9% dos entrevistados entender que Lula da Silva não conseguirá disputa as eleições presidenciais deste ano, enquanto 40,8% entende que ele irá mesmo disputar as eleições. Temos, portanto, um Brasil muito dividido.
Neste contexto, aconteceu ontem um facto relevante, quando o jornal Le Monde, cuja seriedade, reputação e prestígio internacionais são inequívocos, abriu as suas portas a um texto do antigo presidente brasileiro e publica a sua fotografia em primeira página. Nesse texto, Lula da Silva reitera a sua intenção de se candidatar às próximas eleições presidenciais, onde continua a liderar as preferências dos brasileiros, afirmando que a sua prisão, tal como o impeachment de Dilma Rousseff, fazem parte de um plano para afastar do poder o seu partido.
Disse: “Sou candidato a presidente do Brasil, nas eleições de Outubro, porque não cometi nenhum crime e porque sei que posso fazer o país retomar o caminho da democracia e do desenvolvimento, em benefício do nosso povo” e acrescentou que “diante do desastre que se abate sobre o povo brasileiro, a minha candidatura é uma proposta de reencontro do Brasil com o caminho de inclusão social, do diálogo democrático, da soberania nacional e do crescimento económico, para a construção de um país mais justo e solidário, que volte a ser uma referência no diálogo mundial em favor da paz e da cooperação entre os povos".
A história do triplex do Guarujá está mal contada, a candidatura de Lula está anunciada e apoio do Le Monde é de peso. Veremos se avança ou se tropeça nas artimanhas e nas entre-curvas da Justiça brasileira.

terça-feira, 15 de maio de 2018

O Donald e a revolta dos palestinianos

A mudança da embaixada americana de Telavive para Jerusalém que ontem se concretizou, é uma provocação para quem quer a paz no mundo e veio romper com um consenso internacional sobre a cidade que tem um estatuto especial, porque tanto os israelitas como os palestinianos a querem para capital. A euforia tomou conta da cidade e há cartazes por todo o lado anunciando “Trump Make Israel Great”, significando que a aliança entre Donald Trump e Benjamin Netanyahu ou entre Israel e os Estados Unidos é mais forte do que nunca e, provavelmente, faz parte de uma estratégia americana de combate às influências russa e iraniana na Síria. Por isso, não são de esperar boas notícias vindas daquela região e, pelo contrário, tudo se conjuga para que haja confrontos.
A polémica decisão do Donald apenas vai ser acompanhada pela Guatemala, Paraguai e Honduras. Por outro lado, a grande festa que assinalou a inauguração da nova embaixada teve um apoio internacional mínimo e, no caso da União Europeia, o boicote foi quase unânime pois o convite americano apenas foi aceite por quatro países (Áustria, Hungria, Roménia e República Checa), porque são governados por partidos de direita ou extrema-direita e, certamente, gostam do Donald. 
A decisão de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel foi uma afronta à Palestina e a reacção popular a esta decisão provocatória, sobretudo na faixa de Gaza, foi imediata, com dezenas de milhares de palestinianos a aproximarem-se da fronteira em protesto, lançando pedras e pneus em chamas sobre as forças militares de Israel que reagiram e mataram pelo menos 55 manifestantes e feriram cerca de dois mil, segundo relatam as agências noticiosas.
Os tempos que aí vêm são realmente muito inquietantes, porque os israelitas estão eufóricos e estão entusiasmados com o Donald. Vamos a ver se a União Europeia e a Merkel, a May e o Macron estão à altura do momento que passa.
Entretanto, saúda-se a capa do Diário de Notícias que soube seleccionar o assunto mais importante do dia, o que nem sempre acontece.

sábado, 12 de maio de 2018

Cáceres é uma cidade em euforia e festa

A Comunidade Autónoma da Extremadura espanhola está repartida pelas províncias de Cáceres a norte e Badajoz a sul, mas a sua capital encontra-se em Mérida, a antiga capital da Lusitânia.
As cidades da Extremadura possuem um valioso património histórico e arquitectónico, pelo que uma visita a estas cidades de muralhas e de cegonhas é sempre recomendada, até porque a distância a que se encontram da fronteira portuguesa não excede uma centena de quilómetros por boas estradas.
A monumental cidade de Cáceres é, simultaneamente, a sede de um município e de uma província e o seu centro histórico foi incluido em 1986 na lista do Património da Humanidade pela Unesco.
É, pois, nesta cidade que desde 1992 se realiza o Womad ou World of Music, Arts and Dance, um festival internacional que dura três ou quatro dias e que acontece em três dezenas de países e que, segundo a organização, é uma festa da diversidade cultural, da tolerância, da solidariedade, do respeito, do entendimento e da explosão da criatividade. O Womad Cáceres 2018 decorre desde o dia 10 de Maio e nele participam 32 artistas de 11 países, embora as iniciativas do festival se estendam para além da música. A alargada e atraente Plaza Mayor da monumental cidade de Cáceres é o centro do festival e, como se vê na fotografia hoje publicada pela edição estremenha do jornal el Periódico, transforma-se e fica absolutamente ocupada pela multidão.
Naturalmente, quem já passeou por aquela praça e se sentou nas suas esplanadas a tomar uma cerveja fresca em dia de grande calor, fica assustado com tanta gente e tanta euforia. Por isso, atrevo-me a recomendar uma visita a Cáceres e outras cidades estremenhas como Mérida e Trujillo, mas numa altura em que não haja o Womad e as suas multidões...

A China e o seu apetite pela ex-lusa EDP

A EDP – Energias de Portugal é uma grande empresa do sector energético com actividade ao nível da produção, distribuição e comercialização de electricidade, e comercialização  de gás que nasceu em 1976 como resultado da fusão de 14 sociedades exploradoras do serviço público de produção, transporte e distribuição de energia eléctrica que tinham sido nacionalizadas no dia 15 de Abril de 1975.
A empresa cresceu, diversificou actividades e em 1996 iniciou um processo de internacionalização que teve como contrapartida a privatização de uma parte do seu capital, numa altura em que as privatizações estavam na moda. Foram então alienados 30% do capital da empresa numa operação em que a procura superou a oferta em mais de trinta vezes e que foi considerada como um sucesso do chamado capitalismo popular, pois cerca de 800 mil portugueses tornaram-se accionistas da EDP. Depois, sucedeu-se a privatização de outras fatias do capital social, embora se mantivesse o controlo do Estado até que, em 2011, os direitos especiais do Estado ou golden share  foram eliminados por imposição da troika que por aí andou.
Nessa altura, uma empresa estatal chinesa - China Three Gorges Corporation  - assegurou a maioria do capital da sociedade, na qual cerca de 40% são controlados por estados ou capitais estrangeiros, designadamente dos Estados Unidos, de Espanha, Holanda, Argélia, Qatar, Abu Dhabi e Noruega.
A EDP é um nó na garganta para muitos portugueses que não compreendem como é possível que a maior empresa portuguesa possa estar nas mãos e servir interesses do capital estrangeiro, gerando enormes lucros para os seus accionistas chineses, americanos, espanhóis e outros.
Agora apareceu um outro grupo chinês a querer comprar toda a EDP e fez uma (quase) irrecusável Oferta Pública de Aquisição (OPA) de 7.700 milhões de euros, que não é mais do que uma verdadeira aposta estratégica da China na "conquista" da Europa e não no desenvolvimento do nosso pequeno Portugal do Mexia, do Catroga e dos amigos que estão com eles nos cadeirões da EDP.
O curioso é que esta OPA é mais noticiada em Espanha, sobretudo nos jornais das Astúrias onde a EDP tem interesses, do que no nosso Portugal.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Ainda há quem possa confiar no Donald?

O Prémio Internacional Carlos Magno ou Internationaler Karlspreis é atribuido anualmente pela cidade de Aachen, na Alemanha, para distinguir personalidades que se tenham destacado pelo seu contributo para a unidade e coesão da Europa. Este ano o prémio foi atribuído ao presidente francês Emmanuel Macron e deu origem a importantes declarações, quer da chanceler alemã que esteve presente na cerimónia, quer do premiado.
Os jornais internacionais de referência, como o El País, destacaram as declarações produzidas que condenaram vivamente a retirada de Donald Trump do acordo nuclear com o Irão e que, dessa forma, faz aumentar a tensão no Médio Oriente e o risco de sérios confrontos entre Israel e o Irão, como já se começou a verificar.
Disse Angela Merkel que “há conflitos às portas da Europa e o tempo em que podíamos confiar nos Estados Unidos acabou”, enquanto Emmanuel Macron confirmou a mesma ideia e disse que “algumas potências decidiram quebrar a sua palavra” e “não podemos deixar que outros decidam por nós”.
Desde que Trump assumiu a presidência, os Estados Unidos têm dado fortes contributos para a destabilização mundial com a declaração de que a NATO era obsoleta, com a teimosia da construção de um muro na fronteira com o México, com a saída do acordo de Paris, com as suas ameaças comerciais proteccionistas e outras arrogâncias de semelhante gravidade. Os líderes europeus parece que só agora chegaram à conclusão de que o paradigma atlântico que prevaleceu desde a 2ª Guerra Mundial e que unia estrategicamente a Europa e os Estados Unidos, já não funciona na actualidade. Afinal, as sucessivas visitas de Macron, de Merkel e de outros líderes aos Estados Unidos, apenas serviram para verificar aquilo que já se sabia, isto é, que o Donald é um irresponsável em que não se pode confiar.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Adeus a Dhlakama e paz em Moçambique

As imagens das cerimónias fúnebres de Afonso Dhlakama realizadas na cidade da Beira são, ao mesmo tempo, um sinal de profunda consternação pela morte de um combatente, mas são também uma afirmação de sentimentos democráticos e, ainda, de respeito por um adversário político. Moçambique está de luto porque em democracia, governo e oposição são as duas faces da mesma moeda.
O desaparecimento de Dhlakama é uma grande perda para Moçambique, porque se tratava de um homem empenhado na paz e na democracia, que soube lutar com coerência pelos seus ideais e que por eles preferiu o desconforto da serra da Gorongosa, ao conforto dos salões ou das avenidas ajardinadas de Maputo.
O governo moçambicano homenageou o seu maior adversário político com merecidas honras de Estado e o discurso do presidente Filipe Nyusi soube enaltecer o homem com quem discutiu a paz e a reconciliação nacional, mas o que mais se salientou nas cerimónias fúnebres terá sido a grande manifestação popular que uniu milhares de moçambicanos neste triste acontecimento.
O jornal O País destacou na sua primeira página essa multidão que disse adeus a Afonso Dhlakama. Agora cumpre aos seus sucessores e aos dirigentes da Frelimo continuar o seu trabalho por uma paz duradoura, pela coesão nacional e pelo progresso económico e social, honrando a memória e os contributos do presidente da Renamo.
Viva Moçambique!

Donald continua a desafiar a estabilidade

No dia 14 de Julho de 2015, depois de longas negociações, foi assinado um acordo internacional sobre o programa nuclear do Irão que ficou conhecido como Plano de Acção Conjunto Global ou Joint Comprehensive Plan of Action ou, mais simplesmente, por JCPOA.
Esse acordo, que foi assinado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, mais a Alemanha e a União Europeia, limitava o programa nuclear que a República Islâmica do Irão então desenvolvia e entregava à Agência Internacional de Energia Atómica a responsabilidade pela monitorização do acordo.
Depois de décadas de tensão e de ameaças de confronto, o JCPOA abriu caminho para uma nova era no relacionamento internacional e mostrou o valor da diplomacia e da cooperação, levando ao restabelecimento de um clima de confiança em relação ao Irão, o que fez com que muitos investimentos e muitos negócios para lá convergissem.
Até que veio o Donald e, contra a opinião de todos os signatários do acordo, decidiu denunciá-lo, à semelhança do que já fizera com os Acordos de Paris sobre as alterações climáticas de 2016. Como sempre acontece nas suas controversas decisões, mas neste caso pressionado por Israel, o Donald afirmou ter provas de que o Irão não está a cumprir os termos do acordo e que continua a ser o principal patrocinador do terror no mundo.  
Hassan Rouhani, o presidente do Irão, anunciou de imediato que a república islâmica permanecerá no acordo nuclear com os outros cinco países e mostrou satisfação pela saída dos Estados Unidos que considerou um intruso.
O jornal Libération utiliza uma montagem fotográfica para ilustrar a situação e coloca Emmanuel Macron, Angela Merkel e Theresa May a desafiar o Donald que, segundo Barack Obama, acabou de cometer um erro histórico.  O facto é que o mundo parece muito preocupado com mais esta decisão do Donald, até porque a ala radical do regime iraniano "quer acender o rastilho deixado pelo Ronald".

quarta-feira, 9 de maio de 2018

O czar Putin e o renascimento da Rússia

Diversos jornais mundiais publicaram ontem a mesma fotografia de Vladimir Putin a desfilar numa passadeira vermelha após tomar posse como Presidente da Rússia, naquele que é, segundo a lei russa em vigor, o seu 4º mandato e último mandato presidencial. Um desses jornais foi o The Wall Street Journal, a revelar como a presidência russa é muito importante para os Estados Unidos.
Vladimir Putin foi reeleito nas eleições do passado dia 18 de Março em que obteve 76,69% dos votos e decidiu que a sua investidura tivesse pompa e circunstância, pelo que na respectiva cerimónia estiveram cerca de cinco mil convidados. O reeleito presidente deslocou-se numa limousine de fabrico russo para mostrar ao país a modernidade da sua indústria automóvel e no seu discurso comparou a Rússia à Fénix que renasce das cinzas, prometendo melhorar a qualidade de vida dos russos e, à maneira de Donald Trump, também afirmou a sua vontade de tornar a Rússia grande outra vez.
Vladimir Putin encarna o desejo russo de resgatar a humilhação que foi a implosão da União Soviética e a incapacidade russa para a evitar, mas também simboliza a perseverança russa para ultrapassar os ciclos de provação que a sua milenar história regista, de que são exemplos a resistência de Moscovo às tropas de Napoleão e de Estalinegrado aos tanques de Hitler.
É sabido que os valores democráticos de Putin são demasiado musculados e que a oposição sofre, mas o facto é que o “novo czar” elevou a respeitabilidade da Rússia, pela forma muito coerente como tem actuado nos diferentes tabuleiros internacionais, o que não tem acontecido com os seus rivais americanos e europeus.
No entanto, as legítimas vontades de Putin e de Trump de tornarem os seus países grandes outra vez, não podem conduzir a qualquer escalada de tensão mundial ou ao retorno da guerra fria e, nessa matéria, os europeus têm que pensar pela sua própria cabeça.

Um português de visita oficial a Cuba

Muitos portugueses viajam para Cuba e parece que os hotéis e as praias da estância balnear de Varadero são os locais por eles mais desejados. Porém, a edição do Granma, o órgão oficial do comité central do Partido Comunista de Cuba, deu ontem grande destaque à visita oficial de António Guterres, o português que ocupa o cargo de Secretário-geral das Nações Unidas. Não é costume que as visitas de Guterres sejam notícia de primeira página nos jornais e por isso aqui a destacamos.
Ao contrário dos habituais turistas portugueses, Guterres apenas esteve em Havana no âmbito das sessões da Comissão Económica para a América Latina e Caribe das Nações Unidas, tendo sido recebido por Miguel Díaz-Canel, o novo presidente do Conselho de Estado que, como foi muito repetido, não tem no seu nome o habitual apelido Castro. Segundo refere o Granma, os dois homens falaram sobre paz e segurança internacionais e sobre alterações climáticas, mas certamente que Guterres incentivou Díaz-Canel a abrir-se à democracia e ao mundo, encorajando-o no caminho das reformas que os novos tempos reclamam para Cuba.
Durante a sua estadia em Havana, Guterres visitou a Old Havana and its Fortification System, que desde 1982 está inscrita na Lista do Património Mundial da Unesco e mostrou-se impressionado com a sua boa conservação, tendo felicitado os homens e as mulheres que trabalharam no seu restauro com grande rigor histórico e declarado que tendo conhecido a cidade há vinte anos, não podia imaginar que perante as dificuldades económicas e o bloqueio, fosse possível fazer tão importante trabalho de recuperação.
Quem sabe se Guterres conseguiu ou não dar um contributo para a "desfossilização" do regime cubano que dura há sessenta anos? 

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Os campeões que fazem o delírio do povo

Ontem foi um dia desportivamente delirante, com delírios para vários gostos.
No sábado a equipa do FC Porto tinha assegurado o título de campeã nacional de futebol, o que aqui se saúda. Desde então, as televisões dedicaram horas sem fim ao delírio dos adeptos, dos jogadores e dos dirigentes. É natural que se festeje até porque a vitória teve mérito, mas é um exagero o tempo que as televisões dedicaram a esta festa, com demasiados directos e inúmeras intervenções que se repetiam e que apenas serviram para que uns tantos estagiários aparecessem a dizer banalidades. A lógica da indústria televisiva está dominada pelas audiências e pela informação-espectáculo que é demasiado panfletária e sem seriedade nem rigor, pelo que o delírio futeboleiro e popular deste fim de semana serviu às mil maravilhas para servir esse desígnio.
Ontem também aconteceu a vitória de João de Sousa no Estoril Open, uma das 39 provas do ATP World Tour 250, isto é, as provas cujos prémios se situam entre abaixo do milhão de dólares. À escala portuguesa a vitória de João de Sousa foi um grande feito desportivo, porque nas 28 edições do Estoril Open nunca qualquer português chegara à final. Porém, neste caso o delírio apenas tomou conta dos três ou quatro milhares de pessoas que estiveram em Cascais e de mais uns tantos que assistiram à final transmitida por um canal televisivo.
As televisões é que definem como são as coisas e aqui está como as televisões geram delírios assimétricos, de resto na linha do que fazem com outros acontecimentos. Portanto, o FC Porto e o João de Sousa ganharam. Parabéns aos vencedores, glória aos vencidos. Para o ano há mais.
No meio de tanta assimetria no tratamento dos acontecimentos desportivos deste fim de semana, há que saudar o jornal A Bola, essa eterna referência do jornalismo desportivo português, pela forma proporcionada como informou e como ilustrou a sua capa com os entusiasmos que cada um dos acontecimentos provocou.

sábado, 5 de maio de 2018

Vamos conhecer os nossos belos azulejos

Amanhã, celebra-se o Dia Nacional do Azulejo. Hoje, o jornal Público dedicou o seu suplemento Fugas ao tema do azulejo, ilustrando a sua capa com uma fotografia do painel de Jorge Colaço, que representa o Infante D. Henrique em 1415 na tomada de Ceuta e que foi instalado em 1915 na Estação Ferroviária de S. Bento, no Porto.
Sob o título Portugal, o país dos azulejos, o suplemento Fugas inclui alguns artigos em que o azulejo é destacado como a mais original contribuição portuguesa para o património artístico europeu e informa que está em preparação uma candidatura do azulejo português a Património da Humanidade.
A história do azulejo decorativo português só começa a ter expressão significativa em Portugal no início do século XVIII, quando entra nos palácios, nos conventos e nas igrejas, sendo nessa altura largamente exportado para o Brasil, onde decora conventos e igrejas na Bahia e em outras cidades brasileiras.
Das aplicações decorativas para servir a Igreja e a Nobreza, a utilização do azulejo passou a ter outras aplicações na arquitectura e na construção. No início do século XX a azulejaria portuguesa renasceu através dos trabalhos de Jorge Colaço, considerado o maior artista português de azulejos, mas na actualidade o azulejo está a recorrer a novas técnicas e novas aplicações. O suplemento Fugas diz que “está na altura dos portugueses voltarem a olhar os seus azulejos”. Concordo.
Porém, num mapa-roteiro da azulejaria portuguesa que está incluído no já citado suplemento, é indicada uma dezena de locais a visitar por causa dos seus azulejos, mas não são indicados alguns dos mais importantes painéis do nosso património azulejar como são o acervo do Museu Nacional do Azulejo, ou a Sala da Esfera do Hospital de S. José, ou os claustros do Convento da Graça em Torres Vedras, ou o mural da Avenida Calouste Gulbenkian em Lisboa, ou o Hotel do Buçaco, ou os murais do Pavilhão Carlos Lopes em Lisboa, ou o antigo Colégio do Espírito Santo onde hoje está instalada a Universidade de Évora, ou a capela-mor da igreja de Santiago em Estombar-Lagos e, muitos, mas muito mais que há por todo o país. Vamos, portanto, conhecer os nossos belos azulejos.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

A morte de Dhlakama e as incertezas

O desaparecimento de Afonso Dhlakama ontem anunciado e que hoje é destacado no diário moçambicano O País, é um acontecimento importante para a história de Moçambique, porque se trata de uma personalidade que levava 39 anos de liderança da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), o principal partido político da oposição moçambicana.
A Renamo foi criada em 1975 por dissidentes da Frelimo e em 1979, quando os dois partidos já combatiam na guerra civil, Afonso Dhlakama tornou-se o seu líder político e militar. A guerra de guerrilhas que comandou contra as forças governamentais da Frelimo durou 16 anos e, após prolongadas negociações conduzidas pela Igreja moçambicana e pela Comunidade de Santo Egídio, com o apoio do governo italiano, foi assinado em 1992 um Acordo Geral de Paz e foram anunciadas eleições para 1994, sob a supervisão das Nações Unidas. Afonso Dhlakama ganhou a batalha pela Democracia e participou depois em cinco eleições presidenciais, mas perdeu sempre para o candidato da Frelimo: perdeu para Joaquim Chissano em 1994 e 1999 com 33,7% e 47,7% dos votos; perdeu para Armando Gebuza em 2004 e 2009 com 31,7% e 16.4% dos votos e perdeu para Filipe Nyusi em 2014 com 36,61% dos votos. Porém, estes resultados revelam que tanto Dhjakama como a Renamo tinham espaço político e eleitoral em Moçambique mas que, apesar disso, nunca perderam a ideia de unidade nacional e nunca ameaçaram com quaisquer separatismos das províncias onde eram maioritários.
Os anos de 2013 e 2014 foram de grande tensão, tendo Afonso Dhjakama abandonado a capital e começado a reorganizar as suas forças por considerar que o Acordo Geral de Paz de 1992 não estava a ser cumprido, que o Estado estava descridibilizado pela excessiva partidarização dos seus orgãos, que a Renamo estava a ser afastada da esfera do poder e que muitos dos seus militantes eram perseguidos. Tudo parecia correr agora de feição para Filipe Nyusi e para Afonso Dhlakama, no caminho para um renovada parceria de paz e de progresso para Moçambique. O inesperado aconteceu. Dhlakama partiu. Todos lhe prestam homenagem. Agora é preciso que as incertezas do futuro sejam ultrapassadas.

O fim da ETA e o tempo novo no Euskadi

A Euskadi Ta Askatasuna, mais conhecida pela sigla ETA, que lutou durante cerca de seis dezenas de anos pela independência do País Basco, anunciou ontem a sua dissolução definitiva e muita gente respirou de alívio, embora a generalidade da imprensa e dos partidos políticos critique o comunicado de dissolução por esquecer as vítimas.
A ETA nasceu em 1959 como uma organização de defesa da cultura basca, mas alguns anos depois tinha evoluido para uma organização paramilitar separatista que pegou em armas para conquistar a independência de uma região histórica cujo território se distribui entre a Espanha e França.
Ontem em Genebra e perante “diferentes personalidades”, dois históricos militantes da ETA – Josu Urrutikoetxea ou ‘Josu Ternera’ e Soledad Iparraguirre ‘Anboto’ leram uma “Declaración final de ETA al Pueblo Vasco”, em castelhano, basco e francês, em que a organização socialista revolucionária basca de libertação nacional informou o fim da sua trajectória política e militar e o total desmantelamento de todas as suas estruturas. Para trás ficaram 853 mortos e mais 6.389 feridos pelas acções da ETA, além das vítimas associadas aos 79 sequestros praticados pela organização.
Porém, os “sobreviventes” da ETA prometem continuar a sua luta pelo ideal da independência do País Basco, em termos semelhantes ao que está a acontecer com “el procés” na Catalunha, mas existe a convicção de que depois de seis décadas de perturbação e de terrorismo, ninguém vai querer ouvir falar desta gente durante muitos anos. Aliás, os títulos dos jornais espanhóis são unânimes na condenação do triste final da ETA, que foi derrotada e que enegreceu ainda mais o seu historial, mostrando uma enorme frieza e falta de vergonha ao ignorar as suas vítimas, como denuncia El Diário Vasco de Bilbau.

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Um bom exemplo de ligação a Portugal

O primeiro-ministro António Costa está no Canadá numa visita oficial de quatro dias que termina no dia 5 de Maio e que o levará às cidades de Otava, Toronto e Montreal. O primeiro-ministro viaja acompanhado do presidente do governo regional dos Açores e, para além da aproximação das relações com as autoridades canadianas, esta visita vai permitir um contacto directo com a grande comunidade portuguesa que vive no Canadá.
São 450 mil portugueses ou luso-descendentes, na sua maioria de origem açoriana, que habitam sobretudo nas províncias orientais do Ontário (Toronto e Otava) e do Quebeque (Montreal).
A natureza multicultural do Canadá tem permitido que as comunidades estrangeiras conservem muitas das suas matrizes culturais e daí resulta que é o país que, embora não pertença à CPLP é, provavelmente, o país do mundo onde se publicam mais jornais impressos em português. Na cidade de Toronto são regularmente publicados o Sol Português e o Correio da Manhã, mas também com menos regularidade o Voice, o ABC, o Nove Ilhas e o Portugal Ilustrado, enquanto na cidade de Montreal se publica A Voz de Portugal, o mais antigo semanário de língua portuguesa do Canadá que foi fundado no dia 25 de Abril de 1961, mas também O Açoriano.
Alguns destes jornais, caso de A Voz de Portugal, anunciaram a visita do primeiro-ministro português com grande destaque e publicaram a sua fotografia, numa prova da sua exemplar ligação afectiva a Portugal. De resto, um dos vereadores do Toronto City Council é Ana Bailão, nascida em Vila Franca de Xira e que emigrou para o Canadá com 15 anos de idade.
Há visitas e visitas, assim como há comitivas e comitivas, mas esta visita oficial ao Canadá e à comunidade portuguesa é amplamente justificável, como se pode observar na maneira como a imprensa portuguesa do Canadá saúda o primeiro-ministro de Portugal.

A imortalidade do genial Pablo Picasso

A edição portuguesa da National Geographic do mês de Maio que foi agora distribuida dedica uma parte do seu conteúdo a Pablo Picasso, o pintor malaguenho que se tornou numa das mais importantes figuras da arte do século XX.
A sua vida e a sua obra revelam um homem genial que desafiou o seu tempo com inovadoras concepções estéticas, atitude cultural e militância política.
A sua obra está hoje um pouco por todo o mundo mas, com a ajuda do amigo Google, fui saber quais eram os melhores museus para ver a obra de Picasso e verifiquei que os principais se encontram na Europa e, alguns deles aqui bem perto, em terras espanholas.
E, para que conste, aqui vai a lista dos melhores museus para ver a obra de Picasso, selecionada pelo amigo Google:

1. Museu Picasso em Barcelona, Espanha;
2. Museum Sammlung Rosengart em Lucerna, Suiça;
3. Musée Picasso em Antibes-Côte d’Azur, França:
4. Museo Picasso em Málaga, Espanha;
5. Musée National Picasso em Vallauris-Côte d’Azur, França;
6. Musée Picasso em Paris, França;
7. Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Madrid, Espanha;
8. Museum Ludwig, em Colónia, Alemanha.

Não sou crítico de arte, mas tenho um sentido estético suficiente para apreciar a arte e para gostar ou não gostar do que vejo. No caso de Picasso já tive o privilégio de contemplar algumas das suas maiores obras, nomeadamente o Guernica que vi em Nova Iorque e em Madrid, mas também algumas outras obras da sua pintura que têm sido apresentadas em exposições temporárias realizadas em Lisboa. O meu apreço pela obra de Picasso é um quase deslumbramento, de resto como acontece quando vejo e me delicio a ver a obra de outros génios, como foram Amadeo, Almada ou Vieira da Silva.

terça-feira, 1 de maio de 2018

As feiras e a hipocrisia dos políticos

Termina hoje a 35ª edição da Ovibeja e, de acordo com o que nos mostram as televisões, aquilo foi a passagem de modelos do costume, embora sem os jovens modelos que costumam desfilar pelas passerelles, mas com aquelas figuras que deambulam pela vida política e que aparecem nestas coisas para serem vistos e talvez para arranjar mais uns votos, até porque qualquer dia vamos ter eleições e há que procurar manter o estatuto, até porque a vida política não é nada desconfortável. Naturalmente que nem a cidade de Beja, nem a organização desta iniciativa que tanto anima e prestigia o Alentejo, têm a culpa.
A realidade é que a Ovibeja criou raízes como feira e como festa, que atrai visitantes e que mobiliza uma cidade e uma região e o facto é que não há figura política que se esqueça de ir a Beja e, se possível, falar para a televisão. Porém, o que interessa a essa gente é apenas aparecer, ser vista e ter microfones por perto, para além de nunca dispensar uma corte de fiéis figurantes à sua volta. É sempre assim. Aborrece e cansa. A feira propriamente dita, enquanto motor impulsionador das actividades agrícolas e agro-pecuárias alentejanas e amostra  do desenvolvimento tecnológico e da investigação científica aplicada, não lhes interessa nada. Nem os colóquios temáticos, nem os espectáculos e outras manifestações culturais lhes interessam.
A cidade de Beja não pode proibir esta gente de visitar a Ovibeja mas, no mínimo, devia desaconselhar esses políticos a fazê-lo, sobretudo aqueles que continuam a seguir o exemplo do Paulinho das feiras que, afinal, só gostava das feiras enquanto foi político. As feiras são, em última instância, um terreno fértil para a hipocrisia dos políticos, como se viu na Ovibeja que hoje encerra.