terça-feira, 30 de junho de 2020

As armas de Tancos e os nossos justiceiros


No dia 27 de Junho de 2017 foi detectado um furto de material de guerra do Exército Português que se encontrava nos paióis nacionais de Tancos, o que revelou graves falhas de segurança e de fiscalização nesta unidade militar.
As investigações foram iniciadas debaixo de muitas críticas à instituição militar e, em especial ao Exército, mas o assunto transformou-se num escândalo nacional quando o material de guerra apareceu num descampado e se descobriu que a Polícia Judiciária Militar tinha encenado a sua recuperação acidental com os assaltantes dos paióis. O Ministério Público tomou então conta do processo e, como tantas vezes faz, passou a produzir informação seleccionada para o exterior através da comunicação social, antecipando julgamentos e condenações na praça pública. Como havia um ministro eventualmente envolvido no caso, o Ministério Público tratou, uma vez mais, de mostrar o seu poder e a sua importância nacional ao passar para a opinião pública a ideia da culpabilidade do ministro e a quase absolvição dos assaltantes. A instrução do processo foi muito demorada e, naturalmente, custou muito dinheiro aos contribuintes portugueses. Quando, recentemente, interrogaram o primeiro-ministro e antigo ministro da Justiça sobre este assunto, este referiu-se com ironia ao caso dizendo que até parece que “o crime verdadeiramente grave não foi o roubo das armas, o crime verdadeiramente grave foi recuperar as armas”. Parece que os magistrados não gostaram desta declaração, segundo revela hoje o jornal i. É lá com eles. Eu gostei do que disse o nosso primeiro-ministro, até porque já me tinha parecido que o problema para o Ministério Público era o ministro e não os assaltantes, o que mais uma vez me faz ter dificuldade em suportar este tipo de justiceiros e desconfiar da justiça que querem fazer.

Angola e o desafio das longas distâncias


Angola é um país muito grande com cerca de 1.246.700 km2 de superfície e mais de 30 milhões de habitantes, que faz fronteira com quatro países. É o 22º maior país do mundo em território e a sua costa atlântica tem uma extensão de cerca de 1600 quilómetros, enquanto a distância entre Cabinda, lá bem no norte, e a comuna de Luiana, na província do Cuando-Cubango, é de cerca de 1765 quilómetros.
Nos tempos modernos, as longas distâncias em Angola só podem ser feitas por via aérea e, por isso, a companhia aérea nacional - TAAG -Transportes Aéreos Angolanos – serve 13 destinos domésticos, para além de 16 destinos internacionais, dispondo de uma frota de oito Boeing 777 e cinco Boeing 737. Porém, no início do corrente ano, para reforço das suas capacidades de resposta às necessidades internas, a TAAG anunciou a compra de seis aviões do modelo Dash 8 Q800 por 118 milhões de dólares à construtora canadiana Havilland Aircraft, que é propriedade da Bombardier Aerospace.
Esses aviões deverão ser entregues durante o corrente ano e o primeiro deles, baptizado como Kwanza, já chegou a Luanda, o que naturalmente despertou o interesse do Jornal de Angola por ser um sinal de progresso e de apoio às actividades económicas do país. Boas viagens!

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Já são 10 milhões de infectados no mundo


A imprensa portuguesa tem passado ao lado do noticiário sobre a situação da pandemia do covid-19 no mundo, limitando-se a publicar algumas notícias dispersas ou pontuais, enquanto o futebol e os seus negócios passaram a ocupar cada vez mais espaço nos jornais e, de forma exagerada, nas televisões. Hoje, o jornal Público lembrou-se de assinalar com um grande gráfico o número dez milhões, pois o número de casos positivos confirmados no mundo já atingiu 10.195.680, enquanto o número de óbitos já atingiu 502.802 casos. A pandemia está activa por todo o mundo e as medidas de desconfinamento adoptadas nos diferentes países para ajudar à retoma da economia não se têm mostrado consensuais, porque muitos as consideram prematuras, enquanto outros consideram que dão sinais errados às populações. Inesperadamente, porém, há países que tendem a manipular as suas estatísticas para daí retirar proveitos, sobretudo no que respeita à atracção do turismo.
Em Portugal estão confirmados 41.646 casos positivos dos quais 27.066 já foram considerados recuperados, enquanto já foram registados 1.564 óbitos. Depois de um período em que se instalou um generalizado optimismo com a melhoria consistente dos indicadores epidemiológicos, nas últimas quatro semanas verificou-se uma inversão da situação resultante do aparecimento de diversos surtos da pandemia na região de Lisboa.
Embora se ouçam demasiadas opiniões sobre a situação, o que nos parece é que teremos de viver muito mais tempo com este problema e que, mais do que as medidas tomadas ou a tomar pelas autoridades sanitárias, todos teremos de adoptar comportamentos mais responsáveis… até que apareça uma vacina.

sábado, 27 de junho de 2020

O calor e os riscos da corrida às praias

Numa altura em que aumentam os receios de estar a chegar uma segunda vaga da pandemia do covid-19, pelos preocupantes sinais que chegam dos Estados Unidos, da China, da Alemanha e de Portugal, mas também de muitos outros países, a notícia que mais impressionou o mundo foi a vaga de calor que assolou o Reino Unido e a corrida que muitos milhares de pessoas fizeram em direcção à beira-mar e, em especial, à praia de Bournemouth, situada na costa sudoeste da Inglaterra e a cerca de 170 quilómetros de Londres. 
Foi um caos, como escreveu o jornal londrino i, com as estradas de acesso à praia a congestionaram-se, as pessoas a acamparem um pouco por todo o lado e com o extenso areal coberto por milhares de pessoas que esqueceram o covid-19, bem como as recomendações das autoridades sanitárias quanto ao distanciamento social. A fotografia da enorme aglomeração de gente na praia de Bournemouth foi publicada em vários jornais internacionais e teme-se que este caso possa ter gerado novas infecções em cadeia. 
O Reino Unido já contabiliza quase 45 mil óbitos devido à pandemia, apenas sendo superado nesta triste estatística pelos Estados Unidos e pelo Brasil. Este caso é, por isso, um aviso para os países do sul da Europa e para a corrida às praias que naturalmente se vai intensificar nos dois meses que se aproximam, pelo que não basta que as autoridades tomem medidas preventivas, sendo muito necessário que os níveis de responsabilização social sejam assumidos pela população. Será que as televisões conseguem ter um pouco de imaginação e dar uma ajuda na sensibilização da população?

terça-feira, 23 de junho de 2020

Estaremos já na segunda vaga do covid-19?


Na sua edição de hoje, o jornal La Voz de Galicia escolheu para manchete os retrocessos que se estão a verificar na situação epidemiológica, na região de Huesca da comunidade autónoma de Aragão e… na região de Lisboa, o que fez com que algumas medidas de desconfinamento que já tinham sido adoptadas, tivessem sido revertidas. Esta situação parece corresponder a casos pontuais de contágios muito localizados, mas também pode significar que os sinais de uma segunda vaga da epidemia estão a chegar, pelo que as autoridades sanitárias pedem que a população tenha todos os cuidados. No caso da área metropolitana de Lisboa foi decidido intensificar o controlo e a vigilância policial, proibir as festas ilegais, as reuniões com mais de dez pessoas e passar a aplicar multas. ”Não podemos permitir que, por irresponsabilidade de alguns, deitemos pela borda fora o trabalho e o sacrifício que os portugueses fizeram nos últimos três meses”, disse o primeiro-ministro.
O facto é que a situação está para durar e nada, ou muito poucas coisas, vão ser como dantes. O covid-19 já deixou marcas profundas na sociedade portuguesa, não só com os 1.534 óbitos e quase quarenta mil infectados que provocou, mas também com a grave recessão económica, o crescente desemprego, o aumento da pobreza e a corrida à ajuda alimentar.
Alguns indivíduos que gostam de aparecer na televisão e que se julgam comentadores, parece que ainda não perceberam as dificuldades e as incertezas dos tempos que correm e desatam a criticar tudo o que é feito, em vez de terem um discurso pedagógico dirigido à população e de apoio a quem está na primeira linha deste duro combate. Irresponsavelmente! Porém, o que impressiona é o tempo e o espaço que as televisões dão a estes "treinadores de bancada". Já não posso ouvir esses marques-mendes que por aí andam.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

A pandemia no Brasil e nos outros países


A imprensa brasileira deu ontem um grande destaque ao facto da pandemia de covid-19 já ter ter causado mais de 50.000 óbitos e do número de infectados já ter ultrapassado um milhão de pessoas, o que faz do Brasil o país mais afectado do mundo, depois dos Estados Unidos. A situação ainda não mostra tendências consolidadas de atenuação e, na sua edição de ontem, o jornal Estado de S. Paulo presta homenagem aos 50.058 mortos, “ao luto e dor de milhares de famílias” e diz que “o país bate triste marca e tem escalada de casos”.
O primeiro caso foi detectado no dia 26 de Fevereiro no estado de S. Paulo e, desde então, o país já conheceu três ministros da Saúde (Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello), além de se ter confrontado com as famosas declarações de Jair Bolsonaro que classificou a pandemia como uma gripezinha ou um resfriadinho.
O Jair enganou-se e a pandemia é coisa séria. No entanto, se a preocupante situação brasileira for analisada quanto ao número de infectados e ao número de óbitos por milhão de habitantes, facilmente se conclui que muitos outros países apresentam piores resultados que o Brasil. Entre os países em que esses indicadores são piores do que no Brasil, estão os Estados Unidos e o Canadá, mas também a generalidade dos países europeus.
Na actualidade, as estatísticas são um importante instrumento de gestão, mas têm que ser usadas com seriedade e não podem servir para a manipulação da verdade. No caso da pandemia de covid-19, pela repercussão que têm na economia e em especial na indústria do turismo, começam a surgir muitas manipulações estatísticas, para além de haver diferentes níveis de realização de testes, em que os factores económicos tendem a sobrepor-se aos factores sanitários. Portanto, os brasileiros podem e devem estar preocupados com os seus números, mas desconfiem dos números dos outros.

domingo, 21 de junho de 2020

O Juneteenth e a luta contra o racismo


Celebrou-se anteontem por todo o território dos Estados Unidos o Juneteenth – contracção das palavras June e nineteenth – que também é chamado o Juneteenth Independence Day e que celebra o dia 19 de Junho de 1865, em que foi anunciada a proclamação da emancipação da escravatura no Texas e nos estados confederados do sul. 
A guerra civil americana (1861 a 1865) pusera frente a frente os Estados Unidos da América (a União) e onze estados do sul que formaram os Estados Confederados da América (a Confederação). Em 1863, durante a guerra, o presidente Abraham Lincoln emitiu uma proclamação de emancipação que declarou livres mais de três milhões de escravos que viviam nos estados confederados, mas essa proclamação só chegou ao Texas no dia 19 de Junho de 1865 quando as tropas da União entraram na cidade de Galveston. Os afro-americanos só então souberam que a escravidão fora abolida e os festejos começaram de imediato com orações, banquetes, música, canto e danças. No ano seguinte as festas para celebrar o fim da escravatura repetiram-se no Texas e essas celebrações foram-se alargando a outros estados e até a sítios fora dos Estados Unidos. Em 1980 o dia 19 de Junho tornou-se um feriado estadual no Texas e, neste ano de 2020 em que a luta contra o racismo tomou alargadas proporções, o governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, determinou que o Juneteenth também fosse um dia feriado para os funcionários públicos do seu estado, no que foi acompanhado por muitas empresas. No momento que a luta contra o racismo está na ordem do dia nos Estados Unidos e em muitos países europeus, o dia 19 de Junho tornou-se um instrumento de luta pelo fim do racismo.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

As viagens aéreas são agora uma aventura


As viagens aéreas estiveram canceladas durante cerca de três meses por causa da pandemia do covid-19 mas, lentamente, as companhias de aviação estão a retomar a sua actividade operacional, embora pareça que viajar nunca mais vai ser o que foi, como reconhece a última edição da revista alemã Der Spiegel.
O assunto não é novo. Depois do ataque realizado no dia 11 de Setembro de 2001 às Torres Gémeas de Nova Iorque pela organização fundamentalista islâmica al-Qaeda, as medidas de segurança adoptadas nos aeroportos já tinham retirado uma boa parte do gosto de viajar, pois os passageiros passaram a ser confrontados com demorados controlos, proibições e, por vezes, com a arrogância ameaçadora e autoritária dos agentes de segurança que olham cada passageiro como se fosse um traficante ou um fora da lei.
Agora, do ponto de vista do passageiro, a situação agravou-se porque para além dos aspectos de segurança em vigor, surgiu a necessidade de prevenir os riscos de contágio pelo covid-19, o que faz com que o eventual passageiro não saiba se terá voo e se terá a obrigação de provar que não está infectado. Mesmo que as coisas lhe corram bem e consiga entrar no avião, ainda fica sem saber se terá de ficar de quarentena no lugar de destino, nem quantos testes será obrigado a fazer. Significa que para viajar por via aérea vai ser necessário ultrapassar diversas barreiras que transformarão uma viagem num stressante exercício.
Viajar vai ser uma aventura diz o Der Spiegel e esse é apenas um dos sinais dos tempos e das mudanças que se estão desenhar, que vão tornar a nova vida bem diferente da que vivemos até agora.

terça-feira, 16 de junho de 2020

Marcelo, entre o esquece e o aborrece


Marcelo Rebelo de Sousa, que é o Presidente da República Portuguesa desde 9 de Março de 2016, deu ontem uma aula em directo na telescola e, com a sua larga experiência de professor e de comunicador saiu-se bem dessa lição, tendo agradecido a todos os que dão vida a este projecto pedagógico e lembrado aos alunos que estão a viver um momento único das suas vidas, em que uma pandemia está a paralisar o mundo. 
Foi uma lição, mas também foi uma mensagem de esperança e, por isso, a intervenção do Presidente da República, foi muito oportuna pois que se apresentou com a sua face institucional de presidente de todos os portugueses, mas também com o seu lado pessoal de inteligência, cosmopolitismo e modernidade.
Por uma breve meia hora o Presidente da República esqueceu a sua condição de candidato presidencial, de comentador televisivo e de figura que, por vezes, lembra o Venerando Chefe do Estado, em que fala de tudo a toda a hora e não resiste aos microfones dos jornalistas estagiários que ele próprio e os seus assessores naturalmente mobilizam para as suas constantes aparições, que as televisões depois repetem horas a fio. É uma campanha permanente de populismo e de porreirismo, cada dia mais insuportável até pelos seus simpatizantes, com reportagens sobre as suas idas à praia, às livrarias, aos supermercados e a outros locais onde é "surpreendido" pelos microfones e em que aproveita para falar de coisas em que era suposto não falar, incluindo questões da governação, futebol, festas e romarias. Tudo. É demais. Diz-se que “quem não aparece, esquece” e esse é, provavelmente, o princípio que faz correr Marcelo Rebelo de Sousa, a pensar na sua popularidade e na sua reeleição em Janeiro de 2021, mesmo que com muita abstenção. Porém, o ditado completo diz o seguinte:
Quem não aparece, esquece; mas quem muito aparece, tanto lembra que aborrece.

domingo, 14 de junho de 2020

António Guterres luta entre dois fogos


Não é costume que a fotografia do Secretário-Geral das Nações Unidas apareça nas primeiras páginas dos jornais, mas a edição de hoje do Tehran Times destaca António Guterres, criticando-o por estar alinhado com as posições dos Estados Unidos e da Arábia Saudita no que respeita às sanções decretadas contra o regime de Teerão. As consequências económicas dessas sanções adoptadas em 2006 pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para travar o programa nuclear iraniano e em especial o programa de enriquecimento de urânio, foram muito duras para o regime. Segundo refere o jornal, a Resolução nº 2231 (2015) do Conselho de Segurança das Nações Unidas de 20 de Julho de 2015, determinou o levantamento das sanções económicas e financeiras impostas ao Irão, na sequência das verificações feitas pela Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) relativas ao programa nuclear iraniano.
Porém, as Nações Unidas ficaram com a obrigação de monitorizar o programa nuclear iraniano, sendo essa avaliação objecto de um relatório preparado pelo Secretário-Geral das Nações Unidas e é esse relatório que as autoridades iranianas contestam e consideram defeituoso, pois na sua opinião dão cobertura às posições americanas e sauditas que pretendem impedir o levantamento das sanções contra o Irão e, em especial, manter as restrições à compra de armamento.
O assunto é antigo e complexo e daí que as Nações Unidas e o seu Secretário-Geral estejam “entre dois fogos”, em que cada um actua segundo os seus interesses e em que as Resoluções do Conselho de Segurança apenas são importantes quando servem os interesses e as estratégias de um ou outro lado.

sábado, 13 de junho de 2020

A ignorância que fomenta o vandalismo


A edição de hoje do jornal Daily Express destaca, tal como fazem outros jornais britânicos, a decisão das autoridades londrinas de entaipar a estátua de Winston Churchill para evitar a sua vandalização pelos verdadeiros bandos de ignorantes que, embora agitem a bandeira da luta contra o racismo, lançam a desordem nas ruas e destroem monumentos e estátuas.
Os monumentos e as estátuas, tal como a toponímia urbana, fazem parte da paisagem cultural das cidades e enaltecem pessoas ou situações que se destacaram em certos momentos históricos, mas que o processo contínuo de evolução da humanidade tem desvalorizado, ou mesmo, tem condenado. As grandes mudanças políticas e sociais são sempre acompanhadas por esses fenómenos de rejeição. Assim sucedeu com a Revolução Francesa que destruiu muitos símbolos do Ancien Régime, mas preservou o essencial do património construído; com a Alemanha que apagou a memória nazi das suas praças e ruas, mas não destruiu a obra arquitectónica que sobreviveu aos bombardeamentos aliados; com a Rússia bolchevique que se desfez apenas da parte menos artística da herança dos Romanoff; com a nova república portuguesa que retirou a coroa do escudo nacional e esqueceu por algum tempo os Braganças.
Significa que as mudanças políticas e sociais nunca apagam toda a História. Por isso, a onda anti-racista que está a atravessar a América e a Europa, embora tenha um fundamento justo, não deve exceder-se com exibições de ignorância e de fundamentalismo, que tendem a gerar efeitos opostos aos que pretendem. A destruição de monumentos e de estátuas não contribui para combater o racismo, embora esses símbolos possam ser um ponto de partida para uma discussão que possa alterar comportamentos. A vandalização das estátuas de Lincoln ou do Padre António Vieira só pode acontecer por ignorância e a ameaça que obrigou a entaipar a estátua do "homem que salvou a Grã-Bretanha" e o mundo da barbárie nazi é a expressão de um fundamentalismo intolerável que desconhece o que é a História.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Relações bem fortes entre Goa e Portugal


A notícia da demissão do ministro Mário Centeno e da indigitação de João Leão como o novo Ministro das Finanças de Portugal chegou rapidamente a Goa e o centenário jornal Herald destacou essa informação na sua primeira página, com uma notícia a quatro colunas e com uma fotografia do novo ministro. A publicação desta notícia não resulta de haver um interesse ou um acompanhamento regular da realidade portuguesa por parte da imprensa goesa, mas apenas do facto da promoção de João Leão fazer com que passe a haver três ministros de origem goesa no governo português. Trata-se de um acontecimento único no contexto da União Europeia e esse facto é um motivo de orgulho para os goeses, porque no contexto dos 28 estados federados que constituem a União Indiana, com diásporas espalhadas um pouco por todo o mundo, são muito raros os casos em que elementos de origem indiana entraram nos governos ou nos parlamentos dos países de acolhimento. No caso de Goa, durante os muitos anos em que a ligação a Portugal era desvalorizada e pouco recomendada pelas autoridades goesas, era localmente endeusado o deputado inglês Keith Vaz, de origem goesa, não sendo salientado que em Portugal sempre houve membros do governo e deputados de origem goesa.
O facto de passarem a haver três ministros de origem goesa em Portugal, incluindo o primeiro-ministro, tem um aspecto curioso. É que, embora sem que tenha qualquer relação com o que se passa com o governo português, também em Goa são cada vez mais intensos os sinais de aproximação cultural a Portugal. Quase sessenta anos depois da queda da Índia Portuguesa, as novas gerações de goeses começam a manifestar um interesse pela língua e pela cultura portuguesas que estão presentes nas suas raízes e são um elemento central da sua identidade, até porque a história da sua terra e dos seus antepassados está escrita em português. Significa, portanto, que Goa está na história de Portugal, da mesma forma que Portugal está na história de Goa.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

O derrube de estátuas não muda a História


O mundo está a atravessar tempos difíceis e o movimento de protesto contra o racismo e a violência policial, que explodiu nos Estados Unidos depois da brutal morte de George Floyd, está a expandir-se por outros países e uma das formas que vem assumindo é o derrube e a vandalização de estátuas, porque serão símbolos do imperialismo e do colonialismo.
A vandalização de estátuas não é um fenómeno novo, inclusivamente em Portugal, onde já foram vandalizadas estátuas de Pedro Álvares Cabral, do Padre António Vieira, do general Gomes da Costa e até de Eça de Queiroz, por activistas ou por vândalos que por vezes mostram um desconhecimento enviesado da História.
Na actual situação de protesto, o derrube da estátua de Edward Colston em Bristol, mas também a remoção das estátuas do rei Leopoldo II em Bruxelas e Antuérpia ou a vandalização da estátua de Cecil Rhodes em Oxford, têm sido os casos mais destacados pela imprensa, como exemplos do que tem sido chamado “a descolonização do espaço público”. Porém, nos Estados Unidos terão sido vandalizados dezenas de monumentos e estátuas, por vezes com absoluta irracionalidade como aconteceu em Washington com uma estátua de Lincoln, que foi o homem que acabou com a escravatura e que foi acusado de ser racista. Outro caso refere-se a Cristovão Colombo, o primeiro europeu que chegou ao Novo Mundo e que é celebrado em muitos países, mas que agora alguns grupos acusam de ter escravizado e assassinado povos indígenas. As suas estátuas estão a ser vandalizadas e, como hoje mostra na sua primeira página The Boston Globe, a estátua de Colombo em Boston foi decapitada. Pode ser vandalismo ou pode ser uma tentativa de emendar a História. Nem uma coisa nem outra se justificam.

Mário Centeno: aprovado com distinção

O ministro Mário Centeno demitiu-se ontem, depois de ter estado 1664 dias à frente do Ministério das Finanças, o que é um caso único em Portugal. Quando no dia 26 de Novembro de 2015 iniciou as suas funções no XXI Governo Constitucional, a credibilidade financeira externa portuguesa era péssima, com a notação de crédito da República classificada como
lixo pela famosa agência de rating Moody’s e com o governo sujeito ao chamado procedimento por défice excessivo. Dois anos depois, a competência e a reputação de Mário Centeno, bem como a imagem de responsabilidade orçamental que criou para o país, fizeram com que fosse eleito presidente do Eurogrupo. Os bancos europeus já tinham passado a recomendar a compra de dívida portuguesa e os juros baixaram substancialmente fazendo poupar muitos milhões de euros aos contribuintes portugueses. Um a um, os handicaps das finanças portuguesas foram sendo ultrapassados. Em 2019, pela primeira vez em quase cinquenta anos de democracia, as contas públicas fecharam com um saldo positivo e o Orçamento do Estado para 2020, aprovado antes da chegada do covid-19, previa um saldo novamente positivo.
Mário Centeno foi o rosto e o principal responsável por esta evolução. Ele é um dos raros portugueses que se doutorou na Harvard Business School da Universidade de Harvard, que é considerada a melhor escola de economia do mundo e é professor catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, que é considerada a melhor escola de economia de Portugal. O anúncio da sua saída do governo deu origem a rasgados elogios do Presidente da República e do Primeiro-Ministro, enquanto a sua saída da presidência do Eurogrupo suscitou uma série de reacções elogiosas na União Europeia. Ninguém tem dúvidas que a acção de Mário Centeno, a sua competència e as suas “contas certas”, foram decisivas para o verdadeiro milagre que tem sido a recuperação do prestígio financeiro português.
Não é costume fazer elogios de políticos neste espaço, até porque são muito poucos os que os merecem. A generalidade dos políticos não entende que são servidores públicos, fala do que sabe e do que não sabe, é pouco qualificada e não tem qualquer experiência profissional. Lamentavelmente, são alguns deles que não alinham no louvor geral à acção de Mário Centeno, que aqui justamente se aplaude.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Black Lives Matter: um cartaz e uma luta


A onda de manifestações de protesto contra o racismo que surgiu há treze dias nos Estados Unidos como reacção à morte de George Floyd, estendeu-se pelas cidades americanas e alastrou por todo o mundo como um autêntico tsunami, incluindo várias cidades portuguesas onde milhares de pessoas se manifestaram no passado fim-de-semana. Esses protestos estão a ser dinamizados pelo Black Lives Matter (As vidas negras importam), um movimento activista internacional nascido em 2013 na comunidade afro-americana e que luta contra a discriminação racial, a brutalidade policial e a desigualdade étnica.
A imprensa mundial tem noticiado a onda de indignação e as manifestações por vezes violentas, enquanto alguns jornais ingleses destacam hoje o que ontem se passou na cidade inglesa de Bristol.
No centro da cidade existia desde 1895 uma estátua de Edward Colston, um rico mercador que, sendo membro do Partido Conservador, chegou a ser deputado no Parlamento inglês em representação da cidade de Bristol. Essa estátua consagrava a acção filantrópica de Edward Colston e homenageava-o como grande benfeitor da sua cidade. Porém, desde 1990 que havia petições para que a estátua fosse removida, pois os recursos utilizados por Colston nas suas actividades de filantropia, eram uma cortina que escondia os fabulosos lucros que realizara no lucrativo tráfico de escravos em que se empenhara na segunda metade do século XVII.
O movimento de protesto em Bristol ultrapassou as petições e “fez justiça pelas suas próprias mãos”, isto é, a estátua foi removida e lançada ao mar, tendo a fotografia dessa acção sido publicada pelo The Guardian e por vários outros jornais.

sábado, 6 de junho de 2020

Trump, a onda de protesto e as eleições


Na sua edição de hoje a revista alemã Der Spiegel dedica a sua primeira página a Donald Trump com uma ilustração em que este aparece numa sala com um fósforo na mão, enquanto em segundo plano se observam chamas e grossos rolos de fumo. O título e o sub-título da revista, que traduzi com a ajuda do amigo Google, são Der Feuerteufel (O demónio do fogo) e Ein Präsident setzt sein Land in Brand (Um Presidente incendeia o seu país).
Os Estados Unidos foram atingidos como nenhum outro país pelo covid-19 e daí resultou uma grave crise económica e social, com o número de desempregados a ultrapassar os 40 milhões, a juntar a uma política incapaz de competir com a China e, a somar a isto, com a rádida degradação da imagem americana no mundo e com o desprestígio internacional do seu presidente. Foi nesse contexto de crise e de protesto que morreu George Floyd. O presidente Donald Trump revelou então a sua face mais provocatória e, em vez de apaziguar os ânimos, optou pela ameaça da intervenção dos militares. Porém, os militares não gostaram e, através dos militares na reserva que são os que podem falar, reagiram e condenaram as atitudes ameaçadoreas de Trump.
Donald Trump parece estar como o ministro da informação do Iraque, pois recusa-se a ver a realidade e opta por “incendiar a América”, amedrontando os americanos para aparecer depois como o seu salvador. Está obcecado com a sua reeleição e não percebe que está num plano inclinado, embora haja quem pense que a sua estratégia eleitoral é exactamente essa. Num recente texto publicado no Financial Times, é salientado que o desejo de Trump em ser reeleito resulta sobretudo dos seus medos porque, no caso de não reeleição, a sua Trump Organization poderá vir a sofrer muito nos tribunais e ele próprio até poderá ter que passar pela prisão.
As eleições presidenciais americanas realizar-se-ão no dia 3 de Novembro de 2020 e o novo presidente será eleito por um colégio eleitoral. Vai ser um dia muito importante para o mundo.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Victoria 500: um novo museu em Sevilha

Uma réplica da nau Victoria, que deu a volta ao mundo entre 1519 e 1522, já está atracada na cidade de Sevilha, junto da histórica Torre do Ouro, passando a constituir um museu flutuante que vai funcionar como um centro de interpretação da famosa viagem. O Diario de Sevilla apresenta na sua edição de hoje o novo museu que comemora os cinco séculos da viagem de Magalhães e Elcano e que pretende reivindicar Sevilha como “la capital mundial de los viajes”. A réplica foi construída nos estaleiros de Punta Umbria por encomenda da Fundación Nao Victoria e no projecto participaram o Ayuntamiento de Sevilla, a Consejería de Cultura de la Junta de Andalucía e outros patrocinadores privados, que se uniram para dotar a cidade de um equipamento cultural de grande visibilidade estética e que vai permitir melhorar a oferta cultural e turística da cidade.
Segundo refere o jornal, a construção da nau demorou 18 meses e nela participou uma equipa multidisciplinar de seis dezenas de pessoas, entre historiadores, engenheiros navais, carpinteiros, artesãos e outros trabalhadores das províncias de Sevilha e Huelva que ressuscitaram uma arte quase extinta na Andaluzia.
Neste mesmo fim-de-semana em que a nau Victoria abre as suas portas ao público, embora com as restrições inerentes à pandemia do covid-19, também o Museu Marítimo da Torre do Ouro, uma filial do Museu Naval que foi instalada em 1944 na imponente torre construída em 1221 durante a dominação árabe, reabre as suas portas. Esta simbólica oferta de um monumento árabe, de uma réplica da nau quinhentista que deu a volta ao mundo e de dois museus, valoriza as margens do rio Guadalquivir e tem um importante significado cultural e turístico. Provavelmente, apesar das obras de requalificação da orla ribeirinha do rio Tejo, nada disto está pensado para Lisboa. E é pena.

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Na América nada vai ser como dantes

A imagem em que o agente policial Derek Chauvin aparece com um joelho sobre o pescoço do cidadão afro-americano George Floyd voltou hoje a ser publicada em vários jornais da cidade de Nova Iorque, quando foi anunciado que três outros ex-polícias que assistiram à agressão e nada fizeram para evitar o que aconteceu no dia 25 de Maio, foram também acusados. Aqueles sete minutos de pressão sobre o pescoço de Floyd, quando este se encontrava algemado e deitado de bruços na estrada, sem que fosse atendido o seu aflitivo aviso de que não conseguia respirar, estão a deixar a América revoltada.
Na versão policial, George Floyd teria tentado trocar uma nota falsa de vinte dólares numa loja, mas quando interceptado pela polícia não terá oferecido resistência. O que o polícia Chauvin fez com a sua intervenção de desproporcionada violência, certamente não aconteceu porque ele tenha instintos assassinos, mas porque foi formatado para o uso da violência física em todas as circunstâncias e porque vive num ambiente político de violência verbal e de ameaça, que está sempre presente no discurso de Donald Trump e dos seus apoiantes. Como sempre acontece nestes casos, quem se vai tramar é o mexilhão, mas é preciso ver que este Chauvin e muitos outros que existirão na América e no mundo, são o resultado de práticas autocráticas, em que existe a violação grosseira dos direitos humanos e se mantém as desigualdades sociais, em paralelo com a pobreza e o racismo.  
A revolta social e a onda de protestos anti-racistas e contra a violência policial iniciaram-se em Minneapolis mas estenderam-se a muitos outros estados e cidades americanas. Provavelmente, nada será como dantes, porque a força das redes sociais é um dado novo nos tempos que correm e George Floyd pode ser uma bandeira. A imagem que hoje foi publicada pelo New York Post vai figurar ao lado das mais importantes fotografias da história dos Estados Unidos.

O regresso da louca pandemia do futebol

O futebol recomeçou ontem em Portugal e, de imediato, tornou-se o assunto mais importante para a imprensa e para a televisão, bem como para os jornalistas, os jornalistas estagiários, os incontáveis comentadores e toda a enorme tribo que vegeta à volta do futebol. O recomeço da actividade futebolística em Portugal até foi notícia internacional, com o famoso diário francês L’Équipe a destacar esse acontecimento em primeira página. Realmente, neste canto lusitano da Europa não se fala de outra coisa e a chamada comunicação social rende-se a esta situação que é culturalmente deplorável e que é um atentado à nossa inteligência colectiva, com a televisão a gastar boa parte do seu tempo a falar dos aspectos marginais do futebol. Assim vive o nosso país em que, diariamente, há tantos jornais desportivos ou de futebol, como jornais de informação geral.
O futebol domina e torna-se secundário noticiar sobre a gravidade da crise pandémica, a preocupante situação económica e social, o desemprego e a quebra nas exportações, a falência do turismo, a situação nas escolas, a falta de credibilidade da Justiça e em especial do Ministério Público, a solução para a TAP e as incertezas do amanhã. Pouco sabemos do que se passa em Timor, em Honk Kong ou em Nova Iorque. Como é possível que directores, editores, coordenadores e os gatekeepers, se acomodem a esta situação em que, todos os dias, assistimos à criação de notícias em torno dos pseudo-acontecimentos futebolísticos?
O futebol é um espectáculo popular onde se revêm as paixões clubistas dos portugueses e, por isso, deve ter o seu espaço, embora limitado aos noventa minutos de jogo e pouco mais. Mesmo os que, como eu, gostam de futebol, o que se está a passar é um escândalo e está a estupidificar o país. Não consigo arranjar outras palavras para definir esta situação. Um extra-terrestre que aterrasse em Portugal ficaria a pensar que os dez milhões de portugueses vivem do futebol.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Os jacarandás estão de volta a Lisboa


Os jacarandás começam a florir em Lisboa em meados de Maio e, quando se entra no mês de Junho, muitas praças e ruas da cidade cobrem-se de manchas floridas de um azul-lilás que nos enche a vista e nos descansa a alma. Muitas ruas são orladas de jacarandás que formam extensas manchas desse azul-lilás único, enquanto as suas pétalas caídas acrescentam ainda mais cor à paisagem urbana. 
A cidade de Lisboa, que ainda não recuperou a sua habitual dinâmica depois da invasão do covid-19, veste-se com as flores azuis-lilás e cobre-se com as pétalas dos jacarandás que formam tapetes floridos sobre as pedras das calçadas, que deslumbram, que parecem iluminar o ambiente e que nos recordam uma cidade que está despovoada de turistas e não tem o bulício dos últimos anos.
Algumas ruas são particularmente belas e eu recordo sempre a avenida D. Carlos I ou a praça do Campo Pequeno como dois dos melhores exemplos das ruas azuis-lilás da cidade, embora sejam cada vez mais os sítios em que têm sido plantados jacarandás, o que faz prever que dentro de poucos anos a cidade ganhará uma dimensão estética singular. Naturalmente, com os dias de sol que têm iluminado a cidade e com os jacarandás, os entusiastas da fotografia estão nas suas “sete quintas”. 

Diálogos com Picasso para ver em Málaga

Na passada segunda-feira o Museo Picasso Málaga inaugurou aquilo a que chamou a nova arrumação da sua colecção da obra de Picasso na sua exposição permanente e deu-lhe por título Diálogos com Picasso.
O jornal Málaga hoy apresenta hoje uma desenvolvida reportagem sobre a exposição que homenageia o mais famoso de todos os malagueños e, para ilustrar a capa dessa edição, escolheu a fotografia da tapeçaria encomendada em 1958 pelo museu, que reproduz o óleo sobre tela intitulado Les Demoiselles d'Avignon, que foi pintado em 1907 e que hoje pertence ao Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Segundo refere o jornal, a mostra “reúne 120 obras de um legado que compreende as 233 obras que constituem os fundos do Museo Picasso Málaga”, acrescidas de 162 obras cedidas pela Fundación Almine y Berrnard Ruiz-Picasso para el Arte (FABA), pelo que o visitante poderá observar 44 pinturas, 49 desenhos, 40 trabalhos gráficos, dez esculturas, 17 cerâmicas, uma tapeçaria e muitos trabalhos em linóleo. É muita coisa para ver. Nesses casos, o visitante por vezes perde-se e confunde-se com o excesso de informação, mas a direcção do museu afirma ter proposto uma exposição que satisfaça esteticamente o visitante e que permita que ele termine a visita com a sensação de “haber entendido a Picasso”.
De Lisboa a Málaga são 650 quilómetros e os Diálogos com Picasso estarão disponíveis até 2023. Sabe-se lá se, depois do covid-19, ainda me meto a caminho.

terça-feira, 2 de junho de 2020

O protesto chegou às cidades americanas

Muitas cidades americanas estão a passar por uma inesperada turbulência com dezenas de cidades a assistirem a manifestações pacíficas de protesto contra a violência policial e o racismo, mas também com tumultos e manifestações violentas, bloqueios de estradas, ataques a carros e esquadras da polícia, destruição de mobiliário urbano e assaltos e pilhagens a lojas nos centros das cidades. A morte de George Floyd agitou a América e gerou o protesto. Em muitas cidades foi decretado o recolher obrigatório e alguns governadores estaduais pediram a intervenção da guarda nacional, enquanto já terá havido mais de 1.400 pessoas detidas.
A situação desenvolve-se num contexto social muito preocupante devido ao desemprego que já se instalou na sociedade americana e, perante este quadro, o presidente Donald tem-se desdobrado em declarações agressivas, em insultos aos governadores estaduais e tem ameaçado com a intervenção das Forças Armadas.
As manifestações chegaram às portas da Casa Branca, uma coisa que não se via desde a guerra do Vietnam. O Donald assustou-se e refugiou-se no bunker que, supostamente, deveria abrigar o presidente em caso de ataque nuclear. Centenas de manifestantes gritaram em frente da Casa Branca em homenagem a George Floyd e gritaram palavras de ordem contra Trump, mas ele ameaçou-os com “os cães mais cruéis e as armas mais ameaçadoras que eu já vi”. A indignação e o protesto chegaram a todo o mundo e, nas suas edições de hoje, dezenas de jornais de toda a Europa, noticiam a grave crise por que passam os Estados Unidos e publicam a mesma fotografia dos manifestantes em frente Casa Branca, mas nenhum jornal português publicou essa fotografia, o que mostra que a imprensa portuguesa absolutamente desalinhada com a imprensa europeia.