domingo, 31 de março de 2019

A guerra de Espanha terminou há 80 anos

A guerra civil de Espanha foi um conflito de grande violência que aconteceu em Espanha entre 1936 e 1939, de que terão resultado 500 mil mortos. A sociedade portuguesa desse tempo acompanhou esse drama, que gerou muitos refugiados e em que muitos portugueses atravessaram a fronteira para combater dos dois lados. 
A guerra civil espanhola tem sido considerada como um ensaio preparatório da 2ª Guerra Mundial e terminou há 80 anos, sendo hoje evocada pelo jornal catalão ara, que se publica em Barcelona com uma linha editorial pró-independentista e que, sugestivamente, faz a pergunta (a Franco) : ainda cá estás?
A guerra civil de Espanha começou no dia 17 de Julho de 1936, quando ocorreu um pronunciamento militar na praça de Melilla, no norte de África, tendo terminado no dia 1 de Abril de 1939, quando o general Franco anunciou o fim da guerra, depois das suas tropas terem entrado em Madrid. De um lado esteve a Frente Popular, que agregava os movimentos da esquerda e os nacionalistas galegos, bascos e catalães que apoiavam o governo legítimo da Espanha, o regime republicano instalado em 1931 e os estatutos de autonomia; do outro lado estiveram os Nacionalistas conservadores, em que se integravam os monárquicos, os falangistas, os carlistas e outros movimentos da direita espanhola. Porém, a guerra internacionalizou-se e, enquanto a Frente Popular teve o apoio da União Soviética e das Brigadas Internacionais compostas por militantes socialistas e comunistas de todo o mundo e de numerosas voluntários, os Nacionalistas tiveram o apoio do Corpo Truppe Volontarie enviado por Mussolini, da Legião Condor enviada por Hitler e dos Viriatos organizados pelo regime de Salazar.
A guerra civil espanhola polarizou toda a Espanha e deu origem a execuções, massacres e campanhas de terror praticadas pelos dois lados e, por isso, é um assunto muito sensível na nossa vizinha Espanha, porque muitas das suas feridas ainda estão por sarar. A ditadura instaurada pelo general Franco, que foi o vencedor da guerra, durou até à sua morte em 1975, mas a lição desse tempo e dessas circunstâncias não pode estar ausente do pensamento nem da acção dos responsáveis políticos do país vizinho e das suas regiões autónomas, para que a História não se repita.

sábado, 30 de março de 2019

O incerto futuro das crianças da jihad

O noticiário internacional tem sido mobilizado em torno do fiasco do Brexit, da contínua instabilidade política na Venezuela ou das devastações causadas por ciclones e cheias em Moçambique, enquanto os nomes de Theresa May, Juan Guaidó, Donald Trump, Nicolas Maduro, Jair Bolsonaro ou Benjamin Netanyahu estão a ser os protagonistas do momento e enchem páginas dos jornais.
Apesar disso, nos últimos dias, vários jornais internacionais, sobretudo franceses e americanos, têm vindo a tratar do problema das crianças do Daesh que se encontram internadas em campos de refugiados em território sírio.
Com a derrota militar das forças do Daesh, as mulheres que se juntaram à jihad islâmica e que viveram no califado, muitas delas de origem europeia, bem como as suas crianças, encontram-se agora em campos de refugiados em diversos locais da Síria, na maior parte dos casos controladas pelas forças curdas. A pressão para que sejam repatriadas é enorme por evidentes razões humanitárias, mas as opiniões públicas ocidentais parecem resistir. Essas mulheres traíram os seus países e juntaram-se ao radicalismo e ao terrorismo. Eventualmente, cometeram crimes ou foram coniventes com eles. Muitas das suas crianças já estão instrumentalizadas pela propaganda do Daesh, já participaram em acções terroristas, já viram muitos crimes hediondos e foram preparadas para ser combatentes e para actuar como kamikazes e, se não forem acolhidas e reeducadas, serão em breve um verdadeiro material explosivo sempre pronto a ser accionado por um qualquer Abu Bakr al-Baghdadi. É um dossier muito delicado. Por isso, em diversos países, incluindo Portugal, se tem feito a pergunta sobre o que deverá ser feito, isto é, se o apoio ao regresso dessas mulheres e crianças, ou o seu exílio e abandono nos campos de internamento.

sexta-feira, 29 de março de 2019

O impensável naufrágio do Reino Unido

O eleitorado britânico votou no dia 23 de Junho de 2016 sobre a permanência ou não permanência do Reino Unido na União Europeia e quase 33 milhões de votantes escolheram: 51,8% votaram no leave, enquanto 48,2% votaram no remain. Depois de 43 anos de permanência na União Europeia, o eleitorado escolheu a saída. David Cameron, o primeiro-ministro conservador que organizou o referendo e que fez campanha pela permanência demitiu-se e, no dia 13 de Julho, cedeu o seu lugar a Theresa May.
Apesar de Theresa May ter defendido a permanência, decidiu cumprir o mandato para que foi escolhida e tratou de iniciar o “processo de divórcio”, ao enviar uma carta ao Conselho Europeu a activar o artigo 50 do Tratado de Lisboa. Iniciaram-se depois as  conversações com Bruxelas que deveriam ficar concluídas e ratificadas até ao dia 29 de Março de 2019.
Por razões de política interna, no dia 8 de Junho de 2017 realizaram-se eleições legislativas antecipadas e Theresa May e o seu partido perderam a maioria na Câmara dos Comuns. Apesar disso, as negociações avançaram e no dia 8 de Dezembro foi anunciado um primeiro pré-acordo sobre as modalidades e temas do “divórcio”, entrando-se na segunda fase das negociações.
Nesta segunda fase das negociações começaram os problemas e o primeiro, que veio a ficar conhecido por backstop, pretendia evitar o regresso da fronteira física e do controlo aduaneiro entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. Depois sucederam-se as discussões em torno do tipo de acordo a celebrar, as dissidências no governo britânico, as manifestações a favor e contra o Brexit, a hipótese de realizar um segundo referendo e uma verdadeira implosão no seio do Parlamento britânico. Theresa May foi incapaz de evitar a confusão e a incerteza, conduzindo o Reino Unido para um impensável patamar de desprestígio e de desconfiança.
Hoje deveria ser concretizado o Brexit, mas foi adiado. Na sua edição de hoje, o Courrier International dedica a sua primeira página com uma sugestiva ilustração alusiva ao naufrágio do Reino Unido, afirmando ser um país ingovernável e com a sociedade mais dividida do que nunca.

quinta-feira, 28 de março de 2019

O regresso triste e inoportuno do Aníbal

Instalou-se no espaço mediático nacional, no contexto da luta política e eleitoral em que já estamos envolvidos, um enorme ruído de fundo sobre os familiares dos políticos que ocupam lugares no governo ou próximo dele, parecendo que a questão é nova e que foi inventada agora. Não é verdade! A generalidade da classe política portuguesa sempre foi uma casta que se soube proteger e que sempre foi mais interessada em servir os seus interesses pessoais ou de grupo, do que em servir o interesse público, a comunidade ou o bem comum. Daí que, muitos jovens aprendam, desde muito cedo, que a melhor maneira de subir na vida é alistarem-se nesse trampolim que são as jotas, porque já sabem que é a militância partidária que dá poder, emprego, mordomias, negócios e influência, mesmo sem que haja qualidade ou qualificação, embora alguns ainda arranjem uns canudos à pressa e subam na vida como verdadeiros relvas. São eles que se instalam, que dominam os aparelhos e que mandam nisto tudo, por vezes como serventuários de outros interesses.
É através dessa forma de ver a política que se arranjam lugares para maridos, mulheres, filhos e filhas, genros e noras, enteados, sogros, primos e primas, amigos e amigos dos amigos e por aí adiante. No caso de algumas autarquias são famílias inteiras e, em certas empresas públicas, era quase a mesma coisa. Nunca faltaram lugares para governantes, deputados, assessores, autarcas e gestores, nem outros lugares para troca de favores. Sempre houve cardonas e estrelas. Sempre foi assim! Por isso, não há que admirar por aquilo a que assistimos actualmente e até é ridículo que haja quem faça o  papel de virgem ofendida e que se deixe engodar por esta questão, que faz parte da tradição cultural portuguesa de procurar colocar os amigos onde mais convém.
Porém, a minha surpresa foi o aparecimento do Aníbal, que devia estar calado em Boliqueime ou na Quinta da Coelha, para não nos recordar o seu triste legado político de mesquinhez e incultura, ao vir atirar um pouco de gasolina para uma fogueira que não passa de um episódio de campanha eleitoral ou de imprensa cor-de-rosa. Ou será que está com ciúmes de MRS que, cada vez mais, o está a apagar da História?

terça-feira, 26 de março de 2019

Airbus ou Boeing: as escolhas da China

Numa altura em que a Boeing atravessa uma grave crise em consequência dos acidentes com o seu modelo 737 Max, a China avançou com a maior encomenda alguma vez feita ao construtor europeu Airbus.
O avião Boeing 737 Max parecia dominar o mercado aeronáutico e a Boeing já tinha registada uma carteira de 4316 encomendas, mas porque apenas foram entregues 86 aviões, havia uma lista de espera de 4230 unidades. Entretanto, aconteceram os acidentes com o voo Lion Air 610 que se despenhou no mar de Java, na Indonésia, e mais recentemente, com o voo ET 302 da Ethiopian Airlines. Os voos do 737 Max foram suspensos, muitas encomendas foram canceladas e as acções da empresa tiveram uma brutal queda na Bolsa.
Foi nesse contexto que foi assinado em Paris, na presença de Emmanuel Macron e de Xi Jinping, que está em visita oficial a França, o contrato para a aquisição de 300 aviões para treze companhias aéreas chinesas. Os aviões serão construídos na fábrica da Airbus em Tianjin, a norte de Pequim e, a preços de catálogo, a encomenda custará mais de 32 mil milhões de dólares (custo unitário da ordem de 100 milhões de dólares). Assim, os franceses aproveitaram a tensão comercial que o Donald criou com os chineses e, segundo o jornal La Dépêche du Midi, bateram o seu próprio record de encomendas.
Tal como a recente encomenda de submarinos pela Austrália animou a região da Bretanha, também esta encomenda entusiasmou a região de Toulouse, até porque se estima que até 2037 a China terá necessidade de 7400 aviões de passageiros e carga.

segunda-feira, 25 de março de 2019

Realmente, parece haver duas Venezuelas

É muito incerta a situação que se vive na Venezuela, sobretudo depois de 23 de Janeiro de 2019, quando Juan Guaidó se auto-proclamou Presidente do país. A partir de então intensificou-se uma campanha internacional contra Nicolas Maduro e o seu regime, apoiada nos mass media internacionais que se mobilizaram em torno da ajuda humanitária e da ocupação do poder pelos chavistas de Maduro, que é considerada ilegítima pela oposição. A intensidade dessa campanha faz-nos desconfiar, até porque a leitura da imprensa venezuelana revela que ainda é plural, sem parecer estar enfeudada a Maduro ou a Guaidó, pois veicula as diferentes posições dos partidos venezuelanos e insiste que “urge buscar acuerdo politico en el país”.
Há uma crise séria, mas os militares e os juízes continuam com Maduro. Porém, há novos episódios todos os dias. Um deles foi a prisão de um colaborador próximo de Guaidó, alegadamente envolvido em operações de financiamento de um grupo paramilitar que iria desencadear atentados terroristas para destabilizar, ainda mais, o país. O outro foi a vitória do vino tinto, isto é, a equipa nacional de futebol sobre a Argentina de Messi, o que elevou a auto-estima venezuelana.
Ontem a notícia, veiculada por toda a imprensa venezuelana, incluindo o jornal El Clarín de la Victoria para Aragua, foi a chegada ao aeroporto de Maiquetía de dois aviões da Força Aérea Russa, um gigante Antonov An-124 carregado com 35 toneladas de material e um Ilyushin Il-62 com 99 militares comandados por um general. É uma notícia preocupante porque os objectivos desta missão são desconhecidos, embora tivesse sido adiantado que resultam de compromissos relativos aos contratos de carácter técnico-militar existentes entre a Rússia e a Venezuela.
Esta notícia não vai agradar nada ao Donald. Realmente, parece haver duas Venezuelas: uma que a Rússia apoia e outra com que o Donald sonha. Além disso, a notícia mostra uma realidade diferente daquela que nos tem sido mostrada, nomeadamente pelos chamados enviados especiais portugueses que se deslocaram à Venezuela e que não tiveram o cuidado ou o profissionalismo de mostrar as duas faces da história.

domingo, 24 de março de 2019

Marinha de Espanha e unidade nacional

O jornal espanhol ABC destaca na primeira página da sua edição de hoje uma fotografia das longas filas de visitantes que no porto basco de Getxo quiseram ver o porta-aviões Juan Carlos I, “el buque insignia de la Armada”. Da mesma forma, também o Diario de Cádiz também destaca hoje a visita que a fragata Blas de Lezo fez ao porto de Cádiz, na Andaluzia, onde foi visitado por muita gente. Na passada semana, a fragata Cristóbal Colón estivera no porto asturiano de Avilés, onde esteve aberto a visitas do público, o que foi relatado pelo jornal La Voz de Avilés.
Significa que, em três diferentes regiões espanholas, estiveram três navios da Marinha de Espanha em visitas de cortesia e abertos ao público para visitas, factos de que a imprensa fez eco, o que não deixa de ter uma leitura política.
Com estas visitas a diferentes portos do seu território, os navios da Marinha espanhola dão um forte contributo para o reforço dos sentimentos de unidade nacional do país vizinho, onde existem 17 comunidades autónomas, algumas das quais com tendências separatistas. Por outro lado, os milhares de visitantes que estiveram no Juan Carlos I, mas também nas duas outras fragatas, puderam apreciar a capacidade tecnológica da Marinha de Espanha e dos seus profissionais, o que é um estimulante tributo de reconhecimento por parte da sociedade civil espanhola. Finalmente, a cobertura que a imprensa deu a estes acontecimentos mostra como os espanhóis se interessam pela sua Marinha. Assim fosse em Portugal.

A queda de Baghouz não é o fim do Daesh

Alguma imprensa britânica e francesa, caso do Le Monde, anunciou a queda de Baghouz , o último reduto do Daesh, situado nos confins da parte leste da Síria, junto da fronteira com o Iraque. Há alguns dias, também Donald Trump anunciara o fim do Daesh. Significa que o califado que adoptou o nome de Estado Islâmico do Iraque e da Síria durou cinco anos e que, depois de em 2017 ter perdido as suas capitais de Mossul (Iraque) e Rakka (Síria), tinha um fim anunciado.
Porém, a queda de Baghouz não é o fim do Daesh, pois a organização chefiada por Abu Bakr al-Baghdadi criou ramificações e células em vários países e é natural que continue a sua actividade, agora com uma diferente estratégia, que não passa pela ocupação de território, mas que continua com a prática contínua de atrocidades, assassínios em massa, execuções arbitrárias, roubos, saques e violações, isto é, o terror.
Nas últimas semanas, as forças curdas e sírias capturaram algumas centenas de combatentes do Daesh, muitos deles originários de países europeus, mas agora ninguém sabe o que fazer com eles, nem sequer com as suas famílias.
O assunto está na ordem do dia e um dos seus aspectos mais curiosos acontece com as chamadas noivas do Daesh, que tendo aderido ao movimento terrorista, parecem reivindicar agora todos os direitos sociais que tinham nos seus países, antes de se juntarem ao grupo jihadista islâmico. Em alguns casos essas pessoas já estão a reivindicar o direito de serem libertadas, repatriadas e apoiadas pelos seus países de origem, o que é verdadeiramente paradoxal. Muitas dessas mulheres têm agora crianças o que torna o problema mais complexo por razões humanitárias, mas o Le Monde chama a atenção para essa gente que pode aparecer como “des bombes à retardement”.

Um Reino Unido cada vez mais desunido

A confusão é total e são cada vez menos aqueles que se interessam pelo Brexit e pelo futuro da Grã-Bretanha. O poderoso Reino Unido que ”governou o mundo durante o século XIX”, que no século XX se afirmou sem equívocos em duas guerras mundiais e que, mais recentemente, navegou pelo Atlântico Sul em defesa das ilhas Falklands, está agora sem rumo e o que vier a acontecer será sempre um desastre. Ficar ou sair, com ou sem acordo, representará sempre e por muitos anos, um símbolo de decadência que colocará o Reino Unido num patamar de inferioridade em relação à comunidade internacional. Quem pensou que o Reino Unido se transformaria numa República das Bananas? Ninguém imaginou este cenário de confusão, nem este futuro de incerteza. A força e a determinação de Winston Churchill ou de Margareth Tatcher são coisas do pasado. Theresa May revelou-se uma personagem incapaz, dominada por uma obcecada teimosia e sem ter a noção da importância do momento histórico que lhe caiu nas mãos.
O Brexit, enquanto decisão soberana do eleitorado britânico falhou, mas o que é mais surpreendente é que Theresa May deixou arrastar o problema e parece nunca ter tido a intenção de se demitir. Agora, é a União Europeia que, cansada deste processo, impõe as suas regras e encosta o Reino Unido à parede.
Porém, ainda ontem em Londres, um milhão de pessoas reclamou contra a incapacidade dos seus políticos e exigiu que seja realizado um novo referendo, defendendo que o Reino Unido permaneça na União Europeia. Foi uma manifestação histórica diz hoje o jornal espanhol La Razón.
Se ao menos adiassem a decisão por um ano, para formar um novo Parlamento e para amadurecer ideias, por certo que se encontraria a solução mais desejada e mais consensual. Assim, tudo se conjuga para que o proceso corra mal, que ocorra uma grave crise económica e social e que não tardem as reivindicações da Escócia e da Irlanda do Norte a desunir e a enfraquer ainda mais o Reino Unido.

sábado, 23 de março de 2019

O porta-aviões simboliza prestígio e poder

O porta-aviões espanhol Juan Carlos I visitou pela primeira vez o Euskadi ou Comunidade Autónoma do País Basco, estando atracado no porto de Getxo, situado na margem nascente da ria de Bilbau.
Hoje, o diário El Correo publica na sua primeira página uma fotografia a seis colunas daquele “castillo de acero” que desloca 27 mil toneladas, que tem 231 metros de comprimento e que é operacionalizado por 400 tripulantes. A visita do navio ao Euskadi e o destaque que lhe é dada pela imprensa basca, são reveladores da sua importância simbólica para a afirmação externa e interna da Espanha.
O Juan Carlos I também tem sido classificado como navio de protecção estratégica ou como navio de assalto anfíbio, embora apareça mais vezes classificado como porta-aviões. É um navio muito caro, mas é um símbolo de poder e de prestígio, que serve para múltiplas funções e tarefas e, em especial, para afirmar um país no contexto internacional. Segundo consta dos seus registos, o Juan Carlos I tem ou pode ter 25 caças-bombardeiros AV-8 Harrier II como principal equipamento, mas pode receber helicópteros, 1200 fuzileiros, 46 tanques Leopard 2E, quatro barcaças de desembarque e quatro lanchas pneumáticas de desembarque. 
Portugal não tem porta-aviões, mas bem precisava de um navio polivalente que pudesse projectar poder, influência e solidariedade, sobretudo em tempos de crise ou de calamidade, não só nas suas regiões insulares, como também nas áreas atlânticas a que historicamente está ligado. Porém, as opções políticas têm sido outras...

sexta-feira, 22 de março de 2019

Sobre um futuro mais promissor da CPLP

A propósito da comemoração do seu 39º aniversário, a última edição do Jornal de Letras dedica um alargado espaço à CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), uma organização internacional criada no dia 17 de Julho de 1996 que integra os países lusófonos. O seu principal objectivo é o aprofundamento da amizade mútua e da cooperação entre os seus membros e, como o seu nome indica, a língua portuguesa é o elemento essencial dessa comunidade que visa congregar afectos e interesses.
Jorge Carlos Fonseca, o Presidente da República de Cabo Verde e que actualmente preside à CPLP, assina nessa edição um texto muito optimista sobre as perspectivas de evolução da organização e da língua portuguesa.
Porém, apesar de levar mais de vinte anos de vida, a CPLP ainda não conseguiu afirmar-se internacionalmente, sobretudo no que respeita ao reconhecimento do português como língua de trabalho nas Nações Unidas e em outras organizações internacionais. Por outro lado, também a cooperação entre os diversos membros da CPLP, que é um ponto importante dos seus estatutos, tem estado muito abaixo do que é desejável.
Com os traumas de um passado colonial e em alguns casos de guerra cada vez mais distantes, o futuro da CPLP é agora mais promissor, pois começam a ser melhor compreendidas as vantagens de uma cooperação que pode beneficiar os seus povos. A recepção feita recentemente em Angola ao Presidente da República Portuguesa ou a pronta solidariedade portuguesa para com a tragédia que passou por Moçambique, são apenas dois exemplos da amizade entre os povos lusófonos e que mostram o potencial de cooperação que está por concretizar. A maré é agora mais favorável do que antes e o Presidente Jorge Carlos Fonseca é um excelente timoneiro para conduzir essa nau que é a CPLP.

quinta-feira, 21 de março de 2019

O apoio dos portugueses a Moçambique

Cada nova notícia que nos chega de Moçambique e, sobretudo, cada nova imagem que recebemos, ajudam-nos a compreender a dimensão da enorme tragédia que se vive naquele país a que nos ligam raízes históricas e tão fortes sentimentos de fraternidade.
A edição de hoje do jornal O País noticia que estão 60 mil pessoas penduradas em tectos e árvores e que tendem a aumentar as zonas inundadas na província de Sofala, devido à subida dos caudais dos rios Púngué e Búzi.
Como ontem foi afirmado “Portugal estará na linha da frente do apoio internacional humanitário e técnico a Moçambique nesta hora muito difícil” e, nesse sentido, uma força de reacção rápida portuguesa constituída por quarenta militares dos quais 25 são fuzileiros especiais equipados com botes de borracha, duas equipas cinotécnicas da GNR com cães especializados em busca e salvamento, além de médicos e de enfermeiros, já partiu para Moçambique para ajudar no socorro às populações vítimas do ciclone Idai. Entretanto, com o incentivo do Presidente da República, que considera Moçambique a sua segunda Pátria, e com a acção do governo que está a mobilizar todos os meios possíveis de auxílio, a solidariedade portuguesa não vai faltar aos moçambicanos neste tempo de grande tragédia. Da mesma forma, diversas iniciativas de recolha de ajudas estão em curso, não só promovidas pelo governo português, mas também por diversas entidades da sociedade civil, com destaque para a Cruz Vermelha Portuguesa e para a Cáritas Portuguesa.
A solidariedade portuguesa não faltará e Moçambique vencerá!

quarta-feira, 20 de março de 2019

Uma nova aliança entre o Donald e o Jair

O Presidente Jair Bolsonaro viajou para os Estados Unidos para um encontro com Donald Trump e, dessa forma, não só satisfez a sua enorme vontade de se encontrar com o seu ídolo político, como também rompeu a tradição dos chefes de Estado brasileiros de iniciarem as suas visitas ao estrangeiro pela vizinha Argentina.
Segundo foi revelado pela imprensa, houve trocas de elogios, muitas promessas de cooperação e a assinatura de alguns acordos de natureza económica e militar, mas parece que o assunto principal das conversações foi a Venezuela. O Donald e o Jair apoiam o auto-proclamado presidente Juan Guaidó e querem ver Nicolas Maduro fora do poder, embora no mesmo dia a Rússia tenha advertido os Estados Unidos para que não se envolvesse nos assuntos internos venezuelanos e haver organizações ibero-americanas de Direitos Humanos que acusam os Estados Unidos de promover uma guerra civil na Venezuela. Não se sabe o que terá sido pedido ao Jair em relação à Venezuela, mas esperemos que ele não tenha sido contagiado pela agressividade obsessiva do Donald.
O jornal Correio do Brasil diz que o encontro foi um completo fiasco que superou as piores previsões. O Jair foi subserviente e cedeu em questões sensíveis à soberania nacional do Brasil, sem nada receber em troca para além de uma vaga promessa de, contrariando a geografia, o Brasil poder vir a integrar a NATO que é uma aliança atlântica do norte e da qual o Donald não gosta, nem é dono.
Os dois presidentes sairam deste encontro ideologicamente aliados e afirmaram ter muitas coisas em comum e, no fim, transformaram a Sala Oval num campo de futebol, com o Donald a oferecer ao Jair uma camisola da selecção norte-americana, enquanto o Jair retribuiu o mesmo gesto com uma camisola da selecção brasileira com o número 10 e o nome de Trump.

terça-feira, 19 de março de 2019

A solidariedade para com Moçambique

A República Popular de Moçambique e os moçambicanos vivem dias muito difíceis depois da tragédia que resultou da passagem do ciclone Idai sobre o seu território, sobretudo nas províncias de Tete, Manica, Sofala e Zambézia, que ligam o norte e o sul do país, mas que também afectou seriamente os vizinhos estados do Zimbabwe e do Malawi.
Mais do que os relatos, nomeadamente no diário O País, bem como as declarações das autoridades que chegam até nós, são as fotografias que nos expressam a enorme tragédia, que o próprio Presidente da República Filipe Nyusi classificou como um desastre humanitário, no qual terão perecido muitas centenas de pessoas. A conjugação das cheias dos rios Púngué e Búzi e, depois dos ventos ciclónicos, arrasou povoações inteiras, destruiu casas, pontes, instalações públicas e colheitas, afectando mais de um milhão de pessoas, enquanto a cidade da Beira, a segunda maior cidade moçambicana, terá sido destruída em cerca de 90% da sua área urbana. Os prejuízos humanos e materiais são incalculáveis.
A catástrofe já foi descrita como o pior desastre do hemisfério sul. Perante a dimensão da tragédia, as Nações Unidas e a União Europeia já fizeram seguir para Moçambique alguma ajuda humanitária de emergência e o governo português já afirmou que  Portugal estará na linha da frente do apoio internacional humanitário e técnico a Moçambique nesta hora muito difícil”. Não pode ser de outra maneira.
Nesse sentido, um membro do governo português já seguiu para Maputo para avaliar necessidades e recolher as solicitações das autoridades moçambicanas, para que sem demora se inicie uma cadeia de auxílio e de solidariedade de Portugal em prol do povo moçambicano.
Tal como aconteceu noutras circunstâncias graves, como por exemplo recentemente com a destruição de Timor, os portugueses não deixarão de ser solidários com o povo moçambicano.

Bercow desespera com a teimosia de May

John Bercow é um deputado britânico de 56 anos de idade que foi eleito para a Câmara dos Comuns pela primeira vez em 1997 pelo círculo eleitoral de Buckingham. Em 2009 candidatou-se a presidente ou speaker dessa Câmara e, actualmente, está no seu terceiro mandato. Bercow é um experimentado político e um respeitado académico que dirige duas universidades, mas só recentemente se tornou conhecido do público devido ao Brexit.
As suas aparições televisivas mostraram a forma eficaz como dirigia os trabalhos parlamentares e como era respeitado o seu grito de order, durante as acaloradas discussões parlamentares.
Entretanto, com a aproximação do dia em que a Grã-Bretanha deveria abandonar a União Europeia, a primeira-ministra Theresa May persiste na sua teimosia de procurar a aprovação do acordo que negociou com Bruxelas e que já foi chumbado duas vezes, parecendo querer arrastar até ao último dia o pedido de adiamento do Brexit. Vai daí, resolveu apresentar pela terceira vez à votação o seu plano de acordo, mas teve que recuar pois John Bercow informou que não irá permitir uma nova votação do acordo para o Brexit, a não ser que Theresa May traga um texto que seja substancialmente diferente daquele que foi votado na semana passada e foi derrotado por 149 votos.
Toda a imprensa britânica destaca a coragem política do conservador John Bercow, que afirmou que se limita a cumprir a lei, enquanto o gabinete de Theresa May o acusa de sabotar o acordo, conforme anuncia hoje o jornal The Times. O facto é que estamos a dez dias da data anunciada para o Brexit e ninguém se arrisca a fazer previsões sobre o que vai acontecer.

segunda-feira, 18 de março de 2019

O protesto dos coletes amarelos de Paris

Pela 18ª semana consecutiva os “coletes amarelos” franceses estiveram activos no passado fim de semana ao convocarem mais um dia de protesto em que se manifestaram com grande violência, sobretudo no centro de Paris e, em especial, nos Campos Elíseos. Houve automóveis incendiados, lojas saqueadas e destruídas, quiosques arrasados, uma agência bancária assaltada e até foi atacado o restaurante Le Fouquet, o favorito do Presidente Emmanuel Macron.
As imagens divulgadas mostram chamas e fumos negros em muitos locais, a denunciar actos de grande vandalismo que o jornal Le Figaro classificou como insuportáveis e que alguns jornalistas atribuiram aos “profissionais do tumulto”. Essas imagens evocam-nos o ditador alemão Adolf Hitler, quando em Agosto de 1944 perguntava se Paris já estava a arder. Agora há quem diga que Paris está de novo a arder, embora provavelmente com mais intensidade do que acontecera quando da retirada alemã de 1944.
Hoje já não há dúvidas que alguns grupos extremistas se terão infiltrado no protesto dos “coletes amarelos” e serão esses grupos os principais responsáveis pelas destruições que se têm repetido nos últimos fins de semana de protesto.
Foi anunciado que cinco mil agentes da polícia foram mobilizados para a zona dos Campos Elísios, onde foram detidas 230 pessoas das cerca de 10 mil que protestaram em Paris. Ao fim de 18 semanas de protesto e de destruições em larga escala, também há quem acuse as autoridades por falta de firmeza na repressão dos responsáveis pelas destruições que, naturalmente, vão para além do seu legítimo protesto.

domingo, 17 de março de 2019

O independentismo catalão voltou à rua

Depois da aparente letargia que se seguiu aos acontecimentos de Outubro de 2017, o independentismo catalão está a reaparecer com grande dinamismo e com novas polémicas, sobretudo depois do início do julgamento dos 12 políticos catalães envolvidos no chamado procés.
A primeira dessas polémicas é a intenção do partido independentista Junts per Catalunya (JxCat) de apresentar como seu cabeça de lista às eleições europeias de 26 de Maio, o antigo presidente da Generalitat Carles Puigdemont que está exilado na Bélgica desde Outubro de 2017. Outra polémica resulta da exigência da Junta Eleitoral Central para que sejam retirados dos edifícios públicos regionais as bandeiras independentistas e os laços amarelos, símbolo de apoio aos políticos separatistas presos pelo seu envolvimento no referendo de autodeterminação, o que o governo da Catalunha se tem recusado a fazer.
Estes casos revelaram-se mobilizadores e ontem, em Madrid, realizou-se uma grande manifestação convocada por cerca de seis dezenas de associações de toda a Espanha, em que participaram dezenas de milhares de pessoas e que foi encabeçada por Quim Torra e por outros membros do governo catalão, a reclamar contra o julgamento dos independentistas que estão presos e a exigir a sua libertação, sob o lema “A autodeterminação não é delito. Democracia é decidir”. Vieram da Catalunha cerca de 500 autocarros e 15 comboios de alta velocidade e, segundo o cálculo efectuado pelo jornal La Vanguardia, estiveram em Madrid 55.800 manifestantes.
Entretanto, os partidos políticos espanhóis estão em pré-campanha para as eleições legislativas que se vão realizar no dia 28 de Abril, menos de um mês antes das eleições europeias, regionais e municipais de 26 de Maio, o que significa que a questão catalã vai estar em destaque.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Um dia de terror numa escola brasileira

Um massacre numa manhã de autêntico terror, que causou uma dezena de vítimas mortais, enlutou o Brasil. O jornal Estado de Minas, de Belo Horizonte, destaca em título de primeira página que “o Brasil volta a copiar o horror dos Estados Unidos”.
Aconteceu, ontem, numa escola de Suzano, um município situado na região metropolitana de São Paulo, quando dois jovens antigos alunos dessa escola estadual entraram nas suas instalações, provavelmente não vigiadas, tendo disparado sobre estudantes e funcionários da escola. No mesmo dia, um dos atiradores da escola de Suzano tinha publicado na sua página do Facebook várias fotografias em que aparecia armado e usava uma máscara com uma caveira estampada, bem como o boné e o relógio utilizados durante o tiroteio.
O massacre de Suzano volta a levantar a questão e o debate sobre a liberalização do uso e porte de arma no Brasil, que foi uma das bandeiras de Jair Bolsonaro para atingir a presidência da República.
De acordo com a lei aprovada por Bolsonaro, qualquer brasileiro maior de 25 anos e sem antecedentes criminais pode ter uma arma em casa, não sendo necessário que o seu possuidor prove que dela necessite. Porém, se não existem restrições importantes quanto à posse de arma, no que respeita ao porte de arma, que é a possibilidade de andar armado na via pública, a lei é muito mais restritiva. O facto é que os dois estudantes de Suzano tiveram acesso a armas e provocaram um massacre, o que obriga a que todo o Brasil repense este problema e o resolva no sentido de uma sociedade equilibrada e sem violência.

quarta-feira, 13 de março de 2019

O dia da ressureição de Cristiano Ronaldo

Cristiano Ronaldo nasceu no Funchal há 34 anos e muita gente pensa que essa idade já não é recomendável para jogar futebol, sobretudo na alta-roda das competições internacionais e, ainda por cima, como atacante.
Quando em Julho de 2018 o famoso futebolista deixou Madrid a caminho de Turim, eu pensei, e muitos pensaram como eu, que a Juventus não tinha comprado um futebolista por 100 milhões de euros, mas que adquirira, sobretudo, um ícone publicitário ou uma imagem de marca, para melhorar o marketing do clube e para o ajudar a voltar ao topo do futebol europeu.
O tempo parecia dar razão a essas pessoas, pois Cristiano Ronaldo deixou de aparecer na selecção portuguesa, teve problemas com o fisco espanhol e com a justiça americana e pareceu ter perdido o seu habitual alto rendimento futebolístico. Até a Bola de Ouro lhe escapou para Luka Modric, o croata que fora seu companheiro no Real Madrid.
Porém, Cristiano Ronaldo ressuscitou ontem em Turim e tratou de pôr em delírio um estádio cheio e os adeptos da Juventus. Defrontando o Atletico de Madrid e, depois de ter perdido por 2-0 no primeiro jogo disputado na capital espanhola, desforrou-se com 3-0 e passou aos quartos de final da Liga dos Campeões. Cristiano Ronaldo marcou os três golos e a imprensa italiana, mas também a espanhola, a portuguesa e a latino-americana esgotaram os adjectivos elogiosos.
Até La Gazzetta dello Sport, a "bíblia" do futebol italiano, se rendeu a Cristiano Ronaldo. É mesmo um caso raro de talento futebolístico que bate todos, ou quase todos, os recordes do mundo do futebol.

May volta a ser derrotada no Parlamento

O Parlamento britânico votou ontem o novo acordo para a saída da Grã-Bretanha da União Europeia e, pela segunda vez, a primeira-ministra Theresa May foi derrotada, sendo essa derrota hoje destacada por toda a imprensa britânica.
À semelhança do que aconteceu na votação de 15 de Janeiro, quando o acordo foi chumbado por 432 votos a 202 (derrota por 230 votos), a votação de ontem resultou num novo chumbo pois 391 deputados votaram contra o acordo, que teve somente 242 votos favoráveis (derrota por 149 votos). Significa que as alterações introduzidas nas últimas semanas no texto do acordo convenceram alguns deputados, embora 62% dos membros do Parlamento britânico continuem a recusá-lo.
Hoje os deputados britânicos vão decidir se aceitam uma saída da União Europeia sem acordo, o chamado Brexit duro. Se o aceitarem haverá uma "crise sísmica na Europa", mas se recusarem essa opção, os deputados votam amanhã um adiamento do Brexit para além do dia 29 de Março, a chamada extensão do Artigo 50 do Tratado de Lisboa.
Enquanto os deputados discutem acaloradamente e se embrulham nesta questão, com Theresa May a revelar uma inacreditável teimosia, há manifestações em frente do Parlamento que têm convivido bem, umas a favor e outras contra o Brexit. Ninguém adianta cenários nem previsões, mas é cada vez mais provável que a saída para este caso seja um pedido de extensão do Artigo 50, seguida da demissão de Theresa May e da convocação de eleições gerais, em que os partidos e os candidatos a deputados afirmem, prévia e claramente, a sua posição em relação ao Brexit. Talvez assim se evite a vergonha que seria um novo referendo. Não há outra saída.  

terça-feira, 12 de março de 2019

A Argélia caminha para uma nova ordem

Contrariamente ao que acontece na Venezuela com a contestação a Nicolás Maduro, a contestação dos argelinos à candidatura de Abdelaziz Bouteflika para a presidência da Argélia produziu efeitos e o actual presidente, desistiu das suas intenções. Não se sabe se foi por vontade própria ou por pressão dos seus conselheiros, mas nesta desistência prevaleceu a sensatez e, provavelmente, o nome de Bouteflika não será apagado da história argelina. As multidões que, sob o impulso da juventude argelina, vieram para a rua contestar aquela candidatura a um quinto mandato presidencial, aspiram agora a uma mudança de regime, a uma nova sociedade e a novas perspectivas de vida.
Significa que se aproximam tempos difíceis e de confrontação entre uma ordem antiga e uma nova ordem, o que pode incitar a que alguns poderes externos queiram meter a mão onde não devem, a coberto dos mais diversos pretextos. A história recente dos povos mostra-nos que, a partir de agora, tudo pode acontecer na Argélia, mas também nos mostra que são indesejáveis quaisquer interferências externas.
Na Síria, como no Iraque ou na Líbia, as interferências externas produziram maus resultados e é necessário que aqueles que perseguem o petróleo ou o gás natural, não se precipitem na Venezuela, mas também não se intrometam na Argélia. Hoje o jornal francês Libération salienta a primeira vitória, mas não indica quem foram estes primeiros vencedores. O tempo nos mostrará o que vai acontecer.

A crise agudiza-se na Venezuela

A situação na Venezuela está a complicar-se ou, dito de outra forma, está a ir de mal a pior. Antes era a crise económica, a hiper-inflação, a falta de bens essenciais e a insegurança. Depois veio a fuga de muitos milhares de pessoas para o Brasil e para a Colômbia, mas também a contestação nas ruas. Foi então que Juan Guaidó enfrentou o chavismo e se autoproclamou Presidente da República Bolivariana da Venezuela, mas como Nicolás Maduro já estava no poder com largo apoio dos militares e do poder judicial, a Venezuela ficou politicamente polarizada e com dois presidentes, cada qual com os seus apoios internacionais.
Desde então os acontecimentos têm-se sucedido a alta velocidade.
Há cinco dias aconteceu o mais longo apagão da rede eléctrica venezuelana que paralisou o país, que levou ao encerramento de escolas e hospitais. Sem energia eléctrica e sem transportes públicos tudo se alterou na Venezuela e até surgiram os inevitáveis assaltos a supermercados e residências. O desespero tomou conta das pessoas e, com o encerramento das fronteiras terrestres com a Colômbia e o Brasil, a que se juntou a “escuridão” dos últimos dias, a Venezuela está cada vez mais isolada.
O apagão foi uma anormalidade tem todo o aspecto de um inovador ataque feito sem armas, sem soldados e sem aviões. Não foi um acaso. Foi um acto de sabotagem em grande escala. Quem teriam sido os seus autores? Opositores internos ou agentes externos? O grupo de Lima, em que pontificam os Estados Unidos, acusa Maduro de ser o exclusivo responsável pela crise venezuelana, mas Maduro devolve a acusação aos Estados Unidos por este ataque que disse ter sido cibernético e essa acusação foi veiculada pelo jornal Ultimas Notícias de Caracas. Entretanto, Juan Guaidó afirma ter declarado o estado de emergência e convocou novos protestos, aproveitando o desespero da população com a falta de água, de comida e de energia. A crise venezuelana agudiza-se.

domingo, 10 de março de 2019

As polémicas com a viagem de Magalhães

Na sua edição de hoje o diário conservador espanhol ABC dedica uma grande reportagem à polémica criada em torno da autoria ou co-autoria da primeira viagem de circumnavegação iniciada por Fernão de Magalhães em 1519 e concluída por Sebastião de Elcano em 1522. Foi uma grande viagem e quando se aproximam os 500 anos da sua realização, há quem considere que essa histórica viagem ibérica foi exclusivamente espanhola e há quem defenda que também foi portuguesa. O jornal ABC, depois de ter consultado a Real Academia de la Historia, recebeu um parecer que foi hoje divulgado, em que aquela instituição conclui que essa viagem foi “plena y exclusivamente española” e fundamenta-a em 13 pontos. Todos esses pontos estão apoiados em documentos, mas a interpretação desses documentos dá argumentos para todas as versões, até porque Magalhães era português e levava consigo “trinta e tantos portugueses”.
Os portugueses tomaram a iniciativa de comemorar a efeméride e associaram-se aos espanhóis, tendo apresentado conjuntamente na UNESCO uma proposta para que a Rota de Magalhães seja inscrita como Património da Humanidade. Os espanhóis distraíram-se com outras coisas e, agora que o assunto está na ordem do dia, não estão a gostar nada do que está a acontecer. O jornal ABC acusa os políticos socialistas espanhóis e refere “as mentiras de Portugal para se apropriar da gesta de Magalhães e Elcano”, ridiculariza “um historiador português que acusa Elcano por ter dado a volta ao mundo ilegalmente” e acusa “a diplomacia portuguesa de ter perdido o respeito pela Espanha”.
Ninguém tem dúvidas de que a principal quota-parte dessa viagem é espanhola, mas não é verdade que seja “incontestable la plena y exclusiva españolidad dela empresa”. A Real Academia de la Historia deve estar cheia de fantasmas franquistas. Quando se pensava que a integração europeia acabava com todas as rivalidades ibéricas do passado, temos um jornal da direita franquista e tramontana espanhola a desenterrar o machado de guerra.

R.I.P. José de Albuquerque

José de Albuquerque deixou-nos ontem de forma inesperada na sua terra de Goa e eu perdi um amigo de excepcional inteligência e de extrema cordialidade.
Tinha 85 anos de idade e, há pouco mais de um mês publicara um livro em português, o que foi um testemunho do seu talento literário e a prova do seu conhecimento da língua e da cultura portuguesas, de cujo uso nunca abdicou. Conhecemo-nos há mais de vinte anos em Goa, quando no exercício de funções de gestão necessitei do conselho técnico de alguém com competência e experiência nos domínios da engenharia e toda a gente me indicou o nome de José de Albuquerque, que era um engenheiro formado pela Universidade de Puna e que tinha  servido no PWD (Public Works Department), onde atingiu o cargo de Engenheiro-Chefe do Estado de Goa e Secretário-Adjunto do Governo de Goa.
Tinha sido um aluno brilhante no antigo Liceu Afonso de Albuquerque em Pangim e admirava Portugal e os portugueses. Por uma única vez na vida visitou Portugal e, nessa altura, eu tive o privilégio de lhe mostrar algumas coisas do país que ele tanto amava em todas as suas dimensões.
Goa perdeu um grande homem e, dos muitos amigos que por lá tenho, perdi um dos melhores.

quinta-feira, 7 de março de 2019

A Argélia está a requerer a nossa atenção

Com 82 anos de idade e ocupando a presidência da República Democrática e Popular da Argélia desde 1999, Abdelaziz Bouteflika anunciou há poucos dias a sua candidatura a um quinto mandato presidencial.
Trata-se de um homem de grande prestígio nacional porque foi um dos líderes da revolução argelina que derrotou o poder colonial francês, mas também de prestígio internacional pois presidiu à Assembleia Geral das Nações Unidas. Porém, para além da sua idade, Bouteflika não é visto em público desde que foi vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) em 2013 e, alegadamente, estará hospitalizado na Suiça desde há uma semana. Por isso, o anúncio da sua recandidatura gerou uma forte contestação popular, sobretudo da juventude universitária e de outras forças que se lhe juntaram, que não aceitam a candidatura de Bouteflika porque se encontra diminuído das suas capacidades, nem o sistema oligárquico por ele criado para dirigir a Argélia que acusam de ser corrupto e submisso a forças externas.
Tudo começou há menos de um mês, mas a contestação tem aumentado através da convocação de manifestações feitas através das redes sociais, que não querem que Bouteflika e os seus apaniguados se mantenham no poder. Os argelinos têm aspirações e parece que querem mais democracia e mais progresso, embora não se saiba que aproveitamento podem os radicais islâmicos fazer desta situação.
Argel fica a cerca de mil quilómetros de Lisboa, logo a Argélia fica próxima de Portugal. Desde que apareceram as primaveras árabes que têm ocorrido graves perturbações em diversos países do Médio Oriente e da margem sul do Mediterrâneo, desde a Tunísia ao Iraque, passando pelo Iraque, pelo Egipto e pela Líbia. A intervenção externa ocidental nestas primaveras árabes tem sido um caso de enorme insensatez e estupidez. É preciso estudar o que se passa na Argélia e ajudar os argelinos. O trabalho hoje publicado pelo OBS - Le Nouvel Observateur, pode ajudar a compreender a situação.

quarta-feira, 6 de março de 2019

Os bailinhos de Carnaval da ilha Terceira

A ilha Terceira tem uma história muito rica, um importante património construído e até uma capital que é património da Humanidade, mas o que mais impressiona naquela ilha são as características culturais dos terceirenses, que se revelam nas Sanjoaninas, nas Festas da Praia (da Vitória) e em muitas outras festas que se realizam por toda a ilha, mas também nas touradas, nas marchas, nas danças, nas comédias e, sobretudo, nos bailinhos de Carnaval.
Durante muitas semanas, homens e mulheres das mais diversas idades e profissões, de diferentes graus académicos e estratos sociais, esquecem as diferenças socioculturais, e transformam-se em músicos e actores, juntando-se em ensaios para apresentarem em palco um divertido espectáculo popular que envolve um pouco de todas as artes performativas, como a música, o teatro, o canto e a dança, que entusiasmam uma ilha inteira. São os grupos que vão ao encontro das pessoas e chegam a fazer seis ou mais atuações em cada noite, pela madrugada dentro, nas salas espalhadas por toda a ilha durante os quatro dias de Carnaval. Este ano foram 70 bailinhos, 6 danças de pandeiro, 2 danças de espada, 8 comédias e um monólogo, apresentados em 36 palcos das sociedades recreativas de toda a ilha, sempre cheias, em que participaram 1.970 músicos e actores, sendo 1.136 homens e 833 mulheres. Os bailinhos são, seguramente, uma das mais interessantes manifestações da cultura popular portuguesa, embora sejam pouco conhecidos no território continental.
Os terceirenses também levaram a sua tradição cultural para os Estados Unidos e para o Canadá e todos os anos são apresentados bailinhos que, por vezes, vêm actuar na ilha Terceira. Este ano estavam programados 18 bailinhos na costa Leste americana e 15 na Califórnia, enquanto no Canadá só estavam anunciados 10!
Naturalmente, o terceirense Diário Insular destacou que a ilha esteve embalada pelo Carnaval, até porque, como alguém referiu, a ilha Terceira é uma terra de artistas e hoje, que é quarta-feira, já os terceirenses estão com saudades do Carnaval e a começar a ensaiar as marchas a apresentar nos Santos Populares. Sempre em festa! Viva a alegria da ilha Terceira.

terça-feira, 5 de março de 2019

Uma celebração ibérica para Magalhães

A edição de ontem do jornal Público dedicou quatro páginas a Fernão de Magalhães, o navegador português que há 500 anos largou de Sanlúcar de Barrameda com 5 navios e 234 homens para navegar por ocidente até às Molucas. Numa altura em que a hegemonia náutica mundial pertencia aos portugueses, o navegador Fernão de Magalhães foi oferecer os seus serviços ao rei de Espanha para demonstrar que, nos termos do Tratado de Tordesilhas, as Molucas pertenciam a Espanha. Foi, objectivamente, um traidor ou um mercenário. Depois de ter descoberto a passagem do Atlântico para o Pacífico e ter atravessado esse oceano, veio a ser morto numa escaramuça numa ilha das Filipinas. Naquela situação desesperada, foi o basco Juan Sebastián Elcano que assumiu o comando da expedição e que decidiu regressar a Espanha pela rota dos portugueses, isto é, pelo cabo da Boa Esperança. Assim, sem que essa fosse a intenção inicial da sua missão, a nau Victoria acabou por fazer a circumnavegação da Terra, tendo regressado a Espanha em 1522.
O jornal Público decidiu tratar o assunto. Embora o jornal continue a não satisfazer totalmente as minhas necessidades informativas, reconheço que é o quotidiano português que mais procura divulgar temas de menor interesse geral, como sejam a Ciência, a Tecnologia e a Cultura e, neste caso, a História. Naturalmente que aplaudo esta linha editorial que foge ao sensacionalismo que não distingue notícia de opinião, que condena sem julgamento e que abre as suas páginas a comentadores de vão-de-escada. Por isso, aqui aplaudo o jornal por contribuir para a divulgação desta efeméride que é ibérica e que, como tal, deverá ser estudada e evocada neste seu 500º aniversário.

Grandes tempestades, grandes fotografias

Apenas a 24 dias da anunciada data da saída da União Europeia, processo a que foi chamado Brexit, tudo continua confuso nas ilhas Britânicas e ninguém sabe se há ou não há saída, se há adiamento ou não adiamento dessa saída, se há acordo ou não há acordo para a saída, ou até se há um segundo referendo para saber se ainda querem ou já não querem a saída.
Theresa May embrulhou-se completamente com o Brexit e, tanto ela como o seu rival Jeremy Corbyn, estão calados porque já não sabem o que fazer e já não sabem se têm seguidores fiéis. Entretanto, os dias passam. Parece uma tempestade perfeita que se anuncia e, agora, até Theresa May está a ser acusada de subornar aliados e adversários políticos para que estes ajudem a aprovação de uma nova proposta de acordo do Brexit que vai ser votada no dia 12 de Março.
No meio desta confusão política, o jornal The Times optou por destacar na sua edição de ontem um tema consensual e publicou uma elucidativa imagem a quatro colunas alusiva à passagem da tempestade Freya pelo sul das ilhas Britânicas, com ventos de mais de 120 km por hora, o que obrigou a muitos cuidados por parte da população.
O jornal publicou uma fotografia do mar a saltar o cais da vila de Porthcawl, na costa sul do País de Gales, intitulando-a de wave power. É um bom exemplo de fotojornalismo, uma área em que os jornais britânicos são exemplares.

segunda-feira, 4 de março de 2019

O espectacular Carnaval de Badajoz

O Carnaval é uma festa para quem gosta e há muita gente que gosta, um pouco por todo o mundo, sobretudo no Brasil e nas ilhas Canárias, mas também em Portugal, onde há famosos carnavais em Torres Vedras e Loulé, na Mealhada e em Sesimbra, em Loures e em Ovar, em Setúbal e na Figueira da Foz e em muitas mais cidades e vilas lusitanas. Não falta a fantasia, nem a alegria, nem a folia. Nem faltam os foliões, que as televisões mostram aos milhares. São três dias de desfiles e de fantasias, de música e de trajes fantásticos ou, como se diz no Brasil, é ”a ilusão do Carnaval, para tudo se acabar na quarta-feira”.
Até na vizinha Espanha existem focos de grande entusiasmo carnavalesco em algumas das suas regiões e as edições dos jornais da Extremadura, tanto de Badajoz como de Cáceres, destacam hoje na capa das suas edições os grandes desfiles carnavalescos que ocorreram no passado fim de semana em Badajoz.
As reportagens fotográficas não enganam. O desfile carnavalesco foi mesmo uma grande festa, com trajes exóticos de mil cores, muita música e muito entusiasmo. Em Badajoz desfilaram 101 grupos das províncias de Badajoz e Cáceres, que mobilizaram 7.300 participantes devidamente ensaiados, o que torna o Carnaval de Badajoz num dos maiores de Espanha, o que também certamente atraiu muitos portugueses de Elvas e arredores, até porque o espectáculo é invulgarmente rico de animação.

domingo, 3 de março de 2019

Uma visita e um reencontro de amigos

Marcelo Rebelo de Sousa está de partida para uma visita oficial a Angola em que, tanto da parte portuguesa como da parte angolana, são muito elevadas as expectativas por razões muito diversas, mais de ordem emocional e cultural do que por razões políticas ou económicas, pois para isso aponta o perfil pessoal dos respectivos Presidentes da República.
É realmente uma oportunidade singular para reforçar a onda de amizade e de afecto que em Novembro de 2018 gerou a visita do Presidente João Lourenço a Portugal. Por isso, a visita de Marcelo Rebelo de Sousa está a ser preparada como uma das mais importantes daquelas que nos seus três anos de mandato já fez e, antes de aterrar em Luanda no dia 5 de Março, o presidente português vai fazer duas paragens simbólicas, primeiro em Cabo Verde e, depois, em São Tomé e Príncipe. E faz muito bem. Ultrapassadas as feridas coloniais é a altura de serem reforçados os laços económicos e culturais mas, sobretudo, de estimular os reais afectos que derivam de um passado e de uma língua comum.  
O programa da visita oficial de Marcelo Rebelo de Sousa a Angola durará quatro dias e, para além de Luanda, incluirá visitas à província de Benguela, com visitas a Benguela, Lobito e Catumbela, e à província da Huíla, onde visitará o Lubango. A imprensa angolana tem estado muito atenta a esta visita e, para além de um artigo de opinião publicado pelo director do Jornal de Angola, que classificou esta visita como uma “viagem de afectos”, também o novo jornal de Angola tratou de publicar uma longa entrevista com Marcelo Rebelo de Sousa.
Depois de muitos anos de dificuldades políticas, contrariedades diplomáticas e até de desconfianças, por vezes devidas a protagonistas qdos dois lados ue não perceberam o potencial das relações entre Angola e Portugal,  tudo se parece conjugar para que esta visita seja um verdadeiro reencontro entre Portugal e Angola.
Assim seja!