sexta-feira, 30 de julho de 2021

Portugal venceu uma medalha olímpica

Ao sexto dia de provas foi quebrado o enguiço e Portugal entrou para a lista de países medalhados nos Jogos Olímpicos de Tóquio, através da medalha de bronze conquistada por Jorge Fonseca numa das provas de judo. 
Podia ter sido melhor, mas se não foi óptimo, foi mais do que suficiente. "Vale ouro" como escreveu A Bola. Por isso, aqui ficam os parabéns ao atleta medalhado que, para já, nos resgatou daquela triste situação de ver 62 países medalhados e não ver Portugal nessa lista. Agora já são 68 países medalhados, que é quase meio mundo, mas já temos a satisfação de ver o nome do nosso país naquela lista graças ao waza-ari com que Jorge Fonseca derrotou o canadiano Shady Elnahas.
A imprensa portuguesa acordou e a fotografia de Jorge Fonseca aparece hoje nas primeiras páginas de todos jornais. Foi a 25ª medalha portuguesa em 25 participações olímpicas. Bom seria que que neste caso se aplicasse a frase que nos diz que “o mais difícil é começar”. Recordamos que em Los Angeles-1984 e Atenas-2004 os portugueses conseguiram três medalhas. Para que Tóquio-2020 possa igualar aquelas prestações só faltam duas…

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Um farol, um património da Humanidade

O farol de Cordouan, que fica situado sobre uns rochedos na foz do estuário do rio Gironda e a cerca de sete quilómetros de terra, foi construído entre 1584 e 1611, sendo o mais antigo farol francês ainda em funcionamento. É constituído por uma artística torre com 67,5 metros de altura e tem seis andares, no primeiro dos quais se encontram os aposentos reais decorados com pilastras e, no segundo, uma capela decorada com vitrais, sendo por vezes apelidado como o “Versalhes do mar”. O edifício tem uma arquitectura única, foi classificado como monumento histórico em 1862 e o acesso ao topo da torre e ao sistema de iluminação é feito por uma monumental escadaria com 301 degraus. O farol recebe cerca de 24 mil visitantes por ano e é visitável de Abril a Outubro, demorando cerca de 45 minutos a percorrer a distância de terra ao farol.
Na passada semana o Comité do Património Mundial da Unesco reuniu na cidade chinesa de Fuzhou e, com base no seu excepcional interesse para a herança cultural da humanidade, decidiu incluir o Farol de Cordouan na sua Lista do Património Mundial. Com mais de quatro séculos de serviço aos navegantes, o Farol de Cordouan é o último farol habitado das costas francesas e é o segundo farol europeu a ser classificado pela Unesco, depois do farol espanhol de La Coruña, conhecido por Torre de Hércules.
O jornal Sud Ouest, que se publica em Bordéus, deu um justificado destaque à decisão da Unesco e escreveu que foi “a coroação de um rei”.

Tóquio: enquanto há vida há esperança

Ao fim de sete dias de provas olímpicas em Tóquio, o medalheiro olímpico já regista 62 países que conquistaram medalhas, dos quais há 35 que já ganharam medalhas de ouro, mas nesse quadro veificamos que os atletas portugueses ainda não conquistaram qualquer medalha, o que muito desgosta os desportistas portugueses, um grupo em que ainda me incluo. Em contrapartida, os nossos irmãos brasileiros já conquistaram cinco medalhas olímpicas, enquanto os nossos vizinhos espanhóis andam eufóricos por terem conquistado três medalhas. Os seus êxitos olímpicos aparecem elogiados em todos os jornais e o jornal desportivo as dedica toda a sua primeira página a um David Valero que conquistou a medalha de bronze na prova de ciclismo MTB, tendo escolhido a palavra heróico para homenagear o atleta.
Embora não sendo uma potência desportiva mundial, seriam de esperar outros resultados dos atletas portugueses, até porque parece não lhe terem faltado apoios para a sua preparação. Porém, como são 46 as modalidades que estão em prova e, apesar de não termos tradição de grandes sucessos nas disputas olímpicas, ainda continuamos a alimentar a esperança de voltar a ver algum compatriota a subir ao lugar mais alto do pódio como aconteceu com Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nelson Évora, os únicos campeões olímpicos portugueses.
Estamos a chegar a meio dos Jogos Olímpicos e como diz o ditado popular… enquanto há vida há esperança. 

A caminho da paz em Cabo Delgado?

Desde o ano de 2017 que grupos armados com inspiração no Estado Islâmico têm actuado na província moçambicana de Cabo Delgado, estando contabilizados cerca de 2800 mortos, mais de 700 mil deslocados e a destruição de infraestruturas e de património em Mocímboa da Praia, Palma e outras localidades. Perante este quadro ameaçador, a Southern African Development Community (SADC) ou Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, uma organização regional que reúne dezasseis países, aprovou no passado dia 23 de Junho a constituição de uma “força conjunta” regional para apoiar Moçambique no combate contra o terrorismo naquela província setentrional do país. As autoridades moçambicanas já anunciaram à população a próxima presença de forças militares estrangeiras e que o comando da intervenção caberá ao país que tiver a maior força destacada, prevendo-se que seja a África do Sul, conforme anunciou o Jornal de Angola. Não é publicamente conhecido o número de militares que a organização vai enviar para Moçambique, mas peritos da SADC que estiveram em Cabo Delgado já tinham avançado em Abril que a missão deve ser composta por cerca de três mil militares.
Está previsto que cada força estrangeira destacada inclua militares moçambicanos e que, embora subordinadas ao comando da intervenção, cada força actuará tacticamente sob sua própria responsabilidade.
Entretanto, já se encontra em Cabo Delgado um contingente de mil militares e polícias do Rwanda para a luta contra os grupos armados, no quadro de um acordo bilateral existente entre o governo moçambicano e as autoridades rwandesas.
Espera-se, naturalmente, que a paz e a segurança regressem rapidamente a Cabo Delgado, uma região que os portugueses conhecem muito bem.

domingo, 25 de julho de 2021

R.I.P. Otelo Saraiva de Carvalho

O Coronel Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho faleceu esta manhã em Lisboa no Hospital das Forças Armadas. Tinha 84 anos de idade e não resistiu a uma crise cardíaca. Depois do curso liceal frequentou a Academia Militar, tendo cumprido comissões de serviço durante a guerra colonial, em Angola de 1961 a 1963 e de 1965 a 1967, seguindo-se uma comissão na Guiné entre 1970 e 1973. Porém, foi o seu relevante papel na revolução de 25 de Abril de 1974 que o tornou uma destacada figura da vida política portuguesa da segunda metade do século XX. Foi o responsável pela estratégia militar e pelo sector operacional da Comissão Coordenadora do MFA (Movimento das Forças Armadas), tendo planeado e dirigido as operações que levaram à queda da ditadura do Estado Novo, a partir do posto de comando instalado no Quartel da Pontinha, em Lisboa. Tornou-se, a par de Fernando Salgueiro Maia, um dos mais destacados símbolos da Revolução dos Cravos, que restituiu a Liberdade e a Democracia aos portugueses, que pôs fim a 13 anos de guerra colonial e que nos abriu as portas da Europa.
As difíceis circunstâncias que se seguiram à proclamação do MFA – democratizar, descolonizar e desenvolver – deram origem a graves perturbações políticas e sociais e Otelo Saraiva de Carvalho tornou-se uma figura muito polémica. Graduado em brigadeiro, foi designado para comandar o COPCON (Comando Operacional do Continente) e, depois de ter sido derrotado nos acontecimentos de 25 de Novembro de 1975, foi conotado com movimentos radicais e organizações terroristas, pelo que veio a ser condenado a 15 anos de prisão, mas em 1991 recebeu um indulto e, a pedido do Presidente Mário Soares, foi amnistiado em 1996. Antes, tinha sido candidato nas eleições para a Presidência da República em 1976 e em 1980.
Otelo serviu o país e não se serviu, como fizeram muitos dos que agora o evocam. O seu relevante papel na queda do regime do Estado Novo tornam-no uma figura central da vida política portuguesa da segunda metade do século XX. Entre 1971 e 1973 privei com Otelo na Guiné, sobretudo nas tertúlias de bridge em Bissau, em casa de um amigo comum, guardando dele uma boa recordação. Por isso e pelo que fez naquela “madrugada que eu esperava”, naquele “dia inicial inteiro e limpo”, como escreveu Sophia de Mello Breyner, aqui lhe presto a minha homenagem.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Aí estão os Jogos Olímpicos de Tóquio

Os Jogos Olímpicos de 2020 ou Jogos da XXXII Olimpíada iniciam-se hoje em Tóquio com um ano de atraso devido à crise pandémica. Vão decorrer até ao dia 8 de Agosto e terão a presença de 92 atletas portugueses que irão participar em 17 modalidades - andebol, atletismo, canoagem, ciclismo, ginástica, hipismo, judo, natação, remo, skateboarding, surf, taekwondo, ténis, ténis de mesa, tiro, triatlo e vela. 
Embora o historial olímpico português não seja relevante e andemos há quase meio século a celebrar as vitórias de Carlos Lopes e de Rosa Mota, lá estaremos com as esperanças do costume para obter boas classificações e, se possível, algumas medalhas. Por todo o mundo, a imprensa destaca nas suas edições de hoje a inauguração do maior acontecimento desportivo do ano e, por exemplo, na pequena Islândia que tem apenas 350 mil habitantes, o jornal Morgunbladid que se publica em Reykjavik, dedica grande parte da sua edição às Olimpíadas. E o que nos mostra a imprensa portuguesa de hoje? Terá porventura passado mensagens de incentivo aos nossos atletas e em especial a Jorge Fonseca, Telma Monteiro, Patrícia Mamona ou Nélson Évora que, aparentemente, são candidatos à conquista de medalhas olímpicas? Nada disso. 
Os jornais generalistas nada ou quase nada dizem sobre os Jogos Olímpicos e os jornais desportivos fazem manchete com um futebolista que ontem, imagine-se, meteu o golo com que o Benfica ganhou por 1-0 ao Lille, “com um belo cabeceamento aos 28 minutos”. Os títulos dos jornais desportivos são: Gonçalo Ramos tem pólvora (A Bola), Gonçalo Ramos resolve (Record) e Gonçalo com unhas e dentes (O Jogo). Que tristeza de imprensa desportiva, que incompetência de quem faz esses jornais e que se intitula e tem carteira profissional de jornalista.

quarta-feira, 21 de julho de 2021

A publicidade insólita e absurda da SATA

Anúncio da SATA na ilha do Pico 
A Publicidade é uma forma de comunicação que, entre outros objectivos, visa intervir no espaço público para informar consumidores, mas também para chamar a atenção, suscitar o interesse e levar à aquisição do produto ou do serviço anunciado. A Publicidade é também uma técnica de comunicação e uma arte que codifica mensagens através de textos, de imagens e de sons, a fim de as tornar mais apetecíveis e mais compreensíveis pelos públicos a quem se destinam. Na óptica empresarial, a Publicidade é um investimento, pois representa uma aplicação de recursos com vista à obtenção de benefícios no futuro.
Estas considerações sobre a Publicidade vêm a propósito de uma mensagem publicitária insólita e absurda, difundida em algumas ilhas açorianas através de grandes cartazes outdoor pela companhia açoriana de transporte aéreo – a SATA ou Azores airlines. A SATA tem carreiras regulares entre os Açores e a Madeira que, provavelmente não têm rentabilidade comercial, nem constituem obrigação de serviço público, sendo uma opção de gestão cujo fundamento desconheço mas que, provavelmente, apenas visa satisfazer um qualquer ego.
As ligações aéreas entre os Açores e a Madeira não têm viabilidade comercial porque o mercado é limitado. A SATA não conseguirá os passageiros de que precisa. Assim, em vez de recomendar aos açorianos que visitem as várias ilhas do arquipélago, vai por outro caminho e recomenda-lhes a Madeira – um lugar onde tu pertences!, mostrando-lhes uma imagem de miradouros e montanhas, que é coisa que algumas ilhas bem conhecem. Ou será que esta mensagem é para lembrar aos turistas que visitam os Açores, que existe a Madeira que é um destino turístico mais apetecível?

domingo, 18 de julho de 2021

Alterações climáticas geram cataclismos

Na época mais improvável do ano fomos surpreendidos com um verdadeiro cataclismo que se abateu sobre algumas regiões da Alemanha e da Bélgica, mas também da Holanda, da Suiça e do Luxemburgo, em que inundações diluvianas causaram 129 mortes segundo o diário espanhol ABC, embora esse número já tivesse sido actualizado.
As notícias de hoje referem que pelo menos 168 pessoas morreram na sequência das chuvas torrenciais e das consequentes inundações e enxurradas que nos últimos dias afectaram várias regiões alemãs e belgas. Porém, as autoridades advertem que estes números podem vir a aumentar, pois há cerca de 1300 pessoas na região de Ahrweiler que continuam incontactáveis e dadas como desaparecidas, enquanto a própria cidade de Bad Neuenahr Ahrweiler parece ter sofrido um tsunami.
A explicação para este surpreendente fenómeno parece derivar apenas dos efeitos das alterações climáticas. A chanceler Angela Merkel que se encontrava em visita oficial aos Estados Unidos já considerou estes acontecimentos como uma tragédia nacional e comprometeu-se a aplicar todos os auxílios federais para ajudar na reconstrução.
Como nota saliente refere-se que as populações não ficaram à espera de auxílios e apoios, nem trataram de reivindicar o que quer que fosse. Segundo referem as agências noticiosas, no meio do caos, todos os habitantes de Bad Neuenahr Ahrweiler “equipados com vassouras e pás, já estão trabalhando para limpar o que podem”, iniciando a “tarefa assustadora de remoção de entulho”.
Um exemplo para as gentes da nossa terra...

sábado, 17 de julho de 2021

Angola na presidência da CPLP até 2023

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é uma organização internacional criada em 17 de Julho de 1996 pelos países lusófonos e tem por objectivo o aprofundamento da amizade e da cooperação entre os seus membros. Dela fazem parte, como membros fundadores, os estados de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné -Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, a que se juntaram Timor-Leste em 2002 e a Guiné Equatorial em 2014. Para além dos seus membros efectivos, a CPLP tem dezanove observadores associados e há cerca de uma dezena e meia de países que manifestaram interesse em aderir. A sede da CPLP é em Lisboa, mas a sua presidência é rotativa.
O surgimento da CPLP gerou muitas expectativas, mas depois de mais de vinte anos de existência, ainda não se afirmou no plano internacional, nem mesmo entre os seus membros, pois para alguns já se foi longe demais, enquanto para outros pouco se fez no plano da cooperação. Uma das vertentes em que mais se progrediu, embora com avanços e recuos, foi no plano desportivo através dos Jogos da Lusofonia que se realizaram em Macau (2006), Portugal (2009) e Goa (2014). Porém, a candidatura de Moçambique para organizar os Jogos da Lusofonia em 2017 foi cancelada e, agora, espera-se pela realização dos Jogos em Luanda.
Entretanto está a realizar-se em Luanda a XIII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, na qual Angola sucedeu a Cabo Verde e assumiu pela primeira vez a presidência. Em tempo de pandemia e de crise generalizada, as expectativas não podem ser altas, mas pode ser que o Presidente João Lourenço aproveite a oportunidade para deixar o seu nome ligado a uma nova vida da CPLP, incluindo a adopção do português como a sétima língua oficial das Nações Unidas.

Trotinetas, bicicletas e desordem urbana

O diário parisiense Le Figaro destaca na sua edição de hoje o sugestivo título “Trottinettes, vélos… Le grand désordre urbain” que, obviamente, nos sugere comparações com o que se está a passar na cidade de Lisboa. Lá como cá, estamos reféns da aldeia global e das suas modas. O que acontece em Paris, seja uma novidade boa ou má, depressa chega a Lisboa, onde as chamadas mobilidades suaves invadiram o espaço público, as ruas e as calçadas, “ameaçando” os transeuntes pouco habituados às habilidades destas novos “donos da cidade”. As autoridades municipais trataram de facilitar a vida a estes utentes de bicicletas e de trotinetas eléctricas, prejudicando automobilistas e peões, a quem foram retirados espaço e segurança. Com o tempo de Verão, as mobilidades suaves reapareceram numa escala preocupante, com utilizadores indisciplinados que actuam sem regras, que assumem prioridades ilegítimas e comportamentos agressivos, como se tivessem adquirido todos os direitos do mundo. A convivência não é pacífica e tende a ser conflitual entre todos os utentes do espaço público mas, como refere Le Figaro, são eles que “forçam o caminho, causam quedas e todos os dias mandam algumas dezenas de feridos para os hospitais”, embora “sejam frequentemente acidentes menores”. Porém, o jornal francês também indica alguns acidentes mortais, resultantes de atropelamentos e de quedas.
Em Lisboa, os peões têm a sua segurança ameaçada por bicicletas e trotinetas eléctricas, havendo todos os sinais referenciados pelo Le Figaro, mas desconhecemos se há ou não há peões atropelados, colisões com automóveis ou despiste de trotinetas, nem se há ou não há “todos os dias pessoas nas urgências hospitalares acidentadas por trotinetas eléctricas”, como sucede em Paris. 
Em Paris é “le grand désordre urbain”, mas em Lisboa quem poderá travar esta ameaça que nos é feita diariamente pela gente das mobilidades suaves?

sexta-feira, 16 de julho de 2021

O fenómeno Pogačar a subir montanhas

A Volta à França ou Tour de France é uma competição de ciclismo de estrada que se correu pela primeira vez em 1903 e que, desde então, só não foi realizada durante as duas Guerras Mundiais. No plano nacional é o evento desportivo favorito dos franceses, mas no plano internacional é um acontecimento de grande prestígio no qual participam, ou gostariam de participar, ciclistas de todo o mundo.
O Tour de France foi sempre um fenómeno mediático, mas as modernas transmissões televisivas têm permitido que o espectador “corra ao lado dos ciclistas” e que, ao mesmo tempo, desfrute de vistas aéreas de paisagens naturais, de pitorescas cidades e de belos monumentos, o que torna o seu acompanhamento um bom divertimento turístico-cultural. Este ano, devido a uma queda colectiva, a prova perdeu alguns dos mais cotados ciclistas, embora isso não tire brilho ao desempenho de um jovem esloveno de 22 anos de idade chamado Tadej Pogačar, que corre pela equipa UAE Team Emirates. A dois dias do fim da competição, ele já é o vencedor incontestado da prova e acrescentará esta vitória a um palmarés onde consta um Tour de l’Avenir, uma Volta ao Algarve, uma Volta à Califórnia, um 3º lugar na Volta à Espanha e uma vitória na Volta à França do ano passado.
Tadej Pogačar revelou-se um fenómeno no mundo do ciclismo e dominou o Tour de France sobretudo nas subidas das íngremes montanhas dos Pirinéus e a edição de hoje do jornal catalão L’Esportiu dedica-lhe a sua primeira página e diz que, mesmo com a vitória assegurada no Tour, ele “no perdona”.
Este ano estiveram dois ciclistas portugueses na prova – Rúben Guerreiro e Rui Costa: o primeiro teve uma boa prestação entre os vinte melhores, mas o segundo teve uma prestação bem modesta e ficou muito aquém dos seus pergaminhos.
Para o ano há mais…

quinta-feira, 15 de julho de 2021

África do Sul: tensão, violência e morte

Ontem o jornal The Star que se publica em Joanesburgo, destacava como título de primeira página as palavras morte e destruição, enquanto as televisões nos mostravam imagens de tiroteios, estradas bloqueadas, assaltos a lojas e pilhagens a centros comerciais. A tensão e a violência que atingem grande parte do país, que alguns já referem como uma quase guerra civil, resulta da condenação do ex-presidente Jacob Zuma a 15 meses de prisão por se recusar a testemunhar num processo sobre corrupção durante o seu mandato, mas também é uma consequência de uma grave situação económica com o desemprego a ultrapassar os 32% e de uma preocupante situação sanitária devida ao covid-19, pois apenas 1% da população está vacinada e há uma incontrolável onda de contágios e de mortes. 
Jacob Zuma é suspeito de corrupção, mas durante o apartheid passou dez anos na prisão de Robben Island, ao lado de Nelson Mandela, pelo que é uma figura de prestígio na política sul-africana. Tendo começado por recusar o cumprimento da pena de 15 meses a que foi condenado por desrespeito ao tribunal e não por corrupção, por fraude ou por extorsão que terão marcado a sua presidência (2009-2018), veio a decidir entregar-se. O facto é que irrompeu de imediato uma onda de grande violência com mortes e destruições na sua província de Kwazulu-Natal, que alastrou a Joanesburgo e a outras regiões do país.
Daí que haja profundas preocupações na República da África do Sul quanto ao caos e à violência que se está a instalar no país, tendo o ANC – African National Congress que Jacob Zuma liderou entre 2007 e 2017, apelado aos seus militantes para que “fiquem calmos”. A apreensão é grande entre os 500 mil membros da comunidade portuguesa e luso-descendente na África do Sul.

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Cuba está sob um forte vento de mudança

O regime que governa Cuba há cerca de 62 anos resultou da acção vitoriosa do Movimento 26 de Julho que, em pouco mais de dois anos, derrotou o regime ditatorial de Fulgêncio Batista. Sob a liderança do jovem advogado Fidel de Castro, então com 30 anos de idade, um grupo de 81 elementos daquele movimento largou do México a bordo do Granma e desembarcou no dia 2 de Dezembro de 1956 na área oriental da ilha de Cuba. Assim nasceu o exército rebelde que, a partir da Sierra Maestra e depois de uma campanha feita com base na luta de guerrilhas, entrou triunfante em Havana no dia 1 de Janeiro de 1959. Nessa campanha houve combatentes que se destacaram e se tornaram os ícones da revolução cubana, como Fidel de Castro, Ernesto Che Guevara e Camilo Cienfuegos. O mundo começou por apreciar a gesta heróica do exército rebelde, mas os seus dirigentes depressa caíram na órbita da União Soviética, enquanto Cuba se tornou um instrumento ao serviço dos interesses soviéticos e os anseios do povo cubano foram ignorados. 
Porém, a União Soviética implodiu em 1991 e a partir daí o regime cubano foi ficando cada vez mais isolado e mais empobrecido, ao mesmo tempo que se radicalizava, apesar de muitos apelos internacionais para que se democratizasse. O povo cubano foi manipulado no culto da Revolução e dos seus heróis, mas os seus dirigentes não deram atenção aos ventos, nem às lições da História. Hoje, essa geração que lutou na guerrilha já se reformou e os seus netos querem outra vida.
A morte de Fidel de Castro, que aconteceu em 2016, foi o primeiro sinal do fim do regime cubano, apesar das tentativas para que fosse preservado para além da sua morte. O seu sucessor foi o seu irmão Raúl Castro que tinha sido ministro das Forças Armadas de 1959 a 2008 e, actualmente, é o académico Miguel Diaz-Canel que preside ao país. Porém, tal como os seres vivos, os produtos, as ideias e tantas coisas mais, os regimes e as ideologias também nascem, crescem e morrem. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Muda-se o ser, muda-se a confiança. Todo o mundo é composto de mudança. É apenas uma questão de tempo, porque como diz o jornal peruano Ojo, que é editado em Lima, “se hartó del comunismo e de la dictadura” e “Cuba clama libertad!

segunda-feira, 12 de julho de 2021

A Itália venceu com brilho o Euro 2020

O Euro 2020 terminou ontem em Wembley e a Itália levou a melhor sobre a Inglaterra. A Itália só vencera a prova no já distante ano de 1968 e a Inglaterra nunca a vencera, pelo que ambos a procuravam como um tesouro que os seus currículos futebolísticos reclamavam e, como sempre acontece nestas finais, o equilíbrio era tão grande que a vitória poderia ter caído para qualquer dos lados. Sorriu aos italianos, que assim sucederam a Portugal no trono do futebol europeu. A Itália mereceu esta vitória, mas Boris Johnson mereceu esta derrota.
Todos os jornais italianos encheram as suas primeiras páginas com a fotografia da festa e, em tempos de pandemia, estas vitórias futebolísticas animam o povo e ajudam a esquecer a crise sanitária que tanto enlutou a Itália. Depois de quase um mês de massacre futebolístico nas televisões, com inúmeras transmissões e um número incontável de comentadores a debitar banalidades, o Euro 2020 chegou ao fim.
A selecção portuguesa ficou aquém das espectativas criadas pelos jornalistas e pelos comentadores portugueses, que endeusaram e levaram ao deslumbre os jogadores e a equipa, antes de tempo. Porém, no meio da mediana prestação da selecção portuguesa, destacou-se uma vez mais Cristiano Ronaldo que, em quatro jogos marcou cinco golos e se tornou o melhor marcador do Euro 2020. 
Para o ano há mais no Mundial 2022 do Qatar. Vamos a ver se a equipa portuguesa se qualifica

domingo, 11 de julho de 2021

Brasil chora a derrota na Copa América

O grande Brasil, que por vezes designamos como o país-irmão, está a atravessar uma fase de descrença e de melancolia que vai para além das marcas da crise global que todo o mundo atravessa. Naturalmente, a crise sanitária está na primeira linha dessa crise com mais de 500 mil mortes devido ao covid-19, mas desde a primeira hora que a liderança brasileira se revelou incapaz de enfrentar as dificuldades e de transmitir serenidade e esperança ao povo brasileiro. Pelo contrário, o presidente Jair Bolsonaro tem-se comportado com demasiada ignorância, muita boçalidade e enorme incompetência. Os seus índices de popularidade nunca foram tão baixos e as sondagens conduzidas pela Datafolha apontam para que na primeira volta das eleições de 2022, recolha apenas 25% das intenções de voto, enquanto Luiz Inácio Lula da Silva, o seu potencial adversário, já assegura 46% dessas intenções, enquanto numa segunda volta, qualquer que seja o adversário, o antigo presidente tem larga vantagem. A mesma sondagem da Datafolha revela que, pela primeira vez desde que começou a interrogar os brasileiros sobre um eventual processo de impeachment contra Jair Bolsonaro, já há 54% de brasileiros que se afirma favorável à sua destituição. Não se augura nada de bom nos próximos tempos. 
O Brasil atravessa, de facto, uma crise sanitária e política, mas também uma crise social e de confiança. A final da Copa América, disputada esta madrugada no Rio de Janeiro entre as equipas de futebol do Brasil e da Argentina, poderia ser um elemento mobilizador para transmitir uma centelha de entusiasmo ao povo brasileiro que tanto gosta de futebol. As coisas não correram bem e os argentinos ganharam por 1-0.
A Argentina festeja e o Brasil chora. Melhores dias virão para os brasileiros.

sábado, 10 de julho de 2021

A Escócia, a Inglaterra e a rivalidade total

Amanhã joga-se a final do Euro2020 entre a Inglaterra e a Itália, um jogo que está a despertar um entusiasmo proporcional à enorme promoção que foi feita de toda essa competição. Aqui em Portugal foi um exagero, um autêntico sufoco de informação. Nunca terá havido um acontecimento internacional que mobilizasse tantos jornalistas, tantos comentadores e tantos estagiários portugueses. Foi uma festa para toda essa gente que esvaziou as tesourarias das suas empresas, mas encheu a cidade de Budapeste atrás da selecção portuguesa. Porém, as coisas não correram bem e apesar de ter jogadores muito talentosos, a equipa ficou pelo caminho. Foi um soco no estômago depois de tudo o que foi dito e escrito.
Amanhã, portanto, teremos a Inglaterra e a Itália à procura da taça. Como se tem visto e amanhã se voltará a ver, o vencedor vai resultar de uma casualidade, de um erro do árbitro, da falha de um guarda-redes ou de uma bola na trave. Curiosamente, o jornal independentista escocês The National, dedica a primeira página da sua edição de hoje a Roberto Mancini, o treinador da selecção italiana e escreve:
Salva-nos Roberto, tu és a nossa esperança. 
Nós não podemos suportar mais 55 anos deles a bater sobre isso.
O facto é que a Inglaterra nunca ganhou o Europeu e só uma vez, no ano de 1966, ganhou o Mundial, o que é um palmarés decepcionante para um país que é a pátria do futebol. Os escoceses consideram que os ingleses, que gostam de invocar glórias do passado, andam há 55 anos a invocar com arrogância aquela sua única vitória. Por isso, os ingleses estão ansiosos por uma nova vitória, mas os independentistas escoceses não a desejam e apoiam os italianos, o que significa que não querem nada com os ingleses, nem sequer no futebol.

sexta-feira, 9 de julho de 2021

As histórias tristes deste nosso Portugal

A vida, a escola e os amigos ajudaram-me a ser o que sou, mas a matriz da minha identidade cívica e cultural aprendi-a desde muito jovem, sobretudo, com os meus Pais.
O meu Pai era um homem rigoroso que, de cor e sem hesitações, me debitava páginas e páginas de Os Lusíadas, enquanto a minha Mãe era uma mulher perspicaz que gostava muito de usar provérbios e ditados populares. Um deles, que ela muitas vezes me repetia, era que “quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem”. Daí resultou, desde há muitos anos, a minha desconfiança nos processos de acumulação de riqueza, no novo-riquismo, na chamada gente de sucesso e, sobretudo, daqueles que se deixavam enrolar na teia da fama e da vaidade que a comunicação social alimenta, enquanto me espantava a intrigante forma como a Justiça e as Instituições pactuavam e conviviam com o que se passava. Muitas vezes me ocorreu a famosa expressão de Sofia, “vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”, mas parece que poucos viam, poucos ouviam, poucos liam e que muitos ignoravam.
Porém, como escreveu Camões, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” e, segundo parece, “a tradição já não é o que era”, pelo que começaram a aparecer muitos casos que estão a alarmar a sociedade portuguesa. Esses casos que têm vindo a público não me surpreendem, mas surpreende-me que se continue a verificar um verdadeiro abuso de poder por parte dos operadores judiciais e que a comunicação social se comporte como um grupo de vira-casacas que, depois de endeusar essa gente, os coloca agora sob a sua implacável guilhotina. 
Não há quaisquer dúvidas que é um dever democrático que as autoridades actuem contra quem viola as leis da República, mas não é tolerável o abuso de poder e a prática das fugas cirúrgicas de informação, nem o abuso das prisões preventivas e, sobretudo, a condenação na praça pública de tanta gente, antes de ser acusada e julgada. 
Muita dessa gente, que conviveu com os poderes políticos, que se sentou ao lado dos operadores judiciais e que foi endeusada pelos mass media, está agora no centro da crítica e da severa condenação de quem antes tanto os bajulou. Há poucas histórias tão tristes como estas no Portugal contemporâneo. 

quinta-feira, 8 de julho de 2021

A aventura do “Ever Given” chegou ao fim

No passado mês de Março o gigantesco porta-contentores Ever Given, propriedade da empresa chinesa Shoei Kisen, encalhou no canal do Suez com mais de 18 mil contentores a bordo. O navio ficou encalhado durante seis dias, numa posição que impedia a passagem de outros navios e só foi desencalhado devido à acção conjugada de rebocadores e de dragas e, naturalmente, com a indispensável ajuda das marés. Os prejuizos causados por esta ocorrência foram astronómicos e era muito pesado o cenário judicial que se apresentava.
O navio foi judicialmente apreendido e ficou fundeado no Great Bitter Lake, uma área que separa os dois troços do canal do Suez, enquanto a respectiva Autoridade anunciou que o encerramento do canal representava um prejuízo diário de 12 a 15 milhões de dólares, além de perda de reputação, embora fossem bem diferentes as estimativas de perdas que foram anunciadas por diferentes fontes. As negociações arrastavam-se há mais de três meses.
Finalmente, foi divulgado que o Egipto assinou um acordo de compensação com o armador e com a seguradora do navio, que terá ficado bastante abaixo dos 916 milhões de dólares inicialmente exigidos. Com os seus 400 metros de comprimento e os 18 mil contentores que carrega, o Ever Given voltou ontem a navegar para norte e esse facto foi notícia para o The Wall Street Journal.
Quando chegar a Port Said, a porta de saída do canal para o Mediterrâneo, o navio vai ser objecto de uma avaliação de segurança e, depois, seguirá para Roterdão onde a sua carga terá como destino final o porto inglês de Felixstowe.
Terá então terminado a aventura do gigante Ever Given e do seu encalhe no canal de Suez.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Xi Jinping e a novíssima ambição chinesa

O Partido Comunista Chinês (PCC) festejou ontem 100 anos de idade e houve festa grande na praça de Tiananmen, com um longo discurso de Xi Jinping que apareceu vestido com a túnica cinzenta popularizada por Mao Tsé-tung, o fundador do partido.
“A China tem 5000 anos e durará outros 5000”, diz um popular slogan que as autoridades têm repetido nas últimas semanas como preparação para os festejos. Ao fim de 72 anos no poder conquistado depois de uma longa guerra civil, o PCC evoluiu e transformou a China, mas conserva a fotografia de Mao à entrada da Cidade Proibida, em frente da praça Tiananmen, certamente para lembrar que a China privilegia as mudanças que conduzem ao progresso, mas continua fiel à herança política do PCC e do seu fundador. Foi aí nesse simbólico local que, de pé e junto à fotografia de Mao Tsé-tung, o secretário-geral Xi Jinping falou aos seus militantes, ao país e ao mundo.
Xi Jinping lembrou as conquistas do passado, elogiou os sucessos do presente que permitiram retirar da pobreza muitos milhões de chineses e estabeleceu metas para o futuro, entre as quais a "missão histórica" da reunificação com Taiwan, a ilha que é considerada uma província separatista da República Popular da China. No seu discurso deixou um claro aviso para o mundo ao afirmar que "nunca vamos permitir que qualquer força estrangeira nos oprima ou subjugue", acrescentando que as potências estrangeiras que tentarem intimidar ou influenciar o país vão entrar em rota de colisão “com uma parede de aço" de 1,4 mil milhões de pessoas.
O discurso de Xi Jinping teve larga difusão na imprensa mundial e, em Macau, o jornal hoje macau dedicou-lhe a sua primeira página com o título “o século da China”. É nesse sentido que aponta a futurologia.  

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Efeito das mudanças climáticas no Canadá

O processo de aquecimento global do nosso planeta e as alterações climáticas estão na ordem do dia, sobretudo pelo está a acontecer nas regiões ocidentais do Canadá e dos Estados Unidos, onde as temperaturas se têm aproximados dos 50ºC, o que tem provocado centenas de mortes e tem levado as autoridades a encerrar escolas, empresas e centros de vacinação. Não há memória de uma onda de calor como esta e todos os registos históricos foram ultrapassados, por exemplo nas cidades de Vancouver, Seattle e Portland, onde as temperaturas têm atingido valores muito superiores aos valores que são habituais nesta época.
Por todo o mundo, à excepção da América de Donald Trump, as alterações climáticas têm sido consideradas a maior ameaça ambiental do século XXI, com consequências profundas e transversais na sociedade, sobretudo nos aspectos económicos, sociais e ambientais. Embora as alterações climáticas sempre tenham sido registadas ao longo da vida do nosso planeta, o agravamento que vem acontecendo no último século não tem precedentes e é uma ameaça para a Humanidade. A principal razão das mudanças em curso são os chamados gases de efeito de estufa, cujas emissões têm aumentado devido ao dióxido de carbono (CO2) resultante da queima de combustíveis fósseis. Daí que, a temperatura global tivesse aumentado 0,76ºC no último século, embora a previsão para este século se situe entre 1,1 e 5,4ºC, dependendo das medidas que vierem a ser adoptadas pela comunidade internacional.
O facto é que esta onda de calor no ocidente do Canadá e dos Estados Unidos impressionou muita gente, incluindo alguma imprensa francesa como o Libération, que já se esqueceu do Euro 2020 e que deixou a loucura dos franceses pelo Tour de France para um plano secundário.