domingo, 28 de fevereiro de 2021

Até na corrida às vacinas há corrupção

O primeiro dia de vacinação contra o covid-19 em Portugal aconteceu no dia 27 de Dezembro de 2020 e, nesse dia, foram vacinadas 4.534 pessoas. Escreveu-se então que foi um dia histórico para a generalidade dos países da União Europeia que, nesse dia, iniciaram os seus programas de vacinação. A rapidez com que foi descoberta a vacina foi um notável feito científico e gerou naturais expectativas no mundo. 
Todos querem ser vacinados, todos querem proteger-se dos efeitos da pandemia. Porém, como resultado da investigação científica surgiram vacinas que, embora de diferente grau de eficácia, geraram a encomenda de muitos milhões de unidades que os laboratórios não têm conseguido satisfazer. Daí resulta a escassez de vacinas e, o desfasamento entre a oferta e a procura, com muitos desvios aos planos de vacinação e com algumas distorções, por vezes desonestas, na sua aplicação.
No caso da Argentina, um país de 45 milhões de habitantes, aconteceu que nem a BioNTech-Pfizer, nem a AstraZeneca, nem Moderna, forneceram as vacinas de que o país precisava, pelo que as autoridades argentinas recorreram à Rússia que lhes forneceu a Sputnik V, tornando-se o terceiro país do mundo a utilizar a aquela vacina. Porém, porque foi intensa a corrida à vacinação ou porque o país vive sem regras, foram criadas listas de privilegiados ou listas VIP para favorecimento de parentes e de amigos, mostrando que a corrupção argentina tomou conta do processo. Milhares de pessoas denunciaram este escândalo e manifestaram-se em várias cidades do país, incluindo Buenos Aires, tendo o jornal Clarín publicado a fotografia da grande manifestação de protesto realizada na Plaza de Mayo, em frente da famosa Casa Rosada, a sede da presidência da República Argentina.

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Evocando a viagem e a visita de Magalhães

No dia 6 de Março de 1521 a frota de Fernão de Magalhães, constituída pelas naus Trinidad, Victoria e Concepción, chegou a umas ilhas a que chamou ilhas dos Ladrões, depois de três meses e vinte dias de viagem sem escala, durante a travessia do Pacífico. Essas ilhas vieram a ser colonizadas pelos espanhóis e em 1668 o seu nome foi alterado para ilhas Marianas, em homenagem a Mariana de Áustria, a viúva de Filipe IV de Espanha. As ilhas dependiam da Capitania Geral das Filipinas, mas em 1898 foram cedidas aos Estados Unidos na sequência da guerra hispano-americana. Actualmente, constituem o Estado Livre das Marianas Setentrionais, dependente dos Estados Unidos, enquanto a ilha de Guam, que fica mais a sul do arquipélago e onde se localiza a cidade de Hagatña, é um território americano.
Foi a este porto que ontem chegou o navio-escola espanhol Juan Sebastian de Elcano que, 500 anos depois, está a fazer uma viagem de circum-navegação evocativa da viagem de Fernão de Magalhães.
O jornal Pacific Daily News noticia hoje a chegada do navio espanhol, que foi recebido por canoas à entrada do porto, onde se situa a Base Naval americana de Guam. Naturalmente a visita parece despertar a curiosidade da população, constituída sobretudo por militares americanos e suas famílias.
O que é curioso é que diversos navios-escolas, nomeadamente do Chile, da Itália e da Espanha, estão em viagens de instrução como se tem visto aqui nesta ruadosnavegantes, parecendo não recear o covid-19.

R.I.P. Alfredo Quintana

Há menos de um mês, durante o 27º Campeonato do Mundo de Andebol que se realizou no Egipto, a baliza portuguesa foi defendida pelo guarda-redes Alfredo Eduardo Quintana Bravo e a excelência das suas exibições ajudou a selecção de Portugal a alcançar um inédito 10º lugar na competição. As transmissões televisivas mostraram que a equipa portuguesa teve um comportamento notável, que exibiu um elevado nível competitivo e que era formada por vários jogadores de classe mundial. Um deles era Alfredo Quintana, que se destacava pela sua elevada estatura, pela sua atitude e pela sua agilidade.
De regresso a Portugal, retomou os seus treinos e foi durante uma sessão realizada no dia 22 de Fevereiro, que sofreu uma paragem cardio-respiratória. Foi de imediato transportado ao hospital e aí lutou pela vida durante quatro dias, mas não resistiu e faleceu aos 32 anos de idade.
Alfredo Quintana nascera na cidade cubana de Havana mas viera para Portugal em 2011 para representar a equipa de andebol do FC Porto, com a qual foi campeão de Portugal por seis vezes. Integrou-se na sociedade e na cultura portuguesas e requereu a nacionalidade do país que o acolheu, pelo que veio a representar a selecção nacional de andebol em 56 partidas.
O destino foi cruel para este grande atleta. O desporto português ficou de luto. Nesse mundo tantas vezes movido por rivalidades regionais e clubísticas, raramente se assistiu a tão grandes provas de solidariedade para com um atleta, expressas pela imprensa, pelo seu clube, pelos seus companheiros e pelos seus adversários, significando que Alfredo Quintana era um grande atleta, mas também um grande desportista.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

O ben-u-ron, a dor de cabeça e a Mona Lisa

A Publicidade é uma técnica de comunicação que codifica ideias e as transmite para o espaço público, para influenciar o comportamento do público, ou de uma parte dele, levando-o a adquirir um bem ou um serviço, a adoptar uma determinada opinião e, até, a escolher o candidato em que deve depositar o seu voto. No complexo mundo da comunicação, a codificação das mensagens publicitárias é uma arte em que a imaginação é essencial para que o receptor distinga e reconheça umas mensagens mais interessantes do que outras. Por isso, os anunciantes procuram mostrar que o seu produto lava mais branco ou anda mais rápido, que a sua viagem é mais confortável, que ninguém lhe oferece melhores condições de crédito ou que o seu candidato é o melhor. Nesta corrida para ganhar a preferência dos consumidores, dos utentes, dos leitores, dos telespectadores, dos sócios ou dos eleitores, a mensagem publicitária recorre à criatividade, mas muitas vezes é mentirosa e manipuladora, pelo que nos surpreende cada vez menos. A sua função traduz-se muitas vezes por um modelo simplificado, o chamado modelo AIDA, isto é, pretende chamar a atenção, despertar o interesse, suscitar o desejo e levar à aquisição, mas os exageros dos publicitários por vezes não despertam o interesse e até provocam a rejeição da mensagem.
Tudo isto vem a propósito do anúncio da bene farmacêutica, Lda, a filial portuguesa da companhia alemã bene-Arzneimittel GmbH que, para vender o ben-u-ron – que existe em todas as casas portuguesas – até conseguiu pôr a Mona Lisa ou Gioconda, a obra-prima de Leonardo da Vinci, com dores de cabeça ou enxaqueca e a suspirar por um ben-u-ron.
Trata-se, realmente, de uma ideia muito criativa e que não atenta com nenhuma das regras do código deontológico da Publicidade.

A crise da aviação à sombra dos Pirinéus

Um pequeno jornal regional de nome L’Éclair des Pyrénées, que se publica na cidade francesa de Pau, na região Pyrénées-Atlantique, destaca na sua edição de hoje que há “dezenas e dezenas de aviões de todo o mundo” no aeroporto de Tarbes, que está transformado num enorme parque de estacionamento, enquanto se espera que o tráfego aéreo mundial regresse à normalidade.
A fotografia que ilustra aquela notícia de primeira página mostra dois aviões da TAP estacionados entre muitos outros, sendo visíveis num segundo plano as montanhas nevadas da cordilheira dos Pirinéus. Os dois aviões "abandonados" junto das montanhas pirenaicas, são uma das expressões da grave crise que atravessa a transportadora aérea nacional. 
Os aviões estão à guarda da empresa Tarmac Aerosave, que é a maior empresa europeia que se dedica a esta actividade, mas com a crise causada pela pandemia do covid-19, a empresa viu aumentar a procura dos seus espaços que já existiam em Tarbes (Pyrénées-Atlantique), em Teruel (Espanha) e em Toulouse (Occitânia), abrindo um novo estacionamento em Vatry (Marne). A empresa presta serviços de armazenagem e guarda dos aviões, assegura a sua manutenção, protege os seus sistemas electrónicos mais sensíveis, isto é, o avião não fica abandonado e mantém-se capaz de voar a todo o momento. 
Actualmente, a empresa guarda 230 aviões nos seus quatro estacionamentos mas, segundo é referido na notícia do L’Éclair des Pyrénées, há uma longa lista de aviões e de companhias aéreas em espera. Porém, se necessário, a empresa também assegura a reciclagem dos aparelhos e há a convicção de que muitos dos aviões guardados pela Tarmac Aerosave não voltarão a voar.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Vespucci, la nave più bella del mondo

O navio-escola Amerigo Vespucci foi construído nos estaleiros de Castellammare di Stabia, próximo de Nápoles, tendo sido incorporado na Marina Militare Italiana no dia 22 de Fevereiro de 1931.
O navio celebrou ontem 90 anos de vida, de muitas navegações e uma viagem de circumnavegação realizada entre Maio de 2002 e Setembro de 2003, pelo que os mass media italianos foram visitá-lo na sua base da La Spezia, na região da Ligúria. Com base nos press releases que receberam, todos os jornais se referiram à efeméride aniversariante da “nave più bella del mondo” e, no caso do Il Tirreno, que se publica em Livorno, a cidade que alberga a Escola Naval italiana, o jornal tratou de publicar uma sugestiva fotografia do navio na sua primeira página.
O Vespucci é um belo navio e sempre foi um símbolo da Marinha Italiana, havendo uma curiosa história à volta dele. Em 1962 navegava no Mediterrâneo quando se cruzou com o porta-aviões americano USS Independence e, de acordo com os procedimentos habituais do cerimonial marítimo internacional, o porta-aviões terá interrogado o navio italiano e daí terá resultado a seguinte troca de mensagens:
           - Independence: “What ship?”.
            - Amerigo Vespucci: “Amerigo Vespucci School Ship, Italian Navy".
            - Independence: "You are the most beautiful ship in the world".

Naturalmente, as autoridades marítimas e os seus serviços de relações públicas ampliaram esta notícia, verdadeira ou não, passando a classificar a sua nave scuola como la “nave più bella del mondo”, o que pode deixar alguns países marítimos desconsolados.
Nestas coisas é sempre difícil utilizar o artigo definido, mas há que reconhecer que tem algum sentido que o navio-escola Vespucci seja classificado como o mais belo navio do mundo, mesmo que isso custe muito a quem já viu o navio-escola Sagres.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Um marco sombrio na história americana

Os Estados Unidos atingiram os 500.000 óbitos por covid-19, segundo os dados compilados pela Universidade Johns Hopkins de Baltimore, no Maryland, que o jornal The Washington Post e outros jornais americanos assinalam nas suas edições de hoje.
Os números são considerados catastróficos e um marco sombrio na história dos Estados Unidos, apesar de haver sinais de que a pandemia possa estar a regredir e de haver programas de vacinação em curso. Até agora foram confirmados 28.206.600 casos positivos nos Estados Unidos, numa população de 330 milhões de habitantes. Entretanto, já foram vacinados mais de 18,8 milhões de pessoas com a segunda dose da vacina que correspondem a 5,7% da população americana e haverá cerca de 43,6 milhões de pessoas que já receberam a primeira dose, mas demorará alguns meses até que os Estados Unidos alcancem qualquer tipo de imunidade de grupo.
A mesma universidade calcula que o covid-19 já matou 2.462.000 pessoas em todo o mundo, o que significa que os Estados Unidos, que têm menos de 5% da população mundial, acumulam mais de 20% de todas as mortes causadas pela pandemia. Os números são realmente impressionantes e muita gente compara-os às perdas em combate sofridas pelos americanos durante a 2ª Guerra Mundial, mas o US Department of Veterans Affairs já veio afirmar que durante a guerra morreram 291.557 americanos em combate, isto é, o número de mortos por covid-19 ainda não duplica o número de mortos em combate na guerra, como se afirmara. The Washington Post faz algumas simulações relativamente às dimensões que teria um memorial dedicado às vítimas do covid-19 e calcula que seria necessário um cemitério maior do que o gigantesco Arlington National Cemetery, onde repousam cerca de 400.000 militares americanos.
O covid-19 é mesmo um marco sombrio na história americana.

domingo, 21 de fevereiro de 2021

Navegando ao longo das costas do Chile

O jornal El Llanquihue que desde 1885 se publica na cidade chilena de Puerto Montt, destaca na sua última edição uma fotografia a seis colunas do navio-escola Esmeralda da Armada do Chile, que se encontra de visita ao porto.
O Esmeralda é um veleiro de quatro mastros e 113 metros de comprimento, que foi construído nos estaleiros espanhóis de Cádiz e que foi incorporado na Marinha Chilena em 1954. Todos os anos o navio cumpre uma viagem de instrução de guardas-marinhas, durante a qual visita diversos países, mas neste ano de 2021 em que efectua o seu 66º Cruzeiro de Instrução, todo o seu programa se alterou devido à crise pandémica e os seus 280 tripulantes, em que se incluem 93 guardas-marinhas e 41 marinheiros, não sairão de águas nacionais.
As viagens ao estrangeiro despertam sempre entusiasmos nos jovens que escolheram a profissão do mar mas, em termos de instrução, os formandos chilenos não têm nada a perder por não saírem das águas nacionais. 
O Chile é um país sui-generis, que ocupa uma longa e estreita faixa de território sul-americano com 6.435 quilómetros de linha de costa, muito recortada e com muitas ilhas, que inclui o sinuoso estreito de Magalhães. Por isso, esta viagem de 118 dias pelas águas chilenas constitui um desafio para aqueles que pretendem aprender as técnicas da navegação e uma oportunidade para conhecerem melhor as suas próprias hidrografia e oceanografia, mas também uma ocasião para que o navio seja visto em portos secundários. A visita a Puerto Montt, um importante porto chileno, é um bom exemplo desse propósito, pois o Esmeralda não o visitava desde 1980, embora esta seja uma visita simbólica e logística uma vez que, por causa da pandemia, ninguém vai desembarcar e não haverá visitas a bordo.

A população da ilha do Corvo foi vacinada

Num tempo em que, por todo o mundo, o quotidiano está a ser dominado pelo covid-19 e pelas vacinas, sobretudo no que respeita aos atrasos na sua produção e à sua consequente escassez, o jornal Público anuncia hoje que “há uma ilha em Portugal onde todos os habitantes já estão vacinados” e publica uma fotografia da ilha do Corvo. O aparecimento da ilha do Corvo na primeira página de um jornal de referência é, só por si, um acontecimento!
A ilha do Corvo é o território mais ocidental da Europa, tem apenas 17 quilómetros quadrados de superfície e começou a ser habitado em permanência por volta de 1580. No seu historial há incursões de corsários ingleses e de piratas magrebinos, mas também a curiosidade da pequena povoação ter sido elevada à condição de vila e sede de concelho em 1832 por D. Pedro IV, em reconhecimento do seu apoio à causa liberal.
O isolamento da ilha foi sempre muito grande e manteve-se até data bem recente, só começando a ser quebrado pelo estatuto de autonomia açoriana, que foi consagrado constitucionalmente depois de Abril de 1974. Foi a partir de então que começou a ser construída uma nova história desta ilha, que teve total consagração quando no dia 28 de Setembro de 1983 foi inaugurado o aeródromo do Corvo, com uma pista de 800 metros. Hoje a ilha do Corvo tem cerca de 450 habitantes e as suas principais necessidades básicas estão satisfeitas, pois tem um médico residente, cobertura por telefone e internet, agência bancária e multibanco e, segundo informava uma recente reportagem televisiva, tem 22 professores que lecionam os cerca de cinquenta estudantes que frequentam as doze classes do ensino básico e secundário.
Ao falarmos da ilha do Corvo, que várias vezes visitamos nos tempos do isolamento, não podemos deixar de evocar a memória do nosso amigo Óscar José Nunes, um estudioso corvino que bem conhecia a cultura local, que recebia com cordialidade os poucos visitantes que desembarcavam no Portinho da Casa e que, durante 32 anos, representou a autoridade marítima na ilha.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

A chegada a Marte é mesmo Perseverança

Em missão da NASA, o rover Perseverance que transporta um verdadeiro laboratório robótico, aterrou ou amartou (?) ontem pelas 20 horas e 56 minutos em Marte e, se fosse vivo, o escritor Júlio Verne voltaria a festejar mais uma das suas fabulosas premonições, que já não é só “da Terra à Lua”, mas muito mais do que isso!
O Perseverance tinha partido no dia 30 de Julho de 2020 num foguetão lançado a partir de Cabo Canaveral e demorou quase oito meses numa viagem espacial de cerca de 470 milhões de quilómetros, mas os preparativos da viagem e a concepção dos instrumentos científicos que transportou desenvolveram-se desde há muitos anos. A partir de agora o Perseverance vai ter muito trabalho para que os seus instrumentos e tecnologias cumpram o seu principal objectivo, que é o de saber se há vida no planeta vermelho, mas também o de compreender melhor a sua constituição geológica.
Esta missão é, sem dúvida, um dos maiores desafios científicos do nosso tempo e consagra um longo historial de pesquisas e de estudos espaciais que remontam aos anos 1960 do século passado, quando a União Soviética e, depois, os Estados Unidos começaram a sonhar com a ideia de chegar a Marte. Foi uma grande vitória da Ciência e seguramente que os Estados Unidos vão utilizar este acontecimento para alavancar o verdadeiro espírito americano, tão abalado pela crise pandémica, pela crise social e pelas tropelias do Donald que tanto perturbaram a América.
Nas suas edições de hoje a imprensa mundial destacou o sucesso da viagem do Perseverance e tratou de publicar a primeira e histórica imagem captada pelas suas câmaras que, tal como os outros sinais da Terra para Marte ou de Marte para a Terra, demoram entre três e 22 minutos. Estamos realmente no mundo sonhado por Júlio Verne.

Álvaro Siza e a inovação na arquitectura

A plataforma internacional de arquitectura ArchDaily que foi criada em 2008 em Nova Iorque, agrega muitos profissionais da arquitectura, do design, construção e da comunicação especializada de todo o mundo. Todos os anos, através das votações dos seus membros, a plataforma escolhe os Edifícios do Ano em quinze categorias, entre as quais a categoria de Arquitectura Cultural. Este ano, a partir de cerca de 4500 projectos submetidos a concurso, foram escolhidos os 75 finalistas – cinco em cada categoria.
A votação final escolheu como vencedor do prémio Edifício do Ano 2021 na categoria de Arquitectura Cultural o MoAE – Museum of Art and Education de Ningbo, uma cidade situada a sul de Xangai na costa leste da China. Esse projecto, da autoria de Álvaro Siza e Carlos Castanheira, foi o mais votado dos cinco projectos da sua categoria, que incluía obras localizadas na Suíça, China, Alemanha e França.
O museu fica situado junto de um lago, tem cerca de seis mil metros quadrados e foi inaugurado no passado mês de Novembro. O edifício tem 25 metros de altura e em vez de escadas a ligar os seus cinco andares, faz essa ligação por uma rampa sem barreiras. A iluminação natural é assegurada por janelas situadas apenas no rés-do-chão e no topo do edifício. O edifício tem uma forma triangular, delineado por paredes contínuas com cantos curvos em vez de angulares e é revestido com chapas de alumínio corrugado, mais escuro do que a paisagem envolvente e cuja cor muda de preto para prata, consoante a incidência da luz solar.
Há dois dias o jornal hoje macau tinha divulgado esta obra dos dois arquitectos portugueses e parecia antecipar este prémio. O nosso aplauso!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Mudar de casa, para mudar de vida

Nas recentes eleições da Catalunha o PP (Partido Popular) somou 108.841 votos (3 deputados) e foi o oitavo entre os partidos mais votados, quando em 2015 tinha somado 349.193 votos (11 deputados) e em 2012 conseguira 471.631 votos (19 deputados). Este resultado foi considerado um desastre e anuncia uma decadência, mas o facto é que em termos nacionais o PP é o segundo maior partido de Espanha, esteve à frente do governo de Espanha com José Maria Aznar (1996-2004) e com Mariano Rajoy (2011-2018) e, nas últimas eleições nacionais, obteve 20,8 % dos votos e elegeu 88 deputados. Esta situação é bem diferente da que acontece em Portugal, pois nas últimas eleições legislativas o CDS-Partido Popular da Cristas só conseguiu 4,2% dos votos e apenas elegeu cinco deputados.
O facto é que Pablo Casado, o Presidente do PP, ficou alarmado com os resultados do seu partido na Catalunha e, assumidamente, por causa deles e pelas investigações em curso sobre um eventual financiamento irregular de obras no edifício que é a sede nacional do partido, situado na calle de Génova em Madrid, decidiu abandoná-la e vender o edifício. Diz o conceituado jornal El País que é "para huir de su passado corrupto". Significa, portanto, que Casado quer regenerar o seu partido e acabar com a maldição de corrupção que o persegue há muitos anos e com a “eterna suspeita” das autoridades sobre a existência de dinheiros sujos que mancharam o partido e que levaram a que o seu antigo tesoureiro fosse condenado a 29 anos de prisão. É uma estratégia de mudar de casa, para mudar de vida. 
Hoje, o jornal ABC e vários outros jornais espanhóis esqueceram o covid-19, as vacinas e o futebol, tendo dedicado as suas manchetes à decisão de Pablo Casado e do comité executivo do PP.  

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Eleições na Catalunha sem novidades

As eleições regionais da Catalunha realizaram-se ontem e suscitaram pouco interesse por parte dos portugueses, que andam mais preocupados com o covid-19, com o confinamento e com as vacinas, enquanto a comunicação social ignorou essas eleições porque vive numa descontrolada e provinciana ânsia para encontrar qualquer coisa de sensacionalista ou para descobrir aquilo que por cá não corre bem.
As eleições catalãs decorreram ordeiramente, o que é a primeira coisa a saudar-se, até porque nem sempre tem sido assim. A participação eleitoral foi de 53%, que foi um recorde negativo na história democrática da Catalunha, mas lembremo-nos que nas recentes eleições presidenciais portuguesas a participação se ficou pelos 45%. Quanto aos resultados, como destaca o El País, o independentismo saiu reforçado, embora o partido mais votado tivesse sido o PSC (Partido Socialista Catalão) que elegeu 33 deputados e, porque há 22 anos que não ganhava, este resultado foi uma grande vitória. Depois aparece a ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) de Pere Aragonés (centro-esquerda) com 33 deputados e a coligação JxCat (Juntos pela Catalunha) do exilado Carles Puigdemont (centro-direita) com 32 deputados, além do Vox (extrema-direita) com 11 deputados e da CUP (Candidatura de Unidade Popular) com 9 deputados da extrema-esquerda revolucionária. A maioria parlamentar exige 68 deputados e, como se imagina, todas as possíveis combinações são instáveis.
Salvador Illia, o ex-Ministro da Saúde e líder do PSC, é o principal candidato para governar a Generalitat, mas os independentistas (ERC+JxCat+CUP) têm a maioria com 74 deputados, embora tenham projectos bem diferentes ou mesmo incompatíveis. O cenário que se projecta é muito complexo, mas o que nos parece mais provável é uma coligação (PSC+ERC), porque são da mesma família política e só a questão da independência os distingue, mas na grave crise económica e social que já chegou à Catalunha, o melhor será mesmo que juntem esforços e deixem a questão da independência para depois.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Donald resistiu ao segundo impeachment

Após cinco dias de julgamento e de apresentação de provas condenatórias em Washington, que pudemos acompanhar via CNN, a votação final do Senado dos Estados Unidos absolveu o ex-presidente Donald Trump da acusação de “incitamento à insurreição”. Não houve surpresas, apesar de sete senadores republicanos se terem juntado aos cinquenta senadores democratas e terem votado a favor do impeachment, mas os 57 votos a favor foram insuficientes para condenar o Donald que ainda conseguiu ter 43 votos em sua defesa. A notícia do The Washington Post é arrasante: o Senado absolveu Trump outra vez.
Este resultado é um paradoxo e uma vergonha para a democracia americana, pois mostra como muitos políticos se afastam dos princípios pelos quais foram eleitos. O líder republicano Mitch McConnell é um bom, mas infeliz exemplo dessa situação. McConnell votou pela absolvição de Trump, mas disse que ele foi “prática e moralmente responsável” pelos acontecimentos do dia 6 de Janeiro, acusando-o de ter inequivocamente provocado o motim e a invasão do Capitólio. Então o homem diz isto e depois vota em sentido contrário a estas afirmações? Faltou-lhe coragem e acabou a defender que o Senado não era o local adequado para tratar daquele assunto, mas que Donald Trump deveria ser presente a um Tribunal. Para os Democratas e em especial para Nancy Pelosi, a líder da Câmara dos Representantes, o comportamento dos Republicanos foi cobarde e mostrou falta de coragem e de moralidade.
Donald Trump foi alvo de dois processos de destituição, um caso único na história dos Estados Unidos, mas com esta infeliz decisão do Senado ele poderá recandidatar-se à presidência em 2024 e, por isso, já anunciou que o seu movimento político vai agora começar. Muitos americanos, e não só americanos, dirão “que mais nos irá acontecer”.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

As luzes e as cores do Ano Novo Chinês

O Ano Novo Chinês começa oficialmente hoje, segundo se pode ler em diferentes plataformas informativas da imprensa e da internet, isto é, inicia-se o ano 4719 do calendário chinês que terminará no dia 31 de Janeiro de 2022.
De forma diferente do que acontece com o calendário ocidental ou calendário gregoriano, estabelecido pelo Papa Gregório XIII em 1582, em que o ano corresponde a uma translacção da Terra em torno do Sol, o calendário chinês é estabelecido de acordo com as fases da Lua e a posição do Sol e, por isso, não há uma data fixa para o início do Ano Novo Chinês. No entanto, apesar desse calendário, os chineses usam desde 1912 o calendário gregoriano, como de resto se faz em quase todo o mundo, por necessidade prática das suas relações diplomáticas e do seu comércio internacional.
Significa que o calendário chinês é sobretudo uma marca cultural da milenária civilização chinesa, pois assinala as datas importantes e as grandes festividades populares que lhes estão associadas, como por exemplo o início do Ano Novo Chinês. Nesse calendário os anos têm uma representação específica que é simbolizada pelos doze signos do horóscopo chinês e, nessas circunstâncias, depois do ano ou signo do rato inicia-se agora o ano ou signo do boi ou do búfalo.
Em Macau, mesmo durante o longo período da administração portuguesa do território, as festividades do Ano Novo Chinês sempre tiveram muita cor, luz e animação, mas parece que esses festejos se intensificaram agora e que, segundo a tradição chinesa, se prolongam por duas semanas. O Jornal Tribuna de Macau assinala na sua última edição o início do Ano Novo Chinês com a frase “à espera do búfalo” e com uma sugestiva fotografia em que se destaca claramente a fachada do histórico Leal Senado de Macau, uma instituição criada pelos portugueses em 1583.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Donald livra-se do segundo impeachment

Os irresponsáveis comportamentos do ex-presidente Donald Trump e os seus incitamentos do dia 6 de Janeiro para que o Capitólio fosse assaltado, ainda estão na memória da América e do mundo. Portanto, há um grande interesse no que se está a passar nos Estados Unidos e de saber se este tipo de comportamento fica ou não fica impune.
A primeira acusação contra o comportamento de Trump partiu dos Democratas e foi facilmente aprovada no dia 13 de Janeiro na Câmara dos Representantes, onde têm a maioria. Depois, o processo passou para o Senado e houve um primeiro debate para se saber se este julgamento com vista ao impeachment era ou não era constitucional, daí resultando a esperada derrota de Trump por 56 a 44 votos, o que significa que o Senado confirmou que o julgamento de Donald Trump é constitucional e podia prosseguir. 
A partir de agora vão intensificar-se as acusações ao Donald, não para destituir um presidente que os eleitores já despediram, mas para o responsabilizar pelo assalto ao Capitólio e para o impedir de poder pensar numa recandidatura. Porém, houve apenas seis senadores republicanos que aceitaram que o julgamento de Trump era constitucional e, por isso, é altamente improvável que agora surjam dezassete senadores republicanos (de um total de cinquenta) a condená-lo e venham a votar contra ele na próxima votação. 
Nessa votação serão necessários 67 dos cem votos do Senado e isso parece ser uma miragem. A imprensa americana tem reproduzido algumas das acusações contra o Donald, que foi o inciter in chief, que a sua atitude foi deliberated e premeditated ou, ainda, como afirma o The Wall Street Journal, que ele inflamed and incited o ataque ao Capitólio.
Ainda vamos esperar alguns dias mas, provavelmente, Ronald Trump não vai ter o castigo que merece. Os Estados Unidos precisavam de dar outro exemplo ao mundo

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Como a Índia está a combater o covid-19

O jornal Hindustan Times que se publica em Nova Delhi desde há quase cem anos, anuncia hoje que, pela primeira vez desde o dia 11 de Maio, não se registaram na cidade quaisquer óbitos por covid-19, apesar de se continuarem a registar novos casos de infecção, embora em menor grau do que antes. Numa cidade cuja área metropolitana tem mais de vinte milhões de habitantes, o facto é realmente notável e até surpreendente porque, apesar de todas as precauções tomadas pelas autoridades e pela população, é difícil conceber que uma tão grande massa populacional esteja livre de contágios.
A Índia tem actualmente cerca de 1350 milhões de habitantes, quase tantos como a China que é o país mais populoso do mundo. O covid-19 foi detectado pela primeira vez no dia 30 de Janeiro de 2020 e, desde então, registaram-se mais de 155 mil óbitos, o que é o quarto valor mais alto do mundo depois dos Estados Unidos, do Brasil e do México. Entretanto, a farmacêutica indiana Bharat Biotech já produz a sua própria vacina contra o covid-19 que tem o nome de Covaxin, que foi aprovada para uso de emergência, apesar de ainda não serem conhecidos os resultados definitivos dos seus testes de eficácia. Apesar disso, a vacina começou a ser aplicada na Índia e o fabricante espera exportá-la para o Brasil e para os Emirados Árabes Unidos nas próximas semanas. Quando vemos que o número de mortes por milhão de habitantes é de 117 na Índia e que em Portugal atinge 1373, poderemos interrogar-nos porque será, mas eu não tenho resposta.
Uma curiosidade final: metade da primeira página do Hindustan Times é ocupada com um anúncio dos relógios Rolex, o que significa que, mesmo em tempos de pandemia, a Índia está optimista e tem mercado para esse produto de grande luxo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

O restauro dos Painéis de São Vicente

A edição de hoje do jornal Público destaca na sua primeira página uma imagem dos Painéis de São Vicente, com a notícia que estão a ser restaurados “para nos devolver o original”. É uma grande notícia a relatar um grande acontecimento, o que aqui se salienta porque, por vezes, acontecem grandes manchetes com relatos ou notícias de não-acontecimentos. 
Portanto, o jornal está de parabéns por dedicar a sua manchete e uma parte do seu espaço ao restauro de uma peça notável do nosso património móvel, o que não é vulgar na imprensa portuguesa
Trata-se de um políptico composto por seis painéis, que se julga ter sido executado circa 1470 por Nuno Gonçalves e que foi casualmente descoberto em 1882 no Paço Patriarcal de São Vicente de Fora, encontrando-se actualmente no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. Com mais de quinhentos anos de idade e com evidente necessidade de restauro, tornou-se necessário fazer um diagnóstico correcto e ouvir especialistas nacionais e estrangeiros, para se avaliar o que deve ser feito, isto é, saber até onde devem ir os técnicos de restauro na sua busca da pintura original e na correcção dos eventuais repintes feitos em anteriores intervenções de restauro. Hoje o restauro utiliza conhecimentos científicos e recorre a múltiplas técnicas que asseguram uma superior qualidade do restauro, o que permite esperar que a operação decorra com o desejado sucesso.
O projecto iniciou-se no dia 18 de Maio e prevê-se que tenha uma duração de dois anos, devendo assegurar a preservação de uma das maiores obras da pintura portuguesa e restitui-la ao seu aspecto original. 

A protecção ao grande condor-dos-andes

O condor ou condor-dos-andes é a maior ave voadora do nosso planeta e tem 3,3 metros de envergadura das suas asas. 
O seu habitat é a extensa cordilheira dos Andes, na América do Sul, onde desempenha um papel muito simbólico na cultura, no folclore e na mitologia das regiões andinas, pelo que a sua imagem integra os brasões oficiais da Colômbia, do Equador, da Bolívia e do Chile. Porém, o condor é cada vez mais uma espécie em vias de extinção devido à progressiva perda do seu habitat natural e ao facto de ser vítima de envenenamento provocado pelas carcaças abandonadas por caçadores. Perante este quadro, a protecção ao condor-dos-andes faz parte de muitos programas nacionais e alguns países criaram programas de reprodução em cativeiro. 
No caso da Colômbia, segundo anuncia hoje o jornal La Patria, que se publica na cidade de Manizales que fica situada no centro ocidental da Colômbia, os registos indicam que, em todo o país, haverá apenas 130 condores em ambiente selvagem. Por isso, no próximo fim-de-semana vai realizar-se o primeiro recenseamento à escala nacional para obter dados concretos sobre a população de condores, para ajudar à conservação da espécie. Serão contados uno a uno. Naturalmente, o destaque dado pelo jornal La Patria é um estímulo para que o recenseamento tenha sucesso e para que a população dê o seu contributo para a preservação da espécie.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

O golpe na Birmânia e Aung San Suu Kyi

O tempo dos golpes de estado militares já passou e, por isso, os acontecimentos que no início da passada semana ocorreram na Birmânia, surgem ao arrepio da História.
A Birmânia, também chamada Burma e que, desde 1989, tomou o nome de Myanmar, é um país budista que tem uma história complexa, sobretudo depois de ter feito parte da Índia britânica ou Raj, entre 1885 e 1948, data em que se tornou independente.
Um golpe de estado militar impôs uma ditadura ao país em 1962, mas sob a pressão internacional, em 1990 houve eleições que foram ganhas pela senhora Aung San Suu Kyi e a NLD – National League for Democracy, com uma campanha em que defendiam a restauração da democracia no país. O regime militar não aceitou os resultados, prendeu-a e manteve-a presa no seu domicílio durante 15 anos, apesar de ter recebido o Prémio Nobel da Paz em 1991. Finalmente, após 49 anos, em 2011 os militares anunciaram o abandono do poder. Houve eleições em 2015 e a senhora Aung San Suu Kyi e a NLD voltaram a ganhar as eleições, mas ela foi impedida constitucionalmente de assumir a chefia do Estado porque os seus filhos têm nacionalidade estrangeira, pelo que foi criado o cargo de Conselheiro de Estado, que ela ocupou com poderes semelhantes aos do Primeiro-Ministro. A vida política birmanesa parecia correr normalmente e, no passado mês de Novembro, a senhora Aung San Suu Kyi e a NLD voltaram a ganhar as eleições. Os militares não gostaram e, no dia 1 de Fevereiro, tomaram o poder, tendo detido o presidente Win Myint, a conselheira Suu Kyi, muitos membros do NLD e decretado o estado de emergência. Aparentemente, só a China apoiou este golpe para proteger os seus enormes investimentos no país, enquanto as forças democráticas, os estudantes, o pessoal de saúde e outros sectores da população têm vindo para as ruas para contestar a ditadura militar e para apelar à desobediência civil. 
Hoje, o jornal francês Libération dedica a sua primeira página à contestação à ditadura militar birmanesa, à detenção de Aung San Suu Kyi e ao cri du peuple birman.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Quando as pistas da neve se tornam dunas

O noticiário corrente da imprensa dos países da Europa ocidental está centrado na evolução da pandemia e nos problemas com a falta de vacinas ou com a sua abusiva utilização, para além das coisas do futebol, parecendo por vezes que não há outros assuntos com interesse. Porém, diversos jornais franceses destacam hoje um fenómeno surpreendente e invulgar ocorrido nas regiões sudeste e leste do país, que “pintou” a paisagem de amarelo alaranjado. Tratou-se do efeito do siroco, um vento quente e seco, que sopra desde o deserto do Saara, muitas vezes sob a forma de tempestades de areia e que habitualmente se dissipa sobre o mar Mediterrâneo, embora por vezes atinja o sul da Itália e mesmo as praias da Riviera francesa.
O fenómeno acontece nos meses de Verão mas muito raramente, mas desta vez aconteceu em pleno Inverno e atingiu diversas regiões francesas, sobretudo a Auvérnia-Ródano-Alpes e a Lorena, a mais de quinhentos quilómetros de distância. No departamento de Isère e na sua capital que é a cidade de Grenoble, “le ciel est devenu jaune”, segundo salienta o jornal local Le Dauphiné, enquanto na vizinha estação de desportos de Chamrousse houve chuva de areia e as montanhas que estavam cobertas de neve se transformaram em dunas, pelo efeito da queda de partículas de areia em suspensão, como mostra uma fotografia que o jornal publicou em primeira página. O fenómeno não é nada comum, pelo que até parece tratar-se de mais um efeito das alterações climáticas que se estão a verificar no nosso planeta.

sábado, 6 de fevereiro de 2021

Os cinco sentidos em tempo de pandemia

Em vez de insistir nas notícias sobre as eventuais irregularidades na distribuição das vacinas, ou sobre a falta de computadores portáteis nas escolas ou, ainda, sobre os resultados do futebol no dia anterior, o jornal Público destaca as especiarias na primeira página da sua edição de hoje. Num tempo de uma enorme especulação jornalística, quando não de descaradas e desonestas mentiras numa competição pelo sensacionalismo e de luta pelas audiências, trata-se de uma boa opção editorial daquele diário, até porque todos começamos a ficar cansados de ouvir tantos irresponsáveis que nos entram em casa através das televisões e de ver manchetes de jornais que nos querem fazer crer que tudo corre mal no país, o que não é verdade.
A imagem da capa do jornal Público recorda-nos os cinco sentidos de que o ser humano dispõe, que lhe facilitam o convívio com o ambiente que o rodeia – visão, audição, olfato, paladar e tacto – permitindo-lhe a captação de imagens, sons, sabores, odores e formas.
Assim, um bailado desperta-nos a visão, a música alimenta-nos a audição e um perfume estimula-nos o olfato, enquanto as especiarias nos entusiasmam não só com a diversidade das suas cores e com a intensidade dos seus odores mas, sobretudo, porque são um estímulo incontornável para o paladar.
Em tempos de pandemia e de confinamento, a activação dos nossos sentidos é uma necessidade para a manutenção de uma saudável forma física e mental, não só para resistir aos efeitos da crise pandémica, mas também para evitar os efeitos perniciosos das distorções da comunicação social e de muitos dos seus agentes. Por isso, hoje vou exercitar o meu paladar e vou recorrer ao take away, procurando consolar-me na ementa do Delhi Darbar, ali na lisboeta Avenida de Roma.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Marta Temido, a pandemia e o aplauso

Atravessamos uma enorme crise pandémica cujas consequências vemos expressas todos os dias em comunicados que nos dão a dimensão de uma tragédia, mas para além desta realidade há uma crise económica e social que se vai revelando e cujos contornos são imprevisíveis. 
Vivemos num templo absoluto de incerteza para o qual não estávamos preparados e, quando estas situações acontecem, revelam-se as pessoas que se mostram à altura das circunstâncias e aquelas que “abandonam o barco”, que fogem às suas responsabilidades e se refugiam na crítica ao que corre menos bem.
Na primeira linha deste combate estão o SNS e os profissionais de saúde que, todos os dias, se arriscam nos hospitais e nos centros de saúde, mas do outro lado está a irresponsável crítica das ordens profissionais, o oportunismo dos que pretendem tirar vantagem da situação que vivemos e, sobretudo, o lamentável comportamento de muitos jornalistas, muitas vezes mentiroso, manipulador e ausente de ética profissional. Numa altura em que deveriam cumprir o seu dever social de transmitir confiança à população e apoiar os esforços das autoridades de saúde, muitos jornalistas fogem ao esclarecimento dos telespectadores, dos ouvintes ou dos leitores, procurando descobrir sensacionalismo naquilo que sai da norma ou que não correu bem. Alguém já chamou a este vergonhoso comportamento o “assador mediático”, para o qual contribuem jornalistas e comentadores irresponsáveis. Naturalmente que há erros mas, tal como dizia Bento de Jesus Caraça, que não receava o erro porque estava sempre pronto a emendá-lo, também agora se emendam os erros de um plano que, por definição, tem que ser flexível e ajustado às novas evidências.
Assim, aqui se presta homenagem a Marta Temido, a corajosa Ministra da Saúde, que para além de enfrentar as incertezas desta pandemia e os inoportunos ataques de alguns adversários políticos, ainda tem que conviver com muitos daqueles que desprestigiam a ética e a deontologia jornalísticas. Bravo!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Cristiano Ronaldo, o grande recordista

O futebol é um dos fenómenos culturais mais importantes nas sociedades modernas, pois atrai o interesse geral e alimenta uma imprensa desportiva que trata de esmiuçar tudo o que diz respeito ao jogo e, em especial, em relação aos jogadores, aos técnicos, às claques e a todo o fait divers dessa actividade que, ao mesmo tempo, é um desporto, um espectáculo e um negócio.
A imprensa desportiva dá uma enorme importância às estatísticas, sobretudo às estatísticas do golo, que é o momento central do futebol. Os jogadores que marcam os golos, conhecidos como artilheiros ou pontas de lança, tornam-se as figuras principais do espectáculo e as estatísticas tratam de nos dizer quem marcou mais golos com o pé esquerdo ou com o pé direito, de cabeça ou de livre directo. Os outros jogadores parecem ter pouca importância, a não ser o guarda-redes quando defende um penalti ou quando dá um frango.
Neste quadro, há estatísticas para todos os gostos. Porém, segundo nos revelam hoje as estatísticas do diário espanhol Marca, os dois golos que Cristiano Ronaldo ontem marcou em Milão à equipa do Inter na primeira mão da Taça de Itália, tornaram-no o maior goleador da história do futebol, tendo ultrapassado o checo Josef Bican e o famoso Pelé, que partilhavam o topo desta lista com 762 golos. O jornal espanhol descrimina os golos de Cristiano Ronaldo: 102 com a selecção nacional, cinco com o Sporting, 118 com o Manchester United, 451 com o Real Madrid e 87 com a Juventus. Nenhum jornal português, desportivo ou generalista, falou desta performance de Cristiano Ronaldo, mas não há dúvidas ele é o mais importante português da actualidade e que a sua notoriedade e prestígio internacionais não deixam espaço para mais ninguém.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Uma tempestade de neve em Nova Iorque

A cidade de Nova Iorque está aproximadamente na mesma latitude da cidade de Lisboa, mas por causa das correntes marítimas e de outros factores meteorológicos, as temperaturas nas duas cidades dos dois lados do Atlântico têm diferenciais da ordem dos 15 a 20 graus durante o inverno. Por isso, todos os anos, vemos os grandes nevões que cobrem Nova Iorque e a região nordeste dos Estados Unidos, enquanto na orla continental portuguesa não há quedas de neve, as temperaturas são amenas e por vezes há dias primaveris.
Este ano as tempestades de neve foram mais intensas do que habitualmente e a cidade de Nova Iorque está em estado de emergência, com a neve a acumular-se desde há cerca de 48 horas e a atingir meio metro de altura. Como é habitual, a rede de transportes está bloqueada, enquanto os aeroportos e as escolas estão encerrados por algumas horas ou dias e, este ano, a tempestade fez com que a campanha de vacinação em curso na cidade e na região tivesse que ser suspensa, tal como as consultas marcadas nos hospitais.
O New York Post destacou hoje a notícia da tempestade de neve e chamou-lhe a snovid-21, por analogia com a covid-19, salientando que ao confinamento mais ou menos forçado devido ao covid-19, se juntou agora o confinamento devido ao snovid-21, embora a neve tenha tornado o cenário mais agradável à vista. O jornal ilustra a sua capa com um nova-iorquino protegido contra o frio e diz que, neste caso, eles até já têm máscaras. Em tempo de tanta angústia não fica mal um pouco de humor…