domingo, 30 de agosto de 2020

A língua portuguesa é viva e renova-se


A língua portuguesa é uma das línguas mais faladas no mundo e não é muito importante saber qual a sua posição no ranking of the most spoken languages of the world. Este ranking é divulgado anualmente pelo Ethnologue, um centro científico de estudos linguísticos integrado na organização não-governamental SIL Internacional, fundada em 1934 e com sede em Dallas.
Sempre confiei no Ethnologue. Porém, entre as edições de 2019 e 2020, o Ethnologue parece ter sido infectado e, para mim, a sua credibilidade está sob suspeita. Então não é que, segundo o Ethnologue, em apenas um ano, o espanhol passou da segunda para a quarta posição e o português passou da sexta para a nona posição, enquanto o inglês passou da terceira para a primeira posição e o francês deu um monumental salto da décima-quinta para a quinta posição do ranking. Mesmo que tenha havido mudanças de critério no apuramento do número de falantes de cada língua, as enormes e tão rápidas alterações no ranking of the most spoken languages of the world descridibilizam o Ethnologue.
Tudo isto vem a propósito da edição de ontem do jornal angolano folha 8, cuja manchete de carácter político recorreu com grande criatividade a uma expressiva palavra que, embora existindo no vocabulário português, não é usada habitualmente. Diz-se que está a ficar mais pequeno, que está a encolher, que se está a reduzir, que está a diminuir ou que está a ficar menor, mas não é costume dizer-se que qualquer coisa esteja a apequenar-se.
Este é, portanto, um bom exemplo da riqueza de uma língua que se valoriza continuamente, quer pela criatividade popular ou de autores como Mia Couto ou José Eduardo Agualusa, mas também pela renovada utilização de palavras em vias de extinção, como parecia ser o apequenar-se.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

“Quiero irme del Barça” e a cidade tremeu


A imprensa espanhola e em especial a imprensa desportiva destacam hoje que Lionel Messi, após cerca de dezoito anos ao serviço do FC Barcelona, escreveu ontem um simples telefax dirigido à direcção do seu clube, solicitando unilateralmente o fim do seu contrato. A cidade de Barcelona tremeu como se fosse um sismo. Talvez que o grande artista da bola ainda esteja amuado com o que lhe aconteceu no Estádio da Luz onde o FC Bayern de Munique lhe aplicou oito golos ou, então, concluiu que é a altura de ir tratar da gestão das muitas toneladas de dinheiro que acumulou enquanto jogava à bola.
O jogador pouco mais disse do que “quiero irme del Barça” e o mundo ficou sem saber o que é que realmente lhe vai na alma, enquanto os dirigentes do seu clube ficaram em estado de choque por estarem em vias de perder a sua estrela, mas também os milhões que a sua transferência poderia render. Não se sabe se Messi foi assediado por dinheiro árabe ou chinês ou até se tem propostas de trabalho do Paços de Ferreira ou do Moreirense, mas o facto é que os jornais espanhóis e latino-americanos deram um enorme destaque à decisão de Lionel Messi, porque ele tem sido um excepcional artista da bola e um ícone da cidade de Barcelona e até da Catalunha, que se encontra no mesmo patamar de notoriedade e fama que atingiram Pelé, Maradona e Ronaldo.
No mundo comunicacional em que vivemos, este telefax de Lionel Messi foi pensado pelos seus advogados. Não foi um impulso e, por isso, esconde qualquer coisa e só pode ser uma artimanha ou uma peça de uma estratégia de trampolim para outros passos que, naturalmente, já estão negociados. Vamos a ver o que vai acontecer para esclarecer este mistério ou mais esta negociata do mundo do futebol. Alguém está a querer comprar o nome do jogador, apenas o nome, porque a marca Messi potencia muitos outros negócios. 

terça-feira, 25 de agosto de 2020

À volta do mundo, apesar do covid-19


O navio-escola Juan Sebastián de Elcano largou ontem de La Carraca, a base e estaleiro da Marinha Espanhola que se localiza em San Fernando, nos arredores de Cádiz, para iniciar o seu 93º cruzeiro de instrução de cadetes, que servirá também para comemorar o 5º Centenário da primeira volta ao mundo iniciada por Magalhães e concluída por Elcano.
Será uma viagem de cerca de onze meses, em que “a embaixada flutuante” dos espanhóis navegará por todos os oceanos e procurará reconstituir a viagem realizada entre 1519 e 1522 e em que se espera que visite, entre outros lugares, o porto de Montevideu, a baía de San Julián (Argentina), a cidade de Punta Arenas (Chile), o estreito de Magalhães, as ilhas Guam, as ilhas Filipinas, as ilhas Molucas e a Indonésia.
A bordo seguem 172 tripulantes e a largada do navio foi motivo de reportagem para os jornais gaditanos que publicaram fotografias da partida, embora considerassem que se tratava de “el viaje más incierto” ou “su viaje más atípico”, uma vez que há uma grande incerteza relativamente à evolução da pandemia do covid-19, não só a bordo do navio, mas também nos portos que espera escalar para se reabastecer ou para participar em actos comemorativos se, entretanto, os movimentos anti-coloniais não enveredarem por manifestações anti-espanholas nos pontos de passagem. Além disso, é natural que os tripulantes do Elcano não possam sair do navio e que não sejam permitidas visitas a bordo, o que parece tornar esta viagem um caso de extrema teimosia para celebrar aquilo que alguns sectores espanhóis não se cansam de reclamar, isto é, “a plena y exclusiva hispañolidad” da primeira volta ao mundo.
Bem avisadas estiveram as autoridades portuguesas e as chefias da Marinha quando em Março deste ano cancelaram a viagem de volta ao mundo que o navio-escola Sagres tinha iniciado, porque a situação pandémica a isso obrigou.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Donald Trump poderá vir a ser reeleito?


Depois da Convenção Democrata que escolheu Joe Biden como o seu candidato às eleições presidenciais americanas de 3 de Novembro, é agora a vez da Convenção Republicana escolher o seu candidato que será Donald Trump.
A generalidade da imprensa americana não é neutra nas campanhas eleitorais e está alinhada com um ou outro candidato, embora esse alinhamento seja quase sempre discreto e subtil. Hoje, o jornal nova-iorquino Daily News caricaturou Donald Trump apresentando-o como um showman, um entertainer, um demagogo ou mesmo um palhaço de circo, ao mesmo tempo que revela alguns dos seus apoiantes que são figuras desconhecidas ou de segundo plano na sociedade americana. O Donald não apresenta um programa eleitoral e os extractos dos seus discursos que nos vão chegando são centradas em ataques pessoais ao seu adversário, na agitação de fantasmas e em ameaças quanto ao futuro dos americanos para o caso de não ser eleito. Durante quatro anos usou a mentira, a arrogância e o narcisismo, mas uma parte da América gostou disso.
Hoje, também o diário USA Today, que é o jornal de maior circulação nos Estados Unidos, apresentou os resultados de uma sondagem que revela que a maioria dos americanos não acredita que Donald Trump aceite uma derrota eleitoral, isto é, há 25% de americanos que acham que ele aceitará a derrota, mas há 52% que consideram que ele não aceitará a derrota e 24% que não estão seguros de que ele aceite a derrota.
A suspeita de que este golpe trumpiano pudesse acontecer já tinha sido avançada, mas agora ela confirma-se através desta sondagem hoje publicada.

Nasceu um novo campeão português


O Grande Prémio de Estíria em motociclismo, realizou-se ontem em Spielberg, na Áustria e teve um vencedor inesperado chamado Miguel Oliveira.
Foi a primeira vitória deste piloto português que até agora apenas tinha conseguido um 6º lugar em Brno, na República Checa, como o seu melhor resultado na MotoGP World Championship, mas também foi a primeira vitória da Tech 3, a sua equipa que em mais de trinta anos de corridas nunca tinha ganho uma prova num campeonato dominado pelas Hondas e Yamahas e por pilotos italianos, ingleses, americanos e espanhóis. Ontem, na última curva da corrida e quando seguia em terceiro lugar, Miguel Oliveira conseguiu ultrapassar os concorrentes australiano e espanhol que seguiam na sua frente e vencer, numa prestação de grande competência, em que foram reconhecidas a perícia e a inteligência com que conduziu a sua prova.
A euforia de Miguel Oliveira por esta inédita vitória portuguesa “na Fórmula 1 do motociclismo” foi natural e a bandeira portuguesa que segurou com emoção foi vista nos telejornais do mundo inteiro, ao mesmo tempo em que agradecia aos amigos e aos que o apoiaram e afirmava que os portugueses eram os melhores, o que só se aceita numa situação daquelas.
Embora eu não seja entendido nos desportos motorizados, associo-me às saudações que estão a ser dirigidas a Miguel Oliveira que, segundo está a ser anunciado, já entra em provas de motociclismo desde os nove anos de idade. É mesmo um campeão e até o jornal A Bola se esqueceu das suas manchetes sobre as negociatas das transferências dos jogadores de futebol para homenagear este piloto português.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

É a hora: Joe Biden for President 2020


No contexto das eleições presidenciais americanas chegou ao fim a Convenção Democrática que escolheu o senador Joe Biden como o seu candidato para enfrentar Donald Trump no próximo dia 3 de Novembro. A convenção decorreu num ambiente de grande unidade e as intervenções das principais figuras do Partido Democrata, incluindo os anteriores presidentes Bill Clinton e Barack Obama, bem como das suas mulheres, foram devastadoras para o actual presidente que de imediato reagiu, a mostrar que está inquieto e nervoso com a força, a determinação e a serenidade que a candidatura de Joe Biden e Kamala Harris está a mostrar.
As eleições americanas são importantes para os Estados Unidos, mas também são muito importantes para o mundo, pois trata-se da escolha da pessoa que vai dirigir o maior complexo militar-industrial e a maior economia do nosso planeta, num tempo em que se acentuam os desafios da instabilidade regional, da conflitualidade étnico-religiosa, das alterações climáticas, da desigualdade e da pobreza e, até, da sobrevivência humana.
As novas plataformas de comunicação que Donald Trump tem utilizado em larga escala durante o seu mandato para se promover e justificar os enormes erros que tem cometido, quer na ordem interna quer na ordem internacional, vão certamente continuar a ser usadas para difundir fake news e para criar uma imagem presidencial que, de facto, distorce um retrato de ignorância, de insensibilidade e de autoritarismo do homem que se instalou na Casa Branca e de onde não quer sair.
A pandemia do covid-19, a recessão económica, o desemprego e a crise social que lhe estão associados, devem ter gorado todas as hipóteses do Donald continuar na Casa Branca… mas como dizia um famoso jogador de futebol, “prognósticos só no fim do jogo”.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Aproximam-se as eleições americanas


As eleições presidenciais americanas que se vão realizar no dia 3 de Novembro entraram na sua recta final com a realização da Convenção Democrata que confirmou a nomeação do ex-vice-presidente Joe Biden como o seu candidato contra Donald Trump e aprovou para a vice-presidência a senadora Kamala Devi Harris, a antiga procuradora-geral da Califórnia. A escolha da senadora Harris gerou uma onda de entusiasmo nas hostes democratas pelo efeito que esperam venha a ter no voto das mulheres e das comunidades de origem latino-americana, africana e asiática, tendo tido grande impacto nos media americanos como se pode observar na edição de hoje do The Washington Post.
De acordo com as mais recentes sondagens o candidato Joe Biden tem cerca de 50% das intenções de voto, enquanto Trump está com 42%, mas estes indicadores não são suficientes para prever o resultado final. Nas eleições de 2016 a senadora Hillary Clinton liderou as sondagens e teve cerca de três milhões de votos a mais do que Trump, mas perdeu porque o sistema americano é indirecto, isto é, cada estado elege os delegados em função da sua dimensão populacional e são esses delegados que vão constituir o colégio eleitoral de 538 membros que se reunirá no dia 14 de Dezembro para eleger oficialmente o presidente e o vice-presidente. O vencedor precisa, portanto, de 270 delegados para vencer.
O candidato mais votado em cada estado fica com todos os delegados e apenas nos pequenos estados do Maine e do Nebraska os delegados são escolhidos proporcionalmente aos votos recolhidos pelos candidatos. Nestas condições, são determinantes os votos nos estados decisivos, conhecidos por battleground states, casos da California (55 delegados), Texas (38 delegados), Florida e Nova Iorque (29 delegados cada), enquanto os três delegados escolhidos em Montana, Delaware, Wyoming e Vermont são muito menos importantes para o resultado final.
Faltam 74 dias para que os americanos votem.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

A era do plástico e os males dos oceanos


A proliferação de plásticos e de outros detritos nos oceanos começa a preocupar seriamente a Humanidade e, na sua edição de hoje, o jornal Público publica uma fotografia de uma praia do Haiti coberta de plásticos e de outros lixos, salientando que “pode haver dez vezes mais plástico no Atlântico do que se pensava”. O problema vem sendo tratado desde há alguns anos, depois de terem sido identificadas algumas “ilhas” gigantescas de lixo em todos os oceanos e, em especial, no mar Mediterrâneo, mas também no facto de muitas áreas costeiras registarem grandes acumulações de lixo, constituído sobretudo por materiais plásticos, sobretudo garrafas, cordas e sacos de nylon, bóias, cadeiras e embalagens.
Esses materiais concentram-se por efeito das correntes marítimas, mas calcula-se que esse lixo represente apenas 1% daquilo que já foi depositado nos oceanos ao longo dos anos e que, a outra parte, está ignorada ou até degradada, possivelmente no fundo dos mares. O processo de degradação do lixo plástico é muito lento, mas com o tempo e a acção da movimentação das águas, os plásticos vão-se transformando em pedaços cada vez mais pequenos, até atingirem dimensões minúsculas e quase indetectáveis, sob a forma de microplásticos que, actualmente, são objecto de estudo para conhecer os seus efeitos sobre a vida marinha e, indirectamente, sobre a vida humana.
Estas situações constituem verdadeiras catástrofes ambientais e estão a afectar seriamente a vida no nosso planeta, o que está a despertar o interesse da comunidade científica e das autoridades dos países marítimos, embora haja quem pergunte se ainda vamos a tempo de evitar males maiores na degradação dos oceanos e da vida marinha.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Grande naufrágio e catástrofe ambiental


A ilha Maurícia, a ilha Rodrigues e outras ilhas menores como Agalega, situam-se no oceano Índico a cerca de 2000 quilómetros da costa de Moçambique e constituem um país insular com o nome de República das Maurícias. A toponímia local revela a passagem dos portugueses por aquelas ilhas, maas foram os holandeses, os franceses e os ingleses que as exploraram, até que em 1968 alcançaram a independência.
Hoje a República das Maurícias é um país próspero com cerca de 1,3 milhões de habitantes multiétnicos, com influências culturais indianas, europeias e africanas, tendo o turismo como a principal alavanca da sua economia.
No passado dia 25 de Julho o superpetroleiro japonês MV Wakashio encalhou nos recifes que orlam a ilha Maurícia, num parque marinho protegido que tem recifes de coral e espécies em vias de extinção, tendo esse facto sido considerado uma catástrofe. As autoridades declararam o estado de emergência e foi pedida ajuda internacional para atenuar as graves consequências para o país e para o seu turismo. Depois de duas semanas de luta para evitar um desastre ambiental em que participaram milhares de estudantes, activistas ambientais e muita população, no passado sábado o navio partiu-se em duas partes e foram libertadas toneladas de petróleo no oceano Índico. A bela ilha Maurícia corre sérios riscos de perder o seu estatuto de paraíso natural e de destino turístico de excelência.
O MV Wakashio foi construído em 2007, desloca 203.000 toneladas, tem 300 metros de comprimento e navegava da China para o Brasil, tendo encalhado a cerca de uma milha de terra, quando se esperava que estivesse a uma distância entre 10 e 20 milhas de terra. Nesta altura decorre uma investigação para perceber como foi possível, num tempo de tantas tecnologias de apoio à segurança da navegação, que este desastre tivesse acontecido. O jornal Finantial Times e outros publicaram nas suas edições de hoje a fotografia do MV Wakashio e do reef disaster.

domingo, 16 de agosto de 2020

Marcelo, o presidente nadador-salvador…


A campanha eleitoral para a reeleição do ex-comentador político e professor de Direito já começou há muito tempo, mas neste Verão tem-se acelerado de tal forma que aqueles que, como eu, entendem que temos tido um bom Presidente, que até fez esquecer o outro que veio de Boliqueime, já estão fartos da verdadeira farsa em que se está a tornar a campanha quotidiana do cidadão Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, que tem sido anunciada como as férias do Senhor Presidente ou como uma ajuda à promoção do turismo interno. É uma encenação cansativa vê-lo sempre rodeado de microfones a dar lições onde quer que esteja e, naturalmente, imaginá-lo a ser vigiado por seguranças escondidos e discretamente acompanhado por alguns dos seus assessores. Só um excesso de vaidade pode justificar que um homem culto e inteligente tenha esta febre de aparecer, de ser visto, de dar opiniões e de encher as televisões o dia inteiro, com ou sem máscara, na praia ou na cidade, de manhã ou à tarde, dando lições e opiniões sobre tudo. É um sufoco de marcelite e o que sufoca, também irrita.
Depois do convívio com os sem-abrigo e da ajuda que deu nas cozinhas que preparam refeições para os pobres, eu pensava que o ponto máximo do ridículo tinha sido atingido com as férias na ilha de Porto Santo. Porém, a cena de ontem na praia do Alvor ultrapassou tudo o que se podia imaginar, não só com a ajuda que deu a duas jovens banhistas como se fosse um salvamento, mas também com a espera táctica que foi feita pela moto de água que estava no local para que o espontâneo nadador-salvador pudesse intervir e ser filmado. O caso podia ter ficado por aí, mas o herói do momento aproveitou a ocasional presença dos microfones para explicar e dar lições oceanográficas a quem se estava a divertir no mar, sem rejeitar o seu papel decisivo naquela corajosa intervenção. Se uma cena destas fosse preparada não resultaria melhor. Se eu pudesse dar um conselho diria ao cidadão Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa que sossegasse e que descansasse, porque dessa forma terá mais votos quando chegarem as eleições. Não faria como a TVI24 que quase lhe sugeriu que se candidatasse ao Instituto de Socorros a Náufragos em vez de se recandidatar ao seu actual cargo.

sábado, 15 de agosto de 2020

Máscaras: protecção e acessório de moda


A revista alemã Der Spiegel dedicou a primeira página da sua última edição ao acontecimento a que chama o drama das máscaras, que diz serem irritantes e odiadas, mas que ainda são a única esperança para evitar que a pandemia do covid-19 alastre e que aumente o número de pessoas contagiadas.
No momento actual o surto pandémico parece estar num período indefinido um pouco por toda a parte, porque se verificam sinais contraditórios, uns que mostram que o surto está estabilizado ou mesmo em retrocesso, enquanto outros mostram algum agravamento ou que já estaremos perante uma segunda vaga, o que bem preocupa as autoridades. Sem o aparecimento de uma vacina eficaz, apesar da verdadeira corrida que se verifica entre países e laboratórios rivais como se essa descoberta científica fosse um caso de prestígio e não um contributo para a saúde da humanidade, as medidas que têm sido adoptadas desde o início da pandemia – distanciamento social, lavagem das mãos e uso de máscaras – continuam a ser as mais recomendadas.
A recomendação para o uso de máscaras tem-se intensificado e tem sido acolhida pelas populações, dando origem a uma postura revelada pela primeira página do Der Spiegel, que mostra a panóplia de máscaras que as pessoas usam para se protegerem do contágio.
Porém, no caso português e provavelmente mundial, as máscaras estão a tornar-se num novo e decorativo acessório de moda, algumas vezes assinadas por fashion designers que as concebem e produzem para todos os gostos e, algumas vezes, as vendem por preços exorbitantes. Além disso, as máscaras também estão a transformar-se num suporte publicitário com as mais diversas cores, decorações e mensagens, incluindo emblemas desportivos, logotipos empresariais, símbolos de marcas comerciais, promoção de poderes autárquicos, entre outras mensagens, isto é, protegem, decoram e ainda informam o espaço público. Ainda havemos de ver máscaras MRS ou máscaras CR7…

terça-feira, 11 de agosto de 2020

As estrelas do futebol jogam em Lisboa


Amanhã inicia-se em Lisboa a fase final da Liga dos Campeões da UEFA, em que participam oito equipas – PSG e Lyon (França), Barcelona e Atlético de Madrid (Espanha), Bayern e RB Leipzig (Alemanha), Manchester City (Inglaterra) e Atalanta (Itália). Este modelo de juntar numa mesma cidade as oito equipas que chegaram aos quartos de final é uma novidade que resultou da pandemia do covid-19, mas os jogos a realizar não terão a presença de público. 
A prova é um dos principais acontecimentos desportivos do mundo e, por isso, a atenção mediático-desportiva de meio mundo vai estar concentrada na capital portuguesa, onde estará presente a nata do futebol europeu e mundial, mas onde faltarão as equipas do Real Madrid, do Liverpool e da Juventus. Das oito equipas presentes apenas o Barcelona e o Bayern podem repetir um triunfo, o que significa que seis destas equipas nunca ganharam a cobiçada Champions.
Não há nenhuma equipa portuguesa neste quadro, o que parece mostrar que o título de Campeões da Europa de selecções ganho em 2016 foi um acaso ou então que os bons jogadores portugueses emigraram e deixaram os seus lugares a jogadores de segunda categoria. Porém, segundo diz hoje um jornal desportivo, há cinco futebolistas portugueses que podem levantar a taça.
Hoje o jornal francês L’Équipe destaca na sua primeira página uma imaginativa fotomontagem em que os descobridores portugueses do Padrão dos Descobrimentos, em Belém, são substituídos pelos conquérants ou estrelas do mundo do futebol que vão estar em Lisboa, com Messi, Neymar e Lewandowski, mas também com Bernardo Silva e João Félix, entre outros.
Lamentavelmente, estes jogos não serão transmitidos em sinal aberto e, por isso, nós que com os nossos impostos pagamos boa parte dos estádios, só podemos ver os jogos se pagarmos aos canais temáticos. Não é nada justo, nem aceitável. Foi uma pena que, nem a FPF nem o Governo, não se tivessem lembrado disso porque, em tempo de confinamento mais ou menos severo, sempre animava os portugueses.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

A pandemia ameaça a reeleição do Donald


A revista Time é a revista semanal de notícias de maior circulação no mundo e calcula-se que, só nos Estados Unidos, tenha um público de 20 milhões de pessoas, pelo que os temas ou personalidades que destaca nas suas capas têm quase sempre um grande impacto. Na capa da edição que agora circula foi escolhida uma ilustração na qual Donald Trump flutua num campo de minas de covid-19, procurando nadar até à Casa Branca que, como se vê na ilustração, ainda está longe. Com as eleições presidenciais no horizonte próximo, o assunto é importante não só para os Estados Unidos, mas também para o mundo.
Actualmente, estão registados nos Estados Unidos mais de cinco milhões de pessoas contagiadas e 164.773 óbitos por covid-19, o que representa cerca de 20% do total mundial, não havendo sinais claros de que a pandemia esteja a ser controlada. Apesar das constantes declarações optimistas mas fantasiosas de Donald Trump, a preocupação dos americanos é enorme e, quando faltam apenas 85 dias para as eleições presidenciais, parece ganhar força a ideia de que Donald Trump não vai conseguir safar-se do campo de minas em que está metido e que sempre procurou desvalorizar. A sua reeleição parece comprometida pela insensatez e ignorância dos seus comportamentos internos e pela incoerência da política internacional que tem prosseguido mas, antevendo esse resultado, o Donald já admitiu adiar as eleições presidenciais para mais tarde, o que seria um caso único na história dos Estados Unidos.

domingo, 9 de agosto de 2020

O luto do Brasil e a solidariedade lusa


O número de vítimas provocadas pelo covid-19 no Brasil atingiu o impressionante número de 100.543 óbitos, apenas superado pelos Estados Unidos e o país está de luto, como sugere a capa da edição de hoje do jornal carioca Extra. Em Portugal ninguém fica indiferente a esta calamidade porque muitos portugueses têm familiares e amigos no Brasil e conhecem por via directa as angústias de quem vive sob a ameaça de poder ser contagiado. Portanto, as preocupações e as incertezas quanto ao futuro não são apenas brasileiras, mas também são portuguesas.
O primeiro óbito por covid-19 aconteceu no dia 25 de Fevereiro e, desde então, não há sinais de retrocesso quanto ao alastramento da pandemia, nem quanto às medidas sanitárias ou de confinamento que deveriam ter sido tomadas para tentar travar a pandemia. Jair Bolsonaro, o incapaz que enganou os brasileiros e chegou a presidente do Brasil, depois do golpe político-judicial que liquidou Dilma Rousseff e Lula da Silva, tem sido um dos responsáveis pela grave situação que assola o país e há vozes que já o acusam de genocídio. Um mês depois de ter acontecido o primeiro óbito no Brasil, essa figura caricata que é Jair Bolsonaro invocou o seu “histórico de atleta” e afirmou que não se preocuparia com “uma gripezinha ou resfriadinho”, para além de repetidamente ridicularizar as recomendações de distanciamento social e de criticar os governadores estaduais pelas medidas adoptadas. Depois, nunca foi capaz de se retratar dessas afirmações e usou e abusou de comportamentos censuráveis sob o ponto de vista sanitário. O Jair é um verdadeiro desastre político e é altamente responsável pela situação dolorosa que se vive no Brasil. Porém, daqui deste lado do Atlântico, não somos indiferentes a essa dor e a essa angústia.

sábado, 8 de agosto de 2020

As férias do venerando Chefe do Estado


O venerando Chefe do Estado decidiu fazer uns dias de férias e fez muito bem, mas as coisas não correram como desejava e, certamente, regressou mais cansado do que quando partiu. Então não é que os órgãos de comunicação social adivinharam esta deslocação de Marcelo Rebelo de Sousa e até estavam à sua espera em Porto Santo, perseguindo-o desde que desceu do avião com o seu trolley a reboque, até apanhar um táxi e, como se viu nas imagens, sem seguranças, assessores ou equipas médicas? 
O venerando Chefe do Estado deve ter pensado que estaria sossegado na bela praia de Porto Santo a ler um livro e a ver o mar, mas os mesmos órgãos de comunicação social adivinharam o local exacto daqueles nove quilómetros de areal onde ele se foi banhar e a hora exacta em que ia mergulhar, tratando de o importunar com as perguntas do costume. O cidadão Marcelo Rebelo de Sousa podia ter-se dispensado de responder àquela bateria de microfones e câmaras que o incomodaram na praia quando estava de férias mas, “a bem da nação” acedeu, até porque as televisões precisavam daquelas imagens para encher os seus telejornais com os habituais comentários do antigo comentador televisivo, que fala sobre tudo o que deve e o que não deve.  
Naturalmente, o povo apareceu para saudar o venerando Chefe do Estado que, mesmo com máscara anti-covid, alinhou nas selfies do costume, como mostrou a edição do Jornal da Madeira em primeira página, o que lhe permite acrescentar pontos à sua candidatura para entrar no Guinness Book of World Records, como o homem que mais selfies despacha por onde quer que apareça.
Para além destes incómodos que certamente perturbaram as férias do senhor Presidente, ainda há quem diga que isto são desnecessárias exibições de populismo ou peças eleitorais de uma campanha presidencial que se aproxima.
Honi soit qui mal y pense!

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

A gigantesca tragédia ocorrida em Beirute


A violência da explosão que ontem devastou a zona portuária de Beirute foi captada em impressionantes imagens que as televisões mostraram e que lembraram os ataques atómicos feitos em Agosto de 1945 às cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Quando hoje se evoca o 75º aniversário da bomba de Hiroshima, a tragédia de Beirute serviu para que muitos países se unissem em solidariedade com o Líbano e para que o mundo pudesse ver os horrores das grandes catástrofes, quer sejam provocadas por acção do homem, quer resultem de causas naturais.
Porém, se os fenómenos naturais – sismos, vulcões, furacões, inundações, tsunamis e outras fatalidades – raramente são previsíveis e não dependem da intervenção humana, outro tanto não acontece, quer na guerra quer na paz, com as catástrofes que resultam da actividade do homem, das suas acções terroristas ou, ainda, dos seus erros e das suas negligências.
Numa rápida análise podemos evocar algumas catástrofes mais recentes que foram atribuídas à negligência do homem e, por vezes, associadas à sua ganância económica ou ao desprezo pelas normas ambientais. Os exemplos porventura mais conhecidos serão o desastre ocorrido em 1984 numa fábrica de pesticidas na cidade indiana de Bhopal, o acidente ocorrido em 1986 com um reactor nuclear na cidade ucraniana de Chernobyl ou, ainda, o rompimento das barragens brasileiras de Mariana em 2015 e do Brumadinho em 2019.
O desastre de Beirute, ao que se sabe até agora, resultou da forma negligente como estavam armazenadas nas instalações portuárias cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amónio, que explodiram. A explosão foi verdadeiramente arrepiante e os seus efeitos foram devastadores. Espera-se que ao menos tenha servido para moderar as decisões dos mais poderosos líderes mundiais no sentido de acabar com as guerras. Hoje, a imprensa mundial solidariza-se com o povo libanês e com os habitantes de Beirute, que têm sido vítimas de tantas calamidades nos últimos anos.

terça-feira, 4 de agosto de 2020

O jornal do homem que vai "arrasar"


Ninguém tem dúvidas que a comunicação social portuguesa atravessa uma grave crise de ausência de qualidade e de credibilidade. Ler jornais ou ver televisão é um exercício doloroso para o leitor ou para o telespectador, que são confrontados com uma informação sensacionalista e até inverdadeira, desproporcionada, repetitiva, desinteressante, servindo interesses particulares e que, por vezes, é escandalosamente mentirosa. Naturalmente, há algumas excepções mas isso são raridades, porque ab initio os meios de comunicação estão alinhados com interesses, mais ou menos escondidos, além de lutarem pelas audiências e pelo bolo publicitário.
Numa altura em que muita coisa importante acontece e em que há uma grande incerteza no mundo, a futebolite voltou a tomar conta da nossa comunicação social, não para assinalar qualquer acontecimento desportivo relevante, mas apenas para promover a chegada de um treinador de futebol arvorado em messias e da sua enervante vaidade pessoal. A cobertura mediática deste vulgar episódio, que até talvez merecesse uma notícia de rodapé numa página par do jornal, foi intensiva e extensiva, transformando-se numa acção de propaganda que teve a cumplicidade dos jornais e das televisões. Nem A Bola resistiu a esta loucura mediática.   
Durante muitos anos, o prestígio de Cândido de Oliveira fez daquele jornal uma referência da imprensa desportiva e o jornal português de maior difusão. Era considerado como a bíblia do futebol e as suas edições chegavam a todo o mundo, parecendo que por vezes até serviam para que os leitores aprendessem português. Porém, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, como escreveu Camões. Esquecendo aquilo a que o próprio jornal no domingo chamou “domínio azul”, tratou de se submeter servilmente à onda mediática dominante e assumir-se como porta-voz de um homem que é treinador de futebol e que nem sequer é benfiquista, destacando-lhe os seus disparatados dislates como aquele “vamos arrasar”. Qual é a seriedade de A Bola, agora escandalosamente alinhada com um treinador que promete arrasar? Arrasar o quê ou arrasar quem? Os benfiquistas que se cuidem porque, mesmo com os favores que A Bola faz a este treinador, cuja arrogância faz lembrar uma espécie de Trump ou de Bolsonaro do futebol, vão ter uma caminhada difícil pela frente. Ou será que acreditam neste malabarista e nesta orquestração?

sábado, 1 de agosto de 2020

O brutal colapso das economias europeias


Começaram a conhecer-se os desempenhos económicos da maioria dos países e o jornal espanhol ABC tratou hoje de publicar na primeira página da sua edição um gráfico que representa as quebras do PIB em alguns países, entre os quais os do sul da Europa.
Assim, o gráfico mostra que no 2º trimestre de 2020, em relação ao trimestre anterior, o produto nacional dos Estados Unidos caiu 9,5%, da Alemanha 10,1%, da Itália 12,4%, da França 13,8%, de Portugal 14,1% e de Espanha 18,5%.
O jornal, que é desafecto ao actual governo espanhol, salienta “o descalabro histórico da riqueza espanhola” e coloca a fotografia do primeiro-ministro Pedro Sánchez numa clara insinuação de que este descalabro resulta da acção do governo, o que não é verdade e é injusto, pois o governo espanhol, tal como os governos dos outros países da União Europeia, têm feito tudo para controlar a pandemia e para minimizar os seus efeitos económicos. É verdade que este descalabro não tem precedentes desde a Guerra Civil de Espanha (1936-1939) e que, este resultado do 2º trimestre triplica o mau resultado do 1º trimestre, quando a economia espanhola caira 5,1%. O facto é que os resultados são todos maus com a economia da Zona Euro a cair 12,1% e com o produto do conjunto da União Europeia a cair 11,9%, segundo os dados revelados pelo Eurostat. A queda do produto espanhol junta-se à tragédia que tem sido a morte de quase 30 mil cidadãos espanhóis devido ao covid-19 e, no momento difícil que vive a Espanha, o jornal ABC prestou-se a divulgar uma notícia verdadeira, mas com insinuações ligeiras e nada sérias. O mesmo poderia ter acontecido com qualquer jornal português porque Portugal, tal como a Espanha, tem a sua economia muito dependente do turismo e teve uma quebra no produto de 14,1%. Porém, com mais ou menos confinamentos, com mais ou menos críticas de uma ou outra corporação, parece que por cá ainda puxamos todos para o mesmo lado a pensar em melhores dias.

O trambolhão da economia americana


O anúncio feito pelo Bureau of Economic Analysis dos Estados Unidos de que o Produto Interno Bruto (PIB) americano diminuiu 32,9% no segundo trimestre de 2020, em relação ao mesmo período do ano anterior, deixou os americanos estupefactos, pois tamanha quebra no produto nacional não acontecia desde 1945, quando se processou a desmobilização militar depois do fim da 2ª Guerra Mundial.
Perante estes números, o jornal New York Post pergunta aos seus leitores “quando é que chegaremos ao fundo”, parecendo ter perspectivas pouco animadoras quanto aos próximos meses, com base nas respostas pouco apropriadas que têm sido dadas pela administração de Donald Trump. A desejada retoma da economia confronta-se com a hipótese de uma segunda vaga da pandemia, o que torna a incerteza muito maior numa altura em que a economia americana entrou oficialmente em recessão.
O desempenho e o resultado económico dos Estados Unidos resultam da rapidez e da intensidade com que o surto de covid-19 atingiu o país, mas também da forma incompetente e arrogante como o presidente encarou a pandemia, chegando mesmo a desautorizar os seus assessores científicos e os governadores de vários estados.
Porém, há que salientar que existem diferentes critérios para medir a evolução do PIB, umas vezes comparando-o com o período homólogo do ano anterior e nesse caso o resultado foi de 32,9%, enquanto se a comparação for feita com o trimestre anterior a queda do produto foi de 9,5%. De qualquer forma, é a maior queda do produto americano desde que existem os actuais registos e esse facto tem forte repercussão nas outras economias.