sábado, 30 de novembro de 2019

O início da celebrações de Beethoven


O compositor alemão Ludwig van Beethoven nasceu na cidade de Bonn provavelmente no dia 17 de Dezembro de 1770 e, portanto, o 250º aniversário do seu nascimento será celebrado no próximo ano. Falta pouco mais de um ano, mas as iniciativas comemorativas já se iniciaram, não só para enaltecer internamente a sua obra musical, mas também para mostrar ao mundo que aquele génio era alemão.
Uma das iniciativas já concretizadas foi a edição de Beethoven – The New Complete Edition, um projecto que resultou de uma parceria entre a editora Deutsche Grammophon e a associação cultural Beethoven-Haus Bonn, que oferece “mais de 175 horas de música” em 118 CD, três discos blu-ray, dois DVD e 16 álbuns digitais, incluindo novas gravações em estreia mundial. O projecto junta gravações de mais de 250 intérpretes e distribui-se por nove volumes, cada um com um livro com notas sobre o repertório, alinhamentos, textos cantados e detalhes das gravações.
É um tipo de obra sem precedentes no campo da música e o preço anunciado ultrapassa largamente os trezentos euros, embora as grandes cadeias de lojas de retalho e de comércio online já venham anunciando preços da ordem dos 250 euros. O problema para os interessados será arranjar lugar para guardar os referidos nove volumes e ter tempo para ouvir tanta coisa.
Na sua edição de hoje, a revista Der Spiegel não só promoveu a iniciativa da Deutsche Grammophon como deu o pontapé de saída às celebrações que a Alemanha vai fazer em torno da figura e da obra de Ludwig van Beethoven. Certamente que muitos outros países europeus se unirão à Alemanha nesta celebração que, talvez, também possa servir para fortalecer um sentido de unidade mínima cultural e identitária de que a Europa e as suas nações tanto precisam.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Von der Leyen e a nova ambição europeia

O Parlamento Europeu aprovou ontem em Estrasburgo por 461 votos a favor, 157 contra e 89 abstenções, num total de 707 votos expressos, o colégio da nova Comissão Europeia liderado por Ursula von der Leyen. Neste executivo comunitário que vai iniciar funções no próximo dia 1 de Dezembro, Portugal está representado por Elisa Ferreira, ex-ministra e ex-deputada europeia, que será responsável pela pasta da Coesão e Reformas.
Para além da nova Comissão Europeia, no mesmo dia também iniciarão funções o novo presidente do Conselho Europeu, o belga Charles Michel, e o novo Alto Representante da União Europeia para a Política Externa, o espanhol Josep Borrell, que sucedem respetivamente ao polaco Donald Tusk e à italiana Federica Mogherini.
A União Europeia de Jacques Delors, Helmut Kohl e François Metterand parece que se esgotou, pois está a passar por uma fase muito difícil, sem uma liderança reconhecida e com problemas que ameaçam a sua coesão, como o Brexit e a hostilidade de Trump, o radicalismo de Nigel Farage e de Boris Johnson ou os discursos populistas de Matteo Salvini e de Viktor Orbán.
É um momento em que temos que depositar esperanças para a contrução de uma Europa mais unida e mais solidária, até porque pela primeira vez na sua história de mais de sessenta anos, a Comissão Europeia vai ser presidida por uma mulher. Ursula von der Leyen é alemã e vai substituir Jean-Claude Juncker, que substituira o oportunista e irrelevante cherne lusitano, que dá pelo nome de Durão Barroso.
Hoje, muito poucos jornais europeus destacaram a notícia da aprovação da nova Comissão Europeia nas suas primeiras páginas, a mostrar que a problemática europeia não lhes interessa. Em Portugal, nem um só jornal trouxe em primeira página a notícia da aprovação da Comissão von der Leyen, mas eu penso que, tal como o jornal económico francês Les Echos, a nova Comissão traz uma nova ambição para a Europa.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Chissano é um grande moçambicano


Joaquim Chissano, o antigo presidente da República Popular de Moçambique completou 80 anos de idade e foi homenageado na capital moçambicana, tendo o jornal O País dedicado uma alargada e elogiosa reportagem a esse feliz acontecimento.
Dizem as crónicas que em 1951 Joaquim Chissano foi o primeiro negro a matricular-se no antigo Liceu Salazar, na antiga cidade de Lourenço Marques, onde completou os seus estudos secundários. Em 1960 partiu para Portugal para frequentar a Faculdade de Medicina de Lisboa mas, devido à perseguição que lhe era feita pela polícia política (PIDE), abandonou o país em 1961. Em 1963, ainda antes do início da luta armada em Moçambique, juntou-se à Frelimo então liderada por Eduardo Mondlane.
Após o fim da guerra de libertação nacional firmada nos acordos de Lusaka de 7 de Setembro de 1974, tendo apenas 35 anos de idade, foi escolhido para chefiar o governo de transição que preparou a transferência de poderes de Portugal para a Frelimo. A independência da nova República Popular de Moçambique foi proclamada no dia 25 de Junho de 1975 e Joaquim Chissano foi o primeiro ministro dos Negócios Estrangeiros moçambicano. Em 1986, com a morte de Samora Machel foi escolhido para o substituir na presidência da República e, em 1994 e 1999, venceu as eleições presidenciais moçambicanas, tendo exercido a presidência até 2005, isto é, durante 19 anos.
Joaquim Chissano foi um notável dirigente político, um símbolo da luta do povo moçambicano pela independência nacional e um reconhecido amigo de Portugal, tendo sido condecorado pelos presidentes Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio e Marcelo Rebelo de Sousa, isto é, apenas essa figura menor que é Aníbal Cavaco Silva não o distinguiu.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Como o narcotráfico atravessa o Atlântico

Foi apresado ontem na costa galega, a poucas milhas da fronteira portuguesa, um submarino mais ou menos artesanal que transportava mais de três toneladas de cocaína, avaliadas em cerca de cem milhões de euros. Ainda há poucas notícias consistentes sobre o assunto, mas segundo revela La Voz de Galicia parece que o submarino encalhou numa praia do município de Cangas do Morrazo, na província de Pontevedra, devido ao mau tempo, à falta de combustível ou por outras razões ainda por esclarecer. Embora a actividade deste tipo de submarinos fosse conhecida, sobretudo pelo narcotráfico que fazem entre a Colômbia e o México, foi a primeira vez que um narcosubmarino foi apresado na Europa, como resultado da troca de informações e de uma operação em que intervieram diversas agências internacionais. A investigação está em curso mas a imprensa espanhola já revelou que o submarino tem 22 metros de comprimento, teria sido construído na Guyana, seria proveniente da Colômbia e na sua travessia atlântica teria feito escala em Cabo Verde. Depois aproximou-se da costa portuguesa, seguindo depois para a costa galega, tendo supostamente percorrido 7.690 quilómetros. Os  seus três tripulantes abandonaram  o submarino, mas dois deles de origem equatoriana foram capturados, enquanto o terceiro, provavelmente galego, logrou escapar à polícia. Esta captura constitui um acontecimento importante na luta contra o narcotráfico, mas só as investigações irão esclarecer o que de facto aconteceu com o narcosubmarino, porque é mínima a probabilidade dessa travessia atlântica ter sido feita sem o apoio de um ou mais navios. Porém, se se vier a apurar que aquela maquineta navegou como navio solto e sem apoio, eventualmente submersa, estaríamos perante um acontecimento náutico comparável às viagens de Cristóvão Colombo do século XV.

domingo, 24 de novembro de 2019

O mérito lusitano na vitória do Flamengo


Não tenho qualquer simpatia pelo treinador de futebol Jorge Jesus, nem pelo seu perfil cultural, nem pela vaidade que exibe em tudo o que faz e, por isso, quando raramente a ele me refiro faço-o sempre numa postura de superioridade intelectual e com apreciações de escárnio e maldizer. Porém, ontem ele deu-me uma valente bofetada de luva branca ao promover por todo o Brasil o nome de Portugal e o bom nome dos portugueses, como poucos o terão feito ao longo da história. Com a vitória do Flamengo sobre o River Plate na Taça Libertadores da América, o treinador Jorge Jesus tornou-se o mais famoso português que o Brasil conheceu, ultrapassando a notoriedade de Pedro Álvares Cabral, do Imperador D. Pedro I que em 1822 deu o grito do Ipiranga ou da dupla Cabral-Coutinho que em 1922 fez a primeira ligação aérea entre Portugal e o Brasil.
Jorge Jesus brilhou na final disputada em Lima, que foi emocionante e foi vista em todo o mundo. Aos 88 minutos o River Plate vencia por 1-0 e parecia que a sorte do jogo estava traçada, com os argentinos a conquistarem a sua quinta Taça Libertadores. Porém, deu-se o inesperado e, em três minutos, o Flamengo deu a volta ao resultado. Venceu por 2-1. O último golo foi marcado aos 90+2 minutos e deixou em delírio os adeptos do Flamengo, mas também todos os brasileiros e muitos portugueses que assistiram ao jogo pela televisão. O treinador fez os números do costume e até se embrulhou numa bandeira portuguesa, dedicando a vitória ao povo português e afirmando que “tenho muito orgulho em ser português”, uma frase que os brasileiros bem precisavam de ouvir porque, por vezes, usam de uma indesculpável arrogância para com os portugueses. 
Foi um acontecimento mediático inesquecível e o Rio de Janeiro vai ter um Carnaval antecipado. Quem imaginaria que um homem como o treinador Jorge Jesus iria colocar Portugal na agenda dos brasileiros e que o seu rosto iria “substituir” o de Jesus Cristo na estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro?

sábado, 23 de novembro de 2019

Nem o príncipe escapa aos mass media


O Príncipe André é um dos quatro filhos da Rainha Isabel II e do Príncipe Filipe, Duque de Edimburgo, sendo mais novo do que os seus irmãos Carlos e Ana e mais velho do que o seu irmão Eduardo. Quando nasceu em 1960 era o segundo elemento na linha de sucessão ao trono britânico e, só por isso, era um personalidade importante da Família Real Britânica.
Em 1978 ingressou na Royal Navy tornando-se piloto de helicópteros e em 1982 serviu a bordo do HMS Invencible durante a guerra das Falkland. Foi considerado um herói de guerra por ter tido activa participação nos combates. Continuou depois a servir a Royal Navy como piloto e como instrutor de voo, tendo atingido o posto de Capitão de Fragata, após o que separou do serviço. Em 2015 foi “promovido” a Vice-Almirante honorário. Consta que era o filho favorito da Rainha.
Enquanto membro da Família Real e supostamente o filho favorito da Rainha, o Príncipe André esteve envolvido em inúmeras actividades comerciais, culturais e filantrópicas, muitas vezes como representante especial do Reino Unido, mas parece que também teve ligações com Jeffrey Epstein, um reconhecido criminoso americano condenado por crimes sexuais e que, entretanto, faleceu. Recentemente, o Príncipe André foi entrevistado e o conteúdo da sua entrevista foi severamente criticado pelos mass media ingleses e americanos, que trataram imediatamente de o condenar pelo seu envolvimento no “escândalo Epstein”. O Príncipe não resistiu e tratou de pedir à Rainha, sua mãe, para se retirar da vida pública.
O assunto não é suficientemente interessante nem importante, mas o jornal New York Post dedicou-lhe a sua primeira página de forma bem sugestiva. Só por isso, aqui lhe fazemos referência como uma curiosidade da vida dos príncipes.

Um Brasil que hoje torce pelo Flamengo


O Estádio Monumental de Lima recebe hoje a final da Taça Libertadores da América em que se defrontam os brasileiros do Flamengo e os argentinos do River Plate, pelo que a imprensa brasileira não fala noutra coisa. O entusiasmo parece ser indescritível e a edição do jornal O Dia diz que hoje estão 40 milhões em campo, uma vez que o Flamengo é considerado como o único clube do mundo que tem 40 milhões de torcedores.
A Taça Libertadores da América disputa-se desde 1960 e é a principal competição entre clubes profissionais de futebol da América do Sul, correspondendo à Liga dos Campeões organizada pela UEFA na Europa. No seu já longo historial destacam-se as equipas dos países da costa atlântica – Argentina, Brasil e Uruguai – registando-se as vitórias do Independiente (7 vezes), do Boca Juniors (6 vezes), do Peñarol (5 vezes) e do River Plate (4 vezes), enquanto o Flamengo apenas conseguiu uma vitória em 1981.
Hoje encontram-se as equipas do River Plate e do Flamengo, mas enquanto o River Plate ocupa o 1º lugar no ranking de pontos da Taça Libertadores, o Flamengo ocupa a modesta 27ª posição, o que historicamente dá favoritismo aos argentinos. O Flamengo participou 13 vezes na prova que só venceu uma vez e, portanto, está há 38 anos sem conquistar aquele ambicionado troféu.
Hoje, sob a direcção do treinador português Jorge Jesus, o Flamengo aspira à vitória. A cidade do Rio de Janeiro e os 40 milhões de torcedores do Flamengo vivem este momento com grande entusiasmo e até o famoso monumento do Cristo Redentor foi vestido com as cores do Flamengo. Hoje, todo o Brasil torce pelo Flamengo e, deste lado do Atlântico, também nos juntamos à torcida.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

R.I.P. José Mário Branco

A inesperada notícia chegou ontem de manhã e anunciava que o músico e compositor José Mário Branco falecera aos 77 anos de idade.
Como resultado da sua actividade política contra a ditadura do Estado Novo foi perseguido e preso pela polícia política, escolhendo depois os caminhos do exílio e foi em Paris que, em 1971, gravou o seu primeiro álbum a solo, intitulado Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades, um título que retirou de um soneto de Camões, a que juntou canções com textos de autores como Natália Correia e Alexandre O’Neill.
Pouco tempo depois, numa altura em que a dureza da guerra se acentuava na Guiné e em que o General António de Spínola procurava uma saída política para um conflito cada dia mais doloroso mas que o intransigente governo de Lisboa nunca aceitou, a voz de José Mário Branco “circulava” em gravações por alguns meios militares nos rios e matas da Guiné e não deixava ninguém indiferente.
José Mário Branco foi, por isso e por tudo o que sempre fez com convicção e coerência, um símbolo da resistência e da insatisfação ao regime político em que Portugal viveu até ao 25 de Abril de 1974. Seguramente, ele é uma referência maior da luta política de antes e depois da revolução de Abril, sem quaisquer cedências ao seu inconformismo político e cultural, seguindo sempre numa linha de intervenção em que revelava a sua inquietação e mostrava que a cantiga é uma arma. Era um inspirado músico, compositor e criador cultural num importante período histórico do nosso Portugal e a sua obra vai permanecer. 
Aqui lhe expresso a minha homenagem pelas suas inspiradoras canções e pela obra musical que nos deixou.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

No futebol a alegria do povo é a vitória


É verdade que o futebol é cada vez mais um produto muito pouco recomendável, porque a beleza do espectáculo vem sendo substituída por uma doentia alienação das pessoas alimentada pelos mass media; é verdade que os espaços que as estações televisivas dedicam às discussões sobre o futebol são longos, desinteressantes, pouco educativos e quase obscenos, constituindo um ataque à inteligência das pessoas; é verdade que à volta do futebol vive uma panóplia de interesses com transferências, patrocínios, comissões, transmissões televisivas, direitos de imagem e outras actividades assessórias que fazem daquele espectáculo um negócio.
É verdade tudo isso mas, apesar dessas realidades, eu gosto de ver aqueles “artistas” durante os 90 minutos em que “trabalham”, com os golos e os remates fora da área, os dribles e os livres directos, as defesas espectaculares, a ansiedade no momento do penalti e a alegria vibrante dos adeptos.
Ontem a selecção portuguesa de futebol - ou como certa imprensa costuma dizer Ronaldo & Companhia – ganhou ao Luxemburgo. O jogo não entusiasmou e até foi enervante, mas a vitória bastou para que todos ficassem contentes. O povo gosta mais de vitórias do que de bons espectáculos de futebol. A derrota, mesmo que num bom espectáculo não interessa, pois não alimenta as emoções. Ganhar é que é importante e Portugal apurou-se para o Euro 2020. Foi a 11ª vez consecutiva que isso aconteceu em Mundiais e Europeus, isto é, desde o ano de 2000 que a equipa portuguesa não falha uma grande competição internacional. Ora isso é uma grande alegria para o povo e eu partilho dessa alegria. Portugal sorri e eu aplaudo!

domingo, 17 de novembro de 2019

A crise boliviana e o risco de contágio

A crise boliviana surgiu na sequência das eleições de 20 de Outubro que deram a vitória a Evo Morales, mas que a Organização dos Estados Americanos denunciou terem sido fraudulentas, daí resultando a intervenção dos chefes militares que levou à renúncia e depois ao exílio de Evo Morales.
A imagem externa da Bolívia era de um país estável e que tinha em Evo Morales um presidente um pouco extravagante mas consensual, mas os acontecimentos dos últimos dias vieram mostrar um país dividido entre aqueles que denunciam a fraude eleitoral e os que acusam os chefes militares de um golpe de estado. O facto é que há quem fale em clima de pré-guerra civil e que as duas partes já se enfrentaram de forma muito violenta, tendo daí resultado algumas vítimas, embora diferentes sectores da sociedade boliviana, incluindo a Igreja, tenham iniciado campanhas com “marchas y oraciones” a pedir a pacificação da Bolívia, como hoje salienta El Diario, el decano de la prensa boliviana.
Hoje existe uma grande probabilidade de contágio do descontentamento nos países da América do Sul, onde existem problemas comuns de insatisfação das populações, de desigualdade social e de aspirações não satisfeitas e esse risco de contágio deve ser evitado, em nome da paz naquele continente.
Porém, logo que Evo Morales renunciou, a senadora Jeanine Añez apareceu a assumir a presidência e essa sucessão foi tão rápida, mesmo sem o apoio do parlamento boliviano, que muita gente desconfiou que ali havia algo de estranho. Realmente, há uma grande semelhança entre o que se passou na Bolívia (afastamento de Evo Morales) com aquilo que insistentemente se quer fazer na Venezuela (afastamento de Nicolas Maduro) e com o que já foi feito no Brasil (afastamento de Lula da Silva e de Dilma Roussef). O mesmo objectivo, embora o modus operandi seja um pouco diferente.

sábado, 16 de novembro de 2019

Alguma Espanha está muito desconfiada


A Espanha está suspensa do pré-acordo a que chegaram o PSOE e o Podemos para formar um governo de coligação, embora ainda lhes faltem alguns apoios parlamentares vindos dos pequenos partidos, seja por via de votos favoráveis, seja por via da abstenção.
Por uma questão de filosofia política, mas também para assegurar os apoios de que carece, o futuro governo vai certamente aumentar a despesa pública e, em especial, as despesas sociais. Os partidos da oposição e muitos agentes económicos vêm anunciando preocupações pelo ritmo insustentável do crescimento da despesa pública que se adivinha, cuja contrapartida terá que vir do aumento dos impostos. Além disso, consideram que o pré-acordo que foi assinado dá excessivos poderes ao Podemos de Pablo Iglésias, que quer controlar 16.500 milhões de euros da despesa pública, segundo revela o jornal el Economista.
Nos sectores políticos da direita afirma-se que “no hay suficientes ricos en España para los disparates de Podemos”, o que até está em linha com o pensamento expresso por Pedro Sánchez quando há poucos meses disse que  no dormiría tranquilo si tuviera en el Gobierno a Pablo Iglesias”. Portanto, com estes exercícios de malabarismo político de Sánchez e de populismo de Iglésias, há quem já chame ao governo em formação “un Gobierno Frankenstein de izquierdas”, um pouco ao estilo da geringonça portuguesa. Segundo o jornal já referido, milhares de contribuintes temem por uma forte subida dos impostos e há uma avalanche de consultas para levar as suas fortunas para Portugal. No entanto, como se costuma dizer por cá, a procissão ainda vai no adro e muita água ainda vai correr por debaixo das pontes.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Bilbau uma cidade cada vez mais cultural


A cidade basca de Bilbau alberga desde 1997 o Museu Guggenheim Bilbao, um dos cinco museus espalhados pelo mundo que pertencem à Fundação Solomon R. Guggenheim, tendo sido projectado por Frank Gehry, um famoso arquitecto canadiano naturalizado americano. Com este equipamento a cidade ritalizou-se e passou a atrair visitantes de toda a parte.
Agora, em consequência dos efeitos culturais gerados pelo Museu Guggenheim, a cidade decidiu apostar em novas iniciativas e uma delas é a colocação de uma artística cúpula na Plaza de Toros de Vista Alegre, que é a terceira praça mais importante da Espanha, depois de Madrid e Sevilha, podendo receber cerca de 15 mil espectadores.
Com a colocação da cúpula, a adaptação do espaço e a modernização das instalações, a empresa proprietária da Vista Alegre pretende atrair eventos de ócio e cultura entre Outubro e Junho, isto é, fora da época taurina, esperando dessa forma rentabilizar a praça de touros que deixou de ser sustentável apenas com a festa tauromáquica. A cúpula será uma estrutura semi-fixa que terá capacidade para cerca de 4.000 pessoas e poderá abrigar eventos como concertos, espectáculos, exposições ou feiras, “algo que Bilbau não tinha”.
O jornal Deia que se publica em Bilbau, destaca hoje na sua primeira página La nueva Vista Alegre, futurista y multiusos, que vai certamente tornar-se em mais um atractivo para a vida cultural de Bilbau e para o turismo. Entretanto, o Parque Mayer em Lisboa continua à espera que se faça qualquer coisa que o possa valorizar.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Veneza é vítima das alterações climáticas


Mais de 85% da cidade de Veneza está inundada e muitos jornais internacionais publicam hoje imagens da famosa Praça de São Marcos, coberta por uma toalha de água e sem turistas, enquanto uma estação televisiva até mostrou a insólita imagem de um homem nadando naquela praça. É a pior cheia dos últimos 50 anos, com o nível da água a atingir 1,87 metros, o que corresponde ao segundo maior nível de que há registo. Na cripta da Basílica de São Marcos a água subiu até à altura de 1,20 metros, tendo sido a sexta vez em 1200 anos que a basílica sofreu uma inundação e a quarta vez que isso aconteceu nos últimos 20 anos.
A cidade de Veneza tem uma configuração geográfica sui-generis e o seu centro histórico fica situado sobre várias ilhas de uma grande lagoa da costa do mar Adriático, estando servido por 177 canais e mais de quatrocentas pontes, sendo uma cidade absolutamente pedonal onde o transporte é assegurado por embarcações.
A lagoa de Veneza tem três ligações ao mar e está sujeita a grandes variações do seu nível de água devido às marés, sobretudo as marés vivas do Outono, conhecidas por acqua alta e que habitualmente inundam parte da cidade histórica. É o que está a acontecer agora. O jornal La Repubblica destaca a sigla SOS e as autoridades locais declararam o estado de emergência, ao mesmo tempo que exigem que o projecto Mose, constituído por uma rede de barreiras destinadas a proteger a lagoa e impedir a subida do nível da água através das suas três ligações ao mar, que foi anunciado em 2003 e que está orçamentado em 5,5 mil milhões de euros, seja terminado. 
As alterações climáticas são a causa das inundações de Veneza, mas também dos maiores incêndios florestais de sempre que estão a acontecer na Austrália, que podem durar meses e que já se aproximam de Sydney. Porém, o Donald e alguns outros Donalds, nem sequer subscrevem o Acordo de Paris sobre as alterações climáticas de 2015...

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Um abraço que põe a Espanha a respirar


Poucas horas depois de serem conhecidos os resultados das eleições espanholas e quando todos os comentadores políticos apontavam para uma situação ainda mais difícil do que aquela que lhes dera origem, aconteceu uma enorme surpresa quando o PSOE e o Podemos anunciaram um pré-acordo de coligação para governar e a fotografia de um abraço entre Pedro Sánchez e Pablo Iglesias encheu a capa dos jornais espanhóis. O acordo que não tinham conseguido em Julho, foi agora conseguido em poucas horas, porque ambos sabiam que estavam condenados a entender-se e porque a continuação do impasse levaria a novas eleições e à continuação da subida da direita espanhola. Pedro Sánchez cedeu a sua intransigência do passado Verão e trocou a sua sobrevivência política por uma coligação – a primeira da história democrática espanhola como hoje se lhe refere o La Vanguardia – em que, segundo se soube, o Podemos ocupará uma vice-presidência e três pastas no futuro governo.
O preacuerdo entre o PSOE e o Podemos consta de dez pontos que, entre outras matérias, tratam do emprego, da economia, das alterações climáticas e da cultura, mas sobretudo do problema da Catalunha. O ponto 9 do preacuerdo salienta que o governo espanhol terá como prioridade garantir a convivência na Catalunha e a normalização da sua vida política e, com esse fim, fomentará o diálogo, procurando fórmulas de entendimento e encontro, sempre dentro da Constituição.
Este acordo foi um passo importante para a estabilidade política espanhola e foi um alívio para muita gente, dentro e fora da Espanha. Porém, os deputados do PSOE (120) e os deputados do Podemos (35) não são suficientes para assegurar a maioria no Parlamento espanhol (350), pelo que Pedro Sánchez, agora com Pablo Iglesias, vai precisar de conversar e de negociar com os pequenos partidos e com os partidos independentistas, isto é, a Espanha apenas começou a respirar e a ver uma solução no horizonte. 

terça-feira, 12 de novembro de 2019

A Bolívia também entrou na onda da crise


Nos últimos dias a agenda da imprensa sul-americana tem sido ocupada, não pela Venezuela ou pelo Chile, mas pela Bolívia, onde Evo Morales exercia a presidência desde 2006 e, aparentemente, com grande apoio popular.
Acontece que se realizaram eleições gerais no passado dia 20 de Outubro, tendo sido anunciada a vitória de Evo Morales para mais um mandato presidencial. A oposição boliviana denunciou de imediato que houve grossa fraude eleitoral e contestou aquele resultado, pedindo uma nova votação que fosse fiscalizada pela comunidade internacional, ao mesmo tempo que veio protestar para as ruas. As contestações do nosso tempo começam sempre por um pretexto mais ou menos justo, mas a seguir vem a reivindicação por uma vida melhor e por menos desigualdade social, por vezes de forma violenta. Antigamente, este tipo de contestação só acontecia nos regimes totalitários, mas agora também está a acontecer nas democracias. 
Na Bolívia, um enorme país mas apenas com 10 milhões de habitantes, a contestação subiu de tom e, como tem sido habitual um pouco por todo o mundo, os grupos radicais depressa passaram a tomar conta dos protestos que se tornaram violentos. O governo boliviano até avisou que estava a caminho um golpe de estado, sobretudo depois de alguns quartéis da Polícia, incluindo na cidade de La Paz, terem decidido não reprimir as manifestações. Entretanto, a Organização dos Estados Americanos declarou que as eleições foram fraudulentas e, no mesmo dia, Evo Morales convocou novas eleições. Já era tarde. Os chefes militares pediram a Evo Morales que abandonasse o seu cargo para que a paz voltasse ao país e ele renunciou pouco depois. O primeiro presidente de origem indígena da Bolívia aceitou a oferta do México e seguiu para o exílio.
Só os próximos dias nos ajudarão a compreender o que se passou, mas a realidade é que, por motivos aparentemente bem diferentes, sopram ventos muito frescos na Bolívia, no Chile e na Venezuela.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

O enorme impasse político da Espanha

As eleições legislativas que ontem se realizaram em Espanha deixaram os espanhóis muito nervosos e preocupados. Na verdade, depois do impasse ou do bloqueio político resultante das eleições do passado dia 28 de Abril, o acto eleitoral de ontem visava ultrapassar essa situação através do aparecimento de maiorias ou coligações, mas a Espanha surgiu ainda mais dividida e com os discursos dos líderes políticos mais radicalizado. É certo que os socialistas do PSOE voltaram a ganhar, agora com 28% dos votos mas sem maioria absoluta, tendo visto reduzir-se a sua margem negocial para eventuais alianças à esquerda num quadro parlamentar muito complexo. O PP aumentou a sua votação e tornou-se a alternativa ao PSOE, enquanto o Vox se tornou a terceira força política espanhola devido ao seu firme discurso pela unidade nacional que conquistou o eleitorado, enquanto o Ciudadanos sofreu uma brutal derrota o que levou à imediata demissão do seu líder. No parlamento espanhol estão agora representados 16 partidos ou movimentos políticos, incluindo os partidos independentistas da Catalunha com 23 deputados e alguns pequenos partidos nacionalistas do País Basco, da Galiza, da Cantábria e de Aragão.
O futuro político da Espanha está, portanto, muito sombrio. Ao ouvirem-se os líderes partidários e os comentadores políticos não se vislumbra saída para esta situação, pois o radicalismo parece ter tomado conta de todos eles, ao mesmo tempo que continua alguma violência nas ruas da Catalunha que, de facto, é o ponto-chave do futuro político da Espanha.
Aqui ao lado, também se vive com preocupação pelas consequências económicas e outras que a crise espanhola nos pode trazer, mas é caso para nos congratularmos pela paz social que se tem vivido e pelo diálogo que vai havendo, esperando-se que não haja qualquer tipo de contágio espanhol.

Angola festeja 44 anos de independência

Foi no dia 11 de Dezembro de 1975 que Angola se tornou independente, quando a bandeira portuguesa foi arriada no Palácio do Governo em Luanda e foi hasteada a bandeira angolana. Nesse dia, o presidente Agostinho Neto proferiu um discurso em que declarou que “em nome do Povo angolano, o Comité Central do Movimento Popular de Libertação de Angola, proclama solenemente perante a África e o Mundo a Independência de Angola” e, também, que “a República Popular de Angola tratará com especial atenção as relações com Portugal e, porque deseja que elas sejam duradoiras, estabelecê-Ias-á numa base nova despida de qualquer vestígio colonial”.
Era então um tempo complexo e difícil, porque o território nacional estava ocupado por forças militares dos três movimentos nacionalistas (MPLA, FNLA e UNITA) e por forças estrangeiras (Cula, África do Sul e outras), pelo que além da proclamação da independência nacional feita em Luanda por Agostinho Neto, também Holden Roberto no Ambriz e Jonas Savimbi no Huambo, fizeram proclamações da independência.
A guerra de libertação nacional tinha durado de 1961 a 1974, mas seguiu-se uma dolorosa e longa guerra civil angolana com larga participação de forças estrangeiras, que se estendeu de 1975 a 2002.
A República Popular de Angola vive em paz há 17 anos e a sua caminhada para o progresso, depois de cerca de 40 anos consecutivos de guerra, continua a ser feita de forma gradual, mas democrática e sustentada. Hoje os angolanos podem festejar os 44 anos da sua independência em paz, em harmonia e em unidade nacional, superando todos os traumas do passado e as naturais diversidades das suas regiões e dos seus povos. Ninguém tem dúvidas que Angola é um país de futuro e de esperança para os quase 30 milhões de angolanos.

domingo, 10 de novembro de 2019

Lula regressa para lutar pelo Brasil

Depois de 580 dias na prisão e na sequência de uma decisão do Supremo Tribunal Federal brasileiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi libertado da prisão de Curitiba, conforme relata a Folha de S.Paulo.
Embora não conheça os detalhes jurídicos da acusação, do julgamento e da condenação de Lula da Silva, nem as razões que agora ditaram a sua libertação, o caso Lula sempre me despertou interesse, sobretudo porque se trata de um homem cuja presidência, exercida entre 2003 e 2011, prestigiou internacionalmente o Brasil. O seu percurso político e a sua experiência operária e sindical levaram-no à presidência do quinto maior país do mundo (96 vezes maior do que Portugal), desenvolvendo o famoso programa “Fome Zero”, que foi reconhecido pelas Nações Unidas como o mais eficente programa mundial de redução da pobreza, com cerca de 40 milhões de brasileiros a ascenderem a uma nova classe média e com o número de pessoas que passam fome a ser reduzido em 50%. Evidentemente que esta mensagem de sucesso que vingou no exterior, não terá tido o mesmo reconhecimento interno, mas o facto é que os brasileiros se preparavam para levar Lula da Silva de novo à presidência. Porém, as acusações veiculadas e ampliadas pela imprensa, a par dos agentes da Justiça brasileira, travaram a hipótese de Lula da Silva disputar as eleições presidenciais de 2018 e daí resultou a vitória de Jair Bolsonaro, um presidente que não prestigia o seu país.    
À saída da prisão, Lula era esperado por muitos dos seus correligionários e atacou “o lado podre do Estado, da Justiça, do Ministério Público e da Polícia Federal”, prometendo que ia lutar pelo Brasil. Os seus adversários não lhe vão dar tréguas para o devolver à prisão, mas a oposição ao actual regime brasileiro ganhou uma maior coesão e uma poderosa bandeira chamada Luiz Inácio Lula da Silva.

sábado, 9 de novembro de 2019

Celebrando a queda do muro de Berlim

Está hoje a comemorar-se, na Alemanha e em outros países, o 30º aniversário da queda do muro de Berlim, um acontecimento que, de forma simbólica, acelerou a reunificação alemã, bem como o fim do sovietismo e da guerra fria.
Depois da 2ª Guerra Mundial a Alemanha e a cidade de Berlim ficaram divididas em quatro sectores de ocupação - soviético, americano, francês e britânico – mas as relações entre as autoridades ocupantes, sobretudo soviéticas e ocidentais, foram geralmente tensas e daí resultaram duas moedas em circulação, dois ideais políticos e, por fim, duas Alemanhas. Em 1949, os três sectores ocidentais (americano, francês e britânico) passaram a constituir a República Federal Alemã (RFA) e o sector oriental (soviético) tornou-se na República Democrática Alemã (RDA). O ambiente político e o desenvolvimento económico das duas Alemanhas eram bem diferentes e, até 1961, calcula-se que quase 3 milhões de pessoas tivessem deixado a RDA em direcção à florescente RFA. Para contrariar esta realidade, em Agosto de 1961 as autoridades de Berlim Oriental decidiram iniciar a construção de um muro de cerca de 4 metros de altura que separava as duas partes da cidade de Berlim e, ao longo dele, uma avenida também conhecida por “faixa da morte”, dotada de sistemas de alarme e pela qual circulavam constantemente veículos policiais. O muro de Berlim tornou-se o ícone da das tensões Leste-Oeste e o símbolo da chamada Guerra Fria.
No dia 9 de Novembro de 1989, sob forte pressão popular, o governo da RDA afirmou que era permitida a passagem para o lado oeste da cidade e milhares de pessoas atravessaram para Berlim Ocidental. A destruição do muro começou então por iniciativa popular. Tinha durado 28 anos e, entre 1961 e 1989, mais de cinco mil pessoas tentaram atravessá-lo. Cerca de uma centena delas morreu quando procurava a liberdade.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Donald Trump e a América em julgamento

As audições relativas ao processo de impeachment que está em curso contra Donald Trump terão início no próximo dia 13 de Novembro e, como hoje refere a revista Time, a América já está concentrada no que se vai passar, porque o que está em causa é algo mais que um qualquer Donald Trump, mas é sobretudo a forma como tem sido governada a própria América.
Num dos artigos publicados pela revista é referida uma obra de referência publicada em 1888 pelo historiador inglês James Bryce intitulada The American Commonwealth, é afirmado que “um presidente ousado que saiba que tem o apoio popular, pode ser tentado a anular a lei e a impor a sua própria lei”, ou que pode acontecer “haver um tirano na presidência, não contra as massas, mas com as massas”. Mais de cem anos depois, segundo o autor do artigo, a profecia cumpre-se.
Os factos contra o Donald parecem acumular-se, não só no que respeita às pressões sobre a Ucrânia para que anunciasse publicamente uma investigação contra Joe Biden, o seu rival na corrida presidencial de 2020, mas também sobre outros assuntos da governação americana. A envolver tudo isto está uma espécie de núvem dos tempos modernos em que alguma comunicação social asfixia as pessoas com demagogia e mentira, com propaganda e notícias falsas, mas também a crescente governação-espectáculo, com os “julgamentos de tabacaria” e a invasão da vida privada dos actores políticos. Portanto, o processo de impeachment contra Donald Trump é, também e sobretudo, um julgamento que põe em causa a própria América e o reality show em que a sua vida política se transformou.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

O nervosismo que perturba a Catalunha

Na última semana do passado mês de Setembro um juiz espanhol determinou a prisão de sete independentistas catalães porque, supostamente, planeavam acções violentas que iriam coincidir com o anúncio da sentença do procés. A detenção foi concretizada através da Operación Judas e os detidos pertenceriam às Equipos de Respuesta Táctica (ERT), uma nova organização derivada dos Comités de Defensa de la República (CDR), que activamente lutam pela independência da Catalunha por via violenta. A decisão do juiz baseou-se na acusação de que aqueles indivíduos pertenciam a uma organização terrorista, que possuiam ou preparavam a fabricação de explosivos e que preparavam diversas acções violentas contra esquadras da polícia e até a ocupação do Parlamento.
Passou-se mais de um mês e ontem, a poucos dias das eleições legislativas espanholas, foram divulgados alguns vídeos em que alguns dos detidos confessaram ligações com dirigentes políticos e outros actores do processo independentista, incluindo o presidente Quim Torra e o seu antecessor Carles Puigdemont, insinuando que eles apoiavam a sua mais sonhada acção que era a ocupação do Parlamento catalão durante uma semana. Embora Quim Torra se tivesse apressado a negar aquela acusação e a afirmar que os detidos falaram sob pressão policial, a sua simpatia pelos CDR é do domínio público, até porque neles milita activamente a sua filha. Os jornais espanhóis de referência tratam hoje desse episódio, sobretudo o conservador ABC que lhe dá um destaque de primeira página. Porém, a questão fundamental, para além de uma evidente preocupação pelo aparecimento na Catalunha de qualquer coisa semelhante à ETA, é saber a razão porque esta notícia aparece antes das eleições e que efeito terá no eleitorado. Até parece o nosso “caso Tancos” que, enquanto fake new, tanto perturbou as nosssas eleições legislativas.

A pirâmide invertida nas Forças Armadas

A notícia da edição de hoje do Jornal de Notícias é alarmante mas confirma as suspeitas que existem, desde há alguns anos, de que há cada vez menos praças nas Forças Armadas, designadamente no Exército e na Força Aérea.
Segundo refere a notícia, os efectivos das Forças Armadas são actualmente de 25.845 elementos, tendo havido uma redução de cerca de 25% nos últimos oito anos. No que respeita à classe de praças, no mesmo período, a redução foi superior a 40%. Actualmente o Exército tem 6265 praças, 3881 sargentos e 2976 oficiais, a Força Aérea tem 1930 praças, 2620 sargentos e 1944 oficiais, enquanto a Marinha tem 3714 praças, 2237 sargentos e 1985 oficiais. Esta "situação insustentável", segundo o CEMGFA, resulta sobretudo das opções políticas e dos constrangimentos orçamentais, mas também de uma atitude cultural do poder político.
Destes números pode concluir-se que a organização militar portuguesa tem uma pirâmide hierárquica invertida, certamente por corresponder a uma maior qualificação técnica dos seus elementos para os habilitar a dar resposta à sofisticação dos modernos equipamentos militares, mas também mostra um crescente desinteresse do poder político pelas suas Forças Armadas, provavelmente porque é grande o fosso existente entre os valores sociais dominantes e a cultura militar. A clássica opção apresentada há muitos anos por Paul Samuelson relativamente à utilização de recursos escassos na escolha entre canhões e manteiga, tem plena aplicação no caso português, porque a classe política que ocupa, ou quer ocupar o poder, se sustenta através do voto dos eleitores e estes estão mais interessados em manteiga do que em canhões.   
Porém, o problema da dimensão das Forças Armadas, do recrutamento de pessoal e da retenção dos militares qualificados não é apenas uma questão cultural porque é, sobretudo, uma questão de constrangimentos orçamentais que até é comum à maioria dos países europeus, como tantas vezes tem salientado o Donald. O facto é que o assunto é complexo e não pode deixar de ser estudado por quem saiba, porque assim as coisas não estão bem e, enquanto pilar do Estado democrático, as Forças Armadas têm que ser prestigiadas e dotadas dos meios adequados para cumprir as suas missões.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

África do Sul é a nova campeã do mundo


No passado domingo disputou-se na cidade japonesa de Yokohama a final do Rugby World Cup 2019, no qual triunfou a selecção da República da África do Sul e, naturalmente, a festa foi grande em todo o território nacional e a vitória constituíu um enorme contributo para a coesão nacional de um país marcadamente multiétnico, tal como a sua equipa de râguebi. Toda a imprensa sul-africana, como por exemplo o jornal Beeld que se publica em Johannesburg, deu grande destaque a esta vitória e aos seus “heróicos jogadores”.
Esta prova realiza-se de quatro em quatro anos desde 1987 e, até agora, foi vencida pelos All Blacks da Nova Zelândia (4 vezes), pelos Springboks da África do Sul (3 vezes), pelos Wallabies da Austrália e pela Inglaterra (uma vez cada).
A fase final do IX Campeonato do Mundo de Râguebi, ou de Rugby Union, iniciou-se no dia 19 de Outubro e nela participaram vinte selecções nacionais. Depois da fase preliminar chegaram às meias-finais quatro selecções, respectivamente da África do Sul e da Inglaterra que disputaram a final, juntamente com a Nova Zelândia e o País de Gales que jogaram para o terceiro e quarto lugares.
O próximo campeonato realiza-se no ano de 2023 em França e, então, poderá ser que o país anfitrião consiga pela primeira vez uma vitória, como “vingança” pelas três derrotas que averbou nas três vezes que a sua equipa chegou à final.          
O que não há dúvida é que, em popularidade, o râguebi está a ir na esteira do futebol.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Aproximam-se as eleições espanholas


As eleições legislativas espanholas vão realizar-se no próximo dia 12 de Novembro e não é necessário referir a sua importância para a Espanha e para as pretensões independentistas da Catalunha, mas também para Portugal e para a coesão europeia, até porque já basta de instabilidade, sobretudo aquela que nos vai chegando das Ilhas Britânicas. Nesta altura aparecem sondagens para todos os gostos, que mostram que é cada vez mais estreita a diferença entre a esquerda e a direita parlamentares, isto é, entre o bloco de esquerda formado pelo PSOE, Unidos Podemos e Más País e o bloco de direita constituído pelo PP, Ciudadanos e Vox.
Hoje, os cinco principais candidatos vão confrontar-se no único debate televisivo previsto na campanha eleitoral e há fortes expectativas quanto ao seu efeito sobre os cerca de 35% de eleitores indecisos, mas não faltarão apreciações quanto à reduzida influência das campanhas eleitorais na opção e voto dos eleitores. O jornal ABC é um dos jornais espanhóis que, a uma semana das eleições, publica hoje uma sondagem em que o PSOE de Pedro Sanchez aparece com 27,3% e o PP de Pablo Casado com 21,6%, o que mostra que, desde o passado mês de Abril quando se realizaram as anteriores eleições legislativas, o PSOE desceu quase um ponto percentual e que o PP subiu quase quatro pontos. Por isso, há quem defenda uma coligação entre estes dois partidos cujos projectos não são incompatíveis mas, se assim fosse, lá se ia o principio da alternância democrática do poder.
Portanto, parece sensato que não se façam muitos prognósticos quanto ao futuro politico da Espanha porque os tempos que virão não vão ser fáceis.

domingo, 3 de novembro de 2019

Novo fôlego da independência da Escócia

A Escócia é um reino situado na parte norte das ilhas Britânicas que foi independente desde 843 até 1707, ano em que se uniu com a Inglaterra para formar o Reino Unido da Grã-Bretanha. Durante três séculos os escoceses e os ingleses viveram muito felizes, embora tivessem mantido inúmeras instituições e actividades que nunca foram integradas na sua união, que em 1801 foi estendida à Irlanda, dando origem ao Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda.
Em 1973 o Reino Unido aderiu à Comunidade Europeia e, para além das suas capitais em Edimburgo e Londres, os escoceses passaram também a ter uma outra capital em Bruxelas. E gostaram disso, porque da nova capital lhes chegaram muitas coisas boas. Porém, nos últimos tempos as coisas começaram a mudar, com tensões políticas entre escoceses e ingleses. Daí resultou um referendo sobre a independência da Escócia realizado no dia 18 de Setembro de 2014, em que 44,70% dos escoceses votaram sim, enquanto 55,30% votaram não.
As tensões independentistas serenaram, até que no dia 23 de Junho de 2016 se realizou um referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, em que 51,89% dos eleitores votaram sim ao Brexit, embora 67,2% dos escoceses tivessem votado contra. No dia seguinte, a primeira-ministra escocesa Nicola Sturgeon, afirmou que um segundo referendo pela independência da Escócia em relação ao Reino Unido estava em cima da mesa.
Entretanto, passaram mais de três anos e a David Cameron sucedeu Theresa May e, depois, o estarola do Boris Johnson. Tem sido uma confusão e um descrédito completos. Agora estão marcadas eleições para o próximo dia 12 de Dezembro, mas Nicola Sturgeon não perdeu tempo e, como se esperava, exige agora um novo referendo sobre a independência da Escócia.

A inovação da moderna arquitectura

A Fundação OnePulse anunciou na cidade americana de Orlando, no estado da Florida, que depois de um concurso internacional foi aprovado o desenho do novo Museu Nacional e Memorial de Pulse, a construir naquela cidade, que foi proposto por um grupo de arquitectos franceses em colaboração com arquitectos locais. O jornal La Prensa de Orlando, publicou a imagem do monumento que homenageará as 49 vítimas mortais e os 53 feridos que resultaram o massacre terrorista, bem como todos os que foram afectados pela trageia ocorrida no dia 12 de Junho de 2016 na discoteca Pulse, executado em nome do Daesh e que foi considerado "o mais mortal tiroteio em massa da história dos Estados Unidos”.
A proposta vencedora não é definitiva e representa um ponto de partida para discussão e posterior integração de novas ideias, mas o monumento incluirá um espelho de água e um jardim com 49 árvores, além de um museu ao ar livre, jardins verticais e um passeio na cobertura. Com este monumento, a cidade de Orlando procura ultrapassar o trauma que esta tragédia constituiu para a comunidade local e, ao mesmo tempo, é uma aposta numa obra de arquitectura inovadora e de referência. Naturalmente que as grandes obras da arquitectura primeiro se estranham mas depois se entranham, como dizia o slogan publicitário atribuído a Fernando Pessoa.  

sábado, 2 de novembro de 2019

A viagem do “Mayflower” foi há 400 anos

No dia 6 de Setembro de 1620 largou de Plymouth um velho navio de carga de cerca de 30 metros de comprimento chamado Mayflower que transportava 30 tripulantes e 102 passageiros com destino ao outro lado do Atlântico. No dia 11 de Novembro o navio chegou a Cabo Cod, no actual estado de Massachusetts, depois de sessenta e cinco dias de viagem.
Na sua maioria os passageiros do Mayflower eram famílias puritanas que procuravam a sua liberdade longe da Igreja Anglicana, num tempo de grande conflitualidade religiosa nas ilhas britânicas e na Europa. Apenas sobreviveram 53 passageiros, conhecidos depois por pilgrims fathers, que foram os primeiros ingleses protestantes que emigraram para o continente americano e que fundaram as primeiras colónias que vieram a dar origem aos Estados Unidos.
Nos anos 1950 surgiu na Inglaterra a ideia de construir uma réplica do Mayflower para ser oferecida aos Estados Unidos como símbolo da gratidão inglesa pela ajuda americana durante a II Guerra Mundial. Essa réplica foi construída nos estaleiros de Brixham e em 1957 navegou para os Estados Unidos, onde se tornou um navio-museu muito visitado e tendo feito algumas pequenas viagens entre os portos da costa nordeste dos Estados Unidos. Actualmente o navio encontra-se em trabalhos de manutenção e restauro nos estaleiros Mystic em Connecticut, preparando-se para tomar parte no Mayflower Sails 2020, que no próximo ano celebrará em Boston os 400 anos da sua histórica viagem. Em Maio de 2020, quando navegar para Boston, espera-se que o Mayflower tenha a companhia do USS Constitution, que entrou ao serviço em 1797. Segundo o The Boston Globe será a primeira vez que os dois mais simbólicos navios da história americana navegarão juntos. 

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Donald Trump a caminho da impugnação

Numa conferência proferida há dois dias e que foi divulgada pela revista Visão, o professor Adriano Moreira afirmou que “a maior ameaça actual ao mundo é a incultura e a leviandade do Presidente dos Estados Unidos”. Esta afirmação, feita por alguém cuja lucidez e sabedoria são bem reconhecidas nos meios políticos e académicos, revela que o comportamento de Trump é um problema global e não é apenas um caso muito preocupante para os americanos e para os seus aliados.
Por isso, com uma maioria de 232 votos contra 196, os congressistas da câmara baixa do Congresso ou Câmara dos Representantes dos Estados Unidos acabam de formalizar um processo de impugnação (impeachment) contra o presidente Donald Trump, o que é um acontecimento histórico por ser a quarta vez em 230 anos que o Congresso chega tão perto de uma acusação e julgamento de um presidente dos Estados Unidos. No entanto, este problema acontece não só devido à má gestão e à impreparação de Trump para o cargo, mas também porque se aproximam eleições presidenciais e é o tempo para os Democratas e os Republicanos “contarem espingardas”, sucedendo-se os testemunhos favoráveis ou desfavoráveis à actuação presidencial do Donald.
Porém, mesmo que a Câmara dos Representantes venha a acusar o Donald de “crimes graves”, é muito provável que ele não seja condenado por essa acusação quando o processo subir ao Senado, pois seria necessária uma maioria de dois terços (67 senadores) e o Partido Democrata só pode contar, à partida, com 47 votos. Portanto, a impugnação pode acontecer, mas daí à destituição vai uma grande distância.