sexta-feira, 31 de maio de 2019

A grande festa de aniversário da Airbus

Foi no dia 29 de Maio de 1969 que nasceu a Airbus resultante da fusão de algumas empresas aeronáuticas francesas, alemãs, inglesas e espanholas agrupadas no consórcio European Aeronautic Defence and Space Company.
Cinquenta anos depois, a maior aventura industrial da Europa gerou o maior construtor mundial de aviões e a cidade de Toulouse tornou-se a capital mundial da aeronáutica. No seu percurso aconteceram muitas perpécias ditadas pela rivalidade com as construtoras americanas Boeing e Mc Donnell Douglas que dominavam o mercado, mas a Airbus venceu todas as suas dificuldades e detém actualmente uma quota de mercado que até há bem pouco tempo era impensável - metade das vendas e das encomendas de novos aviões comerciais.
A Airbus festejou a passagem do seu 50º aniversário e fez voar sobre a cidade de Toulouse toda a sua família, desde o pioneiro A300B que fora apresentado em 1969 no salão aeronáutico de Bourget, passando pelo bem sucedido projecto do A320 que hoje é fabricado em seis países, até ao A380 que é o maior avião comercial do mundo e ao novíssimo A 350.
Hoje o sucesso e a performance da Airbus traduzem-se no emprego de 130.000 pessoas, numa produção anual da ordem dos 880 aparelhos e, em fins de Abril de 2019, numa carteira de encomendas de 7.287 novos aviões. As suas estimativas apontam para a produção de 37.000 aviões até 2039!
Poucas iniciativas como esta são tão demonstrativas da força que tem a união europeia e a União Europeia. O jornal La Dépêche du Midi, que se publica em Toulouse, destacou com desenvolvida reportagem esta importante efeméride.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

A emoção de um regresso a Goa

Voltar a Goa é um regresso a algumas das melhores memórias da minha vida e é um reencontro com pessoas que estimo desde há muitos anos, mas é também uma leitura renovada sobre um território e uma comunidade que nos seduz pela sua história e pela sua especificidade cultural.
Goa é um dos 29 estados da União Indiana e tem uma personalidade muito própria, por certo derivado da convivência que manteve com os portugueses durante alguns séculos. Porém, o progresso tem alterado quase tudo em Goa, tanto no seu ambiente cultural como na oferta de actividades e serviços, tornando-se um pólo de atracção para as outras regiões da India. Para responder à procura turística e para satisfazer as necessidades crescentes da população, apareceram novas construções, muitas infraestruturas e comércios de todos os géneros, em paralelo com muitas iniciativas empresariais e novas experiências culturais. A vida social dinamizou-se e o turismo tornou-se uma das mais importantes actividades económicas de Goa, gerando rendimentos para muitos sectores da população, uma parte da qual veio de outras regiões da Índia à procura do emprego e da prosperidade que encontram na”Europa da Índia”.
No entanto, perdura em Velha Goa a magia e o encanto da Goa Dourada, a cidade que nos séculos XVI e XVII foi a capital de um império marítimo que se estendeu de Moçambique ao Japão e que, porventura, é um dos episódios mais importantes da História de Portugal. Por isso, é um local tão belo quanto simbólico e, naturalmente,  lá estive hoje em peregrinação emocional e histórica.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

A abstenção ganhou as eleições europeias

Apesar de estar bem longe da ocidental praia lusitana, tratei de acompanhar as eleições europeias e, em especial, as que se realizaram em Portugal. O nível de abstenção (69%) é demasiado alto e muito preocupante numa democracia que se quer participativa e os nossos políticos devem tirar daí as respectivas conclusões, pela sua lastimável falta de pedagogia democrática e absoluto desconhecimento do que são os seus deveres para com o povo.
A abstenção resulta de muitos factores, mas a pouca vergonha que foi a campanha eleitoral feita por alguns candidatos, já indicava que muitos eleitores não iriam participar nessa farsa mentirosa e nada esclarecedora.
Ao tratar as eleições europeias como uma prova de confiança no seu governo, o primeiro-ministro António Costa foi o grande vencedor, conseguiu o seu objectivo e obteve uma grande vitória, isto é, apostou no que mais lhe interessava internamente, mas esqueceu-se da Europa. Pelo contrário, o seu adversário directo Rangel, que também se esqueceu da Europa, teve uma campanha indigna com base em difamações e insultos, fazendo com que o seu partido tivesse a maior derrota de sempre. Pagou por isso. O partido da Cristas, que também se esqueceu da Europa, adoptou uma linguagem insultuosa para António Costa e viu-se relegado para o 5º lugar do ranking partidário, apenas ligeiramente à frente do partido dos animais e da natureza. Pagou por isso.
Era bom que esta gente aprendesse a fazer campanhas eleitorais sérias, esclarecedoras, com propostas fundamentadas e que não se deixasse instrumentalizar pela mediocridade, porque desta forma e com este tipo de candidatos, a nossa democracia enfraquece porque o povo não lhes perdoa.

sábado, 25 de maio de 2019

A demissão de May foi demasiado tardia

Theresa May anunciou ontem que vai abandonar a liderança do Partido Conservador e a chefia do governo do Reino Unido, mas essa decisão era esperada e desejada desde há muito tempo, até porque já ela acumulara três pesadas derrotas no Parlamento a propósito do seu acordo do Brexit com a União Europeia. A persistência com que May defendeu o seu acordo, para o qual revelou uma teimosia política e uma enorme falta de habilidade para consensos, ditaram este esperado final que toda a imprensa britânica noticia, nuns casos com alívio, noutros com preocupação.  Tudo acabou em lágrimas como escreveu The Times. A sua decisão terá efeitos a partir de 7 de Junho, sendo então formalizada a corrida à sua sucessão, mas Theresa May continuará a desempenhar o seu cargo até que o processo de sucessão fique concluído.
Com esta decisão, o Reino Unido deu mais um passo para a sua describilização internacional e ficou evidente que não teve em Theresa May um primeiro-ministro à altura das circunstâncias, como noutros tempos e noutras crises tivera Winston Churchill ou Margaret Thatcher.
O processo do Brexit vai continuar na agenda da política britânica mas terá que ser resolvido até ao dia 31 de Outubro, ficando agora em aberto a hipótese de uma saída sem qualquer acordo ou a realização de um segundo referendo.
Não é difícil prever que, por maior que seja a habilidade política do sucessor de Theresa May, o processo vai continuar encalhado porque os deputados que a contrariaram são exactamente os mesmos que agora vão reapreciar o assunto. Sem eleições antecipadas e a constituição de um novo Parlamento, que afirme claramente o sim ou o não em relação ao Brexit, o espectáculo degradante da política britânica vai continuar.
Entretanto, os britânicos já votaram para o Parlamento Europeu, o que sendo uma situação normal, até parece um paradoxo. 

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Índia: ganha Modi, aumenta preocupação

Depois de um processo que se estendeu por 43 dias, com votações nos 29 estados e nos sete union territories indianos, o apuramento dos resultados das eleições para os 542 assentos do Lok Sabha, ou Parlamento indiano, ficou concluído ontem. Narendra Modi, o actual primeiro-ministro indiano, assegurou um novo mandato de cinco anos e continuará no seu posto.
A vitória de Modi e do Bharatiya Janata Party (BJP), ou Partido do Povo Indiano, foi muito expressiva pois conseguiu 303 assentos e, contando com os seus aliados, contará com o apoio de 352 deputados (65%), como destaca hoje o Hindustan Times. É uma vitória esmagadora, mas que é preocupante para alguns sectores da sociedade indiana porque o BJP é, sobretudo, um partido nacionalista hindu e conservador, que defende uma Índia orientada pelo hinduísmo e que, nalgumas regiões do país, tende a perseguir muçulmanos e católicos, embora também se venha declarando como defensor do secularismo, na linha preconizada pelo Mahatma Gandhi.
Os grandes derrotados das eleições indianas foram Rahul Gandhi e o Indian National Congress, que apenas conquistou 52 assentos. Rahul falhou e nem o seu carisma familiar o salvou: bisneto de Nehru, neto de Indira e filho de Rajiv – todos primeiros-ministros da Índia – o facto é que Rahul nem sequer conseguiu eleger-se deputado pelo Uttar Pradesh, o estado que é o feudo tradicional da sua família. 
A Índia atravessa uma fase de grande progresso tecnológico e já é a potência regional que domina o oceano Índico, mas é uma sociedade complexa nas suas estruturas sociais, na existência de uma economia dualista e na persistência de uma enorme pobreza. Porém, o que certamente vai preocupar os indianos nos tempos que aí vêm será o extremismo hindu que o BJP apoia, através de milícias ultraconservadoras como são o RSS - Rashtrya Swayamsevak Sangh (União Nacional de Voluntários) ou a Hindu Yuva Vahini (Força Jovem Hindu). Muçulmanos e católicos, sobretudo no norte da Índia, têm muitas razões de preocupação, a não ser que a vitória e a poder reforçado de Narendra Modi, bem como a pressão internacional, o empurrem para a moderação e para o secularismo religioso.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Votemos todos pela 'Nossa Pátria Europa'

As eleições para o Parlamento Europeu iniciaram-se hoje com os britânicos e os holandeses a irem às urnas. Amanhã votarão os irlandeses e, no sábado, irão votar os cidadãos da Letónia, da República Checa e da Eslováquia. Finalmente, no domingo votarão os eleitores dos restantes 22 países da União Europeia. Assim, serão escolhidos os 751 deputados que representarão os mais de 510 milhões de cidadãos da União Europeia, aos quais cabe um importante papel na defesa e no reforço do projecto europeu que, apesar de todos os desvios e atropelos que vão acontecendo, continua a ser um ideal de paz, de progresso e de solidariedade.
O ritual das eleições é cansativo e doentio, mas faz parte do processo democrático com as suas inenarráveis campanhas eleitorais que, em vez de mobilizarem os cidadãos para o voto, provocam um efeito contrário. Por isso, é grande o desinteresse dos 400 milhões de eleitores e a abstenção que se adivinha é preocupante. Há mesmo um paradoxo nesta questão, como se tem visto em Portugal, com uma campanha que vai muito para além da normal e desejável confrontação de ideias, para se situar num deplorável conjunto de acusações e de insultos, de agressividade e de suspeitas gratuitas, conduzidos sobretudo por esse agitador reacionário e desbocado que é o deputado Rangel, embora haja outros que parecem copiá-lo. Uma tristeza, a lembrar outros tiranetes que puseram a Europa a arder!
Hoje a revista italiana Espresso fala da Nossa Pátria Europa. É uma frase simbólica mas que é muito expressiva quanto a um ideal que tem que ser aprofundado, contra Farages, Salvinis, Orbáns e Rangéis. Eu já utilizei o meu voto antecipado. Deseja-se agora que os portugueses, mas também os outros cidadãos europeus, votem no próximo domingo para dar força à ideia de Europa!

quarta-feira, 22 de maio de 2019

A justa consagração de Chico Buarque

Chico Buarque de Hollanda foi o vencedor do Prémio Camões 2019. Fico contente!
O Prémio Camões constitui o mais prestigioso prémio da literatura de língua portuguesa e foi tão grande a justiça da escolha que as felicitações ao premiado surgiram por toda a parte, reconhecendo o seu talento e o seu contributo para a difusão da língua portuguesa, como músico, poeta, romancista e autor teatral. O jornal Público destacou essa boa notícia em primeira página.
Chico Buarque é um dos brasileiros de maior notoriedade artística e uma referência da cultura brasileira em Portugal. Nascido no Rio de Janeiro e com 74 anos de idade, ele é um dos mais inspirados autores da música popular brasileira e na sua obra literária e musical contam-se centenas de canções, dezenas de discos, algumas peças teatrais e vários romances. Não é fácil escolher exemplos do seu talento e da sua criatividade artística, mas talvez se possam distinguir os romances Budapeste e Leite Derramado, que venceram o Prémio Jabuti como livro do ano, ou a inspirada Ópera do Malandro ou, ainda, a peça Morte e vida severina, que musicou. Porém, serão os textos das suas canções, desde a Construção e a Minha história, que o tornaram mais conhecido no Brasil e em Portugal. Crítico da ditadura militar brasileira chegou a auto-exilar-se em Itália. 
A sua homenagem ao 25 de Abril e à revolução dos cravos com a canção Fado Tropical e, em especial, com a canção Tanto Mar, perduram em Portugal como algumas das suas mais inspiradas criações que celebraram a reconquista da Liberdade e da Democracia em Portugal.

Sei que estás em festa, pá. Fico contente!
E enquanto estou ausente, guarda um cravo para mim.

Eu queria estar na festa, pá. Com a tua gente.
E colher pessoalmente, uma flor no teu jardim.
 

domingo, 19 de maio de 2019

As eleições para o Parlamento Europeu

Aproveitando as novas regras do voto antecipado, já hoje fui votar para o Parlamento Europeu e sou, portanto, um dos cerca de vinte mil eleitores que o requereram porque prevejo estar ausente do país no próximo dia 26 de Maio. As mesas de voto estavam instaladas no Edifício dos Paços do Concelho, na Praça do Município em Lisboa, tendo o processo sido eficiente e rápido. O meu dever cívico ficou cumprido, mas só o cumprimento desse dever democrático e a minha vontade de fortalecer a Europa e o seu projecto de prosperidade e paz, me fez votar. Se queremos Europa, então todos os votos são necessários.
Por aquilo que disseram ou não disseram em campanha eleitoral, conclui facilmente que a generalidade dos candidatos ao Parlamento Europeu não merecia o meu voto, nem tão pouco merece beneficiar do seu especial estatuto, nem das mordomias da condição de deputado europeu. Alguns nem sequer dão a cara e outros comportam-se como autênticos arruaceiros, não são capazes de mostrar uma ideia ou estruturar um discurso europeísta e tratam de fazer a caça ao voto de uma forma primária e mentirosa. Os casos mais evidentes são, provavelmente, os convencidos eurodeputados Melo e Rangel, que são repetentes nestas andanças, mas que não falam do seu trabalho em Bruxelas nem do que se propõem fazer por lá, preferindo abusar de um discurso insultuoso que não se dirige sequer aos seus adversários políticos, mas sobretudo contra o primeiro-ministro Costa.
Eles certamente conhecem a teoria do sociólogo Paul Lazersfeld, segundo a qual a maioria dos eleitores vota de acordo com a sua predisposição política inicial, ou seja, não altera o seu sentido de voto com as campanhas eleitorais. Assim, estas campanhas tornam-se num completo vazio de ideias, com o seu desfile de banalidades, de grosserias e de insultos, com os candidatos a recorrer ao fait divers do quotidiano, à intrigalhada e à maledicência, evidenciando por vezes grande ignorância e má fé naquilo que vão repetindo por arruadas, mercados e jantaradas. Acontece que, depois das eleições, deixamos de ouvir falar deles, excepto daqueles que têm um pé em Bruxelas mas que não desistem de aparecer por cá como comentadores encartados, para se promoverem e para aumentarem a sua conta bancária, porque muitos deles estão mais interessados nela do que no bem-estar dos portugueses. Não sei se o futuro da Europa pode ser feito com gente desta...

sábado, 18 de maio de 2019

O Rio de Janeiro está caindo aos pedaços?

A edição de hoje do jornal O Dia que se publica no Rio de Janeiro é muito sugestiva e apresenta um original grafismo, em que é associado o título e o conteúdo da notícia de primeira página ao próprio logotipo do jornal. Assim, a informação de que o “Rio caindo aos pedaços” fica reforçada perante o leitor, pois o título do jornal até parece que também cai aos pedaços.
A reportagem revela alguma indignação e apreensão por uma série de desastres que têm ocorrido no Rio de Janeiro, a cidade símbolo do Brasil, que denunciam problemas críticos em algumas infraestruturas urbanas e casos reveladores de maior descuido ou de falta manutenção.
Segundo revela a notícia, em menos de um ano, a série de tragédias que têm afectado a cidade impressiona e, entre elas, destaca-se o incêndio do Museu Nacional que foi uma catástrofe para o património cultural brasileiro, o incêndio no Centro de Treino do Flamengo que matou dez jogadores de futebol juvenis, as chuvas torrenciais de Abril que provocaram dez mortes, o desabamento de dois prédios na comunidade da Muzema que ruíram e provocaram a morte de 20 pessoas, o desabamento frequente de ciclovias e, ontem, o desabamento de parte do tecto do Túnel Acústico Rafael Mascarenhas, na Gávea, que tem quinhentos metros de extensão e interrompeu o trânsito num dos acessos de ligação entre a zona sul e a zona oeste da cidade.
Como salienta O Dia, o Rio de Janeiro, que é o cartão postal do Brasil, está caindo aos pedaços. Será, sobretudo, um título sensacionalista, mas também é um aviso dirigido às autoridades porque as infraestruturas urbanas não são eternas e exigem atenção e manutenção.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

É preciso desanuviar o clima de ameaça

Os Estados Unidos e a Rússia, que continuam a ser as superpotências militares do nosso planeta, também continuam a defrontar-se nos diferentes conflitos regionais que vão acontecendo pelo mundo, numa lógica que vem desde Fevereiro de 1945 quando se realizou a conferência de Yalta, onde Franklin Roosevelt e Josef Stalin, com a presença de Churchill. Foi então que decidiram a repartição das zonas de influência respectivas depois do fim da 2ª Guerra Mundial.
Nos últimos tempos, a imprevisibilidade de Donald Trump tem causado alguma perturbação na política internacional e, por isso, o encontro que esta semana tiveram em Sochi o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo e o seu homólogo russo Sergei Lavrov e, depois, o presidente Vladimir Putin, tornou-se um acontecimento importante.
Numa altura em que se verifica um aumento da tensão entre os Estados Unidos e o Irão, centrado no estreito de Ormuz, estes encontros servem para esclarecer as duas superpotências sobre os seus pontos de vista e para definir linhas vermelhas, mas também para fazer com que o mundo se sinta mais seguro. As palavras desanuviamento e contenção tornam-se cada vez mais necessárias, em vez das palavras ameaça e confronto. O encontro de Sochi terá servido para restabelecer as boas relações entre os dois países, mas também para discutir os tratados nucleares, nomeadamente a extensão do tratado START III relativo à redução de armas nucleares que expira em 2021, assim como a situação no Irão, na Ucrânia, na Venezuela e na Síria.
Os jornais russos, nomeadamente o Коммерсант ou Kommersant, publicaram a fotografia do encontro entre Putin e Pompeo, o que parece corresponder a um grande interesse russo neste encontro. O facto é que, como acontece desde 1945, as instabilidades regionais e as ameaças à paz mundial, são sobretudo uma consequência da geografia do petróleo e das matérias-primas, em paralelo com o negócio do armamento. É assim, também, na Venezuela e na Síria, no Irão e na Ucrânia.  Portanto, há que haver alguma contenção e desanuviar.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

A Espanha diz não aos Estados Unidos

Nos últimos dias a imprensa internacional tem destacado uma inquietante subida da tensão entre o Irão e os Estados Unidos, na sequência da retirada americana do acordo que limitava o programa nuclear iraniano e da reintrodução de sanções contra o seu regime, o que levou os americanos a reforçar a sua presença militar na região e a deslocar para o golfo Pérsico um grupo de combate constituído pelo porta-aviões USS Abraham Lincoln com 85 aeronaves, um cruzador lança-mísseis, três destroyers, um submarino, um navio de apoio logístico e... uma fragata espanhola.
A União Europeia tratou de pedir contenção aos Estados Unidos pois já se ouvem os tambores de guerra, para evitar uma escalada da tensão na região que produz e exporta uma boa parte do petróleo mundial, pois está preocupada com o risco de um conflito acidental e com a imprevisibilidade de Donald Trump, que é pouco confiável em política externa como se tem visto. Então como é que aparece uma fragata espanhola no meio desta ameaçadora força naval?
O assunto é tema de primeira página de toda a imprensa espanhola. Acontece que, por um acordo celebrado há dois anos, estava previsto que uma fragata espanhola acompanhasse a força naval americana, como exercício de treino operacional e para comemorar os 500 anos da volta ao mundo de Magalhães-Elcano. Assim, a fragata Méndez Núñez, o único navio não americano dessa força naval, iria permanecer com a força naval durante seis meses, acompanhando-a desde o Mediterrâneo e, depois, pelo mar Vermelho, oceano Índico, mar da China e oceano Pacífico, até à sua base de San Diego, após o que regressaria a Espanha pelo canal do Panamá, completando uma volta ao mundo. Porém, as autoridades espanholas decidiram retirar temporariamente a sua fragata desta força porque a missão que agora lhe foi atribuída não estava prevista no acordo inicial. A Espanha disse não aos Estados Unidos. A fragata Méndez Núñez não entrará no golfo Pérsico e juntar-se-à depois à força americana quando esta regressar ao oceano Índico. Os americanos não gostaram, mas Margarita Robles, a ministra da Defesa espanhola, foi firme: “Habia 28 puertos previstos en el despliegue y este no entraba dentro de las previsiones”.

terça-feira, 14 de maio de 2019

O atúm e a lei da oferta e da procura

O jornal Faro de Vigo destaca na sua edição de hoje em primeira página, a fotografia de um atúm vermelho “pescado por um barco da Madeira”, com o invulgar peso de 399 quilos, que foi comprado por um exportador de Vigo por 2.300 euros. Segundo refere o jornal, as capturas da frota portuguesa foram desembarcadas em Vigo, tendo sido leiloados 44 atúns no famoso gastromercado O Berbés. 
O peso e o preço de venda do atúm capturado pelos pescadores da Madeira suscita alguma curiosidade. O peso pouco comum de 399 quilos deste atúm, fez com que se procurasse apurar qual o peso do maior atúm alguma vez capturado, tendo aparecido uma informação que refere um exemplar capturado em 1979 com 678 quilos. Portanto, apesar do seu anormal peso, o atúm leiloado em Vigo não é o mais pesado que até agora foi capturado, como se chegou a pensar.
Quanto ao seu valor, que em princípio resulta da lei da oferta e da procura, os armadores ou pescadores madeirenses perderam muito para o intermediário que comprou o atúm por 2.300 euros e que agora vai ganhar muito dinheiro se o exportar para o Japão. O Japão é o principal importador de atúm destinado aos seus incontáveis restaurantes de sushi e paga muito dinheiro pelas suas importações de pescado. Relativamente ao atúm há um curioso ritual com a sua aquisição no tradicional leilão de Ano Novo, que é o primeiro do ano e que se realiza no maior mercado de peixe do mundo que é Tóquio. Este ano foi atingido um preço recorde de dois milhões e 700 mil euros pago por um atúm rabilho com 278 quilos, capturado no mar do norte do Japão. Embora esse leilão de Ano Novo seja uma excepção na valorização do atúm, o facto é que os pescadores madeirenses mereciam melhor compensação.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Homenagens a Sophia de Mello Breyner

Se fosse viva, no próximo dia 6 de Novembro, a escritora Sophia de Mello Breyner Andresen celebraria cem anos de idade e as homenagens que, com justiça, lhe são devidas já começaram, com o destaque que lhe é dado na última edição do Jornal de Letras.
Sophia nasceu no Porto, estudou e viveu em Lisboa, tornando-se num dos maiores nomes da literatura portuguesa, sobretudo na poesia, mas também com obra na literatura infantil, no teatro, no ensaio, na tradução e em outras expressões literárias. A sua extensa obra está traduzida em várias línguas e foi várias vezes premiada, tendo recebido, entre outros, o prestigiado Prémio Camões em 1999.
Foi uma activa militante em termos cívicos, tendo denunciado o regime salazarista, integrado os movimentos católicos que se lhe opunham e apoiado a candidatura do general Humberto Delgado à Presidência da República em 1958. Após o 25 de Abril de 1974, foi eleita deputada à Assembleia Constituinte pelo círculo do Porto, numa lista do Partido Socialista.
Faleceu em Lisboa no dia 2 de Julho de 2004 e, dez anos depois, foram-lhe concedidas honras de Estado e os seus restos mortais foram transladados para o Panteão Nacional.
Associo-me, desde já, às justas homenagens que são devidas a Sophia de Mello Breyner Andresen, aqui transcrevendo um dos seus mais inspirados poemas:
   
  25 de Abril
  Esta é a madrugada que eu esperava
   O dia inicial inteiro e limpo
   Onde emergimos da noite e do silêncio
    E livres habitamos a substância do tempo.

sábado, 11 de maio de 2019

JB é uma das maiores vergonhas do país

De acordo com o que tem sido divulgado pela comunicação social, o cidadão José Berardo, que por vezes é conhecido pelo pseudónimo de Comendador Berardo, tem uma dívida da ordem dos 980 milhões de euros ao BCP, ao Novo Banco e à Caixa Geral de Depósitos. Estes bancos decidiram, conjuntamente, avançar com um processo judicial para tentar a cobrança desses créditos que, aparentemente, foram concedidos sem garantias e para a realização de operações especulativas.
Bem sabemos como nos últimos anos proliferaram em Portugal muitos indivíduos gananciosos que se disfarçaram de banqueiros e de empresários, muitas vezes exibindo  o seu novo-riquismo de uma forma verdadeiramente ridícula mas, na realidade, a maioria dessa gente não era mais do que uma corja de aventureiros ambiciosos e sem escrúpulos. Sempre duvidei dessa gentalha e sempre tive presente os ensinamentos dos meus Pais que, há muitos, muitos anos, me diziam que “quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vêm”.
Acontece que, de vez em quando, a opinião pública se agita com mais um caso e assim aconteceu agora com o JB, pela dimensão da sua dívida e pela gravidade dos seus contornos, em que há fortes indícios de práticas desonestas ou mesmo criminosas daqueles que estiveram envolvidos nessas operações. Vai daí, a Assembleia da República, que não ouviu a canalha que roubou o BPN, quis agora ouvir o cidadão JB, que esteve ontem na Assembleia da República para prestar declarações relativas aos créditos de vários milhões de euros, cerca de 321 milhões segundo se diz, que lhe foram concedidos pela Caixa Geral de Depósitos. A audição durou cinco longas horas e foi de uma enorme gravidade, com a personagem a exibir uma  arrogância insuportável, um sorriso boçal e a declarar que “pessoalmente não tenho dívidas”, pois os créditos foram concedidos à Fundação que tem o seu nome e à empresa Metalgest. Com um sorriso hipócrita e imbecil, insistiu que “não tem nada”: nem a herdade e os vinhos da Bacalhôa, nem as obras de arte da Colecção Berardo. Está tudo penhorado ou está em nome de outras entidades. JB não passa de um vulgar burlão que se riu daqueles que vão pagar tudo isto, ou seja, dos contribuintes, mas também dos deputados que o ouviram e do próprio sistema judicial que tolera estas falcatruas. Este comendador-parasita é uma vergonha para todos nós!

Touradas e toureiros deslumbram Sevilha

A Feira de Sevilha tem estado a decorrer e a gerar o entusiasmo do costume que a imprensa andaluza vai regularmente reportando, mas as corridas de touros são, sem dúvida, os marcos dominantes da festa, enquanto a praça de touros da Real Maestranza de Sevilla é o centro maior de todas as atenções.
A programação tauromáquica é um dos pontos mais discutidos e mais aguardados da feria, bem como o anúncio dos carteles taurinos que se apresentam nas 14 corridas de touros, que este ano destacavam os nomes de gente famosa desse mundo da tauromaquia como Morante de la Puebla, El Juli, José Maria Manzanares e Andrés Roca Rey.
Depois de onze corridas já realizadas, ontem foram lidados touros de Jandilla e apresentaram-se Morante, Roca Rey e Pablo Aguado, tendo acontecido o que menos se esperava, pois o jovem sevilhano Pablo Aguado foi o grande triunfador, como se diz em linguagem tauromáquica. Segundo anuncia o jornal ABC na sua primeira página, a cidade de Sevilha e a afición andaluza encontraram o seu toureiro, um novo ídolo que é filho da terra e que, “numa tarde histórica”, cortou quatro orelhas e saíu em ombros pela Porta do Príncipe. A sua fotografia ilustra as capas de vários jornais da Andaluzia, a certificar a importância da corrida de ontem e o sucesso do matador sevilhano.
Numa altura em que em Portugal se discutem as touradas, que para uns são um espectáculo bárbaro e, para outros, uma expressão artístico-cultural, é interessante verificar como aqui ao lado as touradas entusiasmam tanta gente, constroem ídolos e ocupam as primeiras páginas dos jornais.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Em rumo de colisão no golfo Pérsico?

Uma das mais controversas medidas tomadas pela administração de Donald Trump em 2018 foi o abandono do Joint Comprehensive Plan of Action (JCPOA), um acordo assinado em 2015 que se destinava a limitar o programa nuclear do Irão a troco do levantamento parcial das sanções económicas impostas pelos Estados Unidos e pelos seus aliados europeus.
Esse acordo vinha funcionando com alguma normalidade, mas o Donald considerou-o “o pior negócio do mundo” e tratou de voltar a impor sanções ao Irão, o que fez aumentar a tensão entre os dois países, ampliada sobretudo pelos seus elementos mais radicais. Pela voz de John Bolton, o assessor de segurança nacional, os Estados Unidos têm repetido o seu discurso ameaçador e já destacaram para o Golfo Pérsico o porta-aviões USS Abraham Lincoln e uma task-force de bombardeiros B-52, enquanto Hassan Rouhani também endureceu o seu discurso anti-americano e parece ter retomado o programa nuclear iraniano e a sua opção pela construção de uma bomba nuclear. É nessa opção que está a verdadeira causa do aumento da tensão entre americanos e iranianos em cada dia que passa.
Na sua última edição, o The Economist analisa a situação que está a ser criada entre os Estados Unidos e o Irão e, utilizando uma fotografia do USS Abraham Lincoln, destaca a expressão “rumo de colisão” e anuncia que os “os tambores de guerra já se ouvem”. Na realidade, a retórica belicosa americana regressou à cena internacional e os seus falcões acreditam que as sanções económicas e a ameaça das bombas podem interromper o programa nuclear iraniano, embora o Donald saiba que a sua reeleição não é compatível com intervenções militares externas. Porém, parece que essa retórica de guerra não incomoda as hostes de Hassan Rouhani.
A opinião pública americana aprecia o poder do seu país, mas não apoia intervenções militares cujo futuro é incerto e é demasiado oneroso. Por isso, tanto Hassan Rouhani, como Nicolas Maduro ou Kim Jong-un não parecem levar a sério as ameaças americanas,  mas o facto é que há muita gente preocupada com a hipótese de intervenções militares promovidas pelos falcões de Donald Trump.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

O futebol é mesmo a grande festa inglesa

Disputaram-se nos últimos dias os dois jogos das meias-finais da Liga dos Campeões e, aconteceu o mais improvável, a mostrar que na alta competição futebolística não há vencedores antecipados. O Liverpool e o Tottenham vão ser os finalistas da prova, pois derrotaram o Barcelona e o Ajax que, que nos jogos da primeira mão tinham ganho vantagem. Num caso, a reviravolta ocorreu a cerca de dez minutos do fim e, no outro, aconteceu no último segundo. Em Liverpool a equipa local recuperou da derrota por 3-0 que averbara em Barcelona e eliminou a equipa de Messi, enquanto em Amesterdão e depois de estar com uma desvantagem de três golos, o Tottenham conseguiu eliminar o Ajax no 96º minuto. Algumas crónicas referem que os dois jogos foram memoráveis pela incerteza no resultado final e o jornal espanhol as escreve: Qué grande es la Champions! 
Nas 18 edições já realizadas neste século os espanhóis dominaram a Liga dos Campeões com 9 vitórias do Real Madrid e do Barcelona, enquanto os ingleses apenas ganharam a prova em três épocas: Liverpool (2004-2005), Manchester United (2007-2008) e Chelsea (2011-2012).
Portanto, vai acontecer uma vitória inglesa na edição de 2018-2019 da Liga dos Campeões e essa vitória faz todo o sentido, porque os ingleses têm o campeonato mais competitivo e um numeroso conjunto de boas equipas, como não há em nenhum outro campeonato. Eles jogam e lutam. Não simulam lesões nem procuram enganar os árbitros, como se faz por aqui .
Por isso, até nem surpreende que hoje também tenham sido apuradas as equipas do Arsenal e do Chelsea para a final da Liga Europa, isto é, os finalistas das duas maiores provas futebolísticas de clubes europeus são quatro equipas inglesas. Nunca tinha acontecido isto
É realmente notável a performance do futebol competitivo que tanto entusiasma os ingleses, no ano em que têm tido tantas amarguras com o Brexit!

domingo, 5 de maio de 2019

A grande Feira de Sevilha já começou

Depois das grandes festas da Semana Santa, a cidade de Sevilha entrou de novo em festa com a Feria de Abril de Sevilla, que foi inaugurada ontem e que se vai manter até ao dia 11 de Maio, com uma festa que é única e deslumbrante, que durante sete dias encherá um recinto de 450.000 metros quadrados. Chama-se a Feira de Abril, mas este ano realiza-se em Maio, por razões de conveniência de calendário, sendo um acontecimento lúdico, cultural e gastronómico de grande impacto que se realiza desde 1846.
A Feira inicia-se com a iluminação da portada da Feira, que é um monumento efémero e uma obra de arte que todos os anos é diferente da anterior e que, simbolicamente, acolhe os sevilhanos e os turistas para participar na “feira das feiras”, sendo comum dizer-se que ali começa a Feira e o caminho para a cor, a luz, a diversão e a alegria. A escolha da porta é objecto de um concurso anual e, este ano, foram apresentadas 80 propostas ao Ayuntamiento de Sevilla. A importância da portada é tal que o diário ABC a destaca na sua edição de hoje, deixando para segundo plano as fotos habitualmente mais sugestivas das sevilhanas e dos toureiros.
A Feira é uma manifestação da cultura andaluza e espanhola, que está presente em todas as suas actividades, com destaque para os trajes das mulheres – o traje flamenco, de cigana ou de sevilhana – mas também para as corridas de touros que, diariamente, enchem a Plaza de Toros da Real Maestranza de Sevilla, considerada a catedral do toureio, onde os aficionados acorrem para ver os maiores nomes da tauromaquia.
O programa da Feira é vasto, muito diversificado e é realmente uma atracção turística internacional.

sábado, 4 de maio de 2019

EUA: a campanha eleitoral já começou

A edição do New York Post, um dos mais antigos jornais americanos, anuncia hoje que o desemprego nos Estados Unidos é de 3,6%, o que corresponde à mais baixa taxa de desemprego americano desde Dezembro de 1969. Além disso, é salientado que os salários estão a crescer e que, contrariamente ao que afirmam os Democratas, as classes médias e os pobres americanos não estão a perder poder de compra. O jornal reproduz em primeira página uma frase de Donald Trump em que, com a sua costumada fanfarronice, afirma que “nós somos a inveja do mundo”. Parece mesmo uma página de publicidade paga.
O New York Post é um jornal alinhado à direita, é considerado populista e apoiou a candidatura de Donald Trump nas eleições presidenciais de Novembro de 2016. Nessa altura o seu editor-chefe era Col Allan, um experiente jornalista e confesso admirador de Donald Trump, que foi premiado pela sua dedicação e foi trabalhar para junto do seu patrão e principal accionista do jornal, o australo-americano Rupert Murdoch, também ele amigo próximo do Donald.
Porém, porque os americanos estão a cerca de 18 meses das eleições presidenciais de 2020, Rupert Murdoch tratou de recolocar Col Allan como editor-chefe do jornal e é nessa lógica que a primeira página da edição de hoje já se parece com um anúncio de apoio à candidatura de Donald Trump, ou mesmo, com um indirecto apelo ao voto no actual presidente.
Portanto, os americanos já estão em campanha paras as eleições presidenciais de 3 de Novembro de 2020 e, segundo dizem algumas crónicas, para o Donald agora apenas contam essas eleições e não lhe interessam outros temas, como a Venezuela ou a Coreia, nem tão pouco Putin ou Kim Jong-un.

Pois que venham as eleições antecipadas

António Costa, o primeiro-ministro português, fez ontem uma importante declaração quando anunciou que, no caso de ser aprovada pela Assembleia da República uma lei que obriga à reposição das carreiras dos professores, o seu governo se demitiria. Depois de três anos e meio de indiscutível sucesso governativo – credibilidade externa, confiança interna, crescimento da economia e convergência com a Europa, redução do desemprego, da dívida pública e do défice orçamental – não se esperava o surgimento de qualquer crise.
Tudo parecia correr sem grandes problemas, a reboque do optimismo de António Costa, do dinamismo de Marcelo Rebelo de Sousa, da competência de Mário Centeno e do impulso do turismo. Até que ontem, os partidos da oposição, pela esquerda e pela direita, provavelmente a pensar no voto dos professores, resolveram votar favoravelmente uma lei que obriga o governo a repor as suas carreiras, o que representa uma cedência ao radicalismo dos sindicatos e um custo de muitos milhões de euros para o erário público e, naturalmente, para os contribuintes. A questão está, portanto, em saber se prevalecem os direitos dos professores e, depois, os de todos os outros grupos profissionais que foram afectados pela crise de 2008/2009, muitos dos quais perderam o emprego ou tiveram que emigrar, ou se prevalecem os direitos dos contribuintes e o equilíbrio das contas públicas.
Na minha família sempre houve muitos professores, mas não são os professores que estão em causa. O que está em causa é que em todas as economias, as necessidades são ilimitadas, mas os recursos são escassos e, por isso, não há recursos para satisfazer as mil e uma reivindicações, por mais justas que sejam, das corporações profissionais de professores, enfermeiros, oficiais de justiça, polícias, militares, juízes, técnicos de diagnóstico, bombeiros, guardas prisionais e tantas outras que o Estado suporta, só porque são alimentadas pelos activistas sindicais que se limitam a defender os seus interesses particulares e ignoram os interesses gerais. Ao governo compete gerir, de forma equilibrada, os interesses da sociedade que raramente são convergentes. É assim a política.
Andaram muito mal os partidos que se aliaram ao radicalismo sindical e que vão pagar por isso nas urnas. António Costa fez bem ao anunciar que se demitiria e, provavelmente, não aceitará outra coisa que não sejam eleições antecipadas, onde aparecerá como o homem do equilíbrio, da sensatez, do equilíbrio orçamental, da estabilidade financeira e das contas certas. Que as eleições venham depressa para clarificar tudo isto. Entretanto, em Belém houve tempo para saber do estado de saúde do  futebolista Iker Casillas, mas ainda não houve tempo para comentar esta situação.
Não é costume, mas até parece que MRS está embaraçado.

sexta-feira, 3 de maio de 2019

O incrível desfile das tropas de Maduro

A crise venezuelana arrasta-se e um dos seus últimos episódios foi a tentativa de golpe de estado do passado dia 30 de Abril, que pareceu uma infantilidade e falhou. Dessa iniciativa apenas resultou a libertação de Leopoldo López, que parece ser o verdadeiro líder da oposição e que cumpria 14 anos de prisão domiciliária, mas que rapidamente deixou a luta na rua e se refugiou na Embaixada de Espanha, de onde declarou que vão ocorrer novos levantamentos militares.
Actualmente, a pressão americana é enorme e a administração Trump continua a apoiar as iniciativas de Juan Guaidó, que mantém a sua popularidade muito alta, mas que não consegue desequilibrar a situação a seu favor, enquanto os apoios de Maduro também são poderosos e incluem a Rússia, a China, Cuba, Turquia, Irão e outros países. Nesta conjuntura complexa e com o país dividido, a posição dos militares parece ser determinante e ambas as partes garantem ter o seu apoio. Assim, o melhor a fazer é mesmo conversarem todos para encontrar soluções que evitem que a situação social e económica da Venezuela se degrade ainda mais ou, pior ainda, que desatem aos tiros uns nos outros.
A curiosidade destes dias não foi tanto o golpe falhado do dia 30 de Abril, que mais pareceu uma iniciativa infantil da oposição, mas sobretudo a resposta de Nicolas Maduro, ao organizar uma marcha de militares que ele próprio encabeçava. Aquilo foi uma cena hilariante e uma coisa impensável de ridículo. Parecia a Grande Marcha de Mao Tsé-tung. Os militares foram instrumentalizados e humilhados. Não sei se estarão dispostos a continuar a ser actores neste teatro. A fotografia do insólito caso correu mundo a mostrar a extravagância do Maduro e do seu regime. Não parecia a brigada do reumático portuguesa de 1974, mas era um enorme batalhão de gente obediente a qualquer maduro que apareça. Aquela fotografia ajudou-me muito a perceber a situação.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Leonardo da Vinci, o génio renascentista

Se houvesse que escolher a personalidade mais influente ou mais importante da história da Europa, dificilmente se encontraria um nome consensual.
Se houvesse que escolher não uma mas um grupo de dez personalidades, a tarefa ainda tinha grandes dificuldades, pois surgira um nunca mais acabar de nomes de importantes filhos deste Velho Continente e, nessa lista apareceriam Beethoven, Picasso, Mozart, Shakespeare, Werner von Braun, Newton, Gutemberg, Rembrandt, Galileu, Max Weber, Churchill, Vasco da Gama, Pasteur, Karl Marx, Adam Smith, Kant, Gorbachev, Fernão de Magalhães, Marconi, Descartes, Einstein, Miguel Angelo, Bismarck, Arquimedes, João Paulo II, Leão XIII e muitos, muitos outros, homens de talento.
Porém, o nome de Leonardo da Vinci iria provavelmente entrar na short list das mais importantes personalidades da história da Europa, porque foi um dos seus mais talentosos filhos, destacando-se como pintor, matemático, cientista, inventor, engenheiro, escultor, arquitecto, anatomista, botânico, poeta e músico. É o maior símbolo do Renascimento, esse movimento cultural que libertou a Europa das trevas do feudalismo. Pois Leonardo da Vinci, o homem que pintou a Mona Lisa, a Última Ceia e que muitos consideram o maior génio que a Humanidade alguma vez produziu, faleceu no dia 2 de Maio de 1517 na cidade francesa de Amboise.
Perfazem-se hoje 500 anos sobre essa data e não deixa de ser curioso que essa efeméride tivesse sido ignorada pela generalidade da imprensa europeia. Por isso, a evocação que o semanário Expresso fez na sua última edição, reproduzindo o seu famoso auto-retrato na capa da sua Revista,  merece o nosso aplauso.

MRS e a grande viagem que fez à China

O nosso Presidente da República esteve na China em visita oficial e, segundo os relatos que nos vão chegando, correu tudo muito bem e MRS deu mais um bom contributo para que o prestígio de Portugal fosse acrescentado. Se os chineses têm a rota da seda, nós temos a rota de Marcelo
Apresentando-se em boa forma física, MRS não parou e esteve em Pequim e em Xangai, visitou a Grande Muralha e a Cidade Proibida e, por fim, passou por Macau. Como de costume levou acompanhantes institucionais e vários jornalistas, provavelmente mais do que seria necessário, ficando a ideia de que as viagens presidenciais já não são as excursões turísticas do antigamente, mas que ainda integram demasiados adesivos. As televisões corresponderam aos convites presidenciais e foram muito generosas nos tempos de antena que deram a MRS que, assim, consolida a sua corrida para novo mandato.
MRS parece ter apreciado especialmente Macau, o que é natural. Encontrou muitas marcas da identidade portuguesa, dissertou sobre a natureza do pastel de nata e cruzou-se com multidões curiosas que, naturalmente, exigiram as inevitáveis selfies. O jornal Ponto Final, um dos quatro jornais macaenses que se publicam em português, diz na sua edição de hoje que em Macau disparou a devoção ao Presidente dos afectos. De facto, o que agora aconteceu em Macau e que recentemente tinha acontecido em Angola e antes em Moçambique, não é apenas uma reacção à singular personalidade pessoal e cultural de MRS, mas também é uma prova das especiais relações afectivas dos portugueses com os povos com quem conviveram durante séculos, que se afigura ser bem mais forte do que as circunstâncias negativas do domínio colonial.
As visitas de MRS aos espaços do nosso antigo império têm contribuído em acentuado grau para criar e reforçar pontes de amizade e de cooperação, mas também para valorizar a herança cultural e afectiva de Portugal no mundo. Viva!

quarta-feira, 1 de maio de 2019

A incerteza e o caos na Venezuela

Ontem em Caracas, às primeiras horas da madrugada, um grupo de oposicionistas ao governo de Nicolas Maduro, sob a liderança do autoproclamado presidente Juan Guaidó, fez uma proclamação anunciando o início da Operação Liberdade, destinada a acabar com o regime chavista. Antes, Juan Guaidó e os seus apoiantes mais próximos tinham libertado Leopoldo López, considerado o verdadeiro líder da oposição venezuelana, que cumpria uma pena de prisão domiciliária.
Quem viu a mensagem transmitida por Juan Guaidó deve ter ficado perplexo, pois a cena tinha todo o aspecto de uma encenação mal preparada, com alguns elementos disfarçados de soldados e sem o anúncio de qualquer novidade mobilizadora do povo que, nestas coisas, gosta de ver soldados e marinheiros, autometralhoras, aviões no ar e helicópteros em movimento e, sobretudo, uma mão cheia de decididos salgueirosmaias.
 Contrariamente ao que acontece nas revoluções triunfantes, não houve uma tomada da Bastilha, nem uma revolta da guarnição de um qualquer couraçado Potemkin, nem tão pouco a ocupação de um qualquer Radio Clube Português ou o cerco a um qualquer Quartel do Carmo. Juan Guaidó confiou nessa arma que é o feicebuque, perdeu mais uma vez e limitou-se a chamar os seus apoiantes à rua, confiando na sua popularidade e convencendo-se, uma vez mais, que a queda de Maduro eram favas contadas.
A sua iniciativa foi chamada de golpe de estado, mas mais parece ter sido um golpe de comunicação impulsionado pelas redes sociais, pelos tweets e pelas fake news, que criaram muitas notícias fantasiosas e mentirosas, como a fuga de Maduro para a Rússia, a ocupação da base de La Carlota ou o apoio do general José Ferreira, que algumas declarações de responsáveis americanos mais desacreditaram. Foi um tiro de pólvora seca. Tudo parece ter-se resumido a um carro blindado, cujo condutor não resistiu à pressão e avançou sobre um grupo de manifestantes. É muito pouco para atirar abaixo o regime do Maduro, apesar da Venezuela continuar muito dividida.
Como hoje escreve o jornal colombiano Vanguardia, há incerteza e caos na Venezuela, mas Juan Guaidó parece já ter perdido mais uma batalha e ter tido apenas o mérito de acordar o país e o mundo do adormecimento em que a Venezuela tinha caído. Por isso, deixem-se destas brincadeiras, conversem e preparem eleições.

A nova febre (perigosa) das trotinetes

No Brasil chamam-lhe patinetes e tornaram-se uma verdadeira febre no Rio de Janeiro, conforme noticia o jornal O Globo, que acrescenta que estão a ser alimentadas novas estatísticas de acidentes, sobretudo nos fins de semana e nos feriados. Tem aumentado o número de acidentados que recorrem aos hospitais para o tratamento de fracturas e também já há muitos detidos por utilizarem as patinetes para roubar os transeuntes.
Aqui chamam-se trotinetes e essa febre também já assentou arraiais em Lisboa onde, nesta altura, há exactamente nove empresas - Lime, Bungo, Hive, Iomo, Voi, Tier, Flash, Wind e Bird – que exploram este negócio que, certamente, é muito lucrativo.
Todos os dias, entre as 7 e as 21 horas, os residentes e os visitantes de Lisboa com mais de 18 anos de idade podem encontrar e usar uma trotinete através de uma aplicação do seu telemóvel e é evidente que as trotinetes ajudam a cidade a reduzir o congestionamento de tráfego e as emissões de carbono, além de facilitarem a vida das pessoas.
Porém, parece não haver regras na utilização das trotinetes, porque embora ela se enquadre no Código da Estrada, a autoridades policiais não parecem estar a actuar na sua fiscalização de forma consistente. As trotinetes circulam por toda a parte e em todas as direcções, tendo-se tornado um perigo para os peões e para os automóveis e, tal como no Rio de Janeiro, também estarão a alimentar as estatísticas dos acidentes no espaço público urbano. São abandonadas pelos cantos da cidade e, lamentavelmente, não tardará que apareçam notícias de corridas de trotinetes pelas ruas e ruelas da cidade, nem de acidentes graves. A observação dos comportamentes dos trotineteiros não me permite outra previsão.