sexta-feira, 25 de maio de 2018

A futebolização do nosso quotidiano

O futebol é uma arte e eu gosto muito desse espectáculo artístico, isto é, daquilo que se passa “dentro das quatro linhas”, onde me regalo a ver as fintas do Messi, os remates do Ronaldo ou das defesas do Casillas.
Porém, os interesses não artísticos do futebol invadiram a nossa sociedade e essa invasão é preocupante por ser um símbolo de mediocridade cultural e de retrocesso civilizacional, até porque a futebolização é particularmente activa na política e nos mass media.
A política está cada vez mais futebolizada e os pequenos políticos que querem subir nos aparelhos partidários não largam o futebol e fazem tudo o que consta na check-list do adepto, isto é, usam cachecóis, gritam, oferecem jantares aos presidentes dos clubes, sentam-se nos camarotes dos estádios e fazem-se comentadores futebolísticos. Estão em toda a parte e, muitas vezes, com absoluta falta de bom senso. Por este andar, a Assembleia da República ainda acaba por substituir os actuais grupos parlamentares  por novos grupos parlamentares em representação do Benfica, do Sporting, do Porto e de outros clubes.
Os mass media e, em especial as televisões, estão completamente futebolizados e contratam dezenas de comentadores que passam horas a fio a dizer o mesmo sobre o mundo que envolve o futebol, as contratações, as lesões, os treinos e os humores dos jogadores, mais os penaltis e os árbitros, os cartões e as agressões. É um massacre constante, a que não faltam gritos, insultos e ameaças de agressão.
Agora apareceu essa figura menor, essa espécie de Nicolas Maduro do futebol português e, sem que se perceba porquê, temos as televisões a dar horas e horas do seu tempo de antena a esta criatura menor e aos inúmeros comentadores que se atropelam à entrada das estações televisivas, muitos deles sem a menor noção do ridículo. Uma tristeza e uma lástima.

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