sábado, 29 de fevereiro de 2020

A tensão em Idlib reabre a guerra na Síria


A guerra civil da Síria que começou em 2011 e que por várias vezes tem estado próximo do fim, parece ter recomeçado agora com grande intensidade. A província e a cidade de Idlib, no noroeste do país e junto da fronteira turca, estavam ocupadas desde o início da guerra pelas milícias anti-Assad e aí se situava a sede do governo de salvação síria.
Com o forte envolvimento militar russo, o regime de Bashar al-Assad recuperou o controlo sobre a maior parte do território sírio, mas Idlib continua nas mãos dos rebeldes, onde têm o apoio turco. Idlib representa, por isso, o ponto de maior conflitualidade entre as duas partes e entre os seus aliados russos e turcos.
Em 2018 os russos e os turcos entendiam-se bem e até negociaram o fornecimento de sistemas de mísseis S-400, o que deixou a NATO e os Estados Unidos muito preocupados. Nessa altura, os russos aceitaram que fossem instalados doze postos de observação turcos em Idlib, os quais já foram provocados várias vezes pelas tropas sírias. Até que, anteontem, um ataque aéreo sírio provocou a morte de 33 soldados turcos, para além de ter causado 36 feridos, numa aparente tentativa síria de recuperar o controlo sobre o reduto rebelde de Idlib. Na madrugada de ontem a Turquia retaliou e bombardeou algumas posições sírias naquela região.
A Turquia exige que os sírios se afastem dos postos de observação turcos e a Rússia acusa os turcos de ajudarem terroristas. Entretanto, milhares de pessoas fugiram das suas casas e Recep Tayyip Erdogan pediu uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Na imprensa turca, cujos títulos podem ser decifrados com a ajuda do amigo Google, são publicadas as fotografias dos 33 heróis-mártires de Idlib e é anunciado que foram destruídas as posições de Assad, isto é, prepara-se a população para novos e mais perigosos episódios desta já tão longa guerra, pois já há heróis, mártires e vitórias no terreno.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O triste naufrágio do futebol português

Nos últimos anos o futebol invadiu de forma desproporcionada o espaço mediático e, portanto, também o nosso espaço público e a nossa vida. O futebol parece ter sido colocado no centro da vida dos portugueses e há muita gente, aparentemente respeitável, que embarca nesta loucura da futebolite. O futebol transformou-se numa arena onde se digladiam todas as perversidades e frustrações da nossa sociedade, como podemos ver todos os dias nas televisões, enxameadas por dezenas de comentadores, quase sempre numa postura de radicalismo clubista, que até podem criar a ideia de que o futebol é a coisa mais importante da vida. Já não há paciência para ouvir as constantes conferências de imprensa dos treinadores, as judiciosas opiniões dos árbitros sobre os casos do jogo ou a grosseira incontinência verbal de certos dirigentes.  A continuar assim, um dia o futebol acaba e ninguém tem conseguido travar este degradante movimento que constitui um verdadeiro retrocesso civilizacional.
Porém, ainda há quem pense que essa é a face mais obscura do fenómeno futebolístico, porque do outro lado há a festa, a alegria, o espectáculo desportivo, a incerteza quanto ao resultado, os grandes golos e as grandes defesas.
Porém, também essa face nos desilude cada vez mais. Nas 16 equipas em prova na Liga dos Campeões não há qualquer equipa portuguesa, mas na chamada segunda linha das competições europeias, que é a Liga Europa, havia quatro equipas portuguesas. Até ontem, porque as equipas do Braga, Sporting, Porto e Benfica foram eliminadas. Foi um naufrágio completo. O jornal A Bola diz hoje que o nosso futebol é um Portugal dos pequenitos. De facto, com tanto tempo e tanta gritaria dedicados ao futebol, não era previsível que acontecesse este naufrágio ou, então, essa gente do futebol anda-nos a vender gato por lebre e não nos diz a verdade, ou seja, que o nosso futebol que era a alegria do povo, está agora irremediavelmente de rastos.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

O automóvel e o sucesso de Carlos Tavares

Carlos Tavares é, provavelmente, o mais conhecido gestor português com currículo internacional e, na galeria de portugueses ilustres que atingiram um plano de destaque fora do país, ele está ao lado de muito poucos políticos, cientistas, artistas, escritores e futebolistas.
Ele é o presidente executivo do grupo automóvel PSA, que possui as marcas Peugeot, Citroën, DS, Opel e Vauxhall, tendo feito o anúncio dos resultados do exercício de 2019: uma facturação recorde de 74.700 milhões de euros, mais 1% do que no exercício anterior, uma margem operacional histórica de 8,5% e um lucro de 3.200 milhões de euros, correspondente a um aumento de 13,2% em relação ao exercício anterior.
Como consequência destes resultados, a PSA decidiu dar um bónus de 4.100 euros aos trabalhadores com salários anuais inferiores a 51.000 euros, enquanto os accionistas vão receber 1,23 euros por acção quando em 2018 tinham recebido 78 cêntimos, o que significa um aumento de 58%. Portanto, tanto o capital como o trabalho ficaram satisfeitos na PSA e Carlos Tavares tem sido elogiado pelos parceiros sociais.
Porém, se o grupo PSA vendeu menos 10% de veículos em 2019, isto é, vendeu menos 3,5 milhões de unidades, como foi possível atingir estes resultados? Ou, como é possível aumentar a rentabililidade quando as vendas baixam?
Segundo o jornal Les Echos, a estratégia de Carlos Tavares assentou na redução dos custos, tanto fixos como variáveis, mas também na melhoria dos preços de venda, sobretudo através do chamado princing power que é um ajustamento do preço em função das quantidades procuradas, o que permite aumentar a procura.
Em teoria a equação é simples e tem apenas três variáveis - custos fixos, custos variáveis e receitas das vendas – mas quando um grupo tem a dimensão da PSA e as suas muito diversas culturas, bem como a concorrência de outros poderosos fabricantes europeus de automóveis, então o desafio é certamente complexo. Porém, Carlos Tavares tem estado a vencê-lo.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Da China para o mundo: crise do Covid-19


Em finais de 2019 apareceu na cidade chinesa de Wuhan um surto epidémico de coronavírus que afecta o sistema respiratório e pode evoluir para situações de maior gravidade como a pneumonia. Porque o surto alastrou para fora da China, a Organização Mundial de Saúde atribuiu-lhe um nome oficial para facilitar o seu reconhecimento universal, pelo que passou a ser conhecido como Covid-19.
Nesta altura ainda não se sabe a origem desta epidemia, ou do Covid-19, que infectou até agora cerca de 80.000 chineses e que já provocou 2715 mortes na China, ao mesmo tempo que está a perturbar a economia chinesa. O vírus propagou-se pelos países asiáticos e, entretanto, já chegou a uma dezena de países europeus, sobretudo à Itália onde já provocou 12 mortes, tendo nas últimas horas chegado a Espanha. As preocupações das autoridades sanitárias têm-se acentuado, embora haja demasiadas dúvidas e poucas certezas sobre a natureza deste surto epidémico que se manifesta simplesmente por febre, tosse, cansaço e dificuldades respiratórias, havendo também quem mostre desconfianças quanto ao que realmente se passa e aos eventuais interesses que giram à volta desta situação. A Organização Mundial de Saúde continua sem identificar a natureza deste vírus nem a forma de o travar, mas anunciou que o surto atingiu o seu pico na China entre os dias 23 de Janeiro e 2 de Fevereiro, estando em declínio desde então. No entanto, a generalidade dos países europeus parecem estar de prevenção ou mesmo um pouco alarmados, ao mesmo tempo que se anunciam efeitos sobre a economia com recessões, crises bolsistas e contracção no turismo.
Em síntese há que aguardar pela evolução da situação que, aparentemente, ainda não preocupa os portugueses. No entanto, se a situação se complicar, mais dia menos dia, talvez possamos ver o nosso Guia a copiar o exemplo pedagógico do colega Xi Jinping e a fazer-se fotografar com uma máscara igual à dele.

As danças e bailinhos da ilha Terceira


O Carnaval de 2020 já lá vai e através da televisão pudemos ver, no país e no estrangeiro, alguns desfiles de elevada estética decorativa em termos de indumentárias, de carros alegóricos e de participação artística, sempre com muito entusiasmo popular, embora quase sempre constituam  representações que apenas pretendem atrair o turismo.
O Carnaval também é assim em Portugal e, cada vez mais, é uma indústria que alguns pretendem seja uma indústria cultural. Porém, muitas das representações que nos são servidas de Loulé, de Ovar ou de Torres Vedras, para apenas citar alguns carnavais de maior notoriedade nacional, misturam situações de reconhecida criatividade, humor e alegria, com exibicionismos de muito mau gosto, como se o Carnaval fosse um passaporte para a vulgaridade e para a foleirice. 
Há, contudo, um Carnaval que tem o meu vivo aplauso. Festeja-se na ilha Terceira e dele deu ontem notícia o Diário Insular que se publica em Angra do Heroísmo, embora o jornal pudesse ter escolhido uma fotografia mais feliz para a capa.
As danças e bailinhos da ilha Terceira são o ponto central do Carnaval terceirense e mobilizam milhares de pessoas por toda a ilha, numa demonstração de genuíno entusiasmo popular. Formam-se dezenas de grupos de músicos e actores amadores que, desde sábado a terça-feira de Carnaval, percorrem a ilha apresentando-se continuamente num espectáculo que dura cerca de uma hora em cerca de quatro dezenas de salas, onde a entrada é gratuita e onde a população se diverte pela cenografia e pelos conteúdos de crítica social que são apresentados.
O gosto pelas danças e bailinhos da ilha Terceira tem aumentado significativamente nos últimos anos e são frequentes as presenças de grupos que se deslocam dos Estados Unidos e do Canadá para apresentarem os seus bailinhos. É realmente uma festa única que os terceirenses reivindicam como património da criatividade do povo. O reconhecimento vem a caminho, pois está em curso uma consulta pública para o registo das Danças, Bailinhos e Comédias do Carnaval da Ilha Terceira no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial… que vai ser bem sucedida, naturalmente.

sábado, 22 de fevereiro de 2020

A integração portuguesa no Luxemburgo


Na sua edição de hoje o jornal luxemburguês Le Quotidien dedica um caderno especial aos portugueses que vivem no Luxemburgo que, segundo as estatísticas, são cerca de 80 mil e constituem cerca de 16% do total da população a viver no grão-ducado.
O jornal não permite o acesso aos seus textos sem que o interessado pague, o que é uma limitação para quem não esteja disposto ou não possa ir por esse caminho. Porém, deixa algumas frases como por exemplo “l’image de l’ouvrier reste trop ancrée” ou “des barrières restent à lever”, o que significa que a integração dos portugueses na sociedade luxemburguesa ainda padece dos mesmos estereótipos que, durante muitos anos, afectaram os emigrantes portugueses em França e que só agora começam a atenuar-se através de uma segunda geração que absorveu o modo de vida francês, se integrou na sociedade e hoje está presente na política, na economia e na cultura francesa.
O facto é que todos os emigrantes quando deixam o seu país levam consigo os hábitos, a cultura e o modo de vida que tinham no seu país de origem e, no país de acolhimento, tendem a aceitar os trabalhos mais modestos, o que lhes traça uma imagem percebida pela população local, sobretudo como operários da construção ou como pessoal dos serviços domésticos. Paralelamente, os emigrantes criam o seu próprio mundo, com os seus cafés, restaurantes, padarias, minimercados e empresas, mas também com as suas associações, clubes sociais, equipas de futebol e grupos folclóricos. Só muitos anos depois, com o aparecimento de uma segunda geração que já domina a língua e tem outro envolvimento com a comunidade local, é que a situação se altera.
A emigração portuguesa para o Luxemburgo foi mais tardia do que a que se dirigiu para França e, por isso, também essa integração tarda. No entanto, a associação L’Amitié Portugal-Luxembourg (Amitié.lu) já leva 50 anos de actividades no sentido da plena integração dos portugueses na sociedade luxemburguesa e, segundo refere o jornal, tem tido uma actividade muito meritória.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Um navio-fantasma que chegou à Irlanda


Um “navio-fantasma” de 77 metros de comprimento apareceu encalhado em Ballycotton, na costa sul da Irlanda, na sequência da tempestade Dennis que assolou a Europa na passada semana. O navio terá andado à deriva durante mais de um ano sem tripulação e percorrido milhares de quilómetros no oceano Atlântico. Segundo revela o jornal The Guardian o navio chama-se M/V Alta, foi construído em 1976 e, ao longo da sua vida, teve vários nomes e diferentes proprietários.
Em Setembro de 2018 o navio navegava da Grécia para o Haiti quando teve uma grave avaria pelo que ficou sem energia a bordo e, durante vinte dias, andou à deriva numa posição a cerca de duas mil milhas para sueste da Bermuda. Tendo sido detectado naquelas condições, a autoridade marítima americana tratou de lhe lançar comida por via aérea, mas como se aproximava um furacão, decidiu resgatar os seus dez tripulantes e levá-los para Porto Rico. Desde então, o M/V Alta ficou à deriva e sem tripulação.
Ao aparecer encalhado na rochosa costa sul da Irlanda, significa que o navio andou à deriva durante cerca de dezoito meses, tendo sido avistado apenas uma vez pelo HMS Protector da Royal Navy, o que mostra como é grande a vastidão do oceano ou como no mar cada um trata de si. Porém, o jornal deixa muitas interrogações para serem resolvidas, sobretudo saber quem é o proprietário do navio, qual a sua carga na altura em que foi abandonado e como foi possível que quem resgatou a sua tripulação deixasse o navio à deriva e a constituir um “perigo para a navegação”.
É mesmo um caso de navio-fantasma.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

A Venezuela de Maduro ataca a TAP

A Venezuela é um grande problema internacional devido à grave situação económica e à instabilidade política por que passa, pois enquanto meio mundo está ao lado de Nicolas Maduro, o outro meio mundo apoia Juan Guaidó, o auto-proclamado presidente do país. Internamente, a situação também é complexa pois não se conhecem exactamente os apoios que tem cada uma destas facções.
Acontece que na Venezuela vivem três centenas de milhar de portugueses e de luso-descendentes e, por isso, a questão venezuelana é importante para Portugal que, com sensatez e prudência, tem acompanhado as posições da União Europeia e tem evitado criar fricções com as autoridades venezuelanas. Apesar disso, a Venezuela decidiu ontem suspender as operações da TAP por 90 dias nos seus aeroportos, com o argumento de ter havido irregularidades no voo TP173 que ligou Lisboa a Caracas e de ser necessário “proteger a segurança da Venezuela”. Hoje a notícia merece grande destaque na imprensa venezuelana, nomeadamente no El Periodiquito que se publica em Maracay, no estado de Aragua.
Depois de um périplo político pelos Estados Unidos e pela Europa, Juan Guaidó regressou à Venezuela no referido voo da TAP, sendo acompanhado por um tio. À chegada a Caracas foi esperado por manifestações de apoio e as autoridades chavistas não gostaram, pelo que acusaram a TAP de ter ocultado a sua identidade e de ter permitido que o seu tio transportasse material explosivo em diversos objectos.
Quer a TAP, quer o governo português, já mostraram a sua surpresa por esta iniciativa do regime de Maduro que, naturalmente, afecta os portugueses que vivem na Venezuela e vão ser vítimas desta evidente provocação de Nicolas Maduro a Portugal.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Outra viagem presidencial, agora à Índia


O Presidente da República de Portugal gosta de ser apreciado interna e externamente e não perde nenhuma oportunidade. Agora foi em visita oficial à Índia porque assim o exige a sua função de representação e essa visita tem que ser vivamente saudada. Embora não estejam isentos de controvérsias, os laços históricos entre os dois países são muito antigos e o facto é que em algumas regiões da Índia, nomeadamente na costa do Concão, há fortes sinais da herança cultural portuguesa. Porém, nas visitas que os portugueses fazem à Índia, o ponto central é sempre Goa e com a visita do Presidente da República, não poderia ter sido diferente.
Goa foi a capital do Estado da Índia e, no século XVI, “governava” a navegação e o comércio da orla do oceano Índico desde Moçambique até à China. Seguiram-se cerca de quatro séculos de “presença” que deixaram um património construído de raíz religiosa e militar mas, sobretudo, uma presença cultural que tem resistido à indianização. Hoje, a matriz cultural portuguesa e em especial a língua portuguesa, estão em acelerado retrocesso e são pouco mais do que uma memória. O português nunca foi a língua franca de Goa e agora está realmente a desaparecer, até porque as novas gerações não encontram nela qualquer sentido de utilidade. No entanto, as marcas lusas estão lá e, como disse o Presidente, "ninguém percebe bem o que é ser português sem vir a Goa". É realmente assim.
A visita presidencial foi, naturalmente, uma visita de afectos às poucas centenas de "portugueses de Goa" e das selfies de que tanto gosta, mas seria desejável que se fizesse mais do que tem sido feito para assegurar que a memória portuguesa não se perdesse em Goa. E há muito para fazer, desde a protecção religiosa que por vezes parece ameaçada pelas hostes mais radicais do partido de Narendra Modi, até à desburocratização das actividades consulares em que a obtenção de um visto turístico exige uma ilimitada paciência de quem o procura.
Finalmente, porque tudo é pago com os meus impostos, volto a perguntar porque razão o Presidente se faz acompanhar de tanta gente nestes passeios que não são nada baratos.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

O projecto de reunificação das Irlandas


A saída do Reino Unido da União Europeia que se concretizou há duas semanas continua a causar apreensões, sobretudo em relação à unidade do Reino Unido. Em primeiro lugar está a Escócia, onde a primeira-ministra Nicola Sturgeon reclama a realização de um referendo para a independência, porque Boris Johnson não estava mandatado pelos escoceses para tirar o seu país da União Europeia. Em segundo lugar está a Irlanda do Norte onde o Sinn Féin, o centenário partido nacionalista irlandês liderado por Mary Lou McDonald, venceu pela primeira vez as eleições legislativas realizadas no passado sábado, com um programa que defende a unificação da Irlanda e a realização de um referendo para a unificação das Irlandas num prazo de cinco anos.
Nestas questões, a História está sempre presente. A República da Irlanda conquistou a independência em 1922 e fixou a sua capital em Dublin, mas dos 32 condados que existiam na ilha, houve seis que preferiram ficar ligados à Grã-Bretanha e formaram a Irlanda do Norte, com a sua capital em Belfast.
A Irlanda do Norte viveu sempre sob grande tensão entre os unionistas (ligados à Grã-Bretanha) e os nacionalistas (ligados à Irlanda). Nas décadas de 1970, 1980 e 1990 o território viveu numa clima de guerrilha urbana e de quase guerra civil entre as duas facções dominantes, por vezes chamadas de católicos e protestantes.  
O facto é que 62% dos escoceses votaram contra o Brexit, enquanto na Irlanda do Norte também 55,8% não queriam sair da União Europeia. Hoje, a edição do The Economist analisa a questão de um eventual referendo na Irlanda do Norte visando a unificação do país, tal como era em 1922.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Uma nau histórica para servir de museu

Realizou-se ontem nos estaleiros Palmás em Punta Umbría, nas vizinhanças da cidade de Huelva, o lançamento à água de uma réplica da nau Victoria, isto é, da única das cinco naus da frota de Fernão de Magalhães que tendo partido de Sanlúcar de Barrameda em 1519 conseguiu terminar a volta ao mundo em 1522, então com Juan Sebastian de Elcano no comando. A nau Victoria demorou 3 anos e 14 dias a percorrer cerca de 37.753 milhas e a completar a sua viagem de circumnavegação e, quando chegou ao fim dessa histórica viagem, trazia a bordo apenas 18 homens.
Esta réplica é a segunda que se constrói, mas enquanto a primeira foi construída em 1991 para navegar em 1992 durante as Comemorações da Viagem de Cristóvão Colombo, esta nova réplica que foi baptizada como Victoria 500, não foi concebida para sulcar os mares mas apenas para servir como um museu flutuante atracado em Sevilha para celebrar a primeira volta ao mundo. A nau Victoria simboliza esse feito marítimo e científico que foi a viagem de circumnavegação e é pena que em Portugal não se tenha uma iniciativa semelhante que servisse para mostrar aos milhões de turistas que nos visitam um pouco do nosso pioneirismo na abertura do mundo que, naturalmente, teve grandes benefícios para a Humanidade, embora também tivesse outras coisas menos boas. O Diário de Sevilla deu um grande destaque a esta notícia, tal como a generalidade dos jornais da Andaluzia.
Agora que já se iniciaram as obras de integração da antiga Doca da Marinha na paisagem marítima da cidade de Lisboa, que bem que ali ficaria a última nau da Índia, bem conservada e bem iluminada, em vez de estar escondida em Cacilhas onde poucos a vêm.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Ricardinho, a grande estrela do futsal

Por razões históricas de ordem diversa, Portugal só se começou a modernizar há pouco tempo e como consequência disso, em diversos sectores de actividade, começou a surgir gente de muito talento, havendo mesmo quem se tenha destacado a nível mundial. Na Política é costume citarem-se os nomes do secretário-geral das Nações Unidas, do presidente da Comissão Europeia ou do presidente do Eurogrupo, enquanto na Cultura são referidos habitualmente os nomes de José Saramago, de Paula Rego ou de Siza Vieira. Porém, no desporto e em especial no futebol, a lista começa a ser extensa com o famoso Cristiano Ronaldo à cabeça. Porém, nem todas estas personalidades têm direito a aparecer nas primeiras páginas dos jornais, como aconteceu ontem com Ricardo Filipe da Silva Braga, mais conhecido no mundo do futsal por Ricardinho, a quem o jornal francês L’Équipe dedicou a sua primeira página, o que significa que mais de 300.000 fotografias dele foram distribuídas por todo o país, o que naturalmente enche de orgulho os portugueses que vivem em França.
Ricardinho é uma superestrela e foi eleito o melhor jogador de futsal do Mundo em 2010, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, tendo jogado em clubes portugueses (Miramar e Benfica), japoneses (Nagoia Oceans), russos (CSKA Moscovo) e espanhóis (Inter Movistar). Agora vai jogar num clube francês (Asnières) e, certamente, vai mostrar a sua arte nos recintos franceses e entusiasmar os seus compatriotas. Portanto, que viva o Ricardinho!

sábado, 8 de fevereiro de 2020

A esquerda anda à deriva no Brasil

A revista Veja destaca na sua última edição a situação em que se encontra a esquerda política no Brasil e ilustra a notícia com um navio chamado PT a afundar-se e com o timoneiro Lula da Silva ainda agarrado ao leme. Esta é uma das possíveis imagens da crise brasileira pois mostra que não há alternativa ao poder agora instalado em Brasília.
É preciso recordar que a actual crise política que afecta o Brasil se começou a desenhar em Agosto de 2016, quando a presidente Dilma Rousseff foi afastada do seu cargo, num processo em que o seu maior crime foram as “pedaladas fiscais”, uma expressão que em Portugal corresponde a uma habilidade chamada contabilidade criativa. Nunca ninguém se convenceu que o impeachment que a destituíu não foi um golpe urdido pela direita brasileira que utilizou deputados e senadores, muitos deles com graves acusações criminais. Depois, em Abril de 2018, aconteceu a condenação do ex-presidente Lula da Silva com 17 anos de prisão e as hostes da esquerda brasileira entraram em estado de choque, por verem o seu ídolo encarcerado. Seguiram-se as eleições presidenciais e, sem Lula da Silva na corrida, em Outubro de 2018, foi eleito Jair Bolsonaro que bateu Fernando Haddad com 55% dos votos. 
Com Bolsonaro as coisas parece não correrem bem no Brasil, mas o ponto fulcral da política brasileira não é saber se o país progride ou não, mas saber se Lula da Silva é mesmo corrupto ou se foi vítima de mais um golpe desferido pelos procuradores e juízes envolvidos no gigantesco escândalo de corrupção em torno da empresa pública Petrobras. O sistema democrático assenta na existência de um mínimo de duas alternativas e na possibilidade de alternância no poder mas, desde 2016, a esquerda brasileira está à deriva o que torna o sistema político-partidário brasileiro menos democrático, mais débil, menos fiável e cada vez mais ocupado por dirigentes pouco escrutinados e sem ética.

Madrid e Barcelona já estão a conversar


A conflitualidade e a tensão que se têm verificado nos últimos meses entre o governo de Espanha e o governo regional da Catalunha, parecem estar a entrar agora no caminho do diálogo institucional, coisa que não acontecia nos tempos de Mariano Rajoy e de Carles Puigdemont. Depois das intransigências de um e das tentativas de insurreição popular do outro, parece estar aberto um caminho de sensatez e de diálogo, embora para alguns o governo de Pedro Sanchéz esteja a ir longe demais e, para outros, se esteja apenas a abrir uma porta.
O encontro entre Pedro Sanchéz e Quim Torra, o presidente do governo regional da Catalunha, foi cordial e dele saíu a criação de uma comissão bilateral para estudar as reivindicações catalãs. Foi um bom passo. Num outro encontro entre Pedro Sanchéz e Ada Colau, a presidente do município de Barcelona, surgiu o reconhecimento da co-capitalidade cultural e científica da cidade de Barcelona. Foi outro bom passo. Significa, portanto, que Madrid e Barcelona já estão a conversar. 
O jornal La Vanguardia refere hoje esta grande notícia mas, com fotografia de primeira página, também destaca a descoberta de uma “Altamira catalana”. Trata-se de algumas grutas situadas em l’Espluga de Francolí (Tarragona), com cerca de um cento de figuras gravadas na pedra que representam veados, cavalos, bois e alguns símbolos abstractos, que terão cerca de 15 mil anos. Esta datação converte este santuário da arte rupestre no mais antigo testemunho do Paleolítico na Catalunha, torna-o comparável às grutas cantábricas de Altamira e é um dos mais antigos de toda a área mediterrânica.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Rasgas tu, ou rasgo eu?… a polémica!


Menos de 24 horas depois de Nancy Pelosi ter rasgado o discurso de Donald Trump sobre o estado da União, Donald Trump foi absolvido pelo Senado das acusações que sobre ele pendiam e coube-lhe a vez de rasgar o documento de impeachment, o que significa que o rasgar papéis em frente das câmaras de televisão entrou na agenda política americana.
Sobre Donald Trump pendiam duas acusações. A primeira acusação por ter pressionado o presidente da Ucrânia para investigar o seu concorrente político Joe Biden, tendo Trump vencido essa votação por 52 a 48; a segunda acusação fundamentava-se numa obstrução ao Congresso, cuja votação Trump também venceu por 53 a 47. Ora, para que o impeachment acontecesse eram necessários dois terços dos votos (67) e os votos conseguidos pela acusação não foram além de 47 e de 48. Portanto, o resultado final já era esperado, mas esta disputa entre Democratas e Republicanos veio mostrar que a perversidade política existe por todo o mundo.  
Depois de várias semanas de alguma incerteza, Donald Trump foi declarado inocente, mantém-se na Casa Branca e ficou cheio de força... ou não, para a corrida presidencial que já está em andamento, faltando saber quem vai ser o seu adversário directo. A partir de agora todos os americanos vão olhar para a campanha eleitoral que, mais do que uma escolha entre projectos políticos, é um grande espectáculo de som, luz e cor. É natural que o Donald se sinta confiante e fortalecido com o que se passou nas últimas horas e a sua reeleição parece ser agora mais provável do que antes. A preocupação do mundo vai aumentar perante o que está a acontecer na América.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Na política americana também há tensão


O Congresso dos Estados Unidos reuniu ontem em Washington as suas duas Câmaras – o Senado e a Câmara dos Representantes - pois era o dia do discurso do presidente sobre o Estado da União e, segundo as notícias veiculadas pela imprensa, a cerimónia começou mal. 
Quando Donald Trump chegou ao local onde iria ler o seu discurso, quebrou o protocolo ao cumprimentar apenas o vice-presidente Mike Pence e ao ignorar a democrata Nancy Pelosi, a presidente da Câmara dos Representantes, que lhe tinha estendido a mão. Depois, Trump leu o seu discurso no qual fez o seu próprio elogio e em que disse que os Estados Unidos estavam agora mais fortes do que nunca e que a sua Administração teve um grande sucesso económico ao reverter as políticas do anterior governo de Barack Obama e ao acabar com a mentalidade de declínio dos Estados Unidos. O tom comicieiro esteve presente em todo o discurso, pois foi um pretexto para o lançamento da sua corrida presidencial, pelo que foi muitas vezes aplaudido pelas bancadas republicanas com gritos de “mais quatro anos”.
Acontece que o pior estava para vir, pois Nancy Pelosi é a responsável pela abertura do processo de impeachment que está a decorrer contra Trump e daí a tensão que esteve sempre presente naquela sala. Por tudo isso, Nancy Pelosi respondeu a Donald Trump no fim, pois enquanto o presidente era aplaudido, ela levantou-se e, diante de todos e em directo pela televisão, rasgou o que seria uma cópia do discurso. De uma forma geral, a imprensa condena Pelosi, provavelmente porque não viu ou não quis ver a falta de educação democrática de Trump ao deixar a presidente da Câmara dos Representantes de mão estendida.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

The race for the White House: day 1.


A corrida para as eleições presidenciais americanas, que se realizam no dia 3 de Novembro de 2020, começou hoje no Iowa, onde estão a realizar-se as eleições primárias do Partido Democrata. 
Nessa eleição vão ser escolhidos os delegados do Partido Democrata que tomarão parte na convenção nacional que, por fim, escolherá o seu candidato presidencial. Porém, enquanto do lado do Partido Republicano se encontra Donald Trump à procura de uma reeleição, embora possa vir a ter alguns concorrentes mais ou menos quixotescos como Bill Weld, o antigo goverrnador de Massachusetts, do lado do Partido Democrata há por agora 24 candidatos com idades entre os 37 e os 89 anos, com um númerro recorde de mulheres, com alguns candidatos originários das minorias e com posições ideológicas muito diferenciadas, umas bem moderadas e outras muito radicais. Segundo algumas sondagens que a edição do New York Post hoje divulga, os favoritos parecem ser Joe Biden, Bernie Sanders e Elisabeth Warren, mas ainda é muito cedo para fazer previsões. As eleições no Iowa são bem curiosas, pois não são utilizados os tradicionais votos que se metem numa urna, sendo as escolhas feitas em assembleias. Serão 1.678 assembleias ou caucus em todo o estado (um processo que também acontece no estado de Nevada), que se realizam em espaços como bibliotecas, ginásios, igrejas e sindicatos, nas quais participam as pessoas com 18 anos completos até ao dia 3 de Novembro e em que, mais ou menos por braço no ar, são escolhidos os delegados do partido.
As eleições presidenciais americanas não são apenas um assunto da política interna americana, pois interessam a todo o mundo.

sábado, 1 de fevereiro de 2020

As singulares mensagens dos ‘graffiti’

Lisboa - Alameda Dom Afonso Henriques
Os graffiti são simples textos ou desenhos feitos nas paredes ou em outras superfícies, por vezes com grande arte e criatividade, mas que são práticas artísticas marginais que sujam e poluem a paisagem urbana, os monumentos, os edifícios e os transportes públicos. Porém, há que reconhecer que os graffiti estão na moda e, nalgumas situações, surpreendem mesmo os mais avessos a este tipo de mensagens, umas vezes pela sua qualidade artística, outras vezes pelo conteúdo da sua mensagem e outras, ainda, pelo humor que nos transmitem.
Na alameda Dom Afonso Henriques e nas proximidades da Fonte Luminosa, em Lisboa, encontra-se uma dessas mensagens que nos atraem, não tanto pelo seu teor anarquista, em que o autor se afirma contra toda a autoridade imposta pelas estruturas do Estado ou da Sociedade, mas em que aceita com reverência a carinhosa autoridade da sua mãe – contra toda a autoridade excepto a da minha mãe.
Esta mensagem é inteligente e bem humorada e, por isso, aqui a destaco.