terça-feira, 29 de setembro de 2020

Reacende-se o conflito na Catalunha

Depois que, no dia 27 de Outubro de 2017, o Parlamento da Catalunha aprovou a Declaração de Independência da Catalunha e declarou a fundação da República Catalã, o governo espanhol demitiu Carles Puigdemont que presidia à Generalitat de Catalunya, com base no artigo 155º da Constituição espanhola de 1978. Em vez de enfrentar a Justiça, Puigdemont escolheu a fuga e o exílio na Bélgica e o ambiente político catalão serenou. Vieram depois as eleições legislativas de 21 de Dezembro de 2017 que deram a maioria absoluta aos partidos independentistas com 47,5% dos votos, enquanto os partidos unionistas tiveram 43,5%. Apesar do partido mais votado ter sido o Ciudadanos com 25,35% dos votos, o independentista Quim Torra veio a ser empossado como presidente da Generalitat com o apoio dos partidos independentistas (Juntos pela Catalunha, Esquerda Republicana e Candidatura de Unidade Popular). 
Tal como o seu antecessor, também Quim Torra optou por uma presidência de confronto com o estado espanhol e hostilidade à Monarquia, tendo decidido não cumprir as ordens da Junta Eleitoral da Catalunha para que fossem removidos os símbolos independentistas dos edifícios públicos da Generalitat, designadamente os laços amarelos que simbolizam o movimento independentista catalão. Esta Junta condenou Quim Torra a um ano e meio de inabilitação por desobediência, que veio agora a ser confirmada pelo Supremo Tribunal que considerou que Torra mostrou uma “contundente, reiterada, contumaz e obstinada” desobediência às ordens da Junta Eleitoral Central. Naturalmente, Quim Torra pode e irá recorrer desta decisão, mas o que este caso vem mostrar é que o conflito catalão apenas tem estado adormecido.

O elogio ao modelo de combate à crise

Ursula Von der Leyen, a alemã que preside à Comissão Europeia, chegou ontem a Lisboa para a sua primeira visita oficial a Portugal e, durante essa visita de dois dias, já visitou diversas instituições e, hoje, participará na reunião do Conselho de Estado, a convite do venerando Chefe do Estado. A presidente da Comissão Europeia parece gostar de Portugal e nos seus discursos, sobretudo no Parlamento Europeu, tem-se referido várias vezes a Portugal como um exemplo em vários domínios. Ontem, elogiou Portugal por ter mudado eficazmente o seu mix de energia para um modelo mais sustentável e por se ter tornado uma referência no mundo digital, sobretudo a cidade de Lisboa. Porém, o que mais impressionou nas suas declarações foi o elogio feito por Ursula Von der Leyen ao “modelo português de combate à crise”, como salienta hoje o Diário de Notícias. Certamente que essas palavras foram estimulantes para o governo e, sobretudo, para a Direcção-Geral da Saúde (DGS), que tanto tem sido criticada por alguns dos especialistas que a SIC alimenta, dos quais distingo o pequeno Marques Mendes e o ideólogo interesseiro José Júdice. O comentador Marques Mendes tem criticado o governo e a DGS por “facilitismo” e afirmou que a DGS “anda a correr atrás do prejuízo”, enquanto o comentador JJ tem recorrido a uma narrativa fantasiosa para criticar toda a acção, para ele errada da DGS, reclamando mesmo a demissão de Marta Temido e de Graça Freitas. Com os elogios de Ursula Von der Leyen à estratégia portuguesa de combate à pandemia, estes dois comentadores foram desmascarados. Não passam de uns vulgares panfletários. Não merecem aparecer nos nossos televisores. Será que Júdice vai agora exigir a demissão da presidente da Comissão Europeia? E será que Marques Mendes baixa a voz e abandona os seus ridículos tiques de comentador televisivo?

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

A incerteza domina o confronto americano

Estamos a trinta e poucos dias das eleições presidenciais americanas e, na sua última edição, a revista alemã Der Spiegel trata do show down (confronto) entre Donald Trump e Joe Biden ou entre o schamios (desavergonhado) e o harmios (inofensivo). No dia 3 de Novembro votam os chamados “pequenos eleitores” para escolher os delegados que formarão o colégio eleitoral de 538 membros ou “grandes eleitores”. As últimas sondagens nacionais continuam a ser favoráveis a Joe Biden com uma margem de cerca de oito pontos percentuais, mas os dois candidatos estão tecnicamente empatados nos principais swing states ou estados decisivos, isto é, a Califórnia, o Texas, a Florida e Nova Iorque, pelo que todos recordam que foi nesses estado que perderam Al Gore em 2000 e Hillary Clinton em 2016, apesar de terem tido mais votos que os seus adversários no apuramento global do país. Há apenas dois estados que são a excepção à filosofia de “quem vence leva tudo”, que são o Maine e o Nebraska, em que os delegados eleitos podem ser representantes de diferentes candidatos. Nas últimas semanas, para além dos sucessivos insultos que dirige a Joe Biden, o Donald tem sido confrontado com sérias acusações vindas da sua irmã que o considera mentiroso e cruel e vindas de uma investigação do New York Times que verificou que ele não pagou impostos em dez dos últimos quinze anos. Porém, todas as incertezas continuam presentes na corrida presidencial americana, que tão importante é para o mundo.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Can you trust a covid vaccine?


A pandemia do covid-19 despertou uma verdadeira corrida para a descoberta de uma vacina que impeça o contágio pelo vírus e, por todo o mundo, a indústria farmacêutica e os laboratórios envolveram-se numa corrida contra o tempo para ganhar esse desafio. A importância desta corrida é incomensurável porque, para além dos aspectos sanitários que evitem a propagação da pandemia, também há enormes interesses económicos em jogo e os interesses políticos entraram em campo, sobretudo na corrida eleitoral americana, onde parece que a vacina ou a falta dela, irá determinar quem será o próximo presidente dos Estados Unidos que anunciou que ela aparecerá antes das eleições de 3 de Novembro. A Rússia e a China, por razões económicas e de prestígio, também têm feito tudo para se afirmar ao mundo nesta luta, anunciando ambos que a vacina aparecerá dentro de poucas semanas e informando que já têm reservas ou vendas de milhões de doses da vacina por que se espera. Algumas notícias que circulam referem mesmo que haverá 180 vacinas em teste em todo o mundo, mas as principais candidatas à invenção da vacina parecem ser a parceria entre a Universidade de Oxford e a farmacêutica britânica AstraZeneca, mais a farmacêutica americana Moderna, bem como a parceria entre as farmacêuticas americana Pfizer e alemã BioNTech, para além de vários laboratórios chineses e a já anunciada vacina russa, que já terá sido encomendada por vinte países. Até uma empresa de biotecnologia com sede no Parque Tecnológico de Cantanhede e que usa o nome Immunethep, anunciou a criação de uma vacina portuguesa. Tanto a OMS, como as agências nacionais que avaliam os medicamentos em cada país têm pedido cautelas e pressionado para que não haja precipitações até que os testes clínicos e outros estudos forneçam as evidências científicas que comprovem que a vacina é eficaz e segura, segundo os critérios cientificamente aceites. Por tudo isto, a revista Newsweek diz que, na presente conjuntura, a vacina é “um tiro no escuro” e deixa um aviso: podemos confiar numa vacina destas?

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

O que dizem os comentadores da treta

Todas as estações televisivas portuguesas têm comentadores que, em princípio, são especialistas numa coisa qualquer, como a política, o futebol, o ambiente e outras matérias. Uns são mais apreciados e outros são menos apreciados pelo público, mas cada um deles esforça-se por agradar de forma a ter as audiências que lhe garanta o seu lugar de comentador que, segundo consta, é muito bem remunerado. Entre os comentadores contratados pela SIC, está o advogado José Júdice ou JJ que, sabe-se lá sabe por que razão, preenche um espaço de comentário na edição da noite da SIC Notícias a que dá o nome de “As Causas”. Podia ser interessante, mas não é. Com o seu auto-convencimento e a sua vaidade, o comentador JJ cansa quem o escuta porque recorre demasiadas vezes ao eu - eu disse, eu tinha dito, eu avisei. Além disso, fala sobre muitas coisas que não sabe, mas fá-lo sempre com um ar panfletário e de entendido, que muito o ridiculariza. A SIC merecia melhor. O comentador JJ é um demagogo e um manipulador. Não é independente nos seus comentários. Nos graves tempos de pandemia que atravessamos, tem criticado com severidade a Direcção-Geral da Saúde e os seus responsáveis, escondendo-se atrás de uma pseudo-barreira de anónimos epidemiologistas, médicos, estatistas, economistas, matemáticos, psicólogos e outros especialistas que, segundo diz, o contactam e o ajudam. Vai daí, passa a mostrar gráficos que nem sabe interpretar, mas que comenta como se soubesse, apenas para impressionar os mais distraídos. Este JJ é mesmo um verdadeiro comentador da treta. O antigo membro do MDLP e, por acaso, advogado ou ex-advogado de Isabel dos Santos, ainda tinha algum prestígio, mas com esta sua ânsia de protagonismo mediático resvalou para a valeta do ridículo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

A abençoada chuva que chegou a Brasília

Após 119 dias de seca absoluta, choveu na cidade de Brasília e foi uma festa, uma grande festa, porque foi atravessado o oitavo período mais longo de seca no Distrito Federal. O Correio Braziliense publicou uma interessante fotografia alusiva ao acontecimento e deu-lhe honras de primeira página. A população, na qual se incluem pessoas que nos são próximas, vinha sofrendo com o calor, a exposição solar e a carência de humidade, o que tornava o clima bastante penoso e quase insuportável, mas a forte chuva de ontem em toda a cidade foi uma benção que deu origem a uma euforia geral com grandes celebrações, até porque as previsões apontam para mais precipitação nos próximos dias. Naturalmente, a chuva também causou algumas inundações e perturbações no tráfego, com os habituais acidentes rodoviários que acontecem nestas circunstâncias, para além de ter alterado um pouco da paisagem urbana com as pessoas a fazer uso de guarda-chuvas e de casacos impermeáveis. Não surpreenderá que um dia destes apareça o Jair Bolsonaro a reclamar o mérito da chegada da abençoada chuva a Brasília e a dizer que ela resultou da sua acção. Agora é assim. Um pouco por todo o mundo, entrou-se numa perigosa deriva populista em que as coisas boas que acontecem se devem ao mérito dos líderes, enquanto as coisas más resultam do boicote ou da sabotagem dos outros. Só que, embora muitos alinhem nessa deriva populista, alguns exageram.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Madrid: trégua para enfrentar a pandemia

A Comunidad de Madrid é uma das 17 comunidades autónomas da Espanha, tem cerca de seis milhões e meio de habitantes e é governada desde Agosto de 2019 por Isabel Diaz Ayuso, que é militante do Partido Popular (PP). No dia 31 de Janeiro de 2020, menos de seis meses depois da sua tomada de posse, surgiu na Espanha o primeiro caso de covid-19 e, cerca de oito meses depois, a situação agravou-se com uma segunda vaga da epidemia em que o último registo assinala 14.389 novos casos num só dia! Porém, a crise pandémica não está igualmente distribuída pelo país e o vírus parece ter-se instalado na Comunidad de Madrid e na própria capital, que hoje são consideradas como uma das áreas mais afectadas da Europa, com um registo de 108.374 infectados e 8.546 óbitos (enquanto em Portugal estão assinalados 69.200 casos e 1.920 óbitos). 
O facto de Madrid ser, ao mesmo tempo, a sede do governo socialista de Pedro Sánchez e do governo popular de Isabel Ayuso, tem sido objecto de luta política entre o PSOE e o PP. No entanto, confrontados com a realidade, o primeiro-ministro espanhol (de esquerda) e a presidente da região de Madrid (de direita) acordaram no apaziguamento ideológico e no reforço da luta epidemiológica, tendo criado um grupo covid-19 para planear e coordenar as respostas necessárias ao controlo da pandemia. Acordaram numa trégua, como refere hoje o jornal ABC e Pedro Sánchez declarou que este grupo funcionará sob um princípio de coordenação e que não haverá lugar a disputas hierárquicas entre os representantes do governo nacional e do governo regional, ou entre o PSOE e o PP. Quem sabe se esta trégua ou este acordo não teria poupado muitas vidas se tivesse sido feito há mais tempo

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Uma estrela eslovena brilhou em França


O ciclista esloveno Tadej Pogacar completa hoje 22 anos de idade e ontem ganhou a 107ª edição da Volta à França. Desde 1904 que o Tour não tivera um vencedor tão jovem e a imprensa que acompanhou a prova não poupa nos adjectivos com que o classifica, pois Pogacar cometeu a proeza de bater o seu compatriota e super-favorito Primoz Roglic, mas também de ganhar três das quatro classificações importantes - a camisola amarela, a camisola branca e a camisola de líder da montanha – o que só o lendário ciclista belga Eddie Merckx tinha conseguido. Foram percorridos 3.482 quilómetros em 21 etapas, foram subidas muitas montanhas nos Pirinéus e nos Alpes, mas acabou por ser no contra-relógio do penúltimo dia e nuns escassos 36 quilómetros, que tudo se decidiu entre os dois eslovenos.

A Eslovénia está em festa e a partir de ontem tem um novo herói nacional.

Tadej Pogacar teve a sua primeira vitória como profissional em 2019 na Volta ao Algarve, que o seu compatriota Primoz Roglic vencera em 2017. Sucederam-se outras vitórias e esta ano estreou-se na Volta à França, vestindo a camisola da UAE Team Emirates. A cobertura televisiva esteve à altura do grande acontecimento desportivo e, apesar da agressividade da pandemia em toda a França, o público acorreu às estradas para ver a prova favorita dos franceses.

Terminaram a corrida 146 ciclistas e o português Nelson Oliveira foi muito discreto e, certamente, fez tudo o que os seus patrões lhe encomendaram. Chegou ao fim da prova no 55º lugar a três horas e um minuto de Tadej Pogacar.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Boris Johnson e o Dis-United Kingdom

A saída do Reino Unido da União Europeia verificou-se no dia 31 de Janeiro de 2020 e, nessa altura, a população ficou dividida entre aqueles que apoiaram essa saída e os que lutaram até ao fim para que o país se mantivesse na União Europeia. Porém, nesse mesmo dia 31 de Janeiro, foi detectado o primeiro caso de covid-19 no Reino Unido e, esses dois acontecimentos – o brexit e o covid-19 – vieram transtornar um país politicamente dividido e que era governado pelo excêntrico e despenteado Boris Johnson. Talvez por descuido das autoridades, o Reino Unido tornou-se num dos países do mundo mais afectados pelo covid-19 e, até agora, estão registados mais de 40 mil óbitos. As consequências económicas também foram devastadoras e, pela primeira vez na última década, o Reino Unido entrou em recessão que corresponde à maior contração da actividade económica da história britânica, com uma queda de 20,4% do PIB no 2º semestre do ano, o que foi considerado “um desastre e um pesadelo” pelo próprio Boris Johnson. Quando da saída do Reino Unido da União Europeia, ficou por concluir um acordo comercial anexo ao acordo geral de saída, que deveria regular as relações entre ambas as partes e pudesse assegurar a continuação de boas relações comerciais. O assunto tornou-se muito conflitual, até porque o Reino Unido tem vindo a aprovar legislação que viola os acordos de saída. Por outro lado, as relações de Boris Johnson e do seu governo com a Escócia e com a Irlanda do Norte continuam tão tensas como antes e os cenários independentistas continuam activos. Daí que o jornal The Scotsman, que defende a independência escocesa, critique o governo britânico e fale num Dis-United Kingdom.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

A batalha de Inglaterra foi há 80 anos


A batalha de Inglaterra aconteceu há oitenta anos e The Journal, que se publica em Newcastle upon Tyne, decidiu evocar essa efeméride na sua edição de hoje com um texto evocativo e com a fotografia de um caça Supermarine Spitfire na sua primeira página.
A batalha desenrolou-se entre Julho de 1940 e Junho de 1941 e nela intervieram como principais protagonistas os aviões da Luftwaffe e da Royal Air Force (RAF), sobretudo os caças Messerschmitt Bf 109 e os caças Supermarine Spitfire. Após muitos meses de confrontos aéreos nos céus da Grã-Bretanha e de intensos bombardeamentos diurnos e nocturnos sobre as cidades britânicas, com os quais os alemães visavam destruir o aparelho industrial britânico, desmoralizar a população e preparar a invasão das ilhas Britânicas, quando verificaram que as suas perdas se estavam a tornar demasiado pesadas em face da reacção da RAF, suspenderam os seus ataques, quando muitas cidades britânicas já tinham sofrido grandes destruições, sobretudo Londres e Liverpool. A RAF tinha perdido 1023 aviões de caça e 402 pilotos britânicos, 5 belgas, 7 checos, 29 polacos, 3 canadianos e 3 neozelandezes, mas tiveram 40 mil mortos entre a população civil. A Luftwaffe perdeu 1887 aviões, entre os quais 873 caças e 1014 bombardeiros, perdendo 2698 pilotos e tripulantes dos bombardeiros.
Foi uma impressionante vitória aliada sobre as investidas de Adolfo Hitler e essa batalha começou a alterar o rumo da guerra em desfavor da Alemanha. O primeiro-ministro britânico Winston Churchill disse então que “nunca tantos deveram tanto a tão poucos” em nenhum conflito humano.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

A tensão greco-turca e as armas francesas


Existe uma grande rivalidade e uma potencial conflitualidade entre a Grécia e a Turquia que tem raízes históricas, mas que se acentuou depois de 1832 quando a Grécia se tornou independente do Império Otomano. Os dois vizinhos do Mediterrâneo Oriental são distintos, tanto cultural como religiosamente, e têm passado por períodos de hostilidade, incluindo quatro guerras greco-turcas intercalados com períodos de reconciliação e cooperação. Em 1952 ambos entraram na NATO, não só como fronteira atlântica a oriente, mas também para encontrarem novas formas de relacionamento. 
Tudo corria bem, mas em 1974 a Turquia invadiu Chipre e a instabilidade voltou a ameaçar os dois países, embora o desejo turco de entrar na União Europeia tivesse atenuado essa tensão.
Porém, foram recentemente descobertas reservas de gás natural no Mediterrâneo Oriental, sobretudo na área marítima da ilha de Chipre, onde se cruzam interesses gregos, cipriotas e turcos, que se assumem como os defensores dos direitos da República Turca do Chipre do Norte.
A questão resulta da definição das plataformas continentais, pois os gregos entendem que devem ser calculadas com a inclusão das suas ilhas, enquanto os turcos rejeitam esse cálculo. A questão é polémica e apesar de haver países a querer arbitrar este conflito, os turcos avançaram para aquela área com um navio de investigação e dois navios militares de apoio “para defender os seus direitos de exploração de recursos”.
A Grécia tratou de afirmar que defenderá a sua soberania e os seus direitos soberanos, tendo pedido à Turquia que se retire da “plataforma continental grega” e tratou de enviar navios de guerra para monitorizar os turcos. Entretanto, entre muitas solidariedades que os gregos têm na União Europeia, está a França que, segundo anunciou hoje o jornal Le Figaro, acaba de vender 18 aviões de combate Rafale, helicópteros e fragatas à Grécia. Nestas situações os franceses nunca perdem tempo…  

domingo, 13 de setembro de 2020

A pandemia e o irresponsável Donald

A última edição da revista TIME dedica a sua capa e o seu principal artigo à crise pandémica que afecta os Estados Unidos e o mundo e, depois de afirmar que já morreram cerca de 200.000 americanos, que correspondem a cerca de 20% dos óbitos causados pelo covid-19 no mundo, pergunta quantas mais vidas serão perdidas até que o país acerte o caminho.
O texto é uma acusação a Donald Trump, responsabilizando-o por esta tragédia americana. Segundo aquele texto, o país está perante uma tragédia que poderia ter evitado milhares de mortos neste Verão, se as soluções da ciência e do bom senso tivessem sido seguidas, apresentando o exemplo de vários países que adoptaram medidas adequadas que tiveram bons resultados. O texto refere que os problemas sanitários americanos são generalizados a todo o país e “they start at the top”, constituindo um grave “catalog of Donald Trump’s failures” na sua incapacidade para controlar a pandemia, lembrando mesmo que até ao dia 11 de Julho ele se recusou a usar máscara em público. Terá sido essa atitude irresponsável que faz com que cerca de 66% dos americanos, isto é, cerca de 217 milhões de pessoas, continuem a não usar máscaras em público.
Outra revelação do estudo da TIME são as desigualdades da saúde pública americana, pois os americanos negros (onde se incluem as comunidades latinas e os americanos nativos) têm quase três vezes mais probabilidade do que os americanos brancos de contrair o covid-19, quase cinco vezes mais probabilidades de serem hospitalizados e duas vezes mais probabilidades de morrer. Porém, o que parece estar agora a preocupar as pessoas responsáveis é o número de americanos que afirmam estar hesitantes em receber uma eventual vacina de protecção ao covid-19, porque a sua confiança está abalada pelos sucessivos disparates que Trump tem repetido a propósito da vacina. Além disso, os especialistas temem que uma nova onda pandémica possa surgir no próximo Inverno, agravada pelo surto anual de gripe.
Porém, o que verdadeiramente surpreende, contra o que é habitual, é o desalinhamento da TIME com a política desastrosa de Trump.

sábado, 12 de setembro de 2020

A promiscuidade da política com o futebol

Expresso, edição de 12-09-2020

O semanário Expresso publicou hoje uma notícia de primeira página cujo título é “Costa e Medina na comissão de honra de Luís Filipe Vieira” e, após terem sido questionados pelo jornal, confirmaram a aceitação do convite e disseram que o fizeram na condição de adeptos. A presença do Primeiro-ministro e do presidente da Câmara Municipal de Lisboa na comissão de apoio a um candidato à presidência de um clube de futebol é um exemplo chocante da promiscuidade entre a política e o futebol, um caso de falta de senso e de paixão futebolística irracional, mas também de calculismo eleitoralista e de falta de ética republicana. Fiquei surpreendido com esta opção de António Costa e de Fernando Medina e, como cidadão eleitor, reprovo esta sua opção populista. Foi um valente tiro nos pés e num país a sério seria o seu suicídio político.
Acontece que o Benfica vai ter eleições em finais de Outubro e que já estão anunciados cinco candidatos à presidência, sendo que um deles é Luís Filipe Vieira (LFV), que governa o Benfica desde 2013 e se arrisca a tornar-se o presidente perpétuo do clube.
Porém, segundo diz o Expresso e outros jornais, nos últimos anos o Benfica e o seu presidente envolveram-se em casos de justiça, sendo LFV um dos arguidos na Operação Lex, podendo ser acusado em breve do crime de recebimento indevido de vantagem por alegadamente ter prometido cargos a um juiz desembargador no seu clube. Depois há o caso e-Toupeira, em que o Benfica foi ilibado, mas em que o seu assessor jurídico Gonçalves foi acusado dos crimes de corrupção activa e de violação do segredo de justiça pelo que foi afastado, embora continue a participar nos negócios do clube. Outro problema com LFV - que Costa e Medina apoiam - é a dívida do clube, do seu presidente ou do seu grupo ao Novo Banco, que uns jornais dizem ser de 656 milhões de euros e outros referem ser de 760,3 milhões de euros. Esse caso é muito grave porque está impune, enquanto os contribuintes estão a pagar. Hoje mesmo o Correio da Manha dizia que “Novo Banco empresta 20 milhões ao Benfica”.
Como conciliar isto tudo? Que ética é esta? A crise social e económica que temos pela frente é tão grave e tão incerta que bem precisávamos de gente sensata e de bons exemplos.
Hoje o Costa e o Medina desiludiram-me, até porque eu não acredito em almoços grátis.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Alterações climáticas afectam Califórnia


A costa oeste dos Estados Unidos, em especial os estados de Oregon e da Califórnia, desde há várias semanas, que estão diante de um cenário de grandes incêndios florestais, que tem sido classificado como apocalíptico. Há extensas áreas florestais e urbanas que arderam, de que resultaram milhares de casas destruídas e muitos milhares de desalojados, sendo referido que estes incêndios são os mais graves de que há memória nestes estados. 
A Califórnia é o mais populoso estado americano, com uma superfície que é quase cinco vezes maior do que Portugal e estende-se por cerca de 1500 quilómetros da costa do oceano Pacífico. Até agora foram contabilizados quase oito mil incêndios e calcula-se que a área ardida atinja 12,5 mil quilómetros quadrados que corresponde aproximadamente ao triplo da área do Algarve. É uma área imensa que arde desde há várias semanas e são gigantescos os meios envolvidos no combate ao fogo. Os fumos emitidos cobrem quase todo o estado e, em muitos locais, a camada de fumo bloqueou a luz solar, tornando o céu completamente alaranjado ou vermelho, como aconteceu na área da cidade de Sacramento. O jornal Los Angeles Times publicou uma fotografia da Bidwell Bar Bridge, na orla do Lago Oroville, que se situa a cerca de cem quilómetros para norte da cidade de Sacramento, cercada pelo fogo e pelo fumo. 
A imprensa refere-se a esta calamidade e atribui-a às alterações climáticas e ao aquecimento global, mas as autoridades americanas parece que ainda não perceberam isso e Donald Trump até saiu do Acordo de Paris de 2015 sobre as emissões de gases estufa.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

O brilho e a classe do renascido Ronaldo


Realizou-se ontem em Solna, nos arredores de Estocolmo, um jogo da segunda jornada do Grupo 3 da Liga das Nações organizada pela UEFA, em que Portugal defrontou a Suécia. Depois da excelente exibição e da vitória de 4-1 sobre a Croácia, havia um ambiente de confiança para este jogo, mas também a curiosidade de observar o regresso de Cristiano Ronaldo que estivera ausente por lesão do desafio com os croatas. Ronaldo joga actualmente na Juventus e foi campeão de Itália, mas está com 35 anos de idade, o que lhe confere um estatuto de velho no mundo competitivo do futebol e até na selecção portuguesa, que actualmente está povoada de jovens talentosos, muitos deles jogando no estrangeiro, havendo mesmo quem entenda que o tempo de Ronaldo já acabou.
Portugal venceu a partida por 2-0 e foi exactamente Ronaldo que marcou os dois golos, qualquer deles de muito inspirada execução, atingindo a marca de 101 golos marcados pela selecção portuguesa, o que faz dele o segundo jogador com mais golos marcados por selecções nacionais em todo o mundo, apenas superado pelo iraniano Ali Daei que marcou 109 golos na sua carreira.
A imprensa portuguesa, mas também alguma imprensa internacional, destacaram a proeza de Cristiano Ronaldo que, desta forma, cala todos os que como eu pensavam que o tempo de Ronaldo já tinha acabado e que, depois da crise pandémica que atravessamos, ele já não regressaria ao topo. Ele ontem deu-nos a resposta em campo e como diz o jornal A Bola, ele é um sem igual. Ainda bem para a festa do futebol.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Começou a grande corrida para Belém


As coisas da política têm estado muito insípidas, isto é, desprovidas de interesse, de atractivos e de sabor, com os políticos confinados ou a fazer férias nas praias, com o Governo empenhado na resposta a uma crise sanitária, económica e social como nunca se vira em Portugal e com um Presidente que se assume todos os dias como comentador de tudo o que sabe e do que não sabe, parecendo que por vezes não percebe que a função presidencial exige distanciamento e que a ânsia de popularidade nem tudo pode permitir. Neste quadro em que tudo parecia indicar que Marcelo Rebelo de Sousa iria esmagar a concorrência na sua segunda corrida para Belém, começam a aparecer anúncios de candidaturas de esquerda e de direita que vão animar a corrida presidencial e vão fazer com que o actual Presidente tenha que suar muito para assegurar a sua reeleição, sobretudo à primeira volta. O modelo marcelista agradou muito aos portugueses, mas começa a estar saturado e a aborrecer, com as selfies, as férias demasiado publicitadas em Porto Santo, as interpelações nas Feiras do Livro, os caricatos salvamentos na praia do Alvor, os comentários sobre a Festa do Avante, a excessiva presença de microfones e de câmaras e, ainda, as declarações feitas um pouco por todo o lado que, sendo combinadas com os estagiários de jornalismo, até parece que são espontâneas. Marcelo Rebelo de Sousa é cada vez mais um comentador e um candidato à reeleição para Presidente da República.
Ontem surgiu a declaração de candidatura da Embaixadora Ana Gomes e o Público dá-lhe hoje o devido destaque. Outras candidaturas se anunciam. É bom para a Democracia. Muitos dos votos com que Marcelo contava vão agora para a antiga embaixadora de Portugal em Jacarta, à qual muito deve a independência de Timor.
A corrida para Belém começou.

Messi nunca mais vai ser o que era


O futebolista argentino Lionel Messi tem 33 anos de idade e pertence à equipa do Barcelona há 18 anos, onde é um artista famoso, um ídolo das multidões e um ícone da Catalunha. Na passada semana decidiu rescindir o contrato que o ligava ao clube catalão com base numa cláusula que lhe permitia terminar o seu vínculo laboral ao clube no final da época. Porém, o covid-19 alterou os calendários futebolísticos espanhóis e, enquanto Messi entendeu que a época futebolística tinha terminado a 10 de Junho, o clube teve outro entendimento e considerou que a época só terminou em 30 de Junho. Portanto, Messi e os seus advogados precipitaram-se. O Barcelona e os seus adeptos não gostaram. Foi um terramoto emocional para o clube e para a Catalunha. Muitos jornais da América Latina, onde o Barcelona e Messi são muito populares, publicitaram a decisão de Messi. No entanto, o clube decidiu não aceitar a rescisão invocada por Messi porque foi apresentada fora do prazo legal e assumiu que o jogador tem um contrato em vigor até ao dia 30 de Junho de 2021 ou que, em alternativa, deveria ser paga a cláusula de rescisão de 700 milhões de euros. Messi recuou e ninguém veio em seu auxílio. Ainda se falou no interesse do Manchester City, mas era muito dinheiro e Messi sofreu a humilhação de voltar com a palavra atrás e jurar amor eterno ao Barcelona.
Las Últimas Noticias que é um dos mais populares jornais chilenos, fez uma fotomontagem que publicou em primeira página, em que o ídolo Messi é ridicularizado como se fosse um menino sem vontade própria. Pela idade e por este triste episódio. Lionel Messi nunca mais vai ser o que era.

domingo, 6 de setembro de 2020

O incrível rumo eleitoral americano


As eleições presidenciais americanas realizam-se no dia 3 de Novembro o que significa que estamos a menos de dois meses do dia da votação. A campanha eleitoral vai começar a acelerar, mas o facto é que Donald Trump tem vindo a recuperar nas intenções de voto relativamente ao democrata Joe Biden, pois enquanto há um mês as sondagens o situavam 9% abaixo de Biden, as mesmas sondagens indicam que Trump está agora a 6.9% do seu adversário. Porém, nos chamados estados decisivos – California, Texas, Florida e Nova Iorque – as intenções de voto estão muito equilibradas e será nesses estados que tudo se decidirá.

Ontem a reputada revista The Economist destacou as eleições americanas como tema principal e referiu-se-lhe como uma ugly election, que traduzido para português significa uma eleição feia, perigosa, repelente. De facto, depois de Donald Trump ter incentivado os seus eleitores a tentarem votar duas vezes, primeiro por correspondência e depois presencialmente, há todas as razões para que se olhe com desconfiança para as eleições americanas e que se duvide que possam ser livres e justas. E não foi um lapsus linguæ pois Trump repetiu aquele incentivo e só muito depois emendou a mão ao acrescentar, que só se deveria votar presencialmente na secção eleitoral se o voto por correspondência não tivesse chegado. Entretanto, Donald Trump continua a ameaçar e a insultar os seus adversários, embora não consiga calar muitas das pessoas que lhe são próximas, como a sua irmã Maryanne Trump Barry, uma antiga juíza de 83 anos de idade que numa entrevista para o jornal The Washington Post descreveu o seu irmão-presidente como cruel, mentiroso e sem quaisquer princípios.

A estratégia de Trump tem alimentado a agitação social e étnica para aparecer aos olhos dos americanos como o homem que pode acabar com a agitação (que ele próprio alimenta), mas há muita gente que receia que, pela primeira vez na história dos Estados Unidos, um candidato derrotado não aceite o resultado eleitoral. Esse candidato pode ser Trump e disso já deu demasiados sinais. Por isso, é inacreditável o rumo eleitoral americano e daí que The Economist tivesse classificado as eleições de 3 de Novembro como uma ugly election.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

As eleições e o futuro na Venezuela


A Venezuela tem eleições parlamentares marcadas para o dia 6 de Dezembro e esse facto é animador pois pode conduzir a uma saída para a grave crise que atravessa o país, onde vivem cerca de 400 mil portugueses ou luso-descendentes.
As sanções económicas impostas pelos Estados Unidos ao regime de Nicolas Maduro deram origem a uma grave crise económica e a uma grande instabilidade social, que foi aproveitada por alguma oposição estimulada por Donald Trump, para tentar mudar o regime chavista que governa a Venezuela. Como não tiveram o apoio das Forças Armadas para tomar o poder, foi montada uma operação que se disfarçou de ajuda humanitária e até foi arranjado um tal Juan Guaidó para suceder a Maduro. A operação desenvolveu-se em Fevereiro de 2019 e foi apoiada pelos mass media internacionais, mas Maduro negou que houvesse crise humanitária no país e continuou a ter o apoio dos militares e do aparelho judicial.
Passados muitos meses e agora sob o efeito da pandemia, o presidente Maduro decidiu convocar eleições para o dia 6 de Dezembro e convidou as Nações Unidas e a União Europeia para participarem nas eleições como observadores. Ao mesmo tempo, Nicolás Maduro concedeu mais de uma centena de indultos a políticos da oposição que se encontravam detidos, o que significa que já escuta as reivindicações da oposição, que entretanto se dividiu.
De um lado está Henrique Capriles, o antigo governador do estado de Miranda e candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2012, que apoia a realização de eleições, admite negociações com Maduro e se afastou de Guaidó, cuja estratégia “se agotó”.
Do outro lado ainda está Juan Guaidó, agora com menos apoio de Trump e de Bolsonaro, que acusa Capriles de negociar com “la dictadura de Maduro”. Assim, a Venezuela tem a sua oposição dividida, enquanto o regime de Maduro parece estar mais moderado. Quanto a Juan Guaidó, muito dependente de Trump e de algumas agências americanas, parece que realmente se esgotou. Vamos a ver.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Já vamos com seis meses de covid-1


Vários jornais portugueses lembraram hoje que passaram seis meses desde que, no dia 2 de Março, foram detectados os dois primeiros casos de covid-19 em Portugal. 
Desde então foram identificados 58.663 casos positivos de infecção por covid-19, dos quais cerca de 72% já recuperaram, mas a pandemia já provocou 1827 óbitos. A situação sanitária tem sido prolongada e catastrófica, tendo alterado o modo de vida dos grupos e das pessoas por todo o mundo, onde o número de óbitos se aproxima de um milhão, sobretudo nos Estados Unidos, no Brasil, na Índia e no México.
Em Portugal, os efeitos do covid-19 têm sido demolidores no aspecto sanitário, mas também na vida económica e cultural. Tudo mudou. O quotidiano e o trabalho. As viagens e as férias. Os restaurantes e as escolas. Vieram os confinamentos, as máscaras, o distanciamento social. A actividade económica e, especialmente o turismo, tiveram quebras brutais e, no segundo trimestre do corrente ano, o produto nacional teve uma contração de 14,1% relativamente ao trimestre anterior e de 16,5% em relação ao segundo trimestre de 2019. Nunca acontecera. Foi uma verdadeira catástrofe. As consequências sobre o emprego foi a destruição de cerca de 180 mil empregos em apenas quatro meses, o que significa que haverá actualmente mais de 350 mil pessoas desempregadas em Portugal.
O Governo tem procurado tomar medidas para atenuar os efeitos desta crise económica provocada pela pandemia e, de uma forma geral, tem tido o apoio ou a neutralidade dos partidos políticos. Porém, o desafio é muito difícil, até porque está a ser perturbado por uma campanha presidencial prematura e, além disso, como quase sempre acontece na nossa terra, as corporações de interesses e os seus agentes aproveitam a oportunidade para apresentar exigências ao Governo que, mesmo que sejam justas, são inoportunas e incomportáveis. As necessidades são muitas, mas os nossos recursos são escassos. O que as corporações de interesses querem, implica sempre mais impostos ou mais dívida, o que nas actuais circunstâncias seria tão catastrófico como a própria pandemia.  

O Tour de France é a festa dos franceses


Começou o Tour de France que é, seguramente e em todos os sentidos, a maior festa dos franceses. Trata-se de um acontecimento desportivo que se realiza desde 1903 e que, este ano, entre Nice e Paris, constará de 21 etapas que serão percorridas por 176 ciclistas de 22 equipas, terminando no dia 20 de Setembro. Actualmente, a grande corrida pode ser acompanhada pela televisão com grande detalhe informativo e, além disso, proporciona imagens de grande qualidade estética das regiões por onde a prova passa, em que são sempre destacadas a paisagem e o património construído, a par do entusiasmo popular à beira das estradas. Assim, na actual pobreza da televisão portuguesa, o Tour de France acaba por se tornar num programa com um conteúdo cultural muito apelativo e que quase nos permite viajar sem sair de casa, embora os comentários sejam por vezes muito brejeiros.
Este ano apenas um português se encontra no pelotão. Chama-se Nelson Oliveira, é natural de Anadia e corre com o dorsal 95 pela equipa espanhola Movistar. Embora o seu nível internacional não o coloque no topo do ciclismo mundial, há que torcer por este compatriota para que se sinta apoiado e possa ganhar uma etapa, o que seria uma enorme alegria para a comunidade portuguesa que vive em França e também para muitos de nós aqui no rectângulo continental português.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Navegando no estreito de Magalhães


O centenário jornal chileno El Mercúrio que se publica na cidade de Santiago ilustrou a sua edição de hoje com uma expressiva fotografia da parte média do estreito de Magalhães, em que se destaca o cabo Froward, o ponto mais meridional do continente sul-americano, por onde passou em Novembro de 1520 a frota de Fernão de Magalhães, durante a sua viagem para as ilhas Molucas, que veio a transformar-se na primeira viagem de circum-navegação.
A justificação do jornal para publicar esta fotografia foi a passagem pelo estreito de Magalhães do moderno porta-helicópteros americano USS Tripoli (LHA-7), que é um Landing Helicopter Assault ou navio de assalto anfíbio. 
O navio entrou ao serviço da Marinha americana no passado dia 15 de Julho, tem 240 metros de comprimento, desloca 45 mil toneladas e tem uma guarnição base de 65 oficiais e 994 sargentos e praças, podendo alojar 1687 fuzileiros. Nesta sua primeira viagem o navio atravessou o estreito de Leste para Oeste e dirigiu-se para a sua base na Califórnia, tendo realizado alguns exercícios com o navio-patrulha chileno Marinero Fuentealba de 81 metros de comprimento e 1772 toneladas de deslocamento. O novo navio americano tem todas as modernas ajudas à navegação, mas certamente que a companhia do Marinero Fuentealba lhe foi muito útil, até porque a parte ocidental do estreito é mesmo estreita e registou tantos naufrágios que até está institucionalizada uma rota turística conhecida por Rota dos Naufrágios, que mostra aos turistas os restos dos navios que por ali se perderam. O que não há dúvidas é que a paisagem marítima do local é imponente e nos evoca um facto relevante da história da Humanidade.