quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Aeronáutica e orgulho chinês em Zhuhai

A 13ª Exposição Internacional de Aviação e Aeroespacial da China ou Airshow China 2021, a maior feira aeronáutica que se realiza na República Popular da China, iniciou-se ontem na cidade de Zhuhai, que faz parte da província chinesa de Cantão. 
Zhuhai tem fronteira com o território de Macau e é uma cidade moderna, que em 1980 foi transformada em Zona Económica Especial da China e que realiza este evento bienal, que este ano tem a participação de cerca de 700 empresas de quase quatro dezenas de países.
Como é habitual nestas grandes feiras aeronáuticas, tem havido lugar a demonstrações de voo, tendo-se destacado as exibições das equipas de acrobacia aérea da Força Aérea do Exército de Libertação do Povo, respectivamente a Falcão Vermelho e a BaYi. A equipa Ba Yi utiliza os modernos aviões de combate Chengdu J-10, multi-funcionais e de concepção chinesa, a que os americanos chamam “Dragão Furioso”.
O jornal Global Times, que se publica diariamente em Pequim sob a orientação do Diário do Povo, o órgão oficial do Partido Comunista Chinês, destacou na sua edição de hoje uma fotografia da exibição da equipa BaYi nos céus de Zhuhai, não só porque esteticamente se trata de uma excelente imagem, mas também porque alimenta o orgulho militar e aeronáutico chinês.

A lava do ‘Cumbre Vieja’ chegou ao mar

O vulcão do complexo de Cumbre Vieja, que desde há cerca de dez dias está em erupção na ilha de La Palma, no arquipélago das Canárias, continua com actividade bastante intensa e a suscitar alguma preocupação entre a população, sobretudo na parte sul da ilha. 
O fluxo de lava já cobriu quase três centenas de hectares da ilha, destruiu muitas plantações de bananeiras, devastou mais de seis centenas de edificações e já obrigou cerca de seis mil pessoas a deixar as suas casas casas. Ontem a impressionante corrente de lava chegou ao mar, caindo de um penhasco de considerável altura, o que produziu espessas nuvens de fumo e libertou gases tóxicos, conforme noticiou o Diario de Avisos, um jornal de Tenerife que é o decano da imprensa canária.
Tanto as autoridades como os peritos em vulcanologia têm acompanhado a evolução do vulcão, que fez deslocar para a ilha de La Palma muitos jornalistas, o que tem permitido um acompanhamento noticioso, sobretudo fotográfico, deste fenómeno.

A Grécia dá ajuda à economia francesa

O recente cancelamento do contrato que a França e a Austrália assinaram em 2016 para o fornecimento de submarinos, no valor de algumas dezenas de milhares de milhões de euros, foi um duríssimo golpe para a poderosa indústria de defesa francesa. A tensão entre americanos e franceses acentuou-se, pois os franceses sentiram-se traídos e daí que tivessem surgido muitas declarações apaziguadoras por parte dos americanos, havendo notícias de que Biden e Macron se iriam reunir por causa desta crise.
Por isso, a notícia hoje divulgada pelo jornal Le Télégramme de Lorient, de que o presidente Macron e o primeiro-ministro grego tinham ontem assinado um contrato para a construção de três modernas fragatas nos estaleiros do Naval Group em Lorient, antes conhecidos por DCNS ou Direction des Construction Navales, suscitou uma enorme euforia. Além disso, está ainda prevista a construção de três corvetas da classe Gowind, de 2500 toneladas, um navio que já está ao serviço ou prestes a entrar ao serviço nas marinhas de França, do Egipto e da Malásia, o que aumentará o valor global deste contrato.
Com esta encomenda a Grécia dá uma boa ajuda à economia francesa. Porém, não foi divulgado o esquema de financiamento deste contrato e, porque o montante da dívida externa grega é o mais elevado no espaço europeu, não se imagina quem possa avançar com mais estes créditos aos gregos. Por isso, não admirará que seja a França a construir e a financiar. Depois se verá…

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Quem poderá suceder a Angela Merkel?

As eleições legislativas alemãs que se realizaram no domingo eram esperadas com bastante expectativa porque os eleitores iriam escolher os 735 deputados para o Bundestag, de onde sairá o sucessor de Angela Merkel. Na tradição política alemã não é costume que um só partido obtenha a maioria de 368 deputados e, por isso, o processo de formação dos governos obriga a muitas negociações, alianças e coligações. Assim vai ser desta vez, embora num quadro de mudança, depois de dezasseis anos de governos dirigidos pelo CDU de Angela Merkel.
O partido mais votado foi o SPD de Olaf Scholz que teve 25.7% dos votos e conquistou 206 mandatos, enquanto o segundo partido mais votado foi a CDU de Armin Laschet que teve 24.1% dos votos e conquistou 196 mandatos. Há, portanto, um grande equilíbrio entre o centro-esquerda do SPD e o centro-direita da CDU e não se sabe qual deles vai conseguir fazer uma coligação de governo. O terceiro partido mais votado foi o Partido Verde de Annalena Baerbock que conseguiu 14.8% dos votos e 118 mandatos; o quarto foi o FDP, o partido liberal de Christian Lindner com 11.5% dos votos e 92 mandatos; o quinto foi o AfD, o partido populista de extrema-direita com 10.3% e 83 mandatos; o sexto foi o Die Linke de extrema-esquerda populista com 4.9% dos votos e 39 mandatos.
Tudo parece orientar-se para uma primeira negociação/coligação entre Verdes e Liberais que juntos representam 210 mandatos e, depois, numa negociação entre este grupo verde-liberal com cada um dos dois maiores partidos. De qualquer forma, o processo vai ser demorado e tanto Olaf Scholz como Armin Laschet podem vir a suceder a Angela Merkel, como sugere o Süddeutsche Zeitung, o maior jornal alemão, que na sua edição de hoje destaca em primeira página a fotografia dos dois possíveis chanceleres da Alemanha. Ou será que há espaço para uma terceira hipótese? Ou que tudo se complica e que a Alemanha tenha de recorrer a novas eleições?
Tudo pode acontecer e a isto é que se pode chamar política com geometria variável.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Eleições autárquicas: a lição e o aviso

As eleições autárquicas ontem realizadas decorreram com normalidade e foram a prova provada de que a democracia portuguesa está viva, pois a campanha eleitoral e as votações decorreram sem incidentes. 
Os portugueses escolheram livremente e mostraram que a alternância do poder é um valor importante e que responde à necessidade de mudança a que aspiram as pessoas e as comunidades. 
A possibilidade de escolher através do voto aqueles que devem governar em nome do povo é uma arma democrática e as eleições constituem a forma de satisfazer as naturais vontades de mudança. Há muitos anos, já Camões escrevera:

            Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, 
          Muda-se o ser, muda-se a confiança; 
          Todo o mundo é composto de mudança, 
          Tomando sempre novas qualidades.

Era assim no século XVI e é assim agora, isto é, o mundo é composto de mudança. Porém, lamenta-se tanta abstenção, o que constitui um aspecto negativo dos processos eleitorais a que os agentes políticos não têm querido dar resposta, pois quase sempre escolhem candidatos gerados pelos aparelhos e não as pessoas interessadas em prestar um serviço público à comunidade. Para muitos eleitores é tudo “farinha do mesmo saco” e, por isso, tornam-se indiferentes e acabam por não participar.  Os resultados de ontem não tiveram expressão nacional e não significam grandes mudanças, mas serviram para abalar alguns interesses instalados ou, como refere o jornal Público, as eleições abalaram o PS e animaram o PSD. A resposta às exigências das populações implica um poder autárquico muito dedicado a essas populações, o que nem sempre acontece, pois há muitos autarcas mais apostados no seu carreirismo político do que na satisfação das necessidades das pessoas – os transportes, a habitação, a limpeza urbana, o ambiente, a segurança, entre outras. Porém, muitos dos autarcas acomodam-se a pensar nas suas carreiras políticas e os eleitores já não engolem facilmente essas situações. Isso terá acontecido em Coimbra, no Funchal e em outros concelhos, mas sobretudo em Lisboa onde o excesso de confiança daqueles a quem as sondagens garantiam a vitória, os conduziu à derrota.
Foi uma grande lição e um acertado aviso, porque governar uma cidade é servir e não pode ser um trampolim para qualquer outras coisa.

sábado, 25 de setembro de 2021

Auf Wiedersehen: o adeus a Angela Merkel

A Alemanha tem eleições gerais amanhã para escolher o novo chanceler que substituirá Angela Dorothea Merkel, que exerceu esse cargo durante dezasseis anos. Serão eleitos 709 deputados para o Bundestag, sobretudo da CDU (centro-direita) e do SPD (centro-esquerda), mas o futuro chanceler resultará, como é habitual na política alemã, das coligações que forem acordadas.
Com 67 anos de idade, Angela Merkel deixa o seu cargo com um nível de popularidade interna da ordem dos 80%, enquanto no estrangeiro se sucedem as homenagens à mulher que se tornou o símbolo da estabilidade europeia desde que assumiu o cargo em 2005. Durante o seu mandato a senhora Merkel conheceu cinco primeiros-ministros do Reino Unido, quatro presidentes franceses, quatro presidentes americanos, sete primeiros-ministros italianos e quatro presidentes portugueses, tendo conquistado uma reputação e um capital de prestígio singular no actual xadrez da política mundial.
Um dos aspectos mais curiosos do seu desempenho político foi a sua relação com a França, com quem a Alemanha disputou a hegemonia europeia durante muitos anos, nomeadamente na guerra franco-alemã de 1870-71 e nas duas guerras mundiais. A boa relação entre a França e a Alemanha de Angela Merkel foi, provavelmente, o factor que mais contribuiu para a unidade e para estabilidade europeias e daí as homenagens da imprensa francesa que, apesar do seu espírito chauvinista não hesitou em usar a expressão Auf Wiedersehen em algumas das suas publicações.
Angela Merkel foi uma figura notável e inscreveu o seu nome na estreita galeria dos construtores da Europa, onde estão Konrad Adenauer, Robert Schuman, Jean Monnet, Jacques Delors e poucos mais.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

O infeliz discurso do Jair em Nova Iorque

Jair Bolsonaro, o presidente da República Federativa do Brasil, foi até Nova Iorque para discursar na 76ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, tal como outros chefes de estado, mas uma boa parte da imprensa brasileira refere-se a essa sua viagem de forma muito desprestigiante e classifica o seu discurso como polémico e com distorsões e mentiras.
Nas suas edições de ontem a Folha de S. Paulo escreveu que “falácias e descrédito marcam ida de Bolsonaro à ONU”, o Estado de S. Paulo dizia que “Bolsonaro mente dez vezes na ONU” e O Globo destacava que “Presidente distorce factos sobre covid, economia e Amazônia”. O jornal Extra do Rio de Janeiro publicou a fotografia do presidente e diz que “mente que nem sente”. Pode perguntar-se como é possível que um país tão importante na comunidade mundial como é o Brasil, possa ser representado por uma personagem tão vazia como este Jair! De facto, quem o ouviu não teve dificuldade em perceber que o homem se deixou enredar em pura propaganda, o que o ridicularizou perante a Assembleia Geral das Nações Unidas.
Por acaso, também esteve nessa sessão o presidente português que, obviamente, o mundo ouviu muito atento... Antes passeara-se por Nova Iorque, sempre atrás das televisões, a tirar selfies, a fazer declarações redundantes e a insistir em lugares comuns. É uma ânsia de protagonismo exagerada. 
Porém, ao contrário do Jair, o nosso presidente não nos envergonha, embora estas coisas nos custem muito dinheiro. Um outro português que estava na sala era António Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas, cujo discurso apelou ao multilateralismo para vencer a pandemia e a crise climática.
Grande António Guterres!

terça-feira, 21 de setembro de 2021

A erupção vulcânica nas ilhas Canárias

Na ilha de La Palma, a ocidente do arquipélago espanhol das Canárias, tinham-se acumulado nos últimos dias sinais de grande instabilidade, com a ocorrência quase contínua de milhares de pequenos sismos na área do complexo vulcânico de Cumbre Vieja. As autoridades já tinham decretado o alerta amarelo perante a evidente ameaça de possível erupção vulcânica e, por isso, quando no passado domingo o vulcão entrou em erupção, ninguém foi surpreendido.
O complexo vulcânico de Cumbre Vieja situa-se a sul da ilha de La Palma e consta de vários vulcões, dos quais o Teneguia teve a sua última erupção em 1971. A erupção em curso apresenta-se em dez bocas de fogo e a lava já cobre mais de cem hectares, mas não tem provocado pânico entre a população. Não há até agora quaisquer vítimas a lamentar, embora já tenham sido evacuadas algumas centenas de pessoas da região e uma centena e meia de habitações já tenha sido devorada pela corrente de lava.
As ilhas Canárias foram ocupadas pelos espanhóis no século XV, depois de disputas com os portugueses, havendo um registo histórico de dezasseis erupções vulcânicas, das quais sete ocorreram exactamente na ilha de La Palma, que tem 708 quilómetros quadrados de superfície e cerca de 87 mil habitantes.
A imprensa espanhola destacou ontem o acontecimento, tendo publicado impressionantes fotografias nas primeiras páginas das suas edições, assim acontecendo com o Diário de Avisos, um jornal de Santa Cruz de Tenerife.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

França: amigos, amigos, negócios à parte

Ontem publicamos aqui um texto sobre a anunciada aliança estratégica entre os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália, a partir de uma notícia publicada pelo Financial Times. Essa notícia é divulgada hoje pela imprensa mundial, que enfatiza esta “coligação contra o expansionismo chinês”, enquanto a imprensa francesa destaca o cancelamento da encomenda australiana de doze submarinos ao Naval Group, num contrato com o valor de 56 mil milhões de euros.
A França está em estado de choque com esta notícia, sente-se apunhalada pelas costas e os títulos da imprensa são eloquentes: “l’Amérique torpille la France” (Le Parisien) e “Le contrat du siècle torpillé” (Le Télégramme), enquanto um outro jornal nos explica “comment un contrat de 56 milliards est tombé à l’eau” (Le Dauphiné). O jornal La Dépêche du Midi, cuja capa escolhemos para ilustrar o presente texto, escreve “quand l’Australie torpille la France”.
A França sente-se torpillée e traída por aqueles que julgava seus aliados. Já havia uma “guerra comercial e tecnológica” entre a Europa e os Estados Unidos, protagonizada sobretudo pela concorrência entre a Airbus e a Boeing, mas esta aliança abre um novo período de tensão comercial e diplomática entre europeus e americanos. A França sente-se humilhada no seu orgulho e nos seus interesses económicos e comerciais e, certamente, vai reagir sobretudo em relação ao seu vizinho Boris Johnson, que veio confirmar que tem muito pouco de europeu.
Porém, este episódio vem tornar mais claro que os interesses da Europa, bem como os fundamentos das suas alianças, nomeadamente na NATO, já não são coincidentes com os dos Estados Unidos. Amigos, amigos, negócios à parte.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Uma aliança para deter a ambição chinesa

Se havia dúvidas quanto às preocupações americanas em relação à ascensão do poderio económico e militar chinês, o anúncio ontem feito em simultâneo por Joe Biden, Boris Johnson e pelo primeiro-ministro australiano Scott Morrison, veio desfazê-las.
Os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália anunciaram ter assinado uma aliança estratégica ou um pacto de segurança válido na região do Indo-Pacífico, para deter as ambições expansionistas chinesas. Daí ter nascido a AUKUS (uma sigla que junta a Austrália, o Reino Unido e os Estados Unidos) com o objectivo de aprofundar as questões da diplomacia, da segurança e da cooperação na defesa daquela região e para enfrentar os desafios do século XXI. 
Segundo o que foi anunciado, esta aliança vai permitir que a Austrália se equipe com submarinos de propulsão nuclear, o que significa que vai abandonar o programa francês de aquisição ou modernização de submarinos convencionais que substituiria os seus antiquados submarinos da classe Collins, que já têm duas décadas de vida. Esse contrato tinha sido assinado em 2016 entre o governo australiano e a empresa francesa Naval Group, uma das principais empresas de construção naval europeias e, segundo foi anunciado, importaria em 40 mil milhões de dólares. Foi, portanto, um duríssimo golpe para a poderosa indústria de defesa francesa, mas também para toda a indústria europeia, enquanto fornecedora de componentes.
Esta nova aliança estratégica pretende travar o expansionismo chinês na região e em especial no mar da China, mas o seu impacto económico é tão grande e é tão penalizador para a França e para a Europa, que a edição americana do Financial Times a destacou hoje como a notícia do dia.

Espanha e Catalunha ‘se sientan y hablan’

O ditador Francisco Franco tinha abolido a autonomia da Catalunha depois da guerra civil, mas após a sua morte e a democratização da Espanha, renasceram as reivindicações autonomistas que vieram a ser consagradas no Estatuto de Autonomia da Catalunha de 2006. Porém, à reivindicação autonomista sucedeu a reivindicação independentista, que veio a ser encabeçada pelos presidentes da Generalitat da Catalunha, Artur Mas (2010-2016) e Carles Puigdemont (2016-2017), tendo este organizado um referendo que as autoridades espanholas não tinham autorizado e declarado depois a independência da Catalunha no dia 10 de Outubro de 2017. Carles Puigdemont foi destituído, exilou-se na Bélgica e, pouco tempo depois, a Generalitat passou a ser governada por Joaquim Torra (2018-2020), um discípulo de Puigdemont, que também veio a ser destituído pelo crime de desobediência, ao recusar-se a retirar a simbologia independentista dos edifícios públicos como tinha sido determinado pelos tribunais. O clima de tensão entre espanholistas e independentistas era muito intenso, com muita agitação e frequentes manifestações de rua.
Porém, a pandemia do covid-19 parece ter atenuado as tensões entre os catalães e nas eleições de 14 de Fevereiro de 2021, o partido mais votado foi o Partido Socialista da Catalunha (PSC) de Salvador Illa, que fora ministro da Saúde do governo espanhol, mas a aliança dos independentistas da Esquerra Republicana de Catalunya (ERC) e do Junts per Catalunya (JxCat) permitiu formar uma maioria parlamentar de suporte à presidência da Generalitat em que, pela primeira vez, coube à ERC na pessoa de Pere Aragonès, um advogado de 38 anos de idade. Depois de “anos de frenesim”, os catalães passaram da sua máxima mobilização com 79% de votantes em 2017, para a sua máxima abstenção com 53% de votantes em 2021. Significa que, apesar de terem a maioria dos 135 deputados, não têm unidade nem força política.
Porém, depois de muitos anos de tensão e de hostilidade, o governo espanhol de Pedro Sánchez e o governo catalão de Pere Aragonès, “se sientan y hablan, sin plazos”, como noticia hoje o jornal el Periodico de Barcelona. 
Uma boa notícia para a estabilidade na Espanha e na península Ibérica.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

O emocionado adeus a Jorge Sampaio

O falecimento aos 81 anos de idade do antigo presidente Jorge Sampaio, na sequência de dificuldades respiratórias, foi um acontecimento doloroso para muitos portugueses que nele reconheciam um homem culto, íntegro, corajoso, democrata e solidário. O governo tomou a iniciativa de decretar três dias de luto nacional e de realizar cerimónias fúnebres com honras de Estado, tendo sido preparada uma expressiva cerimónia no Mosteiro dos Jerónimos.
Essa cerimónia aconteceu depois do velório que decorreu no antigo picadeiro real anexo ao Palácio de Belém e foi transmitida em directo pelas televisões. Enquanto no exterior a passagem da urna foi aplaudida pela população que se aglomerara ao longo do percurso, nos claustros do mosteiro encontravam-se cerca de trezentas pessoas para assistir à cerimónia, incluindo as mais altas figuras do Estado, a família de Jorge Sampaio e algumas delegações estrangeiras, incluindo o Rei de Espanha. Durante a cerimónia, a urna de Jorge Sampaio teve uma guarda de honra constituída por cadetes das Forças Armadas, tendo havido a intervenção da Orquestra Sinfónica Portuguesa e do Coro do Teatro Nacional de São Carlos. Num ecrã gigante foi passado um excerto do discurso da sua tomada de posse como Presidente da República em 9 de Março de 1996 e a sua histórica intervenção na CNN sobre a situação em Timor-Leste, em Dezembro do mesmo ano, para além de várias mensagens vindas de Timor. Depois, os filhos de Jorge Sampaio leram um belo discurso em memória de seu pai, seguindo-se a leitura por Maria do Céu Guerra do poema de Jorge de Sena – “Uma pequenina luz”. Falaram depois as mais altas figuras do Estado e, com emoção, elogiaram o legado de cidadania de Jorge Sampaio, uma figura maior da Democracia em Portugal. 
O cortejo fúnebre seguiu depois para o Cemitério do Alto de São João.
Os mass media tudo registaram para memória futura, mas a cerimónia que decorreu nos claustros do Mosteiro dos Jerónimos foi emocionante e justa, como Jorge Sampaio bem mereceu. O Diário de Notícias dedicou uma fotografia de primeira página à "despedida dos Jerónimos".

domingo, 12 de setembro de 2021

Brasil: haja atenção ao golpismo do Jair

As lastimáveis e muito perigosas declarações de Jair Bolsonaro no dia 7 de Setembro, o Dia da Independência do Brasil, já o levaram a recuar e a afirmar que foi “o calor do momento”, mas existe a convicção de que se tratou apenas de uma medida táctica, ao dar um passo atrás para avançar dois passos logo que seja oportuno. O seu esquema golpista parece estar em desenvolvimento, sobretudo depois de verificar que a sua popularidade vem caindo até níveis muito baixos e que são mínimas as hipóteses de ser reeleito em 2022, até porque o seu nome está associado à tragédia da pandemia e a situação económica começa a ser crítica, com elevado desemprego e muita pobreza.
Há um mês, Bolsonaro utilizou carros blindados para ocupar a Esplanada dos Ministérios em Brasília, numa iniciativa de mau gosto destinada a assustar, a mostrar força e a pressionar os deputados para que aprovassem a legislação que lhe convinha. Foi um ensaio em que instrumentalizou as Forças Armadas para ameaçar a Democracia, quando o seu papel é exactamente o contrário: defender a Democracia.
Seguiu-se, bem ao estilo de Donald Trump, o incitamento à revolta popular, em que o Jair foi contrariado pela firmeza do STF e recuou, mas como escrevia um jornal brasileiro “a sociedade precisará de acções firmes para barrar o golpe em preparação por Bolsonaro”, que tem repetidamente procurado subverter e deslegitimar o processo eleitoral.
A mais recente edição da revista IstoÉ dá o alarme e escreve:
Basta! É a hora do impeachment. O País precisa de uma união histórica das forças políticas para garantir a democracia. O presidente queimou todas as chances de diálogo no Sete de Setembro e deixou claro que caminha rumo ao golpe.
Este é o retrato que vem sendo traçado pela imprensa brasileira e, de facto, parece que o Jair escolheu o caminho do “quanto pior melhor”. Ele saberá bem porquê.

sábado, 11 de setembro de 2021

O trágico 9/11 e os traumas da América

Perfazem-se hoje vinte anos sobre a data em que ocorreram os ataques terroristas aos Estados Unidos, dirigidos às Torres Gémeas de Nova Iorque e ao Pentágono em Washington, tendo havido um outro avião que se despenhou em Shanksville, na Pensilvânia. Quatro aviões comerciais foram transformados em mísseis humanos tripulados por dezanove fanáticos militantes da al-Qaeda e daí resultou a morte de 2996 pessoas, das quais 2977 eram inocentes.
O mundo nunca mais foi como antes e a vida dos cidadãos tornou-se mais imprevista e menos segura. A paz e a prosperidade ficaram cada vez mais ameaçadas por acções terroristas, mas também pelas alterações climáticas, pelos efeitos do fanatismo religioso e pela desigualdade entre os seres humanos.
Nessa mesma noite de 11 de Setembro de 2001, o presidente George W. Bush discursou ao mundo para anunciar a determinação americana na perseguição dos terroristas e de quem os apoiava. Menos de um mês depois iniciava-se a ocupação militar do Afeganistão, liderada pelos americanos e com a participação de 46 países aliados, tendo os talibans sido afastados do poder. Porém, Osama bin Laden, o inspirador das acções terroristas contra os Estados Unidos, só veio a ser morto em Junho de 2011, numa altura em que a presença militar estrangeira no Afeganistão parecia não ter fim, tendo-se de facto prolongado por mais dez anos.
Os últimos vinte anos mostraram que o mundo está cada vez mais dividido e que os Estados Unidos deixaram de ser o polícia do mundo, pois as suas aventuras militares, antes no Iraque e depois no Afeganistão, foram duas armadilhas, dois brutais enterros de dinheiro e duas desprestigiantes derrotas. Uma boa parte do caminho para o apaziguamento mundial depende da forma como os Estados Unidos possam ultrapassar os traumas que perseguem o país desde o 11 de Setembro, mas há quem duvide da possibilidade de ultrapassar a contradição americana entre a sua vanguarda tecnológica, económica e cultural, e a outra parte da população pobre, ignorante, desinformada e que até vota em Trump. 
De facto, o principal problema da América é a própria América.

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

R.I.P. Jorge Sampaio

Retrato oficial do Presidente
Jorge Sampaio por Paula Rego (2005)
Com 81 anos de idade faleceu hoje Jorge Sampaio. É uma triste notícia para a nação portuguesa porque acaba de perder um dos seus mais ilustres filhos das últimas gerações, que não era apenas um antigo e prestigiado Presidente da República mas, sobretudo, uma referência da Democracia Portuguesa.
Antes do 25 de Abril foi dirigente estudantil no tempo do combate à Ditadura, foi advogado de presos políticos oposicionistas e foi um exemplar defensor da Liberdade e da Democracia. Depois da “madrugada inteira e limpa” foi um esclarecido apoiante dos capitães de Abril que derrubaram a Ditadura, integrou governos provisórios, foi deputado e líder parlamentar e, apesar de se ter filiado no Partido Socialista e ter sido seu secretário-geral, seguiu uma vida política bastante autónoma que o levou à Presidência da Câmara Municipal de Lisboa e à Presidência da República.  Entre muitas outras intervenções relevantes, recordo a sua entrevista à cadeia americana CNN, que se revelou decisiva para a resolução do problema de Timor.
As homenagens que lhe estão a ser prestadas por todos os quadrantes políticos portugueses distinguem o homem de causas e o exemplo de ética, mostrando a grandeza da sua coragem, humanismo e solidariedade. Já ouvira falar dele como oposicionista à Ditadura e, depois de 1974, fui algumas vezes a sessões públicas e a comícios apenas para o ouvir. Nunca tive o privilégio de alguma vez lhe ter falado, apesar de me ter cruzado com ele várias vezes e de, como cidadão, sempre lhe ter dado o meu voto.
Com o desaparecimento de Jorge Sampaio todos perdemos um protagonista de referência da nossa história recente, como homem de cultura, como cidadão exemplar e como político de excelência. 
Homens como Jorge Sampaio fazem muita falta à Democracia portuguesa!

Bolsonaro recua e dá o dito por não dito

Nas recentes celebrações do 199º aniversário da independência do Brasil, pudemos ver e ouvir nas televisões o discurso agressivo e irresponsável de Jair Bolsonaro, em que insultou o Supremo Tribunal Federal (STF) e os seus onze juízes, sobretudo o ministro Alexandre de Moraes, incitando os seus seguidores à desobediência judicial ou mesmo a um levantamento popular. Na rua foi pedida a destituição e a prisão de todos os juízes do STF e até uma intervenção militar que ajudasse a manter Bolsonaro no poder. Foram algumas horas de grande tensão a lembrar as atitudes antidemocráticas e golpistas de Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos que incitou os seus fanáticos seguidores a fazer a insólita invasão do Capitólio no dia 6 de Janeiro de 2021. Bolsonaro ensaiou qualquer coisa semelhante, mas não previu que a dignidade ainda é um valor na sociedade brasileira e na sua esfera judicial, apesar de alguns maus exemplos como o do imprudente e ambicioso Sérgio Moro.
Através da televisão, Luiz Fux, o presidente do STF, reagiu com firmeza e sem equívocos às ameaças de Bolsonaro, que terá concluído que perdeu esta batalha e que tinha ido longe demais ao desafiar o STF. Por isso, dois dias depois do seu inflamado discurso, veio fazer uma declaração em que recua, diz respeitar os poderes dos órgãos constitucionais e até elogia o ministro Alexandre de Moraes que antes atacara com extrema violência verbal. Segundo revelam os jornais, por intermediação do ex-presidente Temer, já está acordado um encontro entre Bolsonaro e Alexandre de Moraes para discutir os acontecimentos de 7 de Setembro.
Parece, portanto, que a tensão no Brasil serenou. Ainda bem.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Histórias de Um Império: exposição a ver

A pandemia do covid-19 desorientou bastante as nossas vidas e os nossos hábitos sociais e culturais mas, apesar de ainda ser necessária muita prudência, começa a sentir-se algum desanuviamento. A vida social agita-se com a retoma das férias, com a chegada dos turistas e com a frequência de restaurantes, enquanto as iniciativas culturais começam a aparecer sobretudo quando podem garantir o “distanciamento social” que as autoridades sanitárias recomendam. Assim acontece com as exposições que, quando são bem planeadas e organizadas, significam aprendizagem e fruição cultural.
Quando ainda está activa no Palácio da Ajuda a excelente exposição D. Maria II. De princesa brasileira a rainha de Portugal. 1819-1853, surge na cidade de Lisboa uma outra exposição intitulada Histórias de Um Império, apresentada pela Fundação Oriente e comissariada por um reconhecido especialista nas artes orientais que é Nuno Vassalo e Silva.
Trata-se uma exposição inédita de obras da Colecção Távora Sequeira Pinto, que documenta, com 150 peças, as relações artísticas entre Portugal e as culturas do império asiático. A exposição centra-se em oito núcleos temáticos e mostra “a riqueza, a complexidade e a surpreendente beleza da arte produzida nas redes comerciais criadas por Portugal, um pouco por toda a Ásia”. As obras de arte e os objetos característicos apresentados documentam uma diversidade muito alargada de origens, tipologias e materiais.
A exposição estará patente até Outubro de 2022 e conta com a publicação de um catálogo que reúne textos de investigadores nacionais e estrangeiros, especialistas nas temáticas abordadas. Segundo foi anunciado, a importante colecção particular de Távora Sequeira Pinto vai encontrar uma nova casa no Matadouro Industrial de Campanhã, uma das 16 futuras “estações” do Museu da Cidade do Porto.
Eu já visitei e recomendo.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

O Jair imita o modelo de Donald Trump

A independência do Brasil e a sua separação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves foi um processo que decorreu entre 1821 e 1825, mas que terá como data mais simbólica o dia 7 de Setembro de 1821, quando o príncipe Dom Pedro, o regente que governava o Brasil em nome do seu pai D. João VI que regressara a Lisboa, terá dado o grito do Ipiranga: "É tempo! Independência ou Morte! Estamos separados de Portugal!".
Essa data é uma das mais importantes da História do Brasil e ontem festejavam-se os 199 anos da sua independência.
Num tempo de grande perturbação política, de dificuldades económicas e de crescente contestação ao presidente do Brasil, podia ter sido um dia de apelo à unidade nacional e de incentivo para ultrapassar as dificuldades, mas Jair Bolsonaro aproveitou a data e com a ajuda das igrejas evangélicas, mobilizou a população nas grandes cidades, tratou de atacar o Supremo Tribunal Federal e afirmou não acatar as decisões judiciais. Tal como o energúmeno Donald Trump que incitou os seus apoiantes a invadir o Capitólio, também o desvairado Bolsonaro incitou as massas populares à desobediência. Porém, a impressionante onda verde e amarelo de gente instrumentalizada que encheu as ruas e que as televisões mostraram, também revelou o desespero do Jair pela queda da sua popularidade, pelo abandono dos seus aliados e pelo cerco que a Justiça lhe está a montar. Amedrontado, veio dizer que só sai “preso, morto ou com vitória” e afirmar que “jamais serei preso”, colocando-se acima da Constituição e do povo brasileiro. Um perigo!
No mesmo dia circulou nas redes sociais uma mensagem do ex-presidente Lula da Silva alusiva ao 7 de Setembro, que vale a pena ser vista em https://fb.watch/7T5Z54C_2d/. Que belo discurso e que sensatez. Costuma dizer-se que o Brasil está dividido, mas isso não é necessariamente um problema. A Democracia é sempre isso, uma escolha entre duas ou mais opções, mas quando se fala em Bolsonaro e Lula como opções presidenciais, até dá vontade de rir...

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Realizações televisivas de alta qualidade

Terminou ontem em Santiago de Compostela a 76ª edição da Volta ciclista à Espanha ou Vuelta 2021, com a vitória do ciclista esloveno Primož Roglič, que assim averbou a terceira vitória consecutiva naquela prova que este ano teve uma extensão de 3.417 quilómetros e se distribuiu por 21 etapas. 
Primož Roglič venceu quatro dessas etapas e dominou a prova completamente, deixando o segundo classificado a 4 minutos e 42 segundos. Recentemente ganhara em Tóquio a medalha de ouro olímpica na prova da corrida contra-relógio e com estas vitórias tornou-se um dos mais bem-sucedidos desportistas mundiais da actualidade. Curiosamente, ele foi saltador de esqui e campeão mundial dessa modalidade, só tendo optado pelo ciclismo há cerca de dez anos. Foi uma boa decisão, pois tornou-se um verdadeiro campeão. 
Dos 184 ciclistas que participaram na prova houve dois portugueses à partida e, nos 142 que chegaram ao fim, eles lá estavam: Nelson Oliveira da Movistar terminou em 72ª posição e Rui Olivreira da do UAE Team Emirates acabou em 74º lugar.
Porém, tão interessantes quanto foram a Vuelta 2021 e os seus resultados finais, foram as reportagens televisivas que diariamente foram apresentadas pelo canal Eurosport, que conseguem ser não apenas um detalhado relato da corrida e do entusiasmo popular que suscita, inclusive de muitos portugueses, mas também um excelente documentário que mostra o património natural e arquitectónico espanhol e constitui um casamento perfeito entre Desporto e Património. 
Primož Roglič, foi o campeão na bicicleta, mas a realização das reportagens televisivas também merecia um prémio. O meu aplauso.

O adeus de Angela Merkel 16 anos depois

Aproxima-se a data em que Angela Merkel vai deixar de ser chanceler da Alemanha, um cargo que ocupa desde 2005. Foram dezasseis anos na primeira linha da política mundial, em que muitas vezes foi considerada a mulher mais poderosa do mundo.
Não é este o local para fazer o elogio da carreira política da senhora Merkel, tanto pela forma equilibrada como geriu os negócios da Alemanha durante quatro mandatos, como pelo  prestígio internacional que lhe foi reconhecido e que lhe valeu ser considerada muitas vezes como a líder da União Europeia. Em dezasseis anos de mandato ele enfrentou inúmeras crises com destaque para a ruptura do sistema financeiro global de 2008, para as cíclicas ameaças de dissolução da União Europeia, para a grande onda migratória que teve o seu pico em 2015 e, finalmente, para a pandemia do covid-19. Nessas situações, a Europa olhava para ela e sabia que ninguém era mais capaz do que ela para enfrentar dificuldades e para manter arrumada "a casa comum".
Porém, a chanceler Angela Merkel ainda teve outros contratempos, como foi o acompanhamento das complexas questões da Síria, do Irão e da Ucrânia, assim como o convívio institucional com Donald Trump e Vladimir Putin, mas também com outros figurões como Recep Tayyip Erdoğan, Viktor Orbán ou Boris Johnson.
Quando escrever as suas memórias, ela certamente irá dar um lugar de destaque a um figurão com quem também conviveu institucionalmente durante cerca de nove anos e que se chamava José Barroso, uma figura inesquecível de fura-vidas a quem a própria mulher chamava “o cherne”.
Na sua última edição a prestigiada revista Der Spiegel parece ter iniciado as devidas homenagens a Angela Merkel, que seguramente irão aparecer de muitos lados, porque não é comum que alguém governe tanto tempo com o apoio do voto popular.

sábado, 4 de setembro de 2021

Que o Brasil acorde e ponha o Jair na rua

Quando hoje se conversa com um cidadão brasileiro culto e letrado, podemos facilmente verificar o desencanto com que ele se refere ao seu país e aos seus políticos mas, sobretudo, a forma como censura o seu presidente e os seus inacreditáveis comportamentos.
Porém, “só quem está no convento é que sabe o que lá vai dentro” e, por isso, é preciso ter muito cuidado na apreciação da informação, verdadeira ou falsa, que chega até nós.
Queixam-se os cidadãos brasileiros que o poder está cada vez mais nas mãos de seitas evangélicas, que a economia está em declínio com o dólar muito alto, com a inflação a crescer, com o desemprego a tornar-se uma chaga social e com a generalidade dos bens essenciais a subirem de preço constantemente. A insegurança pública tem aumentado, fala-se de novo em fome, prossegue a desmatação da Amazónia e a população começa a perceber que Lula da Silva e Dilma Rousseff foram vítimas de mentiras e de golpes antidemocráticos.
Hoje a revista Veja classifica Jair Bolsonaro como um presidente incendiário, devido aos repetidos confrontos e provocações com que ataca o seu próprio governo e os seus ministros, mas também os deputados federais e as autoridades estaduais, dizendo na sua primeira página que Bolsonaro é “inimigo de si mesmo” e que usa uma incompreensível estratégia de sabotagem do seu próprio governo.
Ainda falta cerca de um ano para que os brasileiros usem o voto para expulsar Bolsonaro e escolham alguém capaz para ocupar o Palácio do Planalto, que possa levar o Brasil para o caminho da ordem e do progresso, como está inscrito na sua bandeira nacional. Que o Brasil acorde depressa e ponha o Jair na rua como merece.

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Adeus Cabul, com imagem para a História

Há fotografias que se tornam documentos únicos ou simbólicos de grandes acontecimentos e que ficam para a história, assim acontecendo com a imagem esverdeada e com pouca nitidez que hoje é publicada pelo jornal Le Monde, mas também por outros jornais de referência, em que o último soldado americano abandona Cabul. Trata-se do major-general Christopher Donahue de 52 anos de idade que comandava o 82nd Airbone Division e que foi fotografado por uma câmara de visão nocturna a entrar para o último C-17 que saiu de Cabul.
A imagem fixa um momento simbólico, em que é dada por terminada a tarefa de retirada do Afeganistão de todos os militares estrangeiros, bem como de cerca de oitenta mil civis, mas que representa também o fim da mais longa guerra em que os Estados Unidos se envolveram. Segundo foi relatado e as imagens televisivas mostraram, após a descolagem deste último C-17, houve celebrações no aeroporto de Cabul com tiros disparados para o ar e fogo-de-artifício em alguns pontos da cidade.
O mundo tem agora o Emirado Islâmico do Afeganistão, totalitário e teocrático, a dominar um imenso território com 587 mil quilómetros quadrados e cerca de 40 milhões de habitantes, enquanto por aqui se acotovelam e se empurram dezenas de comentadores para falar nas nossas televisões e para explicar o que se vai passar nos tempos que hão de vir.