domingo, 31 de outubro de 2021

O Papa na rota de São Francisco Xavier

A realização da Cimeira do G20 em Roma proporcionou um encontro do Papa Francisco com Narendra Modi, o primeiro-ministro da Índia, que constituiu um facto de grande relevância internacional.
Desde que o Papa João Paulo II visitara a Índia em 1999, que as relações entre o Vaticano e a Índia se tornaram frias, como demonstram as fracassadas negociações havidas em 2017 para que o Papa visitasse a Índia, por ocasião da visita papal ao Bangladesh e a Mianmar. O encontro de Roma estava programado para durar 20 minutos, mas prolongou-se por mais de uma hora, o que foi interpretado como uma reviravolta nas relações entre o Vaticano e a Índia, até pela elucidativa declaração final de Narendra Modi: “Tive um encontro muito caloroso com o Papa Francisco. Tive a oportunidade de discutir uma ampla gama de questões com ele e também o convidei para visitar a Índia".
As fotografias do encontro são esclarecedoras da empatia entre os dois líderes e foram reproduzidas com grande destaque pela imprensa indiana, nomeadamente pelo diário The Hindu, o que é significativo num país onde mais de 80% da população professa o hinduísmo e onde os 20 milhões de católicos apenas representam 1,5% da população. O fanatismo religioso, incentivado pela actual liderança de Narendra Modi e do BJP, o seu partido, têm feito aumentar a discriminação e a violência sobre as minorias religiosas, incluindo os cristãos, um pouco por todo o país.
O Papa Francisco aceitou o convite de Narendra Modi e a sua visita vai contribuir para uma maior tolerância religiosa e para levar a sua solidariedade aos cristãos da Índia. Certamente, o Estado de Goa vai poder receber um Papa que foi jesuíta e que não vai perder a oportunidade de visitar a terra que recebeu Francisco Xavier, o primeiro jesuíta que missionou na Ásia, bem como o seu túmulo na Basílica do Bom Jesus em Velha Goa. O culto por São Francisco Xavier tem em Goa a sua máxima expressão e a comunidade goesa venera-o como o Goencho Saib, o santo de Goa.
Jorge Mario Bergoglio, o arcebispo de Buenos Aires que foi elevado ao cardinalato em 2001 e que foi eleito Papa em 2013, ao escolher o nome de Francisco, inspirou-se na vida de São Francisco Xavier. Agora Francisco irá cumprir uma missão pontifical, mas também um desejo: conhecer o ponto de partida da rota asiática de São Francisco Xavier.

sábado, 30 de outubro de 2021

Em Glasgow para salvar o nosso planeta

Amanhã inicia-se em Glasgow a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que tem sido designada como COP26, cujos trabalhos decorrerão até ao dia 12 de Novembro.  
Na Conferência de Paris de 2015 os países comprometeram-se a reduzir e limitar as suas emissões de gases de efeito de estufa e o consequente aquecimento global, mas a realidade veio mostrar que muito poucos cumpriram com as obrigações assumidas. Cinco anos depois, deveria ser feita uma avaliação dos resultados na 26ª Conferência mas, devido à pandemia, essa reunião magna foi adiada para 2021 e vai realizar-se a partir de amanhã, esperando-se que perante o agravamento das alterações climáticas que se tem verificado, os países mostrem um maior empenho no combate que é cada vez mais necessário para o futuro do planeta. Espera-se a participação de vinte e cinco mil delegados de duas centenas de países e está confirmada a presença de Joe Biden, Justin Trudeau, Narendra Modi, Recep Tayyip Erdogan e muitos líderes europeus, embora também esteja confirmada a ausência de Xi Jinping, Vladimir Putin e Jair Bolsonaro, entre outros.
Hoje o jornal francês La Tribune destaca a realização desta COP26 com uma fotografia do nosso planeta e dirige-se aos dirigentes de todo o mundo para que se unam para o salvar enquanto é tempo.
Durante doze dias muito se vai discutir mas, provavelmente, continuarão a prevalecer os interesses nacionais, mas há sempre a esperança de poder ser o início de uma nova caminhada para salvar o nosso planeta.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Manobras navais na afirmação da Espanha

Os jornais da cidade de Cádis, ou Cádiz em língua castelhana, destacam nas suas edições de hoje os exercícios navais da Marinha espanhola que foram designados por Flotex-21. 
São as maiores manobras militares realizadas em Espanha depois da crise pandémica e os exercícios decorrem em águas gaditanas e na serra de Retin, nele participando 3.632 militares, 14 navios, 12 aerovaves, oito navios de desembarque, 97 veículos e 760 fuzileiros, além de forças do Exército e da Força Aérea, bem como unidades internacionais integradas no Euromarfor, como sucede com a fragata Rizzo. Os meios envolvidos mostram como a Espanha prestigia as suas Forças Armadas, enquanto instrumentos de defesa e de afirmação externa do país.
O jornal La Voz de Cádiz faz uma extensa reportagem do Flotex-21.

Acaba de amanecer en la Bahía y la actividad es vertiginosa. Mientras un helicóptero SH3 Seaking de la Flotilla de Aeronaves de la Armada sobrevuela el buque anfibio multipropósito (LHD) Juan Carlos I, cuatro aviones caza Harrier se preparan para despegar desde la cubierta de vuelo del mayor buque de guerra construido en España. El Juan Carlos I navega por aguas de Cádiz, junto a él, a estribor, las fragatas Numancia, Reina Sofía y Santa María; a babor, el buque de asalto anfibio Galicia, las fragatas Blas de Lezo y Álvaro de Bazán y el cazaminas Tambre. Y, al fondo, Barbate y el campo de adiestramiento de la Sierra del Retín.

O exercício Flotex-21 iniciou-se no dia 25 de Outubro e vai decorrer até ao dia 5 de Novembro, tendo por objectivo a preparação das unidades navais espanholas, enquanto “herramientas del Gobierno de España para garantizar la seguridad y la defensa”. Cerca de três dezenas de jornalistas, fotógrafos e operadores de câmara de uma vintena de meios de comunicação de todo o mundo acompanham o exercício. Significa que a Espanha olha pela eficiência das suas Forças Armadas e que a sua imprensa acompanha as suas actividades, mas quando pensamos no que se passa por cá só nos fica espaço para uma enorme tristeza pela forma como são tratadas as nossas Forças Armadas e os seus soldados e marinheiros.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Jair Bolsonaro indiciado por nove crimes

Recentemente, numa reportagem da revista brasileira IstoÉfoi feita a denúncia da gestão do presidente Jair Bolsonaro a quem chamou "mercador da morte", porque durante a pandemia do covid-19 patrocinou experiências desumanas inspiradas no horror nazi. Essa reportagem baseou-se nos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado (CPI) à covid-19, que foi constituída por senadores que trabalharam durante cerca de seis meses e que ontem aprovaram o respectivo relatório final por sete votos contra quatro. A última versão do documento tem 1.289 páginas e indicia 78 pessoas, entre as quais o próprio presidente Bolsonaro, os seus três filhos, vários ministros e ex-ministros e alguns empresários.
Na versão final do relatório da CPI foram atribuídos nove crimes ao presidente, entre os quais os de prevaricação, charlatanismo, epidemia com resultado morte, incitação ao crime, emprego irregular de verba pública, falsificação de documentos particulares e crimes contra a humanidade. De acordo com o relatório final, Bolsonaro “incentivou de forma reiterada a população a violar o distanciamento social, opôs-se ao uso de máscaras, promoveu aglomerações e procurou desqualificar as vacinas”. Naturalmente, toda a oposição já pediu “impeachment e cadeia para Bolsonaro”.
Com mais de 606 246 mortes e 21,7 milhões de infectados pelo covid-19, o Brasil é um dos países mais afectados pela pandemia no mundo, juntamente com os Estados Unidos e a Índia e, segundo um senador, “não foi a omissão que nos levou a 605 884 mortos. Foi a acção dolosa de quem dirigia o Brasil nesse período que levou a essa marca terrível, que fica registada na história como um dos momentos mais macabros da vida deste jovem país chamado Brasil”.
Na sua edição de hoje o jornal Estado de Minas de Belo Horizonte enuncia as acusações contra Bolsonaro na sua primeira página de forma muito criativa. Agora é esperar para ver o que aí vem.

Eleições antecipadas para a clarificação?

A discussão do Orçamento do Estado para 2022 decorreu ontem na Assembleia da República e revelou que a votação que hoje se vai realizar será desfavorável ao governo.
Quando existem inúmeros problemas económicos e sociais para serem resolvidos e é necessária a recuperação da actividade económica que tanto foi afectada pela crise pandémica, o país vai envolver-se em campanhas eleitorais e em eleições antecipadas, que muito dinheiro vão custar, que muitas energias vão consumir e que talvez nada resolvam. Num tempo em que as alternativas políticas ainda estão por constituir, o chamado interesse nacional cede a interesses partidários, corporativos ou até demagógicos, enquanto às ideias de unidade nacional e de bem comum se sobrepõem as visões egoístas de algumas minorias. Na sua edição de hoje o diário espanhol El País destaca a situação política em Portugal e publica uma fotografia do primeiro-ministro António Costa e diz que “el Gobierno de izquierdas se tambalea en Portugal”. Esta notícia mostra como existe alguma apreensão por aquilo que se passa em Portugal.
Depois da intervenção da troika que, para nossa humilhação, esteve em Portugal entre 2011 e 2014, o país conseguiu recuperar o crédito e o prestígio internacionais, com estabilidade política e social, contas certas e com a retoma da convergência europeia e, por vezes, o país chegou mesmo a ser considerado como um modelo à escala europeia.
Porém, a crise pandémica perturbou este ciclo e agora, quando haveria que unir forças para voltar ao caminho, estão a ser aproveitados os percalços que tem havido nesta caminhada e todos teremos que esperar até que as prováveis eleições antecipadas resolvam a situação. O governo terá o apoio de 108 deputados do Partido Socialista e alguns mais, mas não chegarão aos necessários 116 que constituem a maioria dos 230 deputados do Parlamento. Portanto…

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Há quem queira a crise. Pois vamos a ela!

A Assembleia da República começa hoje a discutir o Orçamento do Estado para 2022 e os deputados vão ser chamados a um dos seus actos mais nobres, embora se espere que não votem pela sua cabeça e se limitem a obedecer às nomenklaturas e aos aparelhos partidários.
O Orçamento do Estado (OE) é um documento e um instrumento de gestão preparado pelo governo, que enumera as receitas previstas e as despesas autorizadas do Estado para o próximo ano, incluindo os fundos e serviços autónomos e a segurança social. Em certo sentido pode dizer-se que a vida de todos os cidadãos depende do OE, mas num quadro de necessidades ilimitadas e de recursos escassos, a sua preparação é um exercício muito complexo porque não é possível satisfazer as aspirações de todos, com menos impostos, mais rendimentos, mais saúde, mais educação, mais justiça, mais segurança, melhores estradas, melhores transportes e por aí adiante. Por isso há que fazer escolhas segundo determinados critérios e, em função dessas escolhas, os cidadãos apoiam ou não apoiam os governantes que prepararam o OE. No entanto, nesta discussão do OE, não têm estado em causa os portugueses nem os seus problemas, mas tão só os interesses e as estratégias partidárias que se movem como se o país fosse um tabuleiro de poker e os interesses partidários ou pré-eleitorais a tudo se sobrepusessem. 
O governo que preparou o OE 2022 é minoritário e procura as alianças necessárias para conseguir uma maioria que o vote favoravelmente. Negoceia e cede, o que é normal. Aperfeiçoa o documento, o que é desejável. Porém, não pode ir de cedência em cedência, desvirtuando a sua proposta e tornando-a a proposta de outros. Nessas circunstâncias não há acordo e só há uma solução: antecipar eleições para que o povo diga de sua justiça. O custo desta decisão é elevado e talvez fique tudo na mesma, mas ver-se-á depois quem ganhou e quem perdeu com a arrogante teimosia de alguns interesses minoritários que querem ganhar na secretaria o que não ganharam nas urnas.

domingo, 24 de outubro de 2021

Angola e Portugal com relações em alta

O processo da independência angolana foi longo, complexo e doloroso, tanto para os angolanos como para os portugueses, tendo ficado concluído no dia 11 de Novembro de 1975. As relações históricas e culturais entre os dois países anteviam um futuro de amizade e de cooperação, mas nem sempre assim aconteceu, porque as autoridades de Portugal e Angola entraram em rota de colisão demasiadas vezes, não percebendo que é muito mais importante o que aproxima os dois países, do que aquilo que os separa. 
Nos últimos tempos e com a presidência de João Lourenço, as relações entre Angola e Portugal parecem ter entrado numa nova fase e o Jornal de Angola, considerado o porta-voz do governo angolano, reflecte exactamente essa realidade.
Na sua última edição, o jornal destaca um debate virtual entre os presidentes de Angola e Portugal, no âmbito do Fórum Euro-África, publicando em primeira página as fotografias de João Lourenço e Marcelo Rebelo de Sousa, o que é um acontecimento de enorme significado político.
Disse João Lourenço que "tive a felicidade de durante este meu primeiro mandato termos sabido manter a um nível bastante alto as relações de amizade e cooperação entre os nossos dois países, entre Angola e Portugal, a todos os níveis, incluindo a nível pessoal”, sublinhando que os relacionamentos pessoais ajudam a que isso aconteça e acrescentando que “nós soubemos construir ao longo dos anos essa mesma relação com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa e com o primeiro-ministro António Costa”.
Aqui está, portanto, uma forma adequada de fazer política em nome dos povos irmãos de Angola e Portugal, como se deseja.

sábado, 23 de outubro de 2021

Até no Vietnam se vibra com o Ballon d’Or

A Bola de Ouro ou Ballon d’Or é um prémio que foi instituído em 1956 pelo jornal francês France Footbal para distinguir o melhor futebolista do ano.
Todos os anos os jornalistas do France Footbal fazem uma lista de trinta candidatos que depois são votados por um jornalista internacional de cada país e pelos treinadores e capitães da selecção nacional. O processo não me parece muito linear, como também não me parece linear que, em termos absolutos, se possa dizer que um futebolista seja o melhor, pois tudo passa por um complexo processo de promoção dos candidatos. Mas a escolha está em curso e a cerimónia de consagração do Bola de Ouro de 2021 decorrerá no Theatre du Chatelet em Paris, no dia 29 de Novembro. Os trinta candidatos estão escolhidos e, entre eles, há três portugueses: Cristiano Ronaldo, Ruben Dias e Bruno Fernandes. A imprensa desportiva internacional vem dedicando algum espaço a este assunto e, como se diz na gíria, cada país puxa a brasa à sua sardinha, embora nos grandes favoritos estão as estrelas do costume que são Lionel Messi com seis triunfos e Cristiano Ronaldo com cinco.
O curioso desta disputa é que ela não se fica pela imprensa da Europa ocidental e da América do Sul e chega, por exemplo, ao Vietnam. Quem diria! O jornal Th thao & Văn hóa, que em língua vietnamita parece que significa Sports & Culture, também se envolveu na escolha do melhor futebolista de 2021 e parece apostar em Cristiano Ronaldo, Mohamed Salah e Karim Benzema, esquecendo Lionel Messi, Robert Lewandowski e Kylian Mbappé. Como se vê, o assunto é muito controverso, mas sem dúvida que este envolvimento da imprensa vietnamita é uma boa curiosidade a mostrar como o futebol se globalizou.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Prémio Camões 2021 foi para Moçambique

O Prémio Camões, que é considerado a mais importante distinção da literatura em língua portuguesa e que é atribuído anualmente pelos governos de Portugal e do Brasil a um autor “cuja obra contribua para a projeção e reconhecimento do património literário e cultural da língua comum”, foi atribuído à escritora moçambicana Paulina Chiziane.
Criado em 1988, o Prémio Camões já distinguiu catorze portugueses, treze brasileiros, três moçambicanos, dois angolanos e dois cabo-verdianos e o júri decidiu por unanimidade atribuir o prémio de 2021 a Paulina Chiziane, que assim se junta aos seus compatriotas José Craveirinha e Mia Couto, os moçambicanos que já venceram o Prémio Camões. A notícia foi divulgada pelo jornal Público, que anuncia que o júri que distinguiu a escritora assinalou a importância que nos seus livros dedica aos problemas da mulher moçambicana e africana, no contexto da sua cultura específica e das transições por que tem passado desde o fim da era colonial. 
Paulina Chiziane “está traduzida em muitos países” e já recebeu vários prémios e condecorações, tendo a valia cultural da sua obra sido reconhecida em Portugal, pelo que foi condecorada em 2014 com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. O seu primeiro livro foi publicado em 1990 em Moçambique e intitula-se Balada de Amor ao Vento, pelo que passou a ser considerada pela crítica como “a primeira romancista de Moçambique”, mas a sua obra tem sido regularmente publicada em Portugal pela Editorial Caminho. 
Já li alguma coisa da obra de Craveirinha e de Mia Couto, mas não conhecia Paulina Chiziane. Naturalmente, esta escritora moçambicana vai ser uma das minhas próximas leituras, embora a sua obra pareça estar esgotada em Lisboa.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

O exemplo de Aristides de Sousa Mendes

Aristides de Sousa Mendes, o antigo cônsul português em Bordéus, foi homenageado pelo Estado Português numa cerimónia que aconteceu 67 anos depois da sua morte e que lhe deu justas honras de Panteão Nacional, através de uma placa evocativa de homenagem junto de um túmulo sem corpo, uma vez que os seus restos mortais permanecem em Cabanas de Viriato, a sua terra natal.
Decorria a Segunda Guerra Mundial e milhares de refugiados procuravam atravessar a fronteira francesa para fugir à barbárie nazi e chegar à península Ibérica. Nessas circunstâncias e à revelia das ordens do governo de Salazar, em Junho de 1940 o cônsul Aristides de Sousa Mendes emitiu vistos que permitiram a travessia da fronteira franco-espanhola e salvaram cerca de dez mil judeus e outros refugiados, embora haja fontes que referem que foram “mais de 30 mil pessoas salvas”. A sua corajosa e humanitária atitude desobedecia à “Circular 14”, que condicionava a emissão de vistos a pessoas refugiadas por diplomatas portugueses, sem prévia autorização governamental. Porém, Sousa Mendes enfrentou a dura realidade que tinha perante os seus olhos e não perdeu tempo a pedir prévias autorizações. Salazar não lhe perdoou e isso valeu-lhe a expulsão da carreira diplomática e uma vida cheia de dificuldades económicas, vindo a morrer na miséria em 1954 no Hospital Franciscano para os Pobres, em Lisboa, com 69 anos de idade.
A reabilitação pública de Aristides de Sousa Mendes só aconteceu em 1988, quando a Assembleia da República decretou por unanimidade a sua reintegração na carreira diplomática, alguns anos depois do seu nome ter sido inscrito no Memorial do Holocausto, em Jerusalém, onde recebeu o título de “Justo entre as Nações”.
Só o Diário de Notícias destacou esta homenagem a Aristides de Sousa Mendes. Os outros jornais portugueses, ditos de referência, encheram as suas primeiras páginas com as vitórias do Sporting sobre o Besiktas e do FC Porto sobre o Milan. Que ignorância cultural, que mediocridade cívica e que falta de sentido do que é o jornalismo.

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

O insólito acidente de um belo veleiro

A notícia espalhou-se através das redes sociais, mas também apareceu em alguns jornais, caso de A Tribuna, da cidade brasileira de Santos: o Cisne Branco, o veleiro da Marinha do Brasil, sofrera um acidente quando manobrava no porto equatoriano de Guayaquil, tendo abalroado a ponte sobre o rio Guayas e sofrido vários danos, especialmente no mastro principal, enquanto um dos rebocadores que auxiliava a manobra se afundou. Não houve vítimas, mas chegou a temer-se que o navio fosse “engolido pela ponte”, como se viu em algumas imagens que circularam na internet.
Segundo informou a Marinha do Brasil, que está a apurar as causas da ocorrência, o insólito acidente aconteceu devido à força da corrente e à inoperância dos rebocadores. No entanto, o que aconteceu só pode ter resultado de erro humano e de imperícia do comandante, pois a manobra de navios em espaços restritos ou em águas de fortes correntes ou de turbulência requerem um estudo e um planeamento prévios. Numa manobra destas nada acontece de imprevisto ou, como se diz na gíria, “está tudo previsto”.
O veleiro Cisne Branco é um belo veleiro de 76 metros de comprimento e que arma 31 velas, tendo sido construído em Amesterdão no ano de 2000, por ocasião das comemorações dos 500 anos da descoberta do Brasil pela armada de Pedro Álvares Cabral. Tem uma guarnição de cinquenta tripulantes e pode embarcar 31 cadetes em viagens de instrução, sendo utilizado como “embaixada flutuante” em actividades de representação nacional e internacional. Desta vez, essa função de representação no maior porto e cidade do Equador correu mal e até há quem associe este acidente ao período bolsonarista que o Brasil atravessa e que tanto o tem desprestigiado internacionalmente. Mas, como diriam os franceses, honni soit qui mal y pense...

terça-feira, 19 de outubro de 2021

Powell e a mentira da invasão do Iraque

Com 84 anos de idade, faleceu ontem o general Colin Powell. É a notícia principal da edição do The Wall Street Journal. Paz à sua alma!
Powell nasceu num bairro pobre de Nova Iorque e era filho de emigrantes jamaicanos, tendo sido o primeiro secretário de Estado dos Estados Unidos de ascendência afro-americana. Não frequentou a Academia de West Point mas teve uma carreira militar notável, que fez dele um exemplo de sucesso na escala social americana. Foi combatente no Vietnam onde foi ferido, foi o estratega da invasão americana do Panamá em 1989 e foi um dos comandantes que supervisionou a guerra do Golfo em 1991, destinada a desalojar os iraquianos do Koweit. Passou à reserva em 1993 e veio a ser escolhido pelo presidente George W. Bush para secretário de Estado, tendo-se destacado pela sua intervenção nas Nações Unidas em 2003, onde defendeu a invasão do Iraque com o argumento falso de que Saddam Hussein possuía armas de destruição maciça. Porém, quando mais tarde se soube que não havia quaisquer dessas armas e que essa crença não passava de um mentira forjada pelos serviços secretos americanos, veio a declarar: “Foi uma mancha… e vai ficar no meu currículo. Foi doloroso. Ainda o é agora.“
Colin Powell foi o herói americano que se arrependeu de defender a invasão do Iraque e foi um dos poucos líderes que reconheceu o seu erro. O primeiro-ministro português Durão Barroso, a quem a própria mulher chamava o cherne, apoiou a invasão do Iraque à revelia da opinião pública portuguesa e nunca reconheceu o seu erro, tendo-o aproveitado para singrar na vida. Uma tristeza!
Pensava-se que o prestígio de Colin Powell pudesse fazer dele um candidato presidencial mas, certamente arrependeu-se do seu histórico erro que tanto mal trouxe ao mundo e afastou-se da política e do Partido Republicano, vindo a apelar ao voto em Barack Obama em 2008, em Hillary Clinton em 2016 e em Joe Biden em 2020.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Graves acusações pesam sobre Bolsonaro

A última edição da revista brasileira IstoÉ dedica a sua capa a Jair Bolsonaro, que caricatura como um novo Adolfo Hitler e a quem chama “mercador da morte”. Trata-se de uma grave denúncia ao comportamento do presidente brasileiro que não é recente, mas que foi impulsionada no passado mês de Agosto, quando a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) o acusou do genocídio da população nativa junto do Tribunal Penal Internacional (TPI). Segundo essa acusação, o presidente Bolsonaro fez uma má gestão da pandemia, daí resultando a morte de mais de mil indígenas de 163 povos brasileiros, pelo que solicitou ao TPI uma investigação a Jair Bolsonaro por crimes contra a humanidade e genocídio.
Mais recentemente, também a Comissão de Inquérito do Senado (CPI) à covid-19, denunciou Jair Bolsonaro porque durante a pandemia patrocinou experiências desumanas inspiradas no horror nazi, em que foram usados métodos cruéis comparáveis aos do Terceiro Reich, que levaram a milhares de mortes. Aquela comissão apontou uma dezena de crimes que Bolsonaro cometeu pessoalmente, incluindo genocídio e charlatanismo. Segundo a referida revista IstoÉ, “ao declarar que não se vacinará, estimulou os mais fiéis seguidores da sua seita negacionista e obscurantista a fazer o mesmo”, o que directamente o responsabiliza. Também a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) emitiu um parecer segundo o qual Bolsonaro “pode ter cometido genocídio contra indígenas”. Por isso, por decisão da CPI à covid-19, o presidente do Brasil vai ser indiciado por onze crimes entre os quais, prevaricação, genocídio de indígenas e crime contra a humanidade, pois subestimou a pandemia, sabotou o auxílio de emergência, atrasou a vacinação e demitiu ministros que sabiam de saúde, entre outros graves erros. Costuma dizer-se que não há fumo sem fogo, mas esta revista parece que vai longe demais. Ou não.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

A reescrita da história das Américas

O dia 12 de Outubro de 1492 foi o dia em que Cristovão Colombo, ao serviço dos Reis Católicos, descobriu as Antilhas como parte de um novo continente, embora pensasse que tinha chegado à Índia. Esse dia marcou o início de uma nova era para a humanidade pois foi um “encontro de dois mundos” e, nesses territórios, vieram a formar-se vários países, incluindo aquele que é hoje o mais rico e mais poderoso do planeta – os Estados Unidos.
Porém, o processo de formação desses países assentou em muita violência, atrocidades e extorsões que, durante muitos anos, não foram reconhecidos pelos colonizadores. O dia 12 de Outubro e a figura de Cristovão Colombo tornaram-se, em simultâneo,  os símbolos do "descobrimento do novo mundo" e da "agressão colonial nas Américas". Por isso, o Columbus Day, celebrado exactamente no dia 12 de Outubro, que era um dos dias festivos dos americanos passou a ser contestado. Joe Biden foi atrás de um certo populismo e, este ano, decidiu proclamar o Dia dos Povos Indígenas, em paralelo com o Columbus Day. Na sua proclamação disse que “sucessivas gerações de americanos desprezaram os povos e as culturas nativas” e fez o elogio dos povos indígenas que resistiram ao colonizador. No entanto, numa proclamação separada tratou de elogiar “o papel dos italo-americanos na construção da sociedade americana”, embora tivesse referido a violência e o dano que Colombo e outros exploradores trouxeram ao continente.
Em Espanha e, sobretudo na região de Huelva, as autoridades de Huelva e de Palos de la Frontera, reagiram e reclamaram que “Cristóbal Colón mantiene su protagonismo 529 años después”, acusando Joe Biden de mostrar ignorância e julgar o que se o passou em finais do século XV pelas cânones do início do século XXI. De resto, o jornal Huelva Información diz que foi a rainha Isabel a Católica que primeiro legislou para que os nativos tivessem os mesmos direitos dos espanhóis, coisa que os ingleses - de que descende Joe Biden - não fizeram.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Novos navios para o prestígio da Espanha

O jornal La Voz de Cádiz anuncia hoje com grande destaque que o governo espanhol deu luz verde para a construção do sétimo BAM (Buque de Acción Maritima) por 165 milhões de euros e ilustra a sua primeira página com a fotografia de um navio da mesma classe. Segundo refere o jornal, serão “mais de 1,3 milhões de horas de trabalho na baía de Cádiz”, o que o jornal considera uma importante alavanca económica para a região, até porque serão gerados 1.100 empregos durante três anos e meio.
O BAM é um navio-patrulha oceânico da nova classe Barceló, que foi desenhada pela Navantia em coordenação com a Marinha espanhola, tendo 93,9 metros de comprimento e 2670 toneladas de deslocamento, o que significa que tem as dimensões de uma corveta, embora as suas funções sejam muito distintas – presença naval, protecção e escolta, busca e salvamento, ajuda humanitária, vigilância ambiental, serviço oceanográfico, entre outras. Tem uma guarnição de 46 elementos, acrescentada com dois pilotos de helicóptero e 18 elementos dos fuzileiros ou das forças especiais.
Das seis unidades já em serviço – Meteoro, Rayo, Relámpago, Tornado, Audaz e Furor – cinco foram construídas nos estaleiros de San Fernando - Puerto Real, em Cádis, e uma nos estaleiros de Ferrol, na Galiza. Segundo está anunciado, os navios incorporam tecnologia espanhola, alemã, americana, belga, finlandesa e portuguesa, neste caso o sistema de comunicações integradas ou ICCS-5, fornecido pela EID.
Não é necessário ser-se perito em assuntos navais para ver como aqui tão perto, as autoridades governamentais olham para a Marinha com outros olhos, isto é, enquanto os nossos vizinhos a modernizam e a prestigiam com novas unidades, em Portugal temos assistido a cenas de mediocridade cultural e de ignorância estratégica protagonizadas por um ministro que nada sabe de mar e que parece ter o desígnio de manipular uma corporação que tem sete séculos de história.

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Há 90 anos olhando pelo Rio de Janeiro

O Cristo Redentor é a imagem mais famosa do Brasil e completa amanhã 90 anos de idade, pois foi inaugurado no dia 12 de Outubro de 1931, tendo-se tornado no monumento mais simbólico da cidade do Rio de Janeiro que, antes da pandemia, recebia anualmente a visita de mais de dois milhões de visitantes.
A monumental estátua está localizada no topo do morro do Corcovado, a cerca de 709 metros de altitude, tendo uma privilegiada vista sobre a maior parte da cidade e, de forma especial, sobre a baía da Guanabara. Em 2007 foi eleita como uma das sete maravilhas do mundo moderno e em 2012 a Unesco considerou-a como elemento da paisagem do Rio de Janeiro, que foi incluída na lista de Património da Humanidade.
A estátua foi construída a partir de 1926, tem trinta metros de altura e está assente num pedestal com oito metros, enquanto os seus braços se prolongam por 28 metros. Foi construída em concreto armado e totalmente revestida de chapas de pedra-sabão, que é uma pedra que resiste bem a temperaturas extremas.
A estátua encontra-se na área do Parque Nacional da Tijuca mas é gerida pela Arquidiocese do Rio de Janeiro que, em 2006, a transformou num santuário católico. Muito antes da construção da estátua foi construído o Trem do Corcovado, uma linha férrea que liga a cidade ao morro onde foi construída a estátua e que foi inaugurada em 1884 pelo imperador Dom Pedro II, o que é um motivo adicional de interesse histórico.
A imprensa brasileira tem assinalado a efeméride e o jornal O Estado de S. Paulo destacou o 90º aniversário do Cristo Redentor, tendo publicado uma sugestiva fotografia com a legenda “há 90 anos olhando pelo Rio”.

domingo, 10 de outubro de 2021

Nem tudo foi perfeito na nossa existência

Sabe-se bem como as ciências sociais, ao contrário das ciências exactas, são susceptíveis de interpretações distorcidas que normalmente são feitas pelos vencedores, pelas maiorias ou pela classe dominante. A História não é uma excepção a essa regra e, por isso, as verdades vão sendo encontradas e interpretadas ao sabor dos tempos. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como já tinha escrito Camões. Quantos acontecimentos já foram registados como uma coisa, depois com outra versão e, ainda, com uma outra? A História não é, portanto, uma ciência exacta, nem definitiva e, por isso, aqueles que hoje têm uma nova interpretação dos factos históricos que contraria a versão dominante, não sabem se em breve surgirão ou não documentos que mostrem uma realidade diferente.
Significa, portanto, que os movimentos desencadeados ultimamente por algumas minorias, embora sejam legítimos, não se podem arvorar em donos da verdade. A moda da destruição de monumentos e do derrube de estátuas, enquanto símbolos da escravidão e do colonialismo, gerou exageros e o principal terá sido a perseguição que foi feita às estátuas de Cristóvão Colombo. Essa moda chegou a Portugal e deu origem a algumas polémicas como o triste caso dos brasões florais na Praça do Império, a vandalização da estátua do Padre António Vieira e até a absurda reivindicação para que o Padrão dos Descobrimentos fosse demolido. Agora, apareceu “o desconforto com as pinturas da sala de visitas da Assembleia da República”, conforme salientava o jornal Público na sua edição de ontem.
Porém, o derrube de estátuas, a vandalização de monumentos ou a exclusão de pinturas murais não muda nada do que aconteceu. Será que ainda vão reivindicar a demolição da Torre de Belém ou do Palácio Nacional de Mafra com o argumento que foram feitos com mão-de-obra escrava e sem contrato colectivo de trabalho? Naturalmente, nem tudo foi perfeito na nossa existência secular.

sábado, 9 de outubro de 2021

A actividade vulcânica nas Canárias

O vulcão Cumbre Vieja que fica situado no complexo vulcânico da ilha de La Palma, entrou em erupção no dia 19 de Setembro e, cerca de vinte dias depois, não dá sinais de atenuar a sua actividade. A fotografia hoje publicada pelo Diário de Avisos, o jornal de Tenerife, mostra uma extensa fajã criada pela corrente de lava que entrou no oceano na costa ocidental da ilha e se calcula que tenha, nesta altura, uma área de cerca de cinquenta hectares. Trata-se de uma expressiva e impressionante imagem, daquelas a que se aplica a conhecida frase "uma imagem vale mais que mil palavras". 
Entretanto, as autoridades canárias revelam que a situação está para durar. Dezenas de pequenos sismos, alguns deles sentidos pela população, têm abalado a ilha de 84 mil habitantes e de 708 km2 de superfície, isto é, uma área ligeiramente menor do que as ilhas da Madeira e de S. Miguel, ao mesmo tempo que apareceram novas correntes de lava que correm em diferentes direcções e que vão engolindo mais edifícios e vão destruindo plantações, sobretudo de bananas. Em paralelo com as correntes de lava, também as cinzas e os fumos têm causado grandes perturbações na qualidade do ar, de que resultou o encerramento do aeroporto, além de outras consequências no domínio da saúde pública. 
Actualmente calculam-se em seis mil o número de desalojados e as autoridades espanholas já anunciaram medidas de apoio de emergência para atenuar os problemas humanos e económicos por que está a passar a ilha de La Palma.

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

O mau momento do turismo de Macau

O jornal Tribuna de Macau anunciou na sua última edição que o turismo macaense está de rastos devido às restrições adoptadas devido à pandemia. Esta constatação revelou-se durante a recente “semana dourada” de Outubro, que se iniciou no primeiro dia do mês e que agrega sempre vários feriados, incluindo os que se referem à implantação da República Popular da China. 
Depois do Ano Novo Lunar, que é a principal festa das famílias chinesas, a “semana dourada” é o período de festividades que gera o maior movimento de massas na China. Por isso, o número de pessoas que visitam Macau durante a “semana dourada” é um indicador da vitalidade da indústria turística macaense, mas revela uma preocupante paralisia que afecta todas as actividades e o emprego turístico. Em 2019, antes da pandemia, um total de 985 mil pessoas visitaram Macau e, na “semana dourada” de 2020, houve 156.300 pessoas que visitaram o território. Este ano, Macau registou a entrada de apenas 8.159 visitantes. Os números falam por si.
A grande massa de visitantes de Macau é oriunda da República Popular da China (60%) e do vizinho território de Hong Kong (40%). Apesar da taxa de ocupação hoteleira ainda estar elevada devido ao alojamento de residentes e de pessoas retidas devido à quarentena imposta pelas autoridades dos territórios vizinhos, os representantes do sector afirmam que “o sector do turismo continua numa situação de quase total paralisação” e reclamam medidas que deverão ser coordenadas com as autoridades de Hong Kong e da República Popular da China.
No entanto, o que suscita a atenção da primeira página do jornal macaense não é tanto a notícia do “turismo de rastos”, mas a fotografia das ruinas da igreja de S. Paulo, o ex-libris de Macau, vazias e sem a habitual multidão de turistas.

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

O Brasil procura a Ordem e o Progresso

A edição de hoje do jornal Libération escolheu a fotografia de Luiz Inácio Lula da Silva para ilustrar a sua primeira página e destaca uma frase do antigo presidente do Brasil em que afirma que “Bolsonaro vai perder” nas eleições presidenciais de 2022.
A fragilidade de algumas instituições, a gestão de Jair Bolsonaro e a pandemia da covid-19 abalaram o Brasil nos anos mais recentes, não só pelos problemas internos que criaram ou agudizaram, mas também pela forma como foi afectado o seu prestígio internacional. Ao entrevistar e escolher Lula da Silva para ilustrar a sua primeira página, o Libération está a anunciar uma vontade europeia de que o Brasil irradie o “sonho mau” que tem sido Bolsonaro e a sua gestão incompetente, errática e desonesta, reabrindo a porta da recuperação do prestígio internacional do Brasil, da luta contra a pobreza, da defesa da Amazónia e da luta contra as alterações climáticas.
Independentemente de ser Lula ou outra personalidade a regenerar a esperança brasileira, coisa que os brasileiros saberão escolher em 2022, o Brasil precisa de um desígnio e de uma ambição tão grandes como o seu território, que é o quinto maior do planeta, enquanto os 213 milhões de brasileiros merecem uma presidência à altura da sua história. Em nenhum outro lugar do mundo como aqui em Portugal, se deseja tanto que este seu “filho” que completa 200 anos de idade no próximo ano, supere as suas dificuldades e arranque para uma era de “ordem e progresso” que é o lema nacional do Brasil, inscrito na sua própria bandeira nacional.

terça-feira, 5 de outubro de 2021

A falibilidade das plataformas digitais

Uma enorme e inesperada avaria, possivelmente devida a uma defeituosa configuração que ainda estará por identificar, tornou ontem inoperativas durante meia dúzia de horas, as aplicações Facebook, WhatsApp, Instagram e Messenger. A notícia correu mundo como se fosse um grande cataclismo à escala universal, pois impossibilitou o acesso àquelas aplicações do grupo Facebook e prejudicou muitos negócios que dependem cada vez mais destas plataformas digitais. Porém, o destaque desta notícia não foi a constatação de estarmos perante uma dependência digital que “liberta” ou que “condena” os seres humanos, as economias e as relações internacionais, mas o facto da riqueza pessoal de Mark Zuckerberg, um dos fundadores do grupo Facebook, ter “caído” mais de seis mil milhões de dólares após este episódio.
As agências noticiosas insistiram nesse pormenor e toda a imprensa mundial que pudemos consultar salientou que as acções do Grupo Facebook caíram 4,9%, o que significa que a fortuna de Mark Zuckerberg, um jovem americano de 37 anos de idade, caiu para 121,6 mil milhões de dólares e que o seu nome desceu um lugar na lista dos mais ricos do mundo. Porém, essas notícias esquecem que as cotações bolsistas são como as marés, isto é, descem e sobem regularmente, pelo que o Mark não sairá afectado desta situação. 
Um dos jornais que destacou esta notícia foi o Jornal do Comércio, que se publica na cidade brasileira de Porto Alegre e que escolheu para manchete da sua edição de hoje a frase: “pane derruba Facebook, WhatsApp e Instagram". O apagão veio mostrar ao mundo como estamos colonizados pelo mundo digital.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Os nossos campeões do mundo do futsal

O futsal é uma modalidade que, apesar de ser muito popular e ter muitos praticantes, não goza de um estatuto desportivo elevado, tanto no nosso país, como no mundo, apesar de ser um jogo de grande beleza estética e atlética. Antigamente chamava-se futebol de salão e também futebol de cinco, mas quando foi consagrado pela FIFA tornou-se futsal. Pois ontem Portugal sagrou-se campeão do mundo de futsal e um título destes é um acontecimento muito raro, tendo originado uma invulgar atenção da comunicação social e entusiasmado muita gente. Não foi caso para menos, porque houve incerteza e emoção em cada jogo disputado na nona edição do Futsal World Cup Lithuania 2021, organizado pela FIFA.
Nas oito edições anteriores o Brasil vencera cinco vezes, a Espanha duas e a Argentina uma, mas desta vez a vitória coube à equipa portuguesa. No seu percurso vitorioso bateu-se com a Tailândia (4-1), as Ilhas Salomão (7-0), Marrocos (3-3), Sérvia (4-3), Espanha (4-2), Cazaquistão (3-2) e, finalmente, a Argentina (2-1). Foi uma caminhada realmente emocionante que a RTP acompanhou.
No jogo da final ontem disputado na cidade de Kaunas, a equipa foi apoiada por uma surpreendente legião de adeptos que vibraram com as fintas de Ricardinho, as defesas de Bebé e os golos de Pany Varela.
Toda a imprensa desportiva, mas também a imprensa generalista portuguesa, registaram e aplaudiram aquela vitória. Foi, seguramente, um dos mais importantes resultados que o desporto português alguma vez conseguiu em termos colectivos e daí o nosso aplauso, enquanto admiradores do futsal.

sábado, 2 de outubro de 2021

Rivalidades e tensões no mar da China

A última edição do Courrier international dedica uma parte do seu conteúdo às relações entre os Estados Unidos e a China e, através de uma sugestiva ilustração, destaca a crescente rivalidade entre Washington e Pequim e a evidente escalada de âmbito militar entre os dois países.
A China, ou antes, a República Popular da China, foi fundada em 1949 por Mao Tsé-Tung depois da guerra civil chinesa. Os nacionalistas chineses que foram derrotados, refugiaram-se em Taiwan e em 1954 assinaram um Tratado de Defesa Mútua com os Estados Unidos, mas esse acordo foi rescindido em 1980 pelos americanos, como contrapartida do reconhecimento da República Popular da China e do estabelecimento de relações diplomáticas entre Washington e Pequim. A partir de então, existem acordos de assistência militar dos Estados Unidos com Taiwan, mas a protecção americana que defendia a ilha das ambições continentais chinesas que querem o seu regresso à Grande China, já não são a mesma coisa. Por isso, o regime de Taiwan vive sob a ameaça militar permanente de ser reintegrada na República Popular da China porque, as autoridades chinesas insistem que o território de Taiwan faz parte da China. Essa tem sido uma linha vermelha da política chinesa, mas confronta-se com a “assistência mútua” que, de certa forma, nunca deixou de existir entre Washington e Taipei.
Porém, o espaço de rivalidade e de potencial conflitualidade sino-americano também se estende a todo o Pacífico ocidental e ao mar da China, como se viu no recente acordo tripartido entre os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália, o chamado pacto Aukus, que os franceses consideraram “uma facada nas costas” e que originou fortes críticas de Pequim, ao mesmo tempo que as autoridades de Taiwan agradeceram este inesperado apoio.