sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

R.I.P. Edson Arantes do Nascimento (Pelé)

Edson Arantes do Nascimento, o cidadão brasileiro que todo o mundo conheceu como Pelé, faleceu ontem em S. Paulo, com 82 anos de idade. O governo brasileiro decretou três dias de luto nacional, mas a tristeza de todo o Brasil vai permanecer por muito mais tempo, porque Pelé era o seu maior ídolo, embora também fosse idolatrado no exterior pela generalidade dos adeptos do futebol. Ele era um verdadeiro ícone e um símbolo do futebol-desporto e do futebol-arte, tendo sido considerado como um dos maiores atletas de todos os tempos e sido eleito como o “Jogador do Século” por diversas organizações internacionais. Foi Campeão do Mundo por três vezes – em 1958, 1962 e 1970 – um palmarés que nenhum outro futebolista conseguiu alcançar até agora, o que lhe confere um estatuto único na história do futebol.
Com o seu talento e a sua arte, mas também com a sua humildade, inteligência e personalidade, o futebolista Pelé tornou-se um exemplo e um orgulho para milhões de brasileiros, um verdadeiro embaixador do Brasil e um ídolo de milhões de adeptos do futebol por todo o mundo, mas também o símbolo da transformação do futebol num fenómeno universal.
Hoje, muitas centenas de jornais de todo o mundo, designadamente a Folha de S.Paulo, homenageiam Pelé e dedicam-lhe todo o espaço das suas primeiras páginas e classificam-no como o rei, o imortal, o eterno. A morte de Pelé está a inundar de tristeza a sociedade brasileira e nem o afastamento de Bolsonaro ou a posse de Lula da Silva conseguem atenuar a dor de um país que chora a morte do homem que, como nenhum outro, tornou o Brasil conhecido e admirado no mundo.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

As estátuas para lembrar os futebolistas

A edição de hoje do centenário diário asturiano El Comércio que se publica em Gijon, destaca na sua primeira página uma fotografia do ex-futebolista David Villa junto da sua própria estátua, que foi erigida na sua cidade natal pelo Ayuntamiento de Langreo. 
David Villa foi um jogador de talento que, entre outras equipas, representou o FC Barcelona entre 2010 e 2013 e fez parte da selecção espanhola campeã do mundo em 2010, sendo o seu maior marcador de golos de todos os tempos. Certamente a comunidade de Langreo tem David Villa como um ídolo e um exemplo que justifica esta estátua.
Antigamente as estátuas representavam o reconhecimento das comunidades ao valor demonstrado por guerreiros, navegadores, cientistas, artistas, políticos ou filantropos que se distinguiam ao serviço dessas mesmas comunidades, mas nos últimos anos passaram a enaltecer os futebolistas, acima de tudo, o que mostra como as comunidades e as populações alteraram a sua visão do mundo e os seus valores. As estátuas dedicadas a jogadores de futebol tornaram-se comuns nos últimos tempos, sobretudo no Reino Unido e no Brasil, havendo registos de mais de uma centena de estátuas em honra de futebolistas. Daí que Pelé, Stanley Matthews, Bobby Robson, Maradona, David Beckham ou Lionel Messi não tenham apenas uma, mas várias estátuas em diferentes cidades e países.
A moda também chegou a Portugal e alguns futebolistas como Eusébio (Lisboa, 1992), Cristiano Ronaldo (Funchal, 2014) e Rui Patrício (Leiria, 2017) também já estão representados em bronze no espaço público. Não faltará muito tempo para que cada uma das nossas autarquias descubra um futebolista famoso lá na terra e faça o que fez o Ayuntamiento de Langreo

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

A América do Norte sob tempestade polar

Muitas das perturbações meteorológicas que vêm afectando o nosso planeta, são atribuídas a um fenómeno conhecido como as alterações climáticas, assim acontecendo com a seca e com as inundações, mas também com outros episódios meteorológicos.
Nesta quadra de Natal, os Estados Unidos e o Canadá estão a passar pela mais rigorosa tempestade de inverno verificada nos últimos anos, com temperaturas que chegam aos 50ºC negativos. A situação já foi classificada como um ciclone-bomba e tem sido marcada por abundantes nevões e intenso frio polar, que já provocaram algumas dezenas de mortes, muitos cortes de energia, bloqueio de estradas, encerramento de aeroportos e o cancelamento de milhares de voos. A governadora do estado de Nova Iorque classificou o fenómeno como “uma tempestade épica que acontece uma vez na vida”, acrescentando que, provavelmente, vai ficar conhecida como “a tempestade de neve de 22”.
Na sua edição de hoje o jornal USA Today destaca que o “número de mortos na histórica tempestade de inverno atinge os 50” e, referindo-se a Buffalo, a segunda mais populosa cidade do estado de Nova Iorque onde a neve já “soterrou” muitas casas e atingiu 2,40 metros de altura em alguns locais, avisa os seus habitantes para se prepararem para mais neve, naquele que é “o pior nevão desde há quatro décadas”. O frio extremo provocou temperaturas negativas em 48 dos 50 estados americanos!
O Canadá também foi afectado pela tempestade e todas as suas províncias emitiram alertas meteorológicos, havendo milhares de pessoas sem energia e estando os principais aeroportos fechados ao tráfego. A vaga de frio que está a atravessar a América do Norte estendeu-se para sul e chegou ao México, onde nevou, nomeadamente nas zonas mais altas da capital.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

A mensagem do Papa e a paz na Ucrânia

O Papa Francisco leu ontem a sua mensagem de Natal e deu a sua tradicional benção urbi et orbi de uma varanda da Basílica de São Pedro, em Roma, destacando a guerra na Ucrânia como um dos temas que decidiu abordar.
Depois de se referir aos “irmãos e irmãs ucranianos que vivem este Natal na escuridão, ao frio ou longe das suas casas, devido à destruição causada por dez meses de guerra”, o Papa Francisco pediu a Deus “que ilumine as mentes de quantos têm o poder de fazer calar as armas e pôr termo imediato a esta guerra insensata”, acrescentando que “infelizmente, prefere-se ouvir outras razões, ditadas pelas lógicas do mundo”. Estranhamente, numa busca pelos principais jornais ocidentais, constata-se que a mensagem do Papa não mereceu qualquer destaque e que só o jornal Gulf News, publicado a partir do Dubai, nos Emirados árabes Unidos, destaca o apelo do Papa para acabar com o conflito, com uma notícia de primeira página a quatro colunas. Chega a parecer que a voz e a vontade do Papa não suscitam o apoio da imprensa internacional nem dos interesses que a comandam, ou que prevalece a lógica de derrotar militarmente o adversário. Porém, quem sofre é o povo ucraniano e é nesse enorme sofrimento que as duas partes em confronto deviam pensar, mas a informação dominante que recebemos é sobre mísseis, drones, artilharia e outras coisas letais.
A ansiedade pelo fim da guerra está a aumentar. Hoje, também o Le Journal du Dimanche pergunta “jusqu’où doit-on soutenir l’Ukraine” e divulga uma sondagem recente do Ifop (Institut Français d’Opinion Publique) que revela que 70% dos franceses defendem que se chegue a uma solução negociada entre a Ucrânia e a Rússia. Porém esta sondagem não foi publicada pela imprensa de referência francesa.

domingo, 25 de dezembro de 2022

Os desafios do crescimento demográfico

A Organização das Nações Unidas, através do seu Departamento de Assuntos Económicos e Sociais publicou no passado verão o World Population Prospects 2022, no qual se estima que a população mundial ascenderia a um total de 8.000 milhões de pessoas no dia 15 de Novembro de 2022. A informação era apresentada como um motivo de celebração mas, ao mesmo tempo, continha uma chamada de atenção para a Humanidade, no sentido de encontrar novas soluções para os novos desafios que enfrenta.
A população mundial demorou 125 anos para passar de mil milhões para dois mil milhões de habitantes e, em 1952, era de 2.500 milhões de pessoas. Desde então, tem-se multiplicado cada vez de forma mais acelerada e, em apenas onze anos, passou de 7 mil para 8 mil milhões de pessoas. Cerca de 80% desse crescimento demográfico aconteceu nos países em vias de desenvolvimento, sobretudo em países que não têm políticas de planeamento familiar.
O problema é que muita gente vive na pobreza, sem trabalho e sem segurança alimentar, isto é, não tem as necessidades básicas satisfeitas. A contínua pressão demográfica vai exigir o aumento da produção alimentar, o que também vai exigir mais pressão sobre os recursos e um enorme impacto sobre o meio ambiente. Daí resultarão mais conflitos, mais migrações e maior instabilidade e incerteza.
O diário catalão el Periódico escolheu esse assunto como tema principal na sua edição de hoje e selecionou duas frases, que reproduz em primeira página, que sintetizam as conclusões do seu estudo: “El mundo afronta el reto de optimizar el reparto de recursos y responsabilidades. El problema no es cuantas personas habitan la Tierra, sino cómo se organizan”.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Uma brevíssima mensagem de Natal

Estamos em vésperas de Natal e sucedem-se as mensagens de amizade e de fraternidade, os votos de saúde e os desejos de paz. Embora este dia 25 de dezembro seja celebrado pelos cristãos para comemorar o nascimento de Jesus de Nazaré, também é celebrado por muitas outras comunidades que professam outras religiões, não só pelos seus símbolos e tradições, mas também pelo seu impacto económico. 
O mundo adoptou os símbolos natalícios como a árvore de Natal, as decorações, algumas iguarias específicas, as músicas, as luzes e o ritual das trocas de presentes e, num âmbito mais religioso, não dispensa o presépio nem o culto de muitas tradições ancestrais de cunho popular, sobretudo nos meios rurais.
No século XIX foi inventado o Pai Natal, um homem de barba branca que veste um casaco vermelho e que se desloca num trenó desde a nevada Lapónia, trazendo sacos de presentes para as crianças, isto é, os brinquedos deixaram de vir pela chaminé para serem colocadas no sapatinho e passaram a chegar num trenó. A figura lendária do Pai Natal ganhou ainda mais notoriedade mundial através das campanhas publicitárias da Coca-Cola, que americanizou o Natal e substituiu o símbolo natalício do presépio cristão por esse trenó puxado por renas. Para isso, também muito contribuiu o espírito consumista das sociedades contemporâneas que passou a concentrar nesta época o apelo ao mais desenfreado consumo e à troca de presentes, muitas vezes caros e inúteis. Porém, apesar de todas as mudanças que se verificam no mundo, o Natal continua a ser um tempo de fraternidade, de paz e de solidariedade.
Hoje a edição da prestigiada revista The Economist evoca o Natal. Aqui se aproveita a ilustração da respectiva capa para desejar um bom Natal a quem nos lê.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Viagem de Zelensky: mais guerra ou a paz?

Volodymyr Zelensky deslocou-se ontem aos Estados Unidos numa rápida viagem e, segundo declarou, o objectivo da sua visita foi “fortalecer a Ucrânia no próximo ano”, “regressar a casa com boas notícias” e levar a “confirmação do apoio dos Estados Unidos”. Terá conseguido tudo isso, pois o presidente Joe Biden declarou que “os Estados Unidos apoiarão a Ucrânia o tempo que for preciso”. Os jornais de todo o mundo ocidental publicaram a fotografia do abraço entre Joe Biden e Zelensky, enquanto as notícias e os comentários insistiram que o encontro entre ambos se destinou a reforçar os apoios americanos à Ucrânia. Porém, num tempo de tantas facilidades de comunicação, em que os Estados Unidos “estão presentes” na Ucrânia para onde já enviaram cerca de 21,9 mil milhões de dólares de apoio militar e humanitário e depois de já ter sido prometida a entrega de mísseis Patriot, os objectivos enunciados não justificariam uma viagem desta natureza.
Zelensky terá ido encontrar-se com Joe Biden por outros motivos, até porque afirmou que “a Ucrânia está viva e recomenda-se”. Porém, Biden salientou a importância de ambos “falarem pessoalmente” e “olharem-se nos olhos”, o que significa que para além das declarações e da encenação de circunstância, ambos falaram de outras coisas, nomeadamente do fim da guerra e da paz, pois Joe Biden até disse que Zelensky está disposto a uma “paz justa”. À mesma hora, a Rússia excluía qualquer hipótese de negociações de paz e declarava que a entrega dos novos sistemas de defesa irá conduzir a um “agravamento do conflito” e que isso “não é um bom presságio para a Ucrânia”.
Antes de qualquer negociação, as partes costumam “fazer-se fortes” e, apesar dos discursos de agravamento da situação produzidos pelas duas partes, talvez a viagem de Zelensky tenha mais a ver com a paz do que com a guerra. Até a confirmação da diplomata Lynne M. Tracy como a nova embaixadora dos Estados Unidos na Rússia, parece mostrar que a paz pode ser o novo tema de discussão, porque da guerra já todos estão fartos.

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Os erros de Trump e o futuro da política

Após dezoito meses de trabalho, a comissão designada pelo Congresso dos Estados Unidos para investigar o assalto ao Capitólio realizado no dia 6 de Janeiro de 2021 pelos apoiantes de Donald Trump, apresentou as suas conclusões. Os sete democratas e dois republicanos que integraram aquela comissão, ou House Select Committee, procederam “às mais exaustivas investigações da história norte-americana” e votaram por unanimidade que Donald Trump tentou subverter a transferência da presidência dos Estados Unidos para Joe Biden, através da insurreição. Ontem, a comissão recomendou que o Departamento de Justiça processe criminalmente o ex-presidente por ter tentado reverter ilegalmente a sua derrota nas eleições presidenciais de 2020 e por ter promovido a violência para se manter no poder. Porém, as conclusões da comissão não são vinculativas, nem têm força legal, pelo que terá que ser a instância judicial a acusar, ou não acusar, o ex-presidente Donald Trump. Porém, todos os grandes jornais americanos destacam nas suas edições de hoje a recomendação da comissão do Congresso para que Donald Trump seja processado.
Este caso mostra que, independentemente dos diferentes regimes, os poderes políticos estão cada vez mais limitados pelas ordens jurídicas internas e internacionais.
Não se sabe como vai evoluir o caso Trump, mas é curioso verificar o que aconteceu no corrente ano de 2022, em que foram emitidos mandados de detenção ou foram detidos, o ex-primeiro-ministro tunisino Ali Laarayedh, o ex-primeiro-ministro da Bulgária Boyko Borissov, o ex-primeiro-ministro paquistanês Imran Khan, o ex-primeiro-ministro da Guiné-Bissau Aristides Gomes, o ex-primeiro-ministro das Ilhas Virgens Britânicas Andrew Fahie e o ex-presidente peruano Pedro Castillo. Parece, portanto, que há cada vez menos governantes a actuar à margem da lei ou com impunidade e, sendo assim, o Donald não se safa. A política já não é o que era...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Ainda sobre a festa argentina no Qatar

O futebol é, certamente, o mais importante fenómeno social do nosso tempo. As suas características, simultaneamente de espectáculo artístico e de jogo, geram um entusiasmo único e universal, mesmo nos países e regiões onde ainda não conquistou a unanimidade do gosto popular. Por isso, a vitória da Argentina no Qatar 2022 ocupa as primeiras páginas dos jornais de todo o mundo, incluindo alguns países onde o futebol ainda não foi adoptado pelas elites e não conquistou as multidões, como acontece nos Estados Unidos, na China, na Índia ou na Indonésia.
Todos os grandes jornais mundiais de referência destacam hoje a vitória argentina e desfazem-se em elogios a Lionel Messi que, na realidade, tem um talento futebolístico único. Habituados a ver que as notícias argentinas que nos chegam se costumam referir a crises económicas, a bancarrotas, a hiperinflações ou a situações de instabilidade política, quem imaginaria que o The Washington Post ou o The Wall Street Journal, bem como o The Times of India ou o China Daily, viessem hoje destacar nas suas edições o futebol e a Argentina, mas também a figura de Lionel Messi? São sinais dos tempos, que podem inspirar novas soluções, para novas situações. Assim, bom seria que o conflito que está a destruir a Ucrânia e a levar a dor à população ucraniana, pudesse ser resolvido de forma semelhante a um jogo de futebol, com ou sem prolongamento, com ou sem penaltis.
Não é tolerável que no território da Ucrânia haja tanta teimosia, tanto sofrimento e tanta destruição, ao contrário do que aconteceu no Qatar, onde houve tanta arte, tanta alegria e tanta festa.

domingo, 18 de dezembro de 2022

Qatar: aconteceu a vitória da Argentina

Os jornais desportivos de todo o mundo destacaram nas suas edições de hoje a realização da final do Campeonato do Mundo de Futebol que iria ser disputada no estádio Lusail, no Qatar, entre as equipas da Argentina e da França. Cada uma daquelas equipas tinha dois títulos mundiais e, portanto, quem vencesse a final de hoje iria acrescentar mais um troféu ao seu palmarés e posicionar-se no ranking mundial depois do Brasil (cinco títulos) e da Alemanha e da Itália (ambas com quatro títulos). Porém, a expectativa parecia estar menos concentrada nas equipas finalistas e mais nas duas estrelas que se iam defrontar, que por acaso jogam na mesma equipa do Paris Saint-Germain: o argentino Lionel Messi de 35 anos de idade e o francês Kylian Mbappé de 23 anos de idade.
Ao fim do tempo regulamentar as duas equipas estavam empatadas por 2-2. Depois do prolongamento o empate persistiu e o marcador assinalava 3-3. Depois de duas horas de jogo muito disputado e emotivo, a solução foi encontrada nos pontapés de grande penalidade. A Argentina foi mais feliz, tornando-se a nova campeã mundial. Messi foi eleito o melhor jogador do torneio e Mbappé foi o melhor marcador com oito golos.
Emmanuel Macron foi ao Qatar apoiar a equipa francesa e a França perdeu. Os nossos dignitários institucionais foram ao Qatar e Portugal já tinha perdido. Ganhou a Argentina cujo presidente Alberto Fernández não se deslocou ao Qatar. Afinal, parece que ganham aqueles que não se distraem com a presença dos seus presidentes e que perdem aqueles que são atropelados pelos seus próprios presidentes que foram ao Qatar apenas para atrapalhar.
Portanto, parabéns à Argentina, a terra de Carlos Gardel, Juan Manuel Fangio, Ernesto Che Guevara, Jorge Luis Borges, Diego Armando Maradona e Jorge Mario Bergoglio.

sábado, 17 de dezembro de 2022

Indústria aeronáutica e a nova Air India

O diário La Dépêche du Midi que se publica em Toulouse, a capital da região administrativa da Occitânia que se situa no sueste da França, noticiou ontem com grande destaque que “a aeronáutica volta a descolar na Occitânia”. De facto, a actividade do gigante aeronáutico Airbus acelerou nos últimos meses e, depois da crise sanitária de 2019-2021, já passou de uma produção mensal de quarenta para sessenta unidades do seu modelo A320. O sector emprega 80.000 trabalhadores, incluindo a área aeroespacial, mas há uma enorme quantidade de fornecedores e de subcontratações da Airbus que animam a economia da região. Para a criação deste ambiente de euforia que está a envolver a Occitânia e o grupo Airbus, está a provável encomenda de 500 aeronaves pela Air India, que está em vias de se concretizar e que será a maior encomenda alguma vez feita por uma só companhia. 
A Air India foi privatizada no início do ano de 2022 e foi adquirida pelo grupo Tata que prometeu torná-la numa empresa de classe mundial, pelo que está em vias de concretizar uma das maiores encomendas da história da aviação que, a preços de catálogo, custará cerca de 100 mil milhões de euros, um valor que é aproximadamente equivalente ao orçamento do Estado Português. Segundo revela o jornal, a encomenda consta de 400 aviões de médio curso e 100 aeronaves de longo curso, mas o grupo Tata ainda está a ponderar a divisão da sua encomenda entre a Airbus e a Boeing. 
Certamente que os aspectos políticos e as contrapartidas a oferecer por cada um dos construtores estão a ser ponderadas, bem como os custos subterrâneos que estas operações sempre envolvem. Porém, o que não há dúvidas é que a Air India se vai posicionar em breve no topo mundial da aviação comercial.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Huelva escolhe arquitecturas inovadoras

Como em nenhuma outra região do mundo, a província andaluza de Huelva, que é vizinha do nosso Algarve, guarda a memória de Cristovão Colombo em Palos de la Frontera, no mosteiro de La Rabida e em diversos monumentos da cidade de Huelva. Estando situada a cerca de cinquenta quilómetros da fronteira portuguesa, a cidade de Huelva e as memórias de Colombo são uma visita quase obrigatória para os portugueses que apreciam a expansão marítima ibérica, com as suas grandezas e as suas misérias.
Pois foi nesta cidade que ontem foi inaugurado um novo terminal portuário, um acontecimento que mereceu destacada notícia no diário Huelva Información, um dos periódicos pertencentes ao grupo Joly, que é o mais importante grupo editorial da Andaluzia.
O novo terminal de passageiros, serviços portuários e controlos policiais e alfandegários do porto de Huelva está localizado no Muelle Sur do porto e representou um investimento de cinco milhões de euros. Segundo as autoridades portuárias, o novo terminal vai permitir o incremento do tráfego de passageiros e mercadorias entre Huelva e as ilhas Canárias (cerca de 380 milhas), que este ano se cifrou em 65.000 passageiros/turistas e que, actualmente, dispõe de cinco ligações semanais.
Uma fotografia na primeira página do Huelva Información, ilustra a notícia da inauguração do novo terminal que “se caracteriza por su diseño singular e innovador”, o que lhe permite ser classificado como uma obra de arquitectura. Não é uma obra grandiosa na volumetria mas, à sua dimensão, é uma pequena obra de arte que enriquece o porto de Huelva. 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

As inundações que os políticos ignoraram

Depois de alguns meses de seca extrema, com os rios a minguarem os seus caudais e as barragens a descer a níveis preocupantes, o território continental português foi servido por chuvas abundantes nos últimos dias. As barragens que no verão estavam praticamente vazias começaram a encher-se e, no norte e no centro, já estão com um nível de enchimento médio ou acima da média. Porém, esta é a face positiva de uma moeda que, na outra face, tem revelado aspectos catastróficos, sobretudo na região de Lisboa e em alguns municípios do Oeste e do Alentejo.
A intensidade das chuvas e a subida do nível das águas apanhou a população e as autoridades desprevenidas, como se não fosse uma situação que ciclicamente acontece. A água entrou em habitações e lojas, inundou ruas e bloqueou viaturas na área metropolitana de Lisboa, nomeadamente em Lisboa, Oeiras, Loures, Odivelas e Cascais, provocando avultados prejuízos que ainda estão por avaliar. Hoje o Diário de Notícias publica, com destaque de primeira página, uma fotografia de uma rua de Algés, em que se vê um bote de borracha da Marinha...
Já se estima que tenham sido afectados mais de cem mil pequenos negócios e mais de quatrocentos mil postos de trabalho. A televisão não se cansou de mostrar tudo o que as inundações fizeram, bem como as explicações dadas por tantos especialistas.
A primeira justificação avançada para explicar esta tragédia provocada pela meteorologia são as alterações climáticas, mas o excesso de chuva só explica uma parte do que aconteceu. O problema é, como toda a gente sabe, a falta de escoamento nas áreas urbanas, o entupimento de condutas, os excessos de impermeabilização urbana, a obstrução das ribeiras naturais e a construção desregrada em zonas de cheia, entre muitas outras razões. O falecido arquitecto Gonçalo Ribeiro Teles explicou isso inúmeras vezes e parece que ninguém lhe deu ouvidos. Os decisores políticos parecem preocupar-se apenas com a navegação à vista de costa até às próximas eleições, para segurarem os seus lugares. Não ouviram quem deveriam ter ouvido e ignoraram este problema, porque o que é necessário fazer será sempre uma obra sem visibilidade e que não dá votos. Irresponsavelmente, desculpam-se com as alterações climáticas.

Qatar: a Argentina chega à sua sexta final

O futebol continua a suscitar o entusiasmo do planeta quando faltam apenas quatro dias para se conhecer o novo campeão do mundo a coroar no Qatar.
Ontem, a Argentina venceu a Croácia por 3-0 e foi apurada para a final. Nem a guerra na Ucrânia, nem as tensões fronteiriças entre a China e a Índia, nem o abalo por que passa o Parlamento Europeu ou as inundações em Portugal, têm hoje tanto destaque na imprensa mundial como a vitória argentina e a superior exibição de Lionel Messi. O diário Clarín que se publica em Buenos Aires e que se julga ser o maior jornal de língua espanhola, destaca com uma fotografia a toda a largura da sua primeira página, mais este passo “por el tercer Mundial”. De facto, a Argentina já venceu o Mundial por duas vezes, em 1978 e 1986, pelo que aspira a uma terceira vitória, embora também já tenha perdido três finais em 1930, 1990 e 2014. Hoje será conhecido o outro finalista no jogo que vai ser disputado entre a França, que é o actual campeão do Mundo, com a surpreendente equipa de Marrocos. Desde que os marroquinos derrotaram os portugueses e se tornaram a primeira equipa africana a atingir as meias-finais de um campeonato do mundo, que a tensão é enorme entre a comunidade marroquina em França. 
No jogo de hoje entre franceses e marroquinos vai estar em disputa muito mais do que o acesso à final, pois estarão em confronto relações históricas de dependência e de desigualdade, com o ex-oprimido a ter a oportunidade de lutar em igualdade com o ex-opressor, mas também as tensões herdadas do domínio colonial e da emigração marroquina. O futebol já não é apenas uma actividade desportiva, um grande espectáculo e um poderoso negócio de contornos pouco conhecidos, mas tornou-se numa expressão do prestígio das nações, das suas ambições e das suas reivindicações por verdadeiros estatutos de igualdade.

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

O escândalo que afunda o sonho europeu

O jornal francês La Croix destaca na sua edição de hoje o “escândalo europeu”, com a corrupção a chegar em força ao Parlamento Europeu (PE). Já se sabia que a União Europeia tinha criado um novo-riquismo que envolve a generalidade dos que se alimentam das suas burocracias e dos dinheiros que por lá circulam, mas pensava-se que os eurodeputados – que os cidadãos escolheram com o seu voto – estavam fora dessas suspeitas.
O PE é o órgão legislativo da União Europeia, sendo composto por 705 deputados que representam os 446 milhões de cidadãos dos seus 27 estados-membros, entre os quais 21 eurodeputados portugueses, a maioria dos quais não conhecemos, nem sabemos o que faziam antes, nem o que fazem agora. A sua sede oficial localiza-se em Estrasburgo, mas os deputados circulam entre Estrasburgo, Bruxelas e o Luxemburgo, onde reúnem as comissões parlamentares e o secretariado. É um exemplo de despesismo injustificável que custa muitos milhões de euros e que permite inúmeros truques e falcatruas aos deputados e aos funcionários menos escrupulosos. Esta estrutura gigante tem um orçamento anual de cerca de dois mil milhões de euros, um montante que dá para tudo, costumando dizer-se que ser eurodeputado europeu é o melhor emprego que existe.
Nesta instituição há uma eurodeputada grega que é vice-presidente e se chama Eva Kaili. Certamente muito ambiciosa, deslumbrada e sem escrúpulos. Porém, foi detida em Bruxelas na sequência de uma investigação da justiça belga relativa a alegados subornos do Qatar para influenciar decisões políticas. Nas buscas realizadas no seu apartamento pelas autoridades foram encontrados sacos com 150 mil euros em dinheiro, enquanto o seu pai foi detido nesse mesmo dia em flagrante num hotel de Bruxelas, carregando uma mala com 600 mil euros em dinheiro, com o qual pretendia fugir. É mesmo um escândalo! Até que ponto podemos confiar nesta gente que afunda o sonho europeu de liberdade, igualdade, fraternidade e solidariedade?

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Qatar: Ronaldo não teve paz nem sossego

Perú: o diário Líbero, 11 de dezembro de 2022
A imprensa internacional registou o sensacional apuramento de Marrocos para as meias-finais do Campeonato do Mundo do Qatar e a inesperada eliminação de Portugal, mas o destaque mediático assentou na derrota e nas lágrimas de Cristiano Ronaldo. A sua fotografia foi publicada nas primeiras páginas dos jornais do mundo inteiro, porque ele é uma figura mundial e a sua notoriedade é maior do que a do seu próprio país. Não foi Portugal que perdeu. O derrotado foi Cristiano Ronaldo, um ídolo para milhões de adeptos do futebol.
Cristiano Ronaldo é uma personalidade muito apreciada e é a única pessoa no mundo que tem mais de 500 milhões de seguidores na rede social Instagram. Vestiu a camisola da selecção em cinco Campeonatos do Mundo, proporcionou muitas alegrias ao povo e, só por isso, é merecedor da gratidão dos portugueses, cuja alegria e orgulho nacional estiveram muitas vezes associadas aos golos que marcou. Com ele, a selecção portuguesa saiu da penumbra e passou a posicionar-se no patamar mais elevado do futebol mundial, enquanto o país passou a ser conhecido mundialmente por ser o país do Ronaldo.
Por cá discute-se se o que aconteceu foi por mérito marroquino ou por demérito português, ou se foi por culpa do Ronaldo, do seleccionador Santos ou por quaisquer outras razões, mas nunca haverá respostas para essas questões. Não sei se Ronaldo devia ou não devia ter jogado mais tempo, não sei se podia ou não podia ter jogado melhor. Porém, ficará como registo histórico que, depois de ter sido endeusado durante muitos anos, Ronaldo foi criticado e maltratado por muitos jornalistas e muitos comentadores. Irresponsavelmente. Não lhe deram paz nem sossego. No dia 9 de dezembro, na véspera do jogo com Marrocos, o seleccionador pediu aos jornalistas que “deixem o Ronaldo em paz”, mas seis dias antes, no dia 3 de dezembro, já aqui tinha sido escrito “deixem o Ronaldo em sossego”. Cercados por agitadores mediáticos, era difícil que o Ronaldo e os seus companheiros fizessem melhor. Ficaram nas oito melhores equipas. Foi bem bom, apesar do amargo da derrota com os marroquinos.

domingo, 11 de dezembro de 2022

Qatar: Marrocos desfez o sonho luso

Ontem foi um dia muito triste para os portugueses! Depois de vários dias de endeusamento das qualidades dos nossos futebolistas, das viagens dos nossos principais dignitários ao Qatar (feitas em nome do interesse nacional) e do massacre televisivo a que fomos sujeitos com as reportagens dos enviados especiais, por vezes muito desinteressantes e medíocres, a selecção nacional perdeu com a selecção de Marrocos. Foi apenas um golo, mas bastou. Podia ter sido ao contrário, mas aconteceu assim. Os jogadores bateram-se bem mas não foram felizes e, na sua edição de hoje, o jornal A Bola publica a fotografia do desalentado Ronaldo e convida os portugueses a chorar.
Foi pena, porque os portugueses andam pouco entusiasmados com o seu quotidiano e precisavam desta alegria. Porém, não há drama nenhum e há mais futebol e mais desafios para além deste Qatar 2022. Com a equipa portuguesa também saíram as equipas do Brasil, da Holanda e da Inglaterra e, antes, já a Alemanha, a Espanha, a Bélgica, a Dinamarca e o Uruguai tinham ido para casa mais cedo. A selecção nacional tinha chegado aos quartos-de-final depois de humilhar a Suíça e estava no grupo das oito melhores equipas, mas ontem foi derrotada por Marrocos que antes batera a Bélgica e a Espanha. Os marroquinos chegaram às meias-finais e são a maior surpresa deste Qatar 2022, pois nunca uma equipa africana conseguira ir tão longe.
Agora a discussão será entre a Argentina, a Croácia, a França e Marrocos. No que respeita a Portugal, “é preciso levantar a cabeça”, como costumam dizer os derrotados. Porém, uma vez que os jogadores portugueses são realmente muito talentosos, talvez se justifique uma análise mais profunda sobre as causas das nossas frustrações futebolísticas.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Voltou a moda dos “golpes de estado”

Numa altura em que as agendas mediáticas andam ocupadas com o futebol e com a guerra na Ucrânia, ainda há surpreendentes notícias de tentativas de “golpes de estado” na Alemanha e no Perú, o que não se imaginava que pudesse acontecer, pois esse tipo de intervenção parecia estar fora de moda, até mesmo na América do Sul, quanto mais na Alemanha.
Na Alemanha, que é o principal país da União Europeia, foi desmantelada uma rede que se suspeita estar a preparar um “golpe de estado”, através da invasão do Bundestag, do derrube do governo e da imposição de uma nova ordem constitucional.
No Perú também terá acontecido uma tentativa de “golpe de estado”, promovida por Pedro Castillo, isto é, pelo próprio presidente da República. Castillo foi eleito em 2021 na 2ª volta das eleições presidenciais peruanas, mas durante a campanha eleitoral já era acusado de ser “o Nicolás Maduro do Perú”, pelos seus sinais de autoritarismo. A sua presidência decorreu em permanente clima de crise política e com frequentes acusações directas de ser um agente activo da alta corrupção, pelo que no seu curto mandato foi confrontado com três pedidos de impeachment. Ontem, dia 7 de dezembro, o Parlamento procurou destitui-lo por “incapacidade moral”, mas Castillo antecipou-se e decretou a sua dissolução. Porém, cerca de duas horas depois o impeachment foi mesmo votado e aprovado com 101 votos a favor, seis contra e dez abstenções. O Congresso, e depois o Supremo Tribunal do Perú, classificaram a atitude ditatorial de Castillo como “golpe de estado”, pelo foi destituído e imediatamente detido por violação da Constituição, ao mesmo tempo que era dada posse à vice-presidente Dina Boluarte para o substituir. O diário Uno, que se publica em Lima, mostra as fotografias de Castillo e de Boluarte, ou as imagens de la traición e de la esperanza.
Portanto, na Alemanha e no Perú, terá havido duas tentativas de “golpe de estado”, que é uma coisa que se julgava impensável em quase todo o mundo no século XXI.

Qatar: o apoio dos goeses aos portugueses

O Campeonato do Mundo de Futebol está a interessar quase todo o mundo e, por isso, a vitória de Portugal sobre a Suiça teve uma enorme repercussão na imprensa mundial.
Um dos casos mais curiosos do entusiasmo pela selecção portuguesa acontece em Goa, um território que os portugueses governaram durante 451 anos e que em 1961 foi integrado pela força na República da Índia. Mudou a soberania em Goa e houve tentativas dos novos poderes para apagar a memória lusitana, mas os traços culturais portugueses permaneceram na sociedade goesa. O entusiasmo com que os goeses apoiam a selecção nacional de futebol que está no Qatar, demonstra exactamente isso.
A goleada portuguesa sobre a Suíça por 6-1 foi destacada na edição do centenário jornal oHeraldo que se publica em Pangim, com quatro fotografias que mostram o entusiasmo dos goeses pela selecção portuguesa, quer em Goa, quer na diáspora goesa que vive no Qatar. Diz o jornal que “casas, autocarros e gente de Goa se vestem com as cores portuguesas” e que os apoiantes de Portugal “não querem outra coisa que não seja que a taça vá para Lisboa no dia 18 de dezembro”.
O apoio dos goeses à equipa portuguesa de futebol é emocionante, tal como é emocionante o entusiasmo com que se festejam os seus êxitos nas comunidades portuguesas e nos territórios onde deixamos as nossas marcas culturais, que nem sempre foram positivas. Porém, a alegria do futebol faz esquecer essas coisas.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Portugal entre “los 8 grandes” do futebol

Ontem foi um dia de festa para o futebol português pela robusta e até inesperada vitória obtida sobre a equipa da Suíça, que colocou a selecção portuguesa nos quartos de final do Campeonato do Mundo e deu uma enorme alegria aos portugueses, em especial aos que vivem e trabalham naquele país. A imprensa portuguesa escreveu em letras bem grandes as palavras demolidor e fulminante. No mundo do futebolez, em que se usa e abusa do adjectivo “histórico” para tudo e mais alguma coisa, a exibição de ontem e o resultado de 6-1, bem justificam a título excepcional a utilização da palavra histórica, até porque veio mostrar que a maravilha de que aqui se falara como sendo um atributo futebolístico brasileiro, afinal também é português. Aqueles jogadores são notáveis em talento e em determinação e, para muita gente, até merecem as fortunas que lhes pagam.
Com aquele resultado, como hoje lembra o jornal peruano Líbero, estão encontrados los 8 grandes, isto é, Portugal está entre as oito melhores equipas de futebol do mundo. Naturalmente que isso é agradável pela alegria que transmite ao povo – que bem precisa de alegrias – mas seria bem mais interessante se estivéssemos entre os oito melhores do mundo em prosperidade económica e qualidade de vida, em protecção social e solidariedade, no combate às desigualdades e à pobreza, no apoio aos mais necessitados, em responsabilidade ambiental e na luta contra o clientelismo que tanto afecta a harmonia da sociedade portuguesa. Lamentavelmente, todas essas causas ficam subordinadas aos interesses políticos imediatos e à busca de popularidade que a generalidade dos políticos persegue à boleia do futebol. 
Assim, eu aplaudo e fico muito satisfeito com o desempenho da selecção nacional de futebol, mas não me agrada nada tanta euforia.

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

A maravilha brasileira chegou ao Qatar

Estão a decorrer os jogos dos oitavos de final do Campeonato do Mundo e, sem surpresas, estão a ser apuradas as equipas mais fortes e com maior favoritismo. Ontem, o Brasil eliminou a equipa da Coreia do Sul treinada pelo português Paulo Bento e, sobretudo na primeira parte, exibiu-se a um nível artístico que pode igualar-se a um bailado ou a um número de circo, com os artistas bem sincronizados na apresentação das suas habilidades com a bola. Naturalmente, os jornais brasileiros não perderam tempo e trataram de heroicizar os seus neymares, mas o que realmente espanta é a capa do jornal italiano Corrierre dello Sport que se publica em Roma que, para além de publicar uma fotografia da festa brasileira a toda a largura da primeira página, escolheu o título “Maravilha!”, isto é, em vez de escrever a palavra italiana meraviglia, escreveu a palavra portuguesa maravilhaEste tributo ao futebol brasileiro também é uma consequência da frustração italiana de nem sequer ter sido apurada para o Qatar 2022.
Uma outra curiosidade desta edição é o destaque que Ronaldo tem na mesma primeira página, não porque marque golos ou jogue bem, mas apenas porque a Arábia Saudita parece que lhe vai pagar 500 milhões de euros por dois anos e meio de contrato. A ser assim, serão 16 milhões de euros por mês e 547 mil euros por dia. É mesmo uma grande jogada e é um outro tipo de maravilha...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Há entendimento entre Biden e Macron?

Emmanuel Macron foi em visita oficial aos Estados Unidos e a enorme zanga franco-americana que resultara do cancelamento do contrato para o fornecimento de submarinos franceses à Austrália, que os americanos reverteram a seu favor, parece ter sido ultrapassada. A fotografia publicada pelo Financial Times, com os dois líderes cheios de sorrisos, parece mostrar um relacionamento menos tenso e mais efectivo. Porém, estes dois velhos amigos e aliados, pelo menos desde 1776, também tinham na agenda outros assuntos como o défice energético europeu e, sobretudo, a guerra na Ucrânia e, nesse ponto, surgiram algumas divergências. Ambos acusam Putin de estar a levar a guerra a alvos civis e de utilizar o inverno para derrotar o moral ucraniano, prometendo reforçar o seu apoio à Ucrânia, embora Macron entenda que a guerra deva terminar rapidamente na mesa de negociações e não no campo de batalha. Por isso, Macron entende que “o Ocidente deve dar garantias à Rússia” e que é necessário “acomodar Putin”, o que não agrada aos falcões que o querem derrotar, mesmo que a Ucrânia seja destruída e o seu povo sofra.
De facto, desde o início da guerra que Joe Biden e os seus amigos defendem que a Ucrânia deve ser ajudada para vencer a guerra e que a Rússia deve ser derrotada, até porque essa atitude fortalece a economia americana. Porém, a escolha de Macron como interlocutor europeu dos Estados Unidos tem algum significado. Segundo os analistas, o Reino Unido marginalizou-se com o Brexit e Rishi Sunak ainda está a aprender, enquanto Olaf Scholz é cauteloso e ainda não tem a autoridade de Angela Merkel. Por isso, Emmanuel Macron parece ser a pessoa certa para abrir as portas a um cessar-fogo e a negociações de paz, pelo que até já anunciou que voltará em breve a falar com Putin.
Nunca se falou tanto em negociações de paz como nos últimos dias.

sábado, 3 de dezembro de 2022

Há que deixar o Ronaldo em sossego!

Terminou a primeira fase do Campeonato do Mundo de Futebol com uma curiosidade, pois as três equipas que tinham vencido os seus dois primeiros jogos, assegurando desde logo a passagem aos oitavos de final – França, Brasil e Portugal – perderam o seu terceiro jogo. Contra todas as previsões, a França perdeu com a Tunísia, o Brasil perdeu com os Camarões e Portugal perdeu com a Coreia do Sul, provavelmente porque jogaram sem as principais figuras das suas equipas, ou porque puseram-se a facilitar. 
De entre as dezasseis equipas apuradas para os oitavos de final, destacam-se as dificuldades por que passaram a Espanha e a Argentina para seguir em frente, a surpreendente passagem dos Estados Unidos e da Austrália, bem com as eliminações da Alemanha, da Bélgica e do Uruguai. Das dezasseis equipas apuradas são oito europeias, duas africanas, duas sul-americanas, duas asiáticas, uma americana e uma australiana, a mostrar que a Europa ainda domina o futebol, mas que esse domínio já não é o que era. A selecção portuguesa está no grupo das dezasseis que entram na nova fase do torneio e vai defrontar a Suíça, sendo bem possível que siga em frente para alegrar todos os portugueses e, em especial, aqueles que vivem longe e alimentam a saudade da sua terra com o futebol, o bacalhau e pouco mais.
Porém, começa a ser preocupante a obsessão dos jornalistas portugueses com o Cristiano Ronaldo e a sua vida, o seu contrato, o que disse e o que não disse, os golos que marca ou que não marca, como se fosse apenas ele a integrar a equipa nacional. É uma postura de quase voyeurismo, de seguidismo doentio ou de um jornalismo de subalternos, que só serve para destabilizar e perturbar o desempenho da equipa. Deixem o Ronaldo em sossego e vamos confiar

Há sinais ténues para acabar com a guerra

Embora de uma forma muito discreta, as forças em confronto na Ucrânia começam a dar sinais de cansaço e a falar em negociações de paz. Porém, enquanto Joe Biden põe como condição a retirada da Rússia dos territórios ucranianos ocupados, já Vladimir Putin põe como condição prévia o reconhecimento da ocupação russa desses territórios, isto é, as condições são à partida inaceitáveis pelas partes, o que mostra que há lugar para a diplomacia e para a arbitragem. No terreno, parece que o inverno não permite que haja soluções militares, mas também parece que começa a haver falta de mísseis e de obuses de artilharia. Entretanto, embora se vão trocando prisioneiros a mostrar que há canais de comunicação entre as partes, continua a destruição das cidades e o enorme sofrimento do povo que não tem a culpa da situação. A NATO insiste na promessa de apoio enquanto for necessário e não mostra sinais de apaziguamento, enquanto a União Europeia deixou de ter voz neste assunto e, lamentavelmente, se colocou sob a tutela americana e dos seus interesses, tanto estratégicos como económicos, como se vê com a prosperidade das suas indústrias do armamento e da energia.
No meio deste imbróglio, a edição de hoje do jornal espanhol ABC publica uma reportagem intitulada “No es Ucrania, es Toledo”, sobre o treino que 64 recrutas ucranianos, sem experiência militar prévia, estão a receber na Academia de Infanteria del Ejército de Tierra de Toledo, para servirem depois no exército do seu país. O programa de treino prolonga-se por cinco semanas, com um horário de trabalho de seis dias e meio por semana e com jornadas de 10-12 horas, tudo a ser suportado pela Misión de Asistencia Militar de la UE en Apoyo a Ucrania. Segundo revela o jornal, esta é a terceira instrução espanhola a soldados ucranianos em território espanhol, o que mostra que a Espanha aproveita e que, em nome da solidariedade, está a facturar os seus serviços a Bruxelas. Afinal, como se vê, os sinais de continuação da guerra são bem mais fortes do que os ténues sinais para acabar com ela.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

O património que pertence às ex-colónias

A última edição do semanário Expresso destacou como manchete que o governo vai fazer uma lista de património a devolver às ex-colónias, porque tem havido alguns movimentos de opinião em diversos países, sobretudo africanos, que reivindicam que o seu património arqueológico ou etnográfico, que foi retirado por estados estrangeiros, seja devolvido. Na realidade, os grandes museus europeus como o British Museum (Londres), o Louvre (Paris), o Neues Museum (Berlim) e o Museu do Vaticano (Roma) têm nos seus acervos as maiores colecções de peças arqueológicas do mundo, que normalmente resultaram de pilhagens, feitas nos territórios coloniais ou em países sob domínio militar, embora também haja muitas aquisições por compra e muitas doações. Ao longo do processo histórico, desde os vikings aos exércitos de Hitler, passando pelos soldados de Napoleão, a pilhagem de peças arqueológicas, de escultura e de pintura, foi prática corrente nos territórios das antigas civilizações do Egipto, da Turquia, do Iraque e um pouco por todo o mundo.
O assunto é pertinente e, embora muitas das peças desse património estejam devidamente preservadas nos museus onde se encontram, é legítimo que alguns países reivindiquem a sua devolução, como é legítimo que o Estado português elabore uma lista de património a devolver às ex-colónias. Porém, essa lista pouco será diferente de um conjunto vazio, isto é, parece não ter havido pilhagens de património nas ex-colónias portuguesas, como se pode observar nos nossos museus. Quem conheceu o Portugal de além-mar sabe que, por razões diversas, as eventuais operações de pilhagem ou transferência de património para fins museológicos ou outros, se existiu foi absolutamente marginal.  
Claro que há mobiliário, estatuária, cerâmica e muito artesanato com origem nas ex-colónias, mas todo esse património não chegou a Portugal por pilhagem ou outra forma ilegal. 
Em Portugal não há património relevante que deva ser devolvido às ex-colónias. Faça-se a lista, para que não fiquem dúvidas.

sábado, 26 de novembro de 2022

Quem ganha com a guerra na Ucrânia?

A guerra na Ucrânia dura há nove meses e, portanto, há nove meses que aqui defendemos que é necessário um cessar-fogo que conduza à paz. O sofrimento do povo ucraniano é agora mais visível, não só na enorme destruição do seu património urbano, nos seus milhões de refugiados e na sua economia que está paralisada, mas também no frio e na escuridão que se abateu sobre as suas cidades.
O cidadão comum já tem dúvidas sobre quem quer e quem não quer a paz, porque a generalidade dos actores deste conflito, incluindo a generalidade dos especialistas e dos comentadores, parece apenas apostar em mísseis e mais mísseis. Nesse contexto, a edição especial da prestigiada revista francesa L’Express que ontem começou a circular sob o título Les Etats-Unis, grands gagnants de la guerre en Ukraine, aparenta ser um documento importante para compreender a situação.
Segundo a referida revista, o apoio americano à Ucrânia tornou os Estados Unidos o vencedor desta guerra, apesar de nem um só soldado americano ter pisado o solo ucraniano, escrevendo ainda que “os Estados Unidos nunca perdem a oportunidade de uma guerra para promover os seus interesses económicos” e acrescentando que é a hora da Europa “s'en aperçoive, et réagisse”, isto é, perceber e reagir. No armamento, no gás, nos cereais, na Nato… os americanos são os grandes ganhadores na guerra da Ucrânia, mas há outros vencedores, como a Argélia, a Turquia, a Coreia do Sul e o Canadá que “esfregam as mãos” pelos lucros inesperados que a guerra lhes trouxe com os hidrocarbonetos, o trigo ou a mediação. A revista ainda revela como os príncipes do Golfo se tornaram os novos reis do mundo e aborda a indústria francesa do armamento que desejaria ter uma intervenção mais activa.
Teremos de procurar a revista para a ler e para saber mais sobre quem ganha com a guerra, porque já sabemos que quem perde é o povo ucraniano e que, por tabela, também perdem os europeus que tendem a tornar-se cada vez mais irrelevantes.

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Qatar: Cristiano Ronaldo “hace historia”

Não temos vontade de conduzir esta Rua dos Navegantes para a área da futebolice, mas o facto é que o futebol está a dominar a agenda mediática. Certos temas importantes saíram das manchetes da imprensa e da televisão, assim acontecendo com as guerras da Ucrânia e do Iémen, a tensão no estreito de Taiwan, as alterações climáticas, a crise energética, a agitação no Irão, a fome no mundo, a transferência de poderes no Brasil e muitos outros temas. A tematização mediática é o que é e, agora, é o futebol que manda!
Ontem a selecção portuguesa entrou com o pé direito no Mundial do Qatar e venceu a sua congénere do Gana por 3-2, mas foi uma vitória sofrida, com muitos erros e pouca ambição. Aqueles jogadores podem fazer melhor e o entusiasmo popular merecia mais. A presença de Marcelo Rebelo de Sousa nada acrescentou de positivo à exibição portuguesa, embora as suas declarações sobre direitos humanos, obviamente, tivessem feito tremer o xeque Tamim bin Hamad bin Khalifa Al Thani que, com 42 anos de idade, é o emir do Qatar.
Hoje toda a imprensa portuguesa destaca que, com o golo que ontem marcou ao Gana, o capitão Cristiano Ronaldo se tornou no único jogador que marcou golos em cinco edições do Mundial. É um feito notável de um jogador notável, que todo o mundo conhece e admira, embora já tenha perdido o fulgor atlético de outros anos. Na sua edição de hoje o jornal espanhol Marca homenageou Cristiano Ronaldo com uma fotografia em que abraça a bola com que iria marcar o penalti que transformou em golo de Portugal e, como legenda, escreveu “CR7 hace historia”. 
Parabéns ao Cristiano Ronaldo.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Portugal e Brasil em estreia hoje no Qatar

Portugal está hoje a viver um dia de grande excitação e euforia a propósito do Mundial de Futebol do Qatar, porque esta tarde vai acontecer a estreia da selecção nacional contra a equipa do Gana. Os jornais e as televisões não falam noutra coisa e as pessoas a quem se pede um prognóstico, tratam de manifestar um enorme optimismo, avançando com a sua previsão do resultado e até com os nomes dos jogadores que vão marcar os golos...
Naturalmente que todos os portugueses desejam que a sua selecção triunfe porque será sempre uma grande alegria e nós bem precisamos delas, mas a onda de optimismo criada até pode ser contraproducente, a não ser que o apoio do presidente da República possa ajudar a meter alguns golos. Logo se verá…
Hoje também se estreia a selecção brasileira contra a equipa da Sérvia e nesse jogo há uma curiosidade e uma grande dúvida: com que equipamento se vai apresentar a selecção canarinha, que é sempre uma das grandes favoritas para ganhar a competição? O verde e o amarelo são as suas cores identitárias e é assim que todo o mundo a reconhece, mas essas cores e essa camisola foram recentemente apropriadas pelo presidente Jair Bolsonaro na campanha eleitoral para a sua reeleição, que perdeu a favor de Luiz Inácio Lula da Silva. 
Como salienta a última edição da revista Isto É a propósito do equipamento da selecção brasileira, "a camisa é do povo”. Por isso ficamos com a curiosidade de ver, daqui a algumas horas, como vai ou não vai apresentar-se a selecção brasileira, pois a camisa que for escolhida terá algum significado político.
Por fim, o nosso voto muito directo e muito simples: que Portugal vença o Gana e que o Brasil triunfe sobre a Sérvia. Os portugueses e os brasileiros merecem essas alegrias!

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Há Qatar e Qatar... há gastar e gastar

Na semana passada, quando a selecção nacional de futebol bateu a sua congénere da Nigéria por 4-0, um desmedido entusiasmo tomou conta daqueles que mais influenciam o nosso país, isto é, as televisões e os seus gatekeepers. O presidente da República associou-se a essa onda e logo tratou de anunciar que estaria no Qatar para apoiar a selecção, porque disse ser “de interesse nacional”, tendo essa intenção aqui sido criticada, mais por razões económicas do que por razões políticas.
Nos dias seguintes muitas vozes se levantaram contra aquela intenção do presidente da República, porque a sua deslocação iria caucionar o regime do Qatar, que viola os direitos humanos e discrimina as mulheres, mas que também iria dar cobertura ao duvidoso processo que levou à sua escolha para acolher o Mundial de Futebol. 
Inteligente e hábil, Marcelo Rebelo de Sousa desdobrou-se então em explicações e tratou de garantir que iria falar em direitos humanos aos qataris e que iria apenas para apoiar a selecção. Todos ficamos mais sossegados, embora sem saber se o presidente iria falar antes ou depois do jogo, mas também sem saber se só leva cachecol ou também leva uma bandeirinha, ou se usaria outros adereços próprios das claques...
Hoje o Expresso Curto publica um texto intitulado “Marcellum Falcon”, que nos esclarece sobre o Falcon que Marcelo tantas vezes utiliza e que já voa a caminho do Qatar. São cerca de 15.000 quilómetros de ida e volta a gastar combustível, para ver um jogo de futebol, em tempos que deveriam ser de contenção. E de bons exemplos. Por isso, a questão do custo para o erário público desta deslocação para apoiar a selecção num jogo de futebol contra a equipa do Gana, não pode ser ignorada. Quem integra a comitiva do Senhor Presidente? Onde ficará instalada a comitiva do Senhor Presidente? Quanto custa toda esta operação destinada a satisfazer a vontade pessoal do Senhor Presidente?
Todos os contribuintes deveriam conhecer as respostas a estas questões, devidamente discriminadas e quantificadas em euros. Ponto final.

Qatar 2022: don’t cry for me Argentina

Estão disputados os primeiros oito dos sessenta e quatro jogos do Mundial do Qatar e a primeira grande surpresa já aconteceu com a derrota da Argentina perante a Arábia Saudita. Em termos de lógica futebolística esse resultado era impensável e a imprensa argentina, mas também a de alguns outros países, relatou esse inesperado resultado de uma equipa que aspirava chegar à final (e pode continuar a aspirar). 
“De la euforia a la decepción” é o título mais comum da imprensa argentina e o suplemento desportivo El Hincha que se publica na cidade de Rosário, curiosamente a cidade natal do ídolo Leonel Messi, mas também do revolucionário Ernesto “Che” Guevara, publicou a fotografia de um Messi derrotado, triste e cabisbaixo, tendo escolhido como título a frase “Desilusión total”. Um jornal inglês destacou essa mesma notícia e escolheu como título “cry for me Argentina”, numa alusão à famosa canção de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice do musical “Evita”. As televisões mostraram as imagens da desilusão argentina e da euforia saudita e essa foi a única surpresa que aconteceu até agora no Qatar, porque todos os outros resultados eram esperados. Porém, uma derrota num jogo de futebol não pode ser motivo para que a nação argentina chore…
Nos dias de chuva e de algum frio que temos suportado, os adeptos do futebol, enquanto arte e espectáculo, estão em festa com as transmissões televisivas, embora todos continuemos a ser incomodados com as longas lengalengas dos comentadores e com o facto dos canais televisivos se terem esquecido que há mais notícias para além do futebol, ao mesmo tempo que passam de forma sublimar, a mensagem enganadora e mentirosa, de que o futebol é a coisa mais importante do mundo.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Adiadas a ambição e a urgência na COP27

A 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, ou a COP27, concluiu os seus trabalhos em Sharm El Sheikh, depois de terem sido prolongados e terem obrigado a muitas horas suplementares de negociações. 
Ontem, quando foi anunciado o encerramento da COP27 houve duas reacções distintas: uns reclamaram que se tinha conseguido um acordo histórico para a criação de um fundo destinado a ajudar os países mais vulneráveis que são afectados pelas alterações climáticas, enquanto outros criticaram o facto de não terem sido tomadas decisões sobre as questões urgentes, como a redução das emissões ou da utilização de combustíveis fósseis. 
De entre estes, destaca-se António Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas, que lamentou a falta de ambição da COP27 no que respeita à redução das emissões de gases com efeito de estufa que, na sua opinião, era um tema urgente e inadiável. No mesmo sentido foram as posições da União Europeia que também criticou a falta de ambição em relação à redução das emissões de gases com efeito de estufa no acordo agora aprovado. Essa é, também, a posição do diário francês Libération que, na sua edição de hoje, destaca que a urgência tem que esperar, enquanto o jornal Público destaca que o acordo não chega para tirar o planeta da "auto-estrada" para o inferno.
Perante as conclusões da COP27, que ficaram muito aquém das expectativas, parece que o seu ponto alto foi a participação entusiástica e mobilizadora do presidente eleito do Brasil, que trouxe o seu país de volta ao convívio das nações.