domingo, 30 de setembro de 2018

R.I.P. Alves Barbosa

Faleceu ontem no Hospital Distrital da Figueira da Foz, com 86 anos de idade, o antigo ciclista Alves Barbosa (1931-2018), que foi o primeiro atleta a vencer a Volta a Portugal por três vezes, em 1951, 1956 e 1958.
Tinha 19 anos quando venceu pela primeira vez essa prova em que vestiu a camisola amarela na primeira etapa e a manteve até ao fim. Tornou-se um ídolo do desporto português e gozou de uma invulgar popularidade, quando ainda não havia a televisão em Portugal.
No ano de 1956 o ciclista que correu sempre com a camisola do modesto Sangalhos Desportos Clube, participou e obteve o 10º lugar na Volta à França. Num tempo em que o desporto português não tinha qualquer projecção internacional, com excepção de uma modalidade periférica que era, e ainda é, o hóquei em patins, ou de alguns bons resultados no hipismo e na vela olímpica, a classificação conseguida por Alves Barbosa foi um acontecimento nacional.
Alves Barbosa, de quem fui grande admirador na minha infância, ficou sempre ligado ao ciclismo como atleta, treinador e dirigente, tendo sido uma uma das maiores figuras da história do ciclismo português.

sábado, 29 de setembro de 2018

Angela Merkel quase a pendurar o casaco

A chanceler Angela Merkel vai no seu quarto mandato e, como o primeiro se iniciou em 2005, significa que está há 13 anos à frente do governo alemão. Como nunca teve uma maioria absoluta, a chanceler Merkel tem governado sempre com o apoio de coligações e tem tido a habilidade de as formar e manter, daí resultando uma grande estabilidade política para a Alemanha. Porém, o tema dos refugiados tem-lhe provocado muitas críticas e alguma impopularidade, não só no interior da sua coligação como revelam as sondagens, mas também a nível europeu, sobretudo em países como a Itália, a Áustria, a Hungria, a República Checa, a Polónia e a Eslováquia.
Apesar do apoio de Emmanuel Macron, que também está a passar por uma baixa de popularidade, ou de Pedro Sanchez, que ainda não se consolidou como primeiro-ministro de Espanha, o facto é que Angela Merkel perdeu o fulgor político de outros tempos e tem poucas aparições públicas. Algumas vezes, ela e o seu ministro Wolfgang Schäuble, pareceram liderar e dominar a União Europeia, mas esses tempos já são do passado. Hoje, muitos alemães mostram insatisfação e já consideram que ela esteve demasiado tempo no poder. Na sua edição de hoje, a revista Der Spiegel mostra na capa um dos celebérrimos casacos de Angela Merkel pendurado, numa clara insinuação de que deve abandonar o poder ou, como se diz em gíria, arrumar as botas.
Quando isso acontecer, a Europa vai certamente passar por mais um valente sobressalto.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Descobertas da arqueologia subaquática

O semanário Expresso revelou na sua última edição que tinham sido encontrados na barra do Tejo e próximo da Torre do Bugio, os restos de uma nau da Carreira da Índia, provavelmente de finais do século XVI ou do início do século XVII. A importância arqueológica do achado justificou que a notícia tivesse sido manchete do semanário.
O achado foi feito no passado dia 3 de Setembro por uma equipa de arqueólogos subaquáticos da Câmara Municipal de Cascais, no âmbito dos trabalhos do Projeto Municipal da Carta Arqueológica Subaquática do Litoral de Cascais (ProCASC) e, este caso, demonstra como as autoridades locais podem ser importantes para a detecção, identificação e preservação do nosso património histórico e cultural, sem estarem à espera da acção do Estado central e da sua pesada movimentação.
Do que já se apurou, os restos do navio estão espalhados por uma área de cem metros de comprimento por cinquenta de largura em doze metros de profundidade e constam de nove canhões em bronze com o escudo nacional ou com a esfera armilar, fragmentos de pratos de porcelana chinesa da época Wanli, grãos de pimenta e partes do casco.
O anúncio público deste importante achado também serviu para elucidar a opinião pública quanto à forma de tratar estes achados.
Refira-se que se admite a ocorrência de cerca de 10 mil naufrágios na costa portuguesa desde o século XVI e que a Câmara Municipal de Cascais já localizou 133 sítios arqueológicos que remontam à época romana, bem como despojos de navios dos períodos moderno e contemporâneo, num trabalho que já foi reconhecido pela Unesco.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Valls e uma nova ideia para Barcelona

As eleições autárquicas em Espanha vão ser realizadas no dia 26 de Maio de 2019, isto é, daqui a oito meses, por acaso coincidindo com as eleições para o Parlamento Europeu. Ainda falta muito tempo, mas no caso de Barcelona, já apareceu um candidato de peso, bem à medida da importância da autarquia e, quem sabe, se não será a chave para a resolução do problema catalão. Trata-se de Manuel Valls, o ex-primeiro ministro francês que anunciou a sua candidatura como candidato independente e afirmou que “quiero ser alcalde de una nueva Barcelona. Queiro ser alcalde de todos, como resultado de un esfuerzo colectivo para mejorar la ciudad”.
Se vier a ser eleito, este cidadão natural de Barcelona substituirá Ada Colau, a actual alcaldessa de Barcelona, tornando-se um caso único de um indivíduo que tendo sido primeiro-ministro de um país, ascende ao governo de uma grande cidade de outro país, ou seja, Manuel Valls tende a ser um pioneiro de uma nacionalidade europeia que, de facto, ainda não existe. Mais do que ser francês, espanhol ou catalão, a matriz identitária de Manuel Valls é europeia, até porque a dupla e a tripla nacionalidade são cada vez mais comuns numa Europa unida e sem nacionalismos serôdios.
Porém, o que parece mais significativo é o facto de, com a sua experiência e o seu prestígio, Manuel Valls poder vir a ser um árbitro no conflito catalão, ser capaz de juntar as partes divididas e tornar-se o agente mobilizador que faltava para encontrar uma solução agregadora e de progresso para a Catalunha. A imprensa espanhola parece ter gostado deste anúncio e o El País trouxe-o para a sua primeira página.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Bolsonaro ameaça a América Latina

A revista britânica The Economist olhou para o Brasil e escolheu Jair Bolsonaro para tema de capa da sua edição desta semana, definindo-o como "a última ameaça latino-americana" e classificando a sua eventual vitória nas eleições de 7 de Outubro como "um desastre".
O candidato do Partido Social Liberal representa a extrema-direita brasileira e lidera as sondagens presidenciais, afirmando-se um admirador do ditador Augusto Pinochet e sendo comparado a Donald Trump e à sua  insensatez política e social que tanto ameaça a paz no mundo. É uma verdadeira ameaça para o Brasil e para a América Latina.
Jair Bolsonaro é mesmo um perigo, como mostra a sua longa carreira política, mas o seu currículo está cheio de afirmações controversas, que vão desde a defesa da tortura e da ditadura militar, até à esterilização dos pobres. A revista realça os anos de convulsão por que o Brasil tem passado, com os seus problemas endémicos de corrupção, a enorme violência que grassa no país e uma recessão económica que afecta o emprego, que reduz o rendimento e que aumenta a pobreza.
Na aritmética eleitoral Bolsonaro deverá vencer a 1ª volta das eleições, mas terá que disputar uma 2ª volta no dia 28 de Outubro com Fernando Haddad, Ciro Gomes ou Geraldo Alckmin. O que se espera é que os brasileiros saibam rejeitar os reais perigos do bolsonarismo e das suas orientações radicais e escolham um candidato democrático e com um projecto de progresso para o Brasil.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A paz na Coreia 65 anos depois da guerra?

O Presidente Moon Jae-in da Coreia do Sul viajou de Seul para Pyongyang, onde foi recebido pelo Presidente Kim Jong-un da Coreia do Norte. Esta visita é um dos mais extraordinários acontecimentos da política internacional nos últimos tempos, porque em termos políticos e jurídicos “pode acabar com a guerra que nunca acabou”, como refere a edição de hoje do The Wall Street Journal.
A guerra da Coreia aconteceu entre 1950 e 1953 devido à rivalidade entre americanos e soviéticos que pretendiam dominar a península da Coreia e deram origem a uma guerra entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, em que os aliados de ambos os lados quase reeditavam a 2ª Guerra Mundial, mas então com alto risco de uma guerra nuclear. Morreram cerca de 4 milhões de coreanos e, por acção das Nações Unidas, no dia 27 de Julho de 1953 foi assinado um armistício que assegurou a cessação das hostilidades “até que uma solução pacífica final seja alcançada”. Essa solução, ou esse tratado, nunca foi assinado mas, recentemente, os dois dirigentes coreanos prometeram que, até ao final do ano, seria assinado um tratado de paz.
Passaram-se 65 anos e, na realidade, as duas Coreias permaneceram divididas e os pequenos conflitos continuaram, sem terem revestido um carácter militar, embora o desenvolvimento das capacidades nucleares norte-coreanas tenha sido uma preocupação para os coreanos do Sul e uma ameaça à paz mundial. Entretanto, a Zona Desmilitarizada da Coreia, uma faixa de segurança criada em 1953 com 238 km de comprimento e 4 km de profundidade, continua a servir de fronteira e a ser a zona mais militarizada do mundo.
Agora que o Presidente Moon Jae-in foi a Pyongyang e que o Presidente Kim Jong-un parece ir brevemente a Seul, ao mesmo tempo que se abraçam como velhos amigos e anunciam uma candidatura conjunta aos Jogos Olímpicos de 1932, tudo parece entrar num caminho de paz.

A nova Angola e a cooperação fortalecida

A visita de dois dias que António Costa efectuou a Luanda foi um marco importante no futuro das relações entre Portugal e Angola e fica-se com a convicção de que a partir de agora nada será como dantes.
Escreveu-se que houve um "divórcio temporário" que começou a ser superado em Maio quando se soube que Manuel Vicente ia ser julgado em Angola e não em Portugal. Foi então que começou um novo ciclo das relações entre os dois países e, certamente, os quatro encontros que António Costa manteve com o novo Presidente de Angola no último ano, serviram para solidificar a confiança pessoal e política entre ambos. A viragem diplomática aconteceu e, com ela, renasceu uma cooperação desejada. 
O Jornal de Angola deu um relevo excepcional à visita de António Costa e escreveu que “isto é bom para Angola, tanto quanto para Portugal, sendo igualmente importante reter o facto de a gestão do que as autoridades lusas consideravam como ‘irritante’ ter sido feita sem o agravamento das relações bilaterais”. Se a presidência de João Lourenço era um sinal de mudança para Angola, este reencontro com Portugal e a assinatura de onze acordos de cooperação vieram reforçar o seu poder e abrir as portas a um novo ciclo de que, tanto Angola como Portugal, podem tirar grandes proveitos para as suas economias.
António Costa também deu um passo relevante ao desbloquear em tão pouco tempo uma situação indesejada, porque Angola e Portugal têm demasiadas afinidades e, por isso, a confiança entre ambos é essencial para milhões de angolanos e portugueses. As fotografias dos dois dirigentes que a imprensa divulgou, falam por si.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Ilha de Moçambique, cidade bicentenária

As autoridades moçambicanas decidiram evocar a passagem dos 200 anos da elevação à categoria de cidade da Ilha de Moçambique e o jornal O País tratou de ilustrar a primeira página da sua edição de hoje com uma fotografia da imponente fortaleza de São Sebastião, construida pelos portugueses no século XVI.
Até 1898 a pequena Ilha de Moçambique que tem 2,5 quilómetros de comprimento máximo, foi a capital da África Oriental Portuguesa e aí foi construída a fortaleza que tinha por objectivo assegurar protecção às naus da carreira da Índia, mas também outros baluartes defensivos, igrejas, palácios e armazéns. A sua população agrupa-se por diferentes grupos religiosos com destaque para os cristãos e para os islâmicos, mas na ilha parece haver todas as religiões e todos os principais grupos étnicos. Em 1960 foi construida uma ponte com cerca de 5 quilómetros que liga a Ilha ao continente e, desde 1991, que a Ilha de Moçambique foi classificada como Património Mundial pela Unesco.
A história da Ilha de Moçambique não cabe num pequeno texto, mas é seguramente um dos mais expressivos capítulos da história da expansão portuguesa pelo mundo. Segundo relata a imprensa local, as comemorações do seu estauto de cidade bicentenária e de primeira capital de Moçambique tiveram a presença de Filipe Nyusi, o Presidente da República de Moçambique, vários membros do governo, deputados, magistrados, membros do corpo diplomático, empresários e membros da sociedade civil entre nacionais e estrangeiros. Nenhuma notícia refere a presença portuguesa nas cerimónias que terá sido bem discreta, o que é de lamentar, pois o património edificado na ilha faz parte das melhores memórias históricas portuguesas e a sua preservação tem sido apoiada por instituições portuguesas.

sábado, 15 de setembro de 2018

Ano Europeu do Património Cultural 2018

No passado dia 17 de Maio de 2017, o Parlamento Europeu e o Conselho de Ministros da União Europeia aprovaram uma decisão que estabeleceu o ano de 2018 como o Ano Europeu do Património Cultural, afirmando que o património cultural europeu não era apenas um legado do passado, mas que também era um recurso imprescindível ao nosso futuro pelo seu inquestionável valor educativo e social, pelo seu potencial económico e pela sua importante dimensão no plano da cooperação internacional.
Cada país tem tomado as iniciativas que considerou mais adequadas e, neste fim-de-semana, decorrem em França as 35ª Jornadas Europeias do Património, em que cerca de 17.000 monumentos abrem as suas portas e oferecem cerca de 26.000 iniciativas culturais para envolver a população no ideal da preservação do património cultural. Nas suas edições de hoje, a generalidade da imprensa francesa nacional e regional dá uma grande cobertura e promove esta iniciativa e, por exemplo, o jornal católico La Croix destaca em título l'amour du patrimoine e oferece a imagem de um farol cheio de visitantes.
Em Portugal, as Jornadas Europeias do Património 2018 estão marcadas para os dias 28, 29 e 30 de Setembro, salientando-se que para além da participação dos museus e monumentos sob tutela da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), a sociedade civil também terá uma ampla participação nessas Jornadas, estando previstas 1200 iniciativas que na sua maioria são gratuitas.
Portanto, nesse fim-de-semana façamos qualquer coisa pelo nosso património cultural e visitemos um museu, um monumento, um farol ou uma exposição.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

A canção portuguesa é cantada em Goa

Todos os anos desde 1999, acontece em Goa um concurso-festival da canção portuguesa que adoptou o nome de Vem Cantar e que parece ter cada vez mais adeptos e entusiastas de todas as idades, pois atrai dezenas de participantes, individualmente ou em grupo.
Esses participantes pesquisam por diversas formas as canções portuguesas que mais lhes agradam e fazem as suas escolhas. Depois preparam-se: aprendem as letras, afinam as vozes, fazem-se acompanhar por músicos, ensaiam as suas apresentações e vestem-se a rigor para a grande prova em que, muitas vezes, se comportam como experientes profissionais. As suas apresentações são voluntariamente feitas em português, aprendido em casa ou em algumas escolas, começando invariavelmente pela habitual invocação nestas circunstâncias, isto é, Minhas Senhoras e Meus Senhores...
No princípio o concurso-festival Vem Cantar tinha aspectos de um certo saudosismo lusitano, mas conquistou o seu espaço e é hoje uma iniciativa cultural muito prestigiada e reconhecida na sociedade goesa, sobretudo nos estratos populacionais católicos, mais abertos à cultura ocidental e à herança cultural portuguesa.
Embora o concurso não sirva para promover a aprendizagem ou o uso da lingua portuguesa, serve muito bem para a manter viva e na memória de muitos goeses.
Além disso, é sugestivo e muito interessante ver algumas das apresentações do Vem Cantar que são depois colocadas no you tube...

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

V&A Dundee, o museu-orgulho da Escócia

No próximo sábado será inaugurado na cidade escocesa de Dundee uma sucursal do famoso Victoria & Albert Museum de Londres (V&A), com a qual a cidade espera criar um impacto cultural tão forte como o que foi criado pelo Museu Guggenheim Bilbao, um dos cinco museus que a Fundação Guggenheim tem no mundo.
O V&A Dundee será o primeiro museu de design da Escócia e o único museu V&A do mundo fora de Londres, tendo o objectivo de se tornar num centro internacional de referência no design e, em especial, nos campos da arquitectura, cerâmica, engenharia, moda, mobiliário, saúde, joalharia, têxteis e outras áreas.
O museu foi projectado pelo arquitecto japonês Kengo Kuma e localiza-se na margem esquerda do rio Tay, enquadrando-se na histórica zona marginal da cidade onde se situavam as velhas docas e que foi recentemente renovada. Aí se encontra o RSS Discovery, um ex-libris da cidade que é o histórico veleiro que no princípio do século XX levou Robert Scott e Ernest Shackleton para a exploração da Antártida.
O edifício tem uma geometria complexa que se inspira nas falésias da costa leste da Escócia e apresenta-se com duas formas piramidais invertidas que criam espaços e onde se sente a brisa marítima ou o vento mais fresco a assobiar. Inicialmente planeado para emergir das águas do rio Tay, foi depois construido em terra e o seu orçamento de 27 milhões de libras foi revisto para 45 milhões. No fim, a obra veio a custar 80 milhões de libras e a sua construção demorou quatro anos. Apesar destes contratempos e destas escorregadelas orçamentais, que não acontecem só por cá, os escoceses estão orgulhosos do seu novo museu, como hoje salienta o The Guardian.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Catalunha: o diálogo ou a luta nas ruas?

Ontem a cidade de Barcelona participou na grande manifestação da Diada, que é o dia nacional da Catalunha e celebra a queda da cidade em 1714, durante a Guerra da Sucessão. Por isso, a manifestação começa sempre às 17 horas e 14 minutos. Os catalães foram mobilizados pelas organizações independentistas e afirma-se que cerca de um milhão de pessoas encheram as ruas de Barcelona e participaram na Diada, muitas delas transportadas do interior em mais de mil autocarros.
A Diada foi um sucesso para os organizadores e foi pacífica, mas reivindicativa, centrando-se na libertação dos presos, na criação da república catalã e no independentismo. As fotografias publicadas pela imprensa são impressionantes, como se vê na capa do La Vanguardia, em que a enorme quantidade das bandeiras mostra que a organização as distribuiu eficazmente ou que a cena foi bem encenada para os media.
A generalidade dos observadores refere que a manifestação serviu para unir e  elevar a moral do independentismo que tem andado desorientado e desmobilizado, oscilando entre as posições dos moderados e dos radicais, ou entre aqueles que entendem que deve ser mantido e reforçado o diálogo com o governo de Madrid e aqueles que não acreditam no diálogo e querem trazer o problema para a rua.
No dia 27 de Outubro perfaz-se um ano desde a polémica declaração de independência de Carles Puigdemont e há quem acredite que esse dia está a ser preparado para ser um dia de confronto ou o início de um Outono agitado nas ruas de Barcelona.
Porém, o que é mais relevante é que a Catalunha permanece dividida ao meio, o que coloca o independentismo numa posição de fraqueza, por mais impressionantes que sejam as imagens da manifestação.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Os desportistas que não aceitam a derrota

No passado fim-de-semana, no Flushing Meadows - Corona Park de Nova Iorque, disputou-se a final feminina do US Open entre a americana Serena Williams de 36 anos de idade e a japonesa Naomi Osaka, de 20 anos de idade. O árbitro era o português Carlos Ramos e Naomi Osaka triunfou em dois sets, por 6-2 e 6-4, ao fim de 1 hora e 19 minutos de jogo, tendo sido a primeira vez que o ténis japonês venceu um torneio do Grand Slam. Foi um dia histórico para o desporto japonês, mas o que aconteceu entre o árbitro português e a tenista americana também ficou registado como um acontecimento insólito, que foi mostrado repetidamente pelas televisões e foi destacado em manchete na imprensa de vários países.
Aconteceu que Serena Williams estava a jogar mal e em desvantagem e, para quem como nós assistiu àquela final pela televisão, pôde ver como ela estava surpreendida pelo bom jogo da jovem japonesa e demasiado nervosa. Então, terá recebido instruções do seu treinador o que não é permitido pelos regulamentos e, depois, partiu a sua raqueta numa atitude anti-desportiva, começando aí a controvérsia. O árbitro mostrou grande profissionalismo e inflexibilidade, tendo punido a jogadora americana três vezes: primeiro por ter recebido indicações do treinador, depois porque em situação de descontrolo emocional partiu a sua própria raqueta e, finalmente, por discutitir com o juiz português em termos agressivos e insultuosos. Serena Williams estava fora de si e excedeu-se, certamente porque não aceitou a superioridade da tenista japonesa. E depois, invocou sexismo do árbitro e ofensa aos direitos das mulheres. Arrogante e insolente.
Veremos o que vai fazer a Asssociation of Tennis Professionals (ATP) face a esta insubordinação insultuosa e anti-desportiva de uma tenista que pensou que a vitória “eram favas contadas” e que descarregou a sua frustração no árbitro português, que mostrou grande serenidade perante a agressividade da Serena e se limitou a cumprir os regulamentos.

domingo, 9 de setembro de 2018

JLo abre caminhos para uma nova Angola

No dia 26 de Setembro de 2017 os eleitores angolanos escolheram para a presidência da República Popular de Angola o cidadão João Manuel Gonçalves Lourenço, cujo codinome é JLo. Ao fim de quase um ano de um mandato atento e activo, tem sido largamente destacada a inteligência, a coragem e a oportunidade com que tem posto em prática as suas ideias reformistas, a forma como tem afrontado os poderes instalados na sociedade e na economia angolanas, bem como a estratégia com que se tem aproximado da comunidade internacional.
Depois de 38 anos da presidência de José Eduardo dos Santos (JES), o desafio de JLo era muito complexo, mas o facto é que, passo a passo, ele tem prosseguido o seu caminho e Angola já adquiriu uma nova e prestigiante imagem internacional. Faltava um aspecto importante que era a presidência do MPLA, o partido que governa o país desde a independência. Ontem, em Luanda, durante o seu 6º Congresso Extraordinário e por voto secreto, João Lourenço teve 2.309 votos a favor e 27 contra e foi eleito presidente do MPLA.
Discursou depois e, no seu notável discurso, disse que “temos todos consciência de que só construiremos um futuro melhor se tivermos a coragem de corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”, acrescentando os males que, na sua opinião, afectam Angola: “a corrupção, o nepotismo, a bajulação e a impunidade que se implantaram no nosso país nos últimos anos e que muitos danos causam à nossa economia, porque minam a reputação e a credibilidade do país”. Disse, ainda, que “estes males são o inimigo público número um contra o qual temos o dever de lutar e vencer. Nesta luta, o MPLA deve assumir o papel de vanguarda e de líder, mesmo que os primeiros a tombar sejam altos militantes e altos dirigentes do partido”. É preciso muita coragem para dizer isto na frente de JES e da sua gente!
O Jornal de Angola escreveu na sua primeira página a palavra ruptura. JLo está de facto a fazer a ruptura com o passado recente. Viva Angola!

Um apelo francês para salvar o planeta

Foi chamado o Apelo dos 700 e é um documento em que, perante os problemas do aquecimento global e da sucessão de catástrofes ecológicas acontecidas no corrente Verão, cerca de 700 cientistas franceses apelam aos decisores políticos para passarem a uma acção urgente a caminho de uma sociedade livre de carbono. É um SOS climático.
O documento foi ontem publicado pelo jornal Libération e refere algumas manifestações concretas das mudanças climáticas, como o aumento da temperatura média do planeta e a ocorrência de calores extremos, as secas, o degelo de grandes massas de gelo polar, a subida do nível do mar e os efeitos sobre alguns animais e espécies de plantas.
Porém, a luta para conter o aquecimento tem sido lenta. O Acordo de Paris de Dezembro de 2015 exige uma redução rápica e radical das emissões de gases com efeito de estufa a fim de limitar o aumento das temperaturas globais, mas isso significa uma revolução nos modelos de desenvolvimento dominantes e da nossa relação com a energia e com os recursos naturais, com a mobilidade, o consumo, a residência e todas as actividades humanas. Não é fácil mudar os comportamentos adquridos com a sociedade industrial, mas não faltam discursos políticos, como o de Emmanuel Macron ao salientar a necessidade de "tornar o nosso planeta grande novamente", em resposta ao anúncio da retirada dos Estados Unidos do acordo de Paris. O documento dos 700 afirma que os discursos são insuficientes, pois os indicadores mais recentes das emissões de gases de efeito estufa resultantes da queima de combustíveis fósseis, indicam tendências agravadas e preocupantes.
Por isso, os 700 cientistas que subscrevem o documento apelam aos decisores políticos, embora reconhecendo o papel de outros actores, incluindo empresas e sociedade civil, mas insistem que cabe aos governos e parlamentos implementar as condições - legislativas, regulamentares, institucionais, orçamentais e fiscais - para uma transição para uma sociedade livre de carbono e, em última instância, para salvar o planeta.

sábado, 8 de setembro de 2018

O negócio do armamento tem muita força

Ontem em San Fernando, na orla sul da baía de Cadiz, cerca de 1500 trabalhadores da Navantia, a empresa estatal espanhola que é o quinto maior construtor naval da Europa e o nono maior do mundo, cortaram a estrada de acesso à cidade de Cadiz e fizeram uma grande manifestação, a que o Diario de Cadiz chamou la batalla de las corbetas. O caso que mexeu com os trabalhadores da Navantia é complexo.
No passado mês de Julho foi assinado um contrato com a Arábia Saudita para a construção de cinco corvetas por 1813 milhões de euros, que assegura 6000 postos de trabalho directos e indirectos. Porém, em 2015 o governo espanhol tinha decidido vender 400 bombas laser de fabrico americano pertencentes ao Exército espanhol, muito sofisticadas tecnologicamente e que poucos países possuem. As bombas já estão pagas, mas a nova ministra da Defesa Margarita Robles achou esta operação de venda muito opaca e ordenou o seu cancelamento, com o argumento de que essas bombas iriam ser utilizadas contra a população na guerra do Iémen. As autoridades sauditas reagiram com apreensão a esta notícia, que pode levar ao cancelamento do contrato das corvetas. Nessas circunstâncias, o pessoal da Navantia veio para a rua protestar contra o cancelamento da venda das bombas, porque não quer perder o contrato das corvetas com a Arábia Saudita.
E agora, está o governo espanhol de Pedro Sanchéz com um grande dilema: se cancela a venda das bombas, arrisca-se a perder o contrato das cinco corvetas, mas para garantir a construção das corvetas, as suas bombas vão contribuir para que haja mais destruição e mais tragédia no Iémen. Certamente que o governo espanhol procura soluções intermédias, mas a economia vai certamente prevalecer sobre a ideologia governamental e sobre a renúncia à brutalidade da guerra.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Um navio de 400 metros de comprimento!

O diário francês Le Figaro publica na primeira página da sua edição de hoje uma fotografia do novo porta-contentores francês que foi baptizado com o nome de Antoine de Saint-Exupéry. O navio gigante foi construido nos estaleiros do Havre por encomenda do armador francês CMA-CGM e é o terceiro maior porta-contentores do mundo, pois tem 59 metros de largura e 400 metros de comprimento, isto é, mais do que o comprimento de quatro campos de futebol ou mais de cinco Airbus-380. É uma obra-prima e um orgulho da arquitectura e da construção naval francesas.
Este gigante dos mares pode transportar 20.600 contentores e, se fossem alinhados numa só fila, teria uma extensão de 123 quilómetros. A potência da sua máquina é de 100.000 CV, isto é, dez vezes superior à potência de um reactor de um Airbus, o que lhe assegura uma velocidade de 22 nós. O calado do Saint-Exupéry é de 16 metros o que apenas lhe permite entrar em portos de águas profundas e com terminais multimodais, o que significa que não poderá ser visto em Lisboa e que, eventualmente, só poderia entrar em Sines.
Até agora, os maiores navios gigantes que têm alimentado o comércio entre a Ásia e a Europa, eram chineses ou de armadores de Hong Kong, mas os franceses decidiram entrar nesse negócio, inclusive por razões de prestígio nacional.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

O conflito da Catalunha está a renascer

O problema da Catalunha que há um ano atingiu um elevado patamar de conflitualidade e teve como principais protagonistas Mariano Rajoy e Carles Puigdemont, para além do Tribunal Constitucional de Espanha, parecia ter acalmado com a subida ao poder central de Pedro Sanchéz e a presidência de Quim Torra no governo autónomo da Catalunha.
O diálogo que estivera fechado foi reaberto e, durante alguns meses, todos assistimos a uma lenta retoma da confiança dos cidadãos na evolução do processo catalão, ao verem as fotografias dos encontros muito cordiais entre Sanchéz e Torra.
Porém, nos últimos dias começaram a ver-se sinais de que algo estava a mudar, sobretudo porque o exilado Puigdemont voltou a falar, depois de muitos meses de silêncio. A sua voz influencia demasiado o seu pupilo e, ontem, Quim Torra discursou. Como refere o jornal conservador ABC, foi “mais do mesmo”, isto é, foi retomada a “retórica golpista” e convocada uma marcha pelos direitos civis dos catalães, reivindicada a autodeterminação da Catalunha e exigida a libertação dos presos políticos que atentaram contra a unidade da Espanha.  O discurso radical de Torra em defesa do republicanismo e da libertação dos políticos é uma ameaça ao diálogo e é mais um braço de ferro do independentismo catalão, que não cede aos seus direitos históricos e à ambição de se tornar num Estado, mas que continua sem a solidariedade da Europa que, já bastante dividida e com grandes problemas, teme por uma eventual balcanização da Espanha. Por isso, a solução do problema catalão terá que ser encontrada no diálogo e nunca nas manifestações convocadas por Quim Torra, que nunca se sabe como podem acabar.

Ainda a tragédia do Museu Nacional

O incêndio que destruiu o Museu Nacional no Rio de Janeiro foi uma tragédia para o património cultural e para a memória histórica do Brasil e teve repercussão mundial.
A dimensão da desastre foi enorme e o prejuízo inquantificável, não só porque se perdeu um importante acervo histórico e foi afectada a investigação académica na área científica das Ciências Humanas, mas também porque foi destruido o palácio da Família Real portuguesa e da Família Imperial brasileira, isto é, um dos maiores símbolos da ligação entre Portugal e o Brasil.
A imprensa brasileira tem apontado os inúmeros erros que foram cometidos pelas autoridades que tutelam o museu, como o desinvestimento em trabalhos de conservação, a degradação da instalação eléctrica, a falta de sistemas de segurança e, sobretudo, a postura de desinteresse e de abandono a que aquele monumento e aquele acervo foram votados.
O desastre é uma lição para os governos, para os políticos e para a sociedade em geral de todo o mundo e não apenas do Brasil. O assunto é recorrente, mas em período de campanha eleitoral talvez sirva para alertar os eleitores para resistirem à manipulação do seu voto e para fazerem mais exigências aos políticos em relação ao património.
Apesar do luto, há que reagir e refazer o museu, mas antes é necessário definir o que fazer ao bicentenário edifício, isto é, saber se se reconstrói ou se se mantém a ruina para lembrar a tragédia aos vindouros. O jornal O Globo publicou uma fotografia do desolador aspecto das ruinas do palácio mais importante da História do Brasil e anuncia que alguns países, como Portugal e a França, já ofereceram ajuda para a reconstrução.
Há que começar já a trabalhar para que nada se apague da memória!

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O fogo destruiu património do Brasil

Fogo destrói Museu Nacional, é o título de primeira página com uma fotografia a toda a sua largura, da edição de hoje da Folha de S. Paulo e, notícias como esta deixam-nos muito tristes, quer aconteçam no Rio de Janeiro ou em Lisboa, em Atenas ou no Cairo, em Bagdad ou em Nagasaki.
Diz a notícia que um incêndio de grandes proporções deflagrou ontem, destruindo o Museu Nacional na Quinta da Boavista, no Rio de Janeiro, só tendo sido dominado ao fim de seis horas de combate. O prejuízo científico e cultural desta tragédia é incalculável pois cerca de 20 milhões de peças arqueológicas de uma colecção que tinha o maior e mais importante acervo indígena e uma das bibliotecas de antropologia mais ricas do Brasil, foram destruídas.
Foi uma perda gravíssima para a História, para a Ciência e para a Cultura do Brasil. O palácio que albergava o museu também foi destruído. Foi inaugurado em 1818 pelo rei D. João VI quando o Brasil era uma colónia portuguesa e chegou a ser a residência imperial, pelo que também representa uma grande perda para o património construído no Brasil colonial.
Procuram-se agora as causas desta tragédia cultural, mas há uma lição universal a tirar: a preservação e a segurança do património não podem depender de questões orçamentais, pois são tão importantes na definição da identidade nacional como a língua ou o território.

domingo, 2 de setembro de 2018

Lula não é elegível para a presidência

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Brasil decidiu por seis votos contra um que o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva é inelegível e, portanto, não pode concorrer às eleições presidenciais brasileiras que se vão realizar no próximo dia 18 de Outubro, nem pode participar na campanha eleitoral nas rádios e nas redes de televisão. A decisão foi tomada com base na “Lei da Ficha Limpa”, que proibe qualquer pessoa condenada em duas instâncias da Justiça de concorrer a cargos públicos.
Lula da Silva ocupa muito destacado o primeiro lugar em todas as sondagens já realizadas, mas o seu partido, o PT – Partido dos Trabalhadores, tem agora dez dias para indicar um novo candidato, embora haja uma parte do partido que insiste na recandidatura de Lula e quer recorrer da decisão. O caso está, naturalmente, a agitar o Brasil, não só pelo peso político e eleitoral do ex-Presidente, mas também porque a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas recomendou a "garantia dos direitos políticos" de Lula da Silva até se esgotarem todos os recursos legais nos tribunais. Com ou sem Lula, os tempos que se avizinham não vão ser fáceis para o Brasil e os brasileiros bem precisam de gerir a razão e a emoção.
A “Lei da Ficha Limpa” faz todo o sentido nas sociedades democráticas e, por isso, a declaração de inegibilidade de Lula da Silva é a consequência natural dessa lei. Ponto final.
O que não sai da cabeça de ninguém é o que se passa no Brasil em termos de corrupção e a forma como uns são condenados e outros resistem a todas as evidências de culpa ou, dito de outra maneira, como as forças mais conservadoras e mais retrógradas da sociedade brasileira, instaladas na Justiça e em outras instâncias, procuram retomar o comando do país e inventam bolsonaros e coisas parecidas.