quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Os três pesos e as três medidas do Donald

Vigarista, batoteiro, racista. Estas foram algumas das acusações feitas a Donald Trump por Michael Cohen, o advogado que durante uma década foi um dos seus mais leais colaboradores. A imprensa mundial destaca hoje essas declarações que nos impressionam e que vêm mostrar a verdadeira face deste e de outros donald que há por esse mundo fora e das causas, ou interesses, que defendem.
É realmente preocupante que o mundo esteja sujeito às disfunções de certos dirigentes, sobretudo quando são poderosos.
Na mesma altura em que Cohen falava no Congresso sobre as tropelias do Donald, o mesmo Donald abraçava e jantava no Vietnam com o ditador norte-coreano Kim Jong-un e, nas fronteiras venezuelanas, os seus agentes procuravam abater o aspirante a ditador Nicolás Maduro, num país em que existem partidos políticos, oposição organizada e eleições, provavelmente pouco livres, mas que atravessa uma grave crise económica causada principalmente pelo boicote promovido pela administração Trump. Este comportamento enviesado e de geometria variável na política externa do Donald não admira e basta observar o que se passa com a amizade mantida com a Arábia Saudita, que é a ditadura mais radical do mundo, onde perdura um regime culturalmente fechado e intolerante, mas que é alimentado militarmente pelos Estados Unidos.
Porém, o Donald escolheu três pesos e três medidas para gerir a sua relação com os ditadores: ao rei saudita Salman vende armas que são pagas em petrodólares, ao ditador Kim Jong-un oferece ajuda económica em troco da desnuclearização da península coreana e ao aspirante a ditador Nicolás Maduro apenas quer tirar o poder, num quadro de abusiva ingerência na política interna de um país soberano.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

A mais perigosa fronteira do mundo

A guerra na Caxemira poderá estar de volta. A região situada no extremo noroeste do subcontinente indiano é disputada desde 1947 pela Índia e pelo Paquistão. Para separar os dois países foi estabelecida uma linha de controlo militar ou Line of Control (LoC) que resultou de um acordo assinado em 1949 e que estabeleceu a United Nations Military Observer Group in India and Pakistan (UNMOGIP), que é a mais antiga missão permanente das Nações Unidas no mundo.
A rivalidade entre ambos os países nasceu do desmembramento do Império Britânico ou British Raj em 1947 e com as suas independências, que resultaram da rivalidade entre os muçulmanos de Muhammad Ali Jinnah, líder da Liga Muçulmana, e os hindus de Jawaharlal Nehru, líder do Congresso Nacional Indiano. Como a rivalidade religiosa e política são inultrapassáveis, os dois países já tiveram quatro guerras (1947, 1965, 1971 e 1999), além de muitas escaramuças menores nas suas fronteiras. 
Agora parece que o conflito está outra vez de volta com as duas potências, nucleares e bem armadas, a entrar numa perigosa escalada. Segundo foi anunciado, a aviação indiana atacou campos de treino do grupo islâmico Jaish-e-Mohammad (JeM), na Caxemira paquistanesa, tendo provocado muitas baixas, numa acção de retaliação a um ataque que esse grupo fizera recentemente e que matara 42 soldados indianos, o que foi o mais mortífero ataque dos últimos 30 anos. O Paquistão nega o sucesso da operação indiana e já disse que tem direito a uma resposta apropriada. Hoje, as informações são muito contraditórias e ambos os países anunciaram ataques aéreos e o derrube de aviões dos dois lados. As provocações mútuas já trouxeram preocupações internacionais, com os Estados Unidos, a China e a União Européia a pedir calma aos dois lados, até porque ambos possuem mísseis balísticos capazes de transportar armas nucleares.

A instabilidade continua na Venezuela

A operação montada pelos serviços secretos americanos em torno da ajuda humanitária à Venezuela nas fronteiras do Brasil e da Colômbia, chamou a atenção do mundo para a crise venezuelana, mas também mostrou como se encenam situações para fins políticos. Apesar do apoio mediático que teve, nomeadamente através da televisão portuguesa, a operação não atingiu os seus objectivos, porque nem a ajuda humanitária entrou no país, nem os militares desertaram em massa como alguns esperariam.
O regime de Maduro é mau, conduziu a uma grave crise económica e dele já fugiram dois ou três milhões de venezuelanos, mas parece que ainda tem muito apoio interno e que não está tão isolado internacionalmente como parecia. Se há duas venezuelas em termos políticos, seria bom que a imprensa mostrasse não só os que apoiam Guaidó, mas também os que continuam a apoiar Maduro. Além disso, é necessário que sejam os venezuelanos a resolver o problema e que seja estimulado o diálogo entre as partes. Como dizia Guaidó, e bem, é preciso lutar com inteligência e não é isso que têm feito os americanos que lideram a frente anti-Maduro, ao mesmo tempo que apoiam outros ditadores noutras regiões do mundo.
Ontem reuniu o Grupo de Lima e dez dos seus 14 membros, embora tivessem condenado a ditadura de Maduro, rejeitaram o cenário de qualquer intervenção armada externa e reiteraram que a saída para a crise deverá ser pacífica e pela via diplomática. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos levaram às Nações Unidas a sua pretensão para usar a força na Venezuela, mas foram contrariados pela França, Rússia, China, Perú e República Dominicana. A Venezuela reagiu e pediu ao Conselho de Segurança que aprove uma resolução condenando o eventual uso da força por parte dos Estados Unidos e de outros países, porque acredita que alguma coisa está a ser preparada, mesmo sem o apoio do Grupo de Lima e do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O jornal venezuelano Últimas Noticias dá conta do que se está a passar nas Nações Unidas e denuncia a obcecação americana contra a Venezuela de Maduro.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Moçambique prepara forças especiais

Desde meados de 2017, isto é, desde há quase dois anos que se têm verificado perturbações da ordem pública, actividades de intimidação e actos de grande violência na província moçambicana de Cabo Delgado, conduzidas por grupos radicais armados, provavelmente de natureza jihadista. Calcula-se que já terão morrido entre 100 a 150 pessoas, contabilizadas entre as populações atacadas, os agressores armados e os elementos das forças de segurança.
Para enfrentar esta situação que se vem agravando e que pode representar uma tentativa de instalação de uma base territorial, o governo moçambicano decidiu criar as forças especiais da Polícia da República de Moçambique, que ontem se apresentaram perante o Presidente da República. Nessa oportunidade, segundo o jornal O País, o Presidente Filipe Nyusi incentivou os cerca de dois milhares de elementos em parada para a necessidade de redobrar esforços para combater os grupos armados que têm efectuado ataques em vários distritos da província de Cabo Delgado, mas que também era necessária a mobilização de toda a população moçambicana.  
Na passada semana, uma caravana de viaturas pertencente a uma empresa petrolífera americana foi atacada por um grupo armado na área de Palma, no extremo norte de Moçambique, de que resultaram vários feridos e esse ataque foi o primeiro dirigido a alvos de uma empresa envolvida em projectos de exploração de gás natural. Depois, no distrito de Macomia, num ataque a uma viatura, morreram seis pessoas e várias ficaram feridas. A criação das forças especiais da Polícia da República de Moçambique é uma resposta para ultrapassar a instabilidade que se vive no norte de Moçambique e, em especial, na província de Cabo Delgado.

Brexit: adiamento ou novo referendo

Jeremy Corbyn, o actual líder do Partido Trabalhista britânico, que é o principal partido da oposição na Câmara dos Comuns, declarou ontem à noite que vai apoiar um segundo referendo sobre o Brexit para evitar uma saída da União Europeia sem acordo, o que a acontecer, segundo muitos especialistas, seria uma tragédia não só para o Reino Unido, mas também para a União Europeia.
Jeremy Corbyn não tinha, até agora, aceite apoiar um segundo referendo, pelo que esta declaração altera muito os dados do problema e pode ajudar a que seja encontrada uma solução.
O divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia está anunciado para o dia 29 de Março, mas a confusão e a incerteza são totais, com cada um dos dois maiores partidos britânicos muito divididos e até sob ameaça de se desintegrarem. Em relação ao Brexit já ninguém percebe o que querem uns e o que querem os outros. Atenuaram-se fronteiras ideológicas e formaram-se grupos. O problema principal parece ser a fronteira da Irlanda do Norte, conhecido por backstop, mas há outros problemas. Entretanto, Theresa May continua a correr para Bruxelas sem conseguir trazer nada de novo, o que faz aumentar a confusão. Agora há uma proposta subscrita por dois deputados, um trabalhista e outro conservador, em que é pedida uma extensão do prazo do Brexit, sabendo-se que essa proposta tem largo apoio em ambas as bancadas do Parlamento. E há a nova posição de Jeremy Corbyn que sempre pediu eleições antecipadas e que agora diz aceitar a realização de um novo referendo.
Significa que, já na recta final do processo, começam a aparecer propostas mais sensatas e mais prudentes, o que mostra que os caminhos percorridos pela obstinada Theresa May conduziram a um beco sem saída, mas o facto é que ela não se demitiu nem foi demitida, o que ainda gera mais confusão.

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Venezuela: ficou (ou não) tudo na mesma

Ontem foi o dia em que se esperava que alguma coisa acontecesse na fronteira venezuelana porque estava anunciada a batalha da ajuda, mas ficou tudo na mesma.
Os dois presidentes venezuelanos, cantaram vitória. Nicolás Maduro cantou vitória porque os camiões com a ajuda humanitária não entraram no país ou foram incendiados, o que mostrou que é ele quem ainda manda e que controla as suas fronteiras. Juan Guaidó perdeu essa batalha mas teve coragem, esteve na frente e com essa atitude acrescentou argumentos à sua liderança do movimento oposicionista venezuelano e ganhou ainda mais simpatias na comunidade internacional.
Neste imbróglio venezuelano anda envolvida muita gente estrangeira que tem interesses no país, mas terão que ser os venezuelanos a resolvê-lo e de forma pacífica. A ingerência externa não dá bom resultado. Como se viu ontem. Maduro está transformado num lobo acossado e isso é muito perigoso, enquanto Guaidó está demasiado deslumbrado pelo apoio de Trump e pelos abraços desse notável estadista que é o pequeno Rangel, o que também é perigoso.
Mais do que uma necessidade, a ajuda humanitária tem sido um pretexto para intervir na Venezuela, mas as imagens que nos chegam não mostram uma oposição carente de ajuda humanitária. De resto, as reportagens televisivas portuguesas estão instrumentalizadas e limitam-se a fazer umas entrevistas de teor sensacionalista, sem nada nos dizerem sobre o que está a ser feito nos bastidores para ultrapassar esta crise e sobre a realização de eleições livres e justas.
A batalha da ajuda resultou em 4 mortos, algumas dezenas de feridos (com gás lacrimogéneo e balas de borracha) e 23 deserções das forças policiais ou militares. Foram poucas mortes e poucas deserções para aquilo que Guaidó e os seus patrocinadores desejavam. O 23 de Fevereiro não vai ficar na história da Venezuela como o dia em que o chavismo de Maduro massacrou o povo. A imprensa da América Latina e da Espanha destacaram a Venezuela como o tema dia, mas no resto do mundo não se falou nisso.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Hoje será um dia chave para a Venezuela?

Como anuncia a edição do jornal Vanguardia Liberal da cidade colombiana de Bucaramanga, hoje é um dia chave para a ajuda humanitária à Venezuela, mas também é o dia em que podem ocorrer confrontos de gravidade, até porque é evidente que há muita gente infiltrada e interessada em que algo aconteça hoje para que isso sirva de bandeira de mobilização contra Maduro e de ânimo para Guaidó.
A ajuda humanitária surge cada vez mais, não como uma necessidade mas como um pretexto ou como um “cavalo de Tróia” destinado a criar novos argumentos que justifiquem uma intervenção estrangeira, eventualmente armada. A América de Trump está a ver o tempo a passar e procura desesperadamente criar novos argumentos no terreno, quando deveria utilizar a via diplomática para encontrar soluções justas e equilibradas, até porque o aparelho militar e judicial venezuelano não dá mostras de ceder a esta ofensiva das forças da oposição, que está a ser coordenada pelos serviços secretos americanos.  
Não há notícias de que o governo bolivariano de Nicolás Maduro tenha encetado negociações com quaisquer mediadores para ultrapassar a situação política por que passa o país, nem que os oposicionistas tenham recuado nas suas reivindicações. Aparentemente, a crise agudiza-se e a ajuda humanitária, tal como os concertos dos dois lados da fronteira com a Colômbia, não passam de faits divers. As imagens que nos chegam da Venezuela pouco esclarecem pois mostram que os oposicionistas são gente bem vestida, que vai a concertos e que não precisa de ajuda humanitária. Os que precisam, provavelmente os descamisados venezuelanos, estarão ao lado de Maduro.
Hoje, a oposição e o chavismo defrontam-se uma vez mais. É preciso cuidado. Quando os lobos se sentem cercados tornam-se mais violentos e mais perigosos.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

A Super Lua inspira a arte fotográfica

Ontem a Lua esteve em fase de Lua cheia e foi possível observá-la maior e mais brilhante do que é habitual porque, dizem os astrónomos, o astro nestas situações aparenta ser 14% maior e 30% mais brilhante do que a habitual Lua cheia. Assim, a gíria chama a esta situação a Super Lua, uma vez que a Lua cheia está centrada no perigeu e no seu ponto mais próximo da Terra, apesar de estar a cerca de 256.761 quilómetros de distância do nosso planeta.
Milhões de pessoas em todo o mundo observaram o fenómeno que, em Lisboa, foi bem visível. Muitos milhares de fotógrafos, profissionais ou amadores, foram atraídos por este fenómeno e captaram a fotografia da luminosa Lua nos mais diversos e imaginativos enquadramentos estéticos.
Uma pesquisa no google oferece-nos dezenas de belas imagens em que podemos observar o brilho daquele círculo enquadrado por monumentos, edifícios, paisagens, aviões e outros elementos bem curiosos. Alguns jornais internacionais trataram de publicar essas interessantes fotografias nas capas das suas edições. Aqui destacamos o La Vanguardia de Barcelona, que publica uma fotografia da estátua de Cristóvão Colombo nas famosas Las Ramblas (com uma atrevida gaivota pousada na cabeça do navegador), que contrasta com o imponente brilho da Super Lua.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Um arrasador fenómeno de popularidade

Não é habitual que um político português apareça destacado na primeira página de um qualquer jornal internacional, sobretudo nos grandes jornais de referência como é, por exemplo, o El País. Porém, a edição de hoje do mais importante jornal de língua espanhola, trata das eleições legislativas antecipadas que se vão realizar no próximo dia 28 de Abril, mas também dedica uma fotografia na capa e um texto ao Presidente da República de Portugal, que trata como o “el arrollador fenómeno de Rebelo de Sousa”.
O pretexto para esta notícia foi a apresentação na FLUP de uma tese de doutoramento sobre a extraordinária popularidade do presidente eleito há três anos com 52% dos votos, quando gastou apenas 157.000 euros por ter renunciado ao marketing partidário-eleitoral e ter tido a colaboração de sete pessoas apenas. Depois, instalou-se em Belém e a sua actividade tem sido frenética. Hoje a sua popularidade é inequívoca e tem uma imagem positiva para 71% da população, sendo apenas 7% aqueles que não o vêem com bons olhos. É o maior símbolo de popularidade em Portugal, abraçando e beijando toda a gente, repartindo-se em afectos e em milhares das famosas selfies. Segundo uma sondagem publicada pelo semanário Expresso, haverá 52% de portugueses que desejariam fotografar-se com Marcelo Rebelo de Sousa e 3,3% já tinham tirado uma selfie com ele, o que se traduz em 330.000 selfies.
O jornal espanhol refere que uma agência de publicidade abriu a página TeleMarcelo na web, na qual as pessoas deixavam um número de telefone de um amigo, o qual seria depois despertado pelo telefone com a voz do Presidente da República: “Aqui Marcelo Rebelo de Sousa. Interrompi uma reunião. Acabei uma e vou começar outra, mas queria mandar-te um abraço”. Num só dia foram realizadas 107.000 chamadas.
O Presidente conquistou o El País, mas com os telefonemas à Cristina, as visitas à Jamaica e o seu silêncio sobre os enfermeiros, pode começar a inverter os seus níveis de popularidade.

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Daesh: as últimas horas do califado

A edição de hoje do jornal francês Libération inclui uma reportagem assinada por Luc Mathieu, o seu enviado especial à Síria, na qual é retratada a situação por que passa o Daesh. Depois de ter ocupado um território que chegou a ser maior que a Grã-Bretanha, ou mais de metade da França, os jihadistas do Daesh ou Estado Islâmico estão agora confinados a um espaço que não mede mais do que um quilómetro quadrado, isto é, são algumas ruas e edifícios de Al-Baghouz, no sueste da Síria.  Os combates têm sido muito violentos e os jihadistas têm resistido, usando kamikazes, minas e drones para deter o avanço dos atacantes, ao mesmo tempo que procuram refúgio em túneis.  Porém, algumas centenas deles, por vezes acompanhados pelas famílias, têm abandonado Al-Baghouz  de noite para se entregar às forças atacantes.
Segundo refere a reportagem,  “a vitória das forças curdo-árabes e aliadas é eminente”, mas apesar da perda da sua base  territorial, que chegou a assustar o mundo, o califado continuará a usar a sua ideologia para instrumentalizar os seus seguidores. Segundo referem outros jornais franceses e ingleses, muitos jihadistas já regressaram aos seus países, mas enquanto alguns se sentirão libertos da vida dura por que passaram, outros regressarão dispostos a utilizar a violência jihadista. Outros, ainda, já estão a exigir do NHS England (National Health Service) os mesmos direitos dos contribuintes ingleses.  
O fim da aventura que foi o califado do Daesh, não resolve o problema da Síria, mas é uma boa ajuda para quem anda a tratar disso.

Uma nova oportunidade para a Síria

É, seguramente, uma das grandes notícias das últimas semanas, embora tivesse sido quase ignorada pelos grandes mass media internacionais e só tivesse sido divulgada por iniciativa do Financial Times, ao publicar uma fotografia de primeira página em que Vladimir Putin, Recep Erdogan e Hassan Rohani se cumprimentam.
Foi em Sochi, na passada 5ª feira, que Putin recebeu aqueles dirigentes que se reuniram numa cimeira trilateral para tratar da questão síria e para intensificar a sua acção no sentido de resolver um conflito que já dura há oito anos. Quando os americanos anunciam a sua próxima retirada da região, quando o Daesh parece estar em vias de extinção e quando já todos reconhecem Bashar el-Assad como o homem capaz de unir e reconstruir a Síria, vemos Vladimir Putin a aparecer como o grande vencedor deste conflito, o que significa que os aliados ocidentais meteram a viola no saco. Foram derrotados “porque apostaram no cavalo errado” e porque sobreavaliaram a importância dos seus mísseis. O Médio Oriente é importantíssimo para a paz no mundo, mas não pode ser tratado por dirigentes ignorantes e obcecados, cujas ideias já foram ultrapassadas pelo tempo e que cometeram graves erros no Iraque e na Líbia.
Agora, temos os turcos e os iranianos que nesta guerra estiveram em diferentes trincheiras, a conversar e, aparentemente, a aceitar as propostas de Putin e a caminhar para um novo status de equilíbrio na região, ao mesmo tempo que procuram soluções para o problema dos curdos.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

O adeus ao gigante A380

A construtora aeronáutica europeia Airbus anunciou o fim da produção do seu A380, por vezes conhecido por superjumbo, um avião de dois andares com capacidade para 544 passageiros e que foi concebido para competir com o Boeing 747.
O A380 entrou ao serviço no dia 25 de Outubro de 2007 na Singapore Airlines, mas rapidamente ganhou as preferências das grandes companhias aéreas que apostaram na imponência e na modernidade do novo avião, pelo que passou a integrar as frotas da Emirates, da Lufthansa, da British Airways e da Qantas. Até agora a Airbus  entregou 234 aviões, o que corresponde a menos de um quarto dos 1200 que previa vender e que era considerado como o brek-even point do projecto. O seu maior cliente é a Emirates que tem 109 unidades na sua frota.
Recentemente, as vendas de aviões de quatro motores começaram a diminuir devido às novas alternativas de bimotores menores, mais eficientes e de menor custo operacional, casos do Boeing 787, do Boeing 777 e do Airbus 350. A Emirates, o maior cliente da Airbus, também adoptou essa estratégia e reduziu de 162 para 123 o número de encomendas do A380, substituindo-os por 70 aviões A350 e A330neo. Nessas circunstâncias a Airbus decidiu acabar com a produção do A380, embora até 2021 ainda vá produzir 14 unidades para a Emirates e três para  a companhia japonesa ASA.
Porém, a Airbus anunciou que continuará a fornecer assistência técnica às companhias aéreas pelo que a vida útil dos aparelhos que estão actualmente ao serviço poderá ser prolongada algumas décadas.
O fim da produção do A380 põe em causa 3500 postos de trabalho na França, Alemanha, Espanha e Reino Unido, os países que alimentam as linhas de montagem da fábrica de Toulouse. La Dépêche du Midi, o jornal de Toulouse, naturalmente que destacou esta notícia.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Os submarinos na estratégia da Austrália

A edição de hoje do jornal francês Le Télégramme ilustra a sua primeira página com a fotografia de um submarino a propósito de um contrato assinado entre Paris e Camberra, que prevê a construção pelo Naval Group francês (ex-DCNS) de doze submarinos da última geração destinados à Marinha australiana e que custarão 31,4 mil milhões de euros. É caso para dizer que à dúzia é mais barato! O jornal diz tratar-se de um contrato em ouro maciço ou que é o contrato do século em matéria de defesa.
Os novos submarinos serão construídos num novo estaleiro a construir no sul da Austrália e o contrato vai criar cerca de 2.800 novos empregos no país, mas também 500 postos de trabalho na Bretanha, uma vez que todos os departamentos franceses do Naval Group vão participar no projecto. É o maior projecto de defesa da história da Austrália, mas também o maior projecto exportador alguma vez assinado pelo Naval Group, que tem a participação societária do Estado francês.
O primeiro submarino deverá ser concluído por volta de 2030.
Os especialistas têm dito que as águas do norte e do leste da Austrália já são o cenário de uma intensa luta de influência entre os Estados Unidos, a China e as potências regionais. É conhecido o interesse e a reivindicação da China pelo mar da China meridional, considerada uma área vital para o abastecimento de minérios e de petróleo à economia chinesa. Com esta encomenda de submarinos a Austrália acentua a sua vontade de afirmação regional e de autonomia estratégica.
Por cá ainda há quem pense que dois submarinos é demasiado e que é preferível enterrar milhões nos BPN todos que há por aí, que parece não terem fim e que são sempre tratados pelo mesmo tipo de artistas.

O julgamento para a História de Espanha

Começa hoje em Madrid o julgamento de 12 dirigentes independentistas catalães acusados de estarem envolvidos na tentativa de secessão da Catalunha, quando organizaram um referendo sobre a independência daquela região autónoma espanhola e, pela voz de Carles Puigdemont, proclamaram a independência no dia 27 de Outubro de 2017, embora a tenham suspendido de imediato.
O julgamento que o Supremo Tribunal vai hoje iniciar era desejado por Mariano Rajoy, o anterior chefe do governo espanhol, que imaginava que ele serviria para acabar com o independentismo, mas não é certamente desejado por Pedro Sánchez, o actual chefe do governo, que tem adoptado uma estratégia diferente de Rajoy para enfrentar o problema catalão e que, ao contrário do seu antecessor, tem sido dialogante. Porém, nos últimos dias realizaram-se grandes manifestações pela unidade nacional em todo o país e contra as alegadas cedências que Pedro Sánchez tem feito aos independentistas, a mostrar que as tensões e os problemas entre Madrid e Barcelona continuam vivos.
Entretanto, o Ministério Público pediu penas que vão até aos 25 anos de prisão contra os acusados, por alegados delitos de rebelião, sedição, desvio de fundos e desobediência. A figura principal do procés, nome que designa o processo independentista e a tentativa de proclamação de uma república catalã que ninguém no exterior apoia, é o ex-presidente do governo catalão Carles Puigdemont, que fugiu para a Bélgica e já foi julgado na Alemanha e que, naturalmente, será o grande ausente.
Hoje toda a imprensa espanhola, a começar pelo El País, destaca o julgamento que se espera demore três meses e que vai certamente constituir um acontecimento histórico para o futuro da Espanha, enquanto elo de união entre 17 comunidades autónomas.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

A boina do Che ainda potencia negócios

A edição deste fim de semana do jornal La République des Pyrénées que se publica na pequena cidade francesa de Oloron-Sainte-Marie, destaca na sua primeira página a famosa fotografia do guerrilheiro argentino Che Guevara da autoria de Alberto Korda e a dúvida surgiu naturalmente: porquê esta fotografia do Che numa cidade perdida dos Pirinéus e porquê agora?
A cidade de Oloron está situada nos Pirinéus Atlânticos, na região administrativa francesa da Nova Aquitânia e é conhecida pelo seu artesanato têxtil e, em especial, pelo fabrico de boinas. A boina terá nascido em meados do século XIX e conta-se que Napoleão III, estando uma vez em Biarritz, perguntou que coisa era aquela que os bascos usavam na cabeça e que lhe responderam que eram boinas. Ele terá dito que então eram boinas bascas e, como ninguém ousou contrariá-lo, ficaram para sempre as boinas bascas.
Uma das mais conhecidas marcas de boinas é a Laulhère, fundada em 1840 por Lucien  Laulhère que, actualmente, tem oito fábricas na cidade e vinte em toda a França. É o mais famoso fabricante de boinas e, de facto, uma boina com origem chez Laulhère é um símbolo de distinção e de bom gosto. O ponto alto da moda da boina foi nos anos 1960, quando a Laulhère fabricava um milhão de boinas sobretudo para homens e 400 mil boinas para o Exército, mas actualmente a boina passou de moda e a produção actual é de cerca de 40 mil boinas por ano, sendo 30 mil tradicionais para homens e 10 mil para o Exército, para além das bérets-mode para as senhoras.
Parece, portanto, que o negócio das boinas já não é o que era. Porém, o marketing pode fazer milagres e, nesse aspecto, a descoberta que a mítica boina que o Che Guevara exibe na fotografia de Korda foi fabricada chez Laulhère, em Oloron, bem pode ser a chave da recuperação do negócio daquela marca. É o marketing!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

A crise venezuelana continua sem solução

A Venezuela é o 32º maior país do mundo em território e tem 916 mil km2 de superfície, ou seja, é dez vezes maior do que Portugal. A sua fronteira marítima tem 2.800 km, enquanto as fronteiras terrestres com o Brasil e com a Colômbia têm 2.199 km e 2.050 quilómetros de extensão, respectivamente. É muito território e é muita fronteira e, por isso, há que ter muito cuidado na abordagem da questão venezuelana que é grave, mas que talvez não seja tão grave como as agências e os mass media internacionais a têm descrito.
O boicote económico que tem sido feito ao regime venezuelano associado a uma desastrosa gestão do país têm produzido resultados que estão à vista, com a falta de bens alimentares e outros produtos básicos, sobretudo medicamentos, mas também como uma progressiva degradação do ambiente económico e social. A inflação acumulada no ano de 2018 atingiu o inacreditável valor de 1.698.488% e o FMI estima que em 2019 possa atingir um patamar de 10.000.000%. A população anda assustada e foge do país ou, então, engrossa as manifestações que inundam Caracas.
Vemos, ouvimos e lemos que há duas venezuelas. Que há dois presidentes que não se entendem, apesar dos esforços do Uruguai, do México, da União Europeia e até do Papa. A União Europeia criou um Grupo de Contacto Internacional, em que Portugal está integrado, para apaziguar a situação e promover a realização de eleições que evitem intervenções externas e confrontos internos. Entretanto, o auto-proclamado presidente interino Juan Guaidó tem pedido ajuda humanitária, sobretudo medicamentos e alimentos. Segundo parece essa ajuda começou a chegar a Cúcuta (Colômbia) para seguir para Ureña (Venezuela), através da Ponte Internacional de Tienditas, uma ponte monumental que foi construída para potenciar as relações entre os dois países, mas que está pronta há três anos, mas não foi inaugurada porque os dois países andam de costas voltadas. Entretanto os militares de Nicolas Maduro decidiram bloquear a ponte e impedir a entrada da ajuda humanitária. Vá-se lá saber porquê... Até parece que o Maduro está orgulhosamente só, como o outro?

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Amália Rodrigues homenageada em Goa

Já decorreram quase 60 anos sobre a invasão indiana do Estado Português da Índia, mas os traços da memória cultural portuguesa persistem nesses territórios, não só na língua e no património construído, mas também em muitas práticas culturais.
A homenagem agora feita em Goa a Amália Rodrigues, vinte anos depois da sua morte, revela que a memória da cultura portuguesa sobrevive em Goa e que até mostra um grande dinamismo, pois trata-se de uma iniciativa da própria sociedade civil goesa. Um grupo de músicos goeses decidiu criar o grupo Fado de Goa, que se apresentou hoje na cidade de Pangim e que também se vai apresentar na cidade de Margão, num espectáculo de homenagem em que participam diversos fadistas goeses, curiosamente tratados como “students of Fado de Goa”, embora a figura principal seja Sonia Shirsat, uma fadista goesa que já actuou em Portugal e em diversos países onde está presente a diáspora goesa.
Amália Rodrigues esteve uma única vez em Goa em 1992, quando foi convidada pela Fundação Oriente para se apresentar a um público que apenas conhecia a sua voz a partir dos discos e que então vibrou intensamente com a apresentação da rainha do fado e, ao mesmo tempo, com a voz de Portugal no mundo.
O cartaz que divulga “a tribute to the Queen of Fado” fala por si mesmo: a cultura portuguesa em Goa continua viva.

sábado, 2 de fevereiro de 2019

Eles estão a brincar com o fogo!

Os Estados Unidos anunciaram ontem a suspensão temporária do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio que tinha sido assinado em 1987 por Ronald Reagan e Mikhail Gorbatchov, para limitar o armamento nuclear dos seus países. Esta decisão de Donald Trump resulta de “constantes violações” russas ao tratado que os americanos já tinham denunciado mas, perante esta medida, o jornal novaiorquino Daily News refere hoje que (eles) estão a brincar com o fogo.
Os americanos deram seis meses aos russos para demonstrarem que cumprem o tratado, mas no caso de se continuarem a verificar violações, que a Rússia nega, abandonarão definitivamente o tratado.  Os americanos asseguram que a Rússia tem desenvolvido o sistema de mísseis Novator 9M729, que viola claramente o tratado. Além disso, referem que há hoje outros países que podem desenvolver as suas capacidades nucleares sem cumprir os limites de um tratado de que não são parte, em particular a China, pelo que os Estados Unidos não podem ficar amarrados a um tratado que só eles cumprem.
Vladimir Putin não perdeu tempo e hoje também anunciou a suspensão do tratado, enquanto a China pediu que os americanos e os russos dialoguem e se entendam.
As relações entre os Estados Unidos e Rússia estão muito tensas desde que Donald Trump chegou à presidência e há cada vez mais pontos de tensão, que vão desde a anexação da Crimeia até às suspeitas de ingerência na eleição presidencial americana, passando pelas questões da Síria e da Venezuela e, agora, pela suspensão do tratado. O facto é que o mundo pode voltar a ficar sem quaisquer limites aos arsenais nucleares do Donald e do Vladimir, que estão a brincar com o fogo, o que pode pôr em causa o equilíbrio estratégico e a segurança mundial.

Em breve o “Gorch Fock” voltará ao mar

A revista Der Spiegel destaca hoje na sua capa uma imagem da barca alemã Gorch Fock, dizendo que depois de ter sido o orgulho da Deutsche Marine é, actualmente, um “símbolo da miséria” do Bundeswehr, isto é, das Forças Armadas da Alemanha. Os repórteres da revista foram encontrá-lo nos estaleiros Bredo Dry Docks no porto de Bremerhaven e trataram de sugerir que o navio parece estar a caminho da sucata, pois está numa doca seca, desmontado e enferrujado, com muitos dos seus componentes distribuídos pelas oficinas das proximidades. Aparentemente, os repórteres não perceberam que o navio está em overhaul, isto é, em trabalhos de grande revisão e manutenção, desconhecendo o que são os trabalhos de manutenção de navios em estaleiro ou, então, têm o propósito de fazer campanha a favor ou contra os orçamentos militares alemães. Em tempo de fake news, já nada nos admira.
Acontece que o Gorch Fock entrou em fabricos em 2016, mas foram detectados  casos de corrupção na administração do estaleiro, o que fez atrasar a intervenção programada. O cronograma dos trabalhos deslizou e os seus custos, inicialmente previstos para 10 milhões de euros, escorregaram e estão agora em 135 milhões de euros. Afinal estas coisas não acontecem só por cá... O Ministério da Defesa hesitou na aceitação desta situação porque, mesmo na Alemanha, as necessidades são ilimitadas mas os recursos são escassos. Pensou-se em abater o Gorch Fock e em construir um novo navio, mas prevaleceu a decisão de ir para diante com os trabalhos em curso, devido ao valor simbólico do navio, que se prevê fique pronto em Abril e que, depois, possa navegar até 2040. O caso despertou-nos a atenção porque o Gorch Foch é irmão gémeo do nosso navio-escola Sagres, mas enquanto o navio português navega desde 1937, o navio alemão foi construído em 1958.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

O frio de Chicago e a meteorologia amiga

Os Estados Unidos estão a enfrentar uma vaga de frio sem precedentes, causada por uma massa de ar polar que, em alguns pontos do país, terão levado as temperaturas até aos 50º negativos, sobretudo nos estados de Wisconsin, Michigan e Illinois, situados na região Centro-Oeste do país.
Nesses estados já foi declarado o estado de emergência e a vaga de frio está a afectar seriamente a vida de dezenas de milhões de pessoas, porque limita o tráfego rodoviário, encerra escolas, perturba o trabalho nos hospitais e obriga ao cancelamento de milhares de vôos. As imagens que nos chegam dos Estados Unidos, mostrando neve e gelo por todo o lado, são impressionantes.
A cidade de Chicago e a sua área metropolitana são uma das áreas mais atingidas pela vaga de frio e, segundo foi anunciado, a cidade amanheceu anteontem completamente congelada e com temperaturas negativas de 30 ºC. Os meteorologistas previram que a sensação de frio em Chicago iria ser mais aguda do que no Everest ou na Antártida e, naturalmente, o jornal Chicago Tribune dedicou a sua primeira página ao assunto mais importante do dia, tendo ilustrado essa edição com quatro rostos de pessoas comuns a enfrentar o frio. Esses rostos parecem-se mais com alpinistas a escalar o Everest ou com aventureiros a atravessar os planaltos gelados da Antártida, do que com vulgares moradores da área urbana de Chicago, mas o jornal assegura que são fotografias de gente de Chicago. Porém, o que realmente impressiona é que Chicago e Lisboa estão aproximadamente na mesma latitude e, portanto, à mesma distância do pólo Norte, pelo que o frio de Chicago nos vem lembrar como as leis da meteorologia são amigas dos portugueses, cuja capital não sabe o que são temperaturas negativas.