segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Rafa Nadal: el más grande de los grandes

A Espanha vibrou ontem com a façanha do tenista Rafael Nadal que triunfou no Open da Austrália 2022, depois de bater o russo Daniil Medvedev por 3-2, ao fim de 5 horas e 24 minutos de um emocionante jogo. Estando a perder por 2-0, Nadal teve uma notável recuperação que o conduziu a uma surpreendente vitória que, aos 35 anos de idade, faz dele o maior campeão da história do ténis. Foi a segunda vez que ganhou este torneio, que já vencera no longínquo ano de 2009, mas o que mais impressiona é o facto do tenista espanhol ter estado lesionado desde o passado mês de Agosto e agora ter reaparecido em Melbourne em grande forma, o que só foi possível devido à sua grande tenacidade.
Com este triunfo, Rafael Nadal conquistou o seu 21º título do Grand Slam (Open da Australia, Wimbledon Cup, Tournoi de Roland Garros e US Open), desempatando em relação aos seus rivais Roger Federer e Novak Djokovic que, tal como ele, tinham triunfado até agora em vinte títulos do Grand Slam.
A Espanha vibrou com este feito desportivo e a fotografia de Rafael Nadal ocupou hoje a primeira página de muitas dezenas de jornais espanhóis, nacionais e regionais, mas essa notícia e a fotografia do tenista espanhol também aparecem em muitos jornais internacionais, com maior destaque do que a tensão nas fronteiras ucranianas. O jornal El País, que é um jornal de referência internacional, destaca o feito de Rafael Nadal - el más grande de los grandes - e a razão não é para menos, pois trata-se de um acontecimento desportivo notável que deixou eufóricos nuestros hermanos.

Foi quase um tsunami político em Portugal

As eleições legislativas ontem realizadas em Portugal eram uma complexa equação a várias incógnitas, ou era um modelo matemático com muitas variáveis. Estavam sobre a mesa muitas situações para serem avaliadas pelo eleitorado, sobretudo a análise da forma como foi tratada a pandemia do covid-19 e os seus efeitos sobre a sociedade e o nosso modo de vida, mas também o cansaço de uma equipa governativa já com seis anos de actividade e a própria forma como se chegara a estas eleições antecipadas na sequência da não aprovação do Orçamento do Estado para 2022. Além disso, também estavam em causa as questões relativas à debilidade do SNS e da Justiça, bem como o posicionamento relativo de Portugal em relação aos seus parceiros europeus, isto é, saber se convergiu como diziam os socialistas, ou se divergiu como afirmavam os social-democratas. Havia, ainda, muitas dúvidas quanto aos eventuais efeitos sobre o eleitorado das campanhas dirigidas pela “imprensa sensacionalista e justiceira” contra algumas figuras do aparelho político socialista. 
As sondagens voltaram a errar e a mostrar-se pouco fiáveis, porque nos enganaram, eventualmente por manipulação, dolosa ou não, dos resultados. Cinco dias antes da ida às urnas, o Diário de Notícias anunciava a sondagem de uma tal Aximage e escrevia que “Rio passa Costa pela primeira vez”. Três dias depois e a 48 horas da votação, o Público dizia que está “tudo em aberto” e o Expresso escrevia que está “tudo empatado”. 
Afinal António Costa e o seu partido ganharam com maioria absoluta. Uma enorme surpresa. O eleitorado parece ter apreciado positivamente a forma como António Costa geriu a pandemia e deve ter-lhe perdoado alguns dos seus erros, como foi o apoio que deu ao Vieira, ao Cabrita e ao Cravinho, para só citar alguns dos seus protegidos.
Agora vai governar com maioria absoluta mas, sensatamente, no calor da vitória, declarou que maioria absoluta não significava poder absoluto. Assim seja!

domingo, 30 de janeiro de 2022

Portugal vai a votos para o Parlamento

Hoje os portugueses vão votar para escolher os deputados que os representarão no Parlamento e esse é um privilégio do regime democrático em que vivemos desde 1974, coisa que os mais jovens eleitores por vezes desconhecem.
São diversas as forças políticas concorrentes e a campanha eleitoral foi esclarecedora, com muitos debates e uma intensa cobertura mediática, que por vezes até foi excessiva, repetitiva e muito cansativa.
Não faltaram as sondagens a mostrar como se reparte o eleitorado, mas a evidenciar um país dividido entre duas figuras políticas que aspiram à chefia do próximo governo, mais do que entre modelos de governação ou entre opções ideológicas. A clubite partidária tem muita força e os eleitores tendem a seguir as suas crenças emocionais em desfavor de princípios ou de uma racionalidade operacional. Está tudo em aberto e a margem de erro das sondagens não permitem prognosticar quem serão os vencedores, embora permitam prever que há sérios riscos de ingovernabilidade nos tempos mais próximos.
Hoje lá irei cumprir o meu dever cívico, do qual não abdico, até porque sou do tempo da "longa noite" em que não havia eleições, nem partidos, nem quaisquer hipóteses de opções políticas. Porém, o nosso sistema eleitoral precisa de ser revisto, porque é altamente provável que eu nunca saiba qual o deputado que me vai representar, isto é, o Parlamento vai encher-se uma vez mais de figuras partidárias que ninguém conhece e que não têm qualquer afinidade com o voto dos eleitores sem partido. Os deputados são propriedade exclusiva dos partidos e não são, como deveriam ser, representantes dos eleitores de Beja ou Vila Real, de Ponta Delgada ou do Funchal. Nos sistemas anglo-saxónicos os eleitores sabem sempre quem é o seu deputado, mas no nosso sistema isso não é possível. 
Como eu gostava de saber quem é o meu deputado!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

‘Os Lusíadas’ perfazem 450 anos de idade

Os Lusíadas foram escritos por Luís Vaz de Camões e tiveram a sua primeira edição em 1572, isto é, estão “vivos aos 450 anos” como enuncia a mais recente edição do Jornal de Letras, Artes e Ideias ou, de forma mais simples, do Jornal de Letras.
A obra é um poema que enaltece a pátria portuguesa e o mar, desenvolvendo-se em torno da viagem pioneira em que Vasco da Gama chegou às costas da Índia em 1498 e que mostrou que “o mar unia e já não separava”.
Antigamente, o currículo liceal obrigava a um longo estudo da obra e à sua interpretação, sendo de boa norma que os estudantes soubessem algumas das suas estrofes de cor. Daí que se encontre muita gente menos jovem que, sem qualquer dificuldade, ainda pode declamar com segurança:

As armas e os Barões assinalados

Que, da Ocidental praia Lusitana,

Por mares nunca de antes navegados

Passaram ainda além da Taprobana.

Porém, eu ainda conservo na memória alguns versos da estrofe xcv do Canto IV, isto é, o episódio do Velho do Restelo, os quais aqui reproduzo por me terem ocorrido muitas vezes nos últimos tempos. 

Ó glória de mandar, ó vã cobiça

Desta vaidade a quem chamamos Fama!

Ó fraudulento gosto, que se atiça

C’uma aura popular, que honra se chama!

 Saúdo, portanto, a iniciativa do Jornal de Letras ao dar início à evocação nacional dos 450 anos da publicação d’Os Lusíadas.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

O crescente interesse na língua portuguesa

A expansão marítima portuguesa foi pioneira no quadro da expansão europeia no Oriente e a língua portuguesa tornou-se a língua franca naquelas regiões até ao século XIX, daí resultando que muitas palavras portuguesas enriqueceram os vocabulários de algumas línguas orientais, como o hindi, o concanim, o cingalês, o malaio, o bahasa indonésio ou o tetum. Porém, a segunda metade do século XIX e, sobretudo o século XX, impuseram definitivamente o inglês como a principal língua de comunicação na Ásia do Sul e na Oceânia.
Apesar de ser a língua oficial do Estado da Índia, de Macau e de Timor até meados do século XX, o português nunca foi a língua de comunicação de corrente nesses territórios e só foi adoptado pelas elites e por franjas minoritárias das sociedades locais, pelo que muitos portugueses que no tempo colonial visitavam esses territórios se impressionavam com a dura realidade de quase ninguém falar português.
Os tempos mudaram. Timor tornou-se independente em 2002, adoptou o português como língua oficial e, segundo afirmou recentemente José Ramos-Horta, se no tempo colonial se estimava que existia 1% de falantes de português, “hoje, a estatística oficial aponta para cima de 40%”. Em Goa tem sido feito um grande esforço, por parte do Instituto Camões e da Fundação Oriente, para apoiar as escolas onde se ensina português, que tem produzido bons resultados, embora não sejam conhecidas estatísticas. Finalmente, foi ontem anunciado pelo jornal Tribuna de Macau, com base nas estatísticas oficiais, que no corrente ano lectivo de 2021/2022, há em Macau 8.800 alunos a estudar português no ensino secundário, quando nos três anos anteriores tinham sido registados 6.700, 8.000 e 8.400 alunos. A mesma fonte indica que 1.482 estudantes frequentam cursos em português na Universidade de Macau.
Estes números revelam um continuado aumento do interesse pela aprendizagem da língua portuguesa, embora haja muitas interpretações a respeito desta realidade. A mais lógica é a que se baseia na convicção de que o conhecimento do português “pode abrir a porta” para um passaporte português, ou para maior facilidade em chegar a Portugal, à União Europeia, ao Brasil ou aos países africanos de expressão portuguesa. 
Não são saudades, nem qualquer portuguesismo tardio, mas apenas o interesse prático.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

O renascimento bem inesperado do Daesh

A guerra na Síria teve início em Março de 2011, quando o mundo árabe atravessava uma onda de protestos que ficou conhecida por Primavera Árabe, mas mais de uma dezena de anos depois, essa guerra ainda não acabou. Porém, a República Árabe Síria e o seu líder Bashar al-Assad deixaram de ser notícia nos mass media internacionais, pelo que pouco se sabe sobre o que se passa no terreno.
Parece que o regime de Bashar al-Assad controla grande parte do território sírio em consequência do apoio ou da intervenção russa, mas que continua a haver bolsas controladas pela oposição ou pelas oposições sírias, sobretudo na fronteira com a Turquia e no Curdistão sírio. Parece, também, que há tréguas ou que existe algum apaziguamento entre as Forças Armadas da Síria e as Forças Democráticas Sírias (SDF), uma aliança militar liderada pelos curdos e que integra outras forças da oposição síria, talvez porque procurem entender-se ou porque têm um inimigo comum: o Daesh ou ISIS (Estado Islâmico do Iraque e Síria).
Neste quadro de ausência de informação, o jornal saudita Arab News que se publica em Jeddah, noticia na sua edição de hoje que, há quatro dias, o Daesh atacou uma prisão síria em Ghwayran, no nordeste do país, que é controlada pelas forças de segurança curdas que pertencem às SDF. Nessa prisão encontra-se a maioria dos 12.000 prisioneiros suspeitos de pertencerem ao Daesh, dos quais mais de 2.000 são estrangeiros de cerca de cinquenta países.
Pois o Daesh reapareceu e atacou essa prisão para libertar os seus militantes jihadistas. Um carro-bomba atingiu a entrada da prisão e uma outra explosão ocorreu nas proximidades, após o que os militantes do Daesh atacaram as forças curdas e tentaram assaltar a prisão. Mais de setenta militantes do Daesh foram mortos, mas também morreram 17 combatentes curdos. A luta pela prisão parece continuar, embora as SDF afirmem estar a dominar a situação. O jornal refere que “o número de mortos subiu para 136 após quatro dias de combates ferozes” e informa que “foi a maior operação do Daesh desde a queda do califado em Março de 2019”.
Afinal, ao contrário do que foi dito por Donald Trump, o autoproclamado califado do Daesh não desapareceu

domingo, 23 de janeiro de 2022

Quem provoca quem na Ucrânia?

Há uma grande azáfama militar na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, havendo uns a dizer que se trata de um barril de pólvora e outros a opinar que a guerra está iminente. Há inúmeras teorias sobre quem provoca quem, mas o facto é que os russos têm mais de cem mil soldados prontos a invadir a Ucrânia, enquanto a NATO se afirma ao lado da Ucrânia e a vem armando com material letal e mísseis de curto alcance entregues pelos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, França, Turquia, Lituânia e Letónia, entre outros.
Dizia um comentador que os Estados Unidos precisam sempre de uma guerra para poderem alimentar a sua poderosa indústria do armamento. Porém, a opinião pública americana parece já não aceitar que os seus soldados se percam em guerras desprovidas de sentido e, por isso, inventaram um novo modelo de intervenção militar que dá pelo nome de "coligação", em que lhes cabe fornecer o material bélico e assegurar a superioridade aérea. Significa que preparam os conflitos e depois deixam que outros se enterrem com eles, como sucedeu no Iraque e no Afeganistão, mas não na Síria.
A Espanha decidiu ser solidária com a NATO e vai entrar nesta "coligação", segundo revelam vários jornais espanhóis. Segundo o jornal el Correo Gallego a fragata Blas de Lezo vai incorporar a força naval da NATO no mar Negro e “zarpa de Ferrol hacia el polvorín ucraniano”, mas esta decisão já deu origem a críticas ao governo espanhol por participar na escalada militarista em curso. Porém, a ajuda espanhola não se fica por aqui, porque segundo revela o jornal El País, a “España enviará en febrero cuatro cazas a Bulgaria com la OTAN”.
Melhor seria que a Espanha, bem como todos os países da Europa, tomassem uma posição negocial séria e consequente para evitar a guerra, em vez de agitarem o ambiente de rivalidade estratégica russo-americana, o que objectivamente fazem com este apoio de uma fragata e quatro caças espanhóis, que nem sequer vão incomodar Vladimir Putin.

A Base de Metangula: história e memória

Na sua edição de sexta-feira o jornal moçambicano O País destaca em manchete que “Nyusi revitaliza Base Naval de Metangula em Niassa”, para melhor servir a Marinha de Guerra, como parte da estratégia de combate ao terrorismo no norte do país. Esta notícia não pode deixar de emocionar as muitas centenas de portugueses que desde o início dos anos sessenta construíram aquela base nas margens do lago Niassa, dotando-a de todas as infraestruturas necessárias, incluindo uma estação radionaval, uma pista de aviação e um serviço de assistência oficinal para apoiar as unidades navais transferidas por via terrestre desde a costa do oceano Índico.
A base naval de Metangula era o centro operacional responsável pela fiscalização de cerca de 120 quilómetros da orla do lago Niassa, entre as fronteiras com a Tanzânia e com o Malawi, tendo sido criado um polo avançado na antiga missão do Cobué, a cerca de 50 quilómetros para norte de Metangula. Na “ocupação” de Metangula pela Marinha portuguesa foi dada particular atenção à população residente, que passou a dispor de assistência médica e para a qual foi criada uma escola que chegou a ter 350 alunos.
Metangula foi um exemplo notável da enorme capacidade realizadora da Marinha portuguesa e da adaptação dos seus elementos às condições de isolamento, mas também de apoio às populações durante a guerra colonial. Com a descolonização e a independência de Moçambique em 1975 a base foi abandonada, mas a notícia de que a está a ser qualificada e reabilitada é verdadeiramente emocionante para aqueles que, entre 1964 e 1974, conheceram a guerra em Moçambique e, em especial, no longínquo lago Niassa.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Continua a tensão entre a NATO e a Rússia

A tensão entre a NATO e a Rússia persiste e a imprensa mundial de referência faz manchete dessa situação, em que se sucedem as ameaças e as provocações mútuas. A guerra parece iminente, como escreve a revista Der Spiegel na sua edição de hoje, em que pergunta “até onde irá Putin”. A NATO e os americanos recordam a invasão russa da Crimeia em 2014 e procuram dissuadi-la de invadir a Ucrânia com os milhares de soldados que estão colocados na fronteira, ameaçando com retaliações económicas. Porém, as mais recentes declarações de Joe Biden revelando que não há unanimidade no seio da NATO e aceitando uma “invasão menor”, suscitaram muita polémica no seio da NATO e das autoridades ucranianas.
A Rússia sente-se ameaçada, exigindo que a NATO cesse as actividades consideradas provocatórias junto das suas fronteiras e se retire dos países bálticos, da Bulgária e da Roménia, o que significa o restabelecimento das “fronteiras” que existiam em 1997 entre a NATO e a Rússia. Além disso, a Rússia exige que os Estados Unidos e a NATO se comprometam a não admitir a Ucrânia como membro da NATO. A Rússia foi invadida por Napoleão e por Hitler e esse trauma da “invasão ocidental” persiste na cultura estratégica russa, pelo que desejam minimizar essa ameaça, hoje corporizada na NATO, mas também pretendem erguer-se e libertar-se da humilhação que foi a desagregação da União Soviética.
Hoje, Antony Blinken e Sergey Lavrov, chefes da diplomacia americana e russa, estiveram reunidos em Genebra para falar sobre a crise e, segundo foi difundido pelas agências noticiosas, não houve quaisquer avanços e apenas ficou assente que continuariam os encontros entre ambas as partes.
O problema é que a propaganda e a manipulação das notícias não nos permitem compreender exactamente o que se passa, nem fazer juízos sobre o que aí vem, mas o que é necessário é evitar a guerra.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

A Rússia, a NATO e a disputa pela Ucrânia

Joe Biden tomou posse no dia 20 de Janeiro de 2021 como o 46º presidente dos Estados Unidos, depois de um desgastante processo resultante das atitudes de Donald Trump, o seu antecessor que se recusou a aceitar a derrota eleitoral.
Ontem, por ocasião do primeiro ano do seu mandato, o presidente Joe Biden falou aos americanos e, para além das questões da política e da economia internas, nomeadamente o combate à covid-19 e à inflação, falou da retirada do Afeganistão e dedicou largo tempo à situação na Ucrânia.
Sobre a Ucrânia, em cuja parte leste, ou Donbass, ocorrem situações de insurreição ou de guerra civil desde há vários anos e onde os insurgentes pró-russos já proclamaram a República Popular de Donetsk e a República Popular de Lugansk, a tensão é alta e há tropas russas na fronteira prontas para intervir. O presidente Biden disse acreditar que os russos “vão avançar” (ou move in, segundo as suas próprias palavras), porque querem testar os Estados Unidos e a NATO, embora repetindo que se eles se decidirem por uma invasão do território ucraniano, pagarão um preço muito elevado. Porém, Biden deixou claro que existem dúvidas no seio da NATO quanto à resposta a dar a uma eventual iniciativa russa, que tanto pode ser uma invasão militar mais ou menos clássica, como uma pequena incursão, ou traduzir-se apenas por acções de destabilização provocadas por agentes russos paramilitares infiltrados, em que os russos parecem ser especialistas.
A Ucrânia é um grande país de cerca de 600 mil quilómetros quadrados e 45 milhões de habitantes, em que a sua parte ocidental quer ligações à União Europeia e a sua parte oriental quer ter ligações com a Rússia. É o território onde a NATO e a Rússia mais disputam influências e alimentam rivalidades.
Hoje o The Jersey Journal que se publica em Secaucus, uma cidade do estado de Nova Jersey destaca, como nenhum outro jornal americano, as declarações de Joe Biden que, segundo um diplomata ucraniano “dão luz verde a Putin para entrar na Ucrânia”. Eles podiam continuar a conversar mas, lamentavelmente, as coisas estão a seguir outro caminho.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Sir António demite-se do Credit Suisse

Exceptuando alguns agentes do futebol, sobretudo Cristiano Ronaldo e, em menor grau, José Mourinho, a imprensa não costuma dedicar espaços noticiosos aos portugueses que se destacam no estrangeiro, assim acontecendo com António Guterres, Carlos Tavares e António Damásio, entre alguns outros. Por isso, é com surpresa que verificamos que o prestigiado jornal inglês The Times destaca na sua edição de hoje o gestor António Horta Osório ou Sir António, que se demitiu da presidência do Credit Suisse Group, que tem a sua sede em Zurique e que tem actividade em cinco dezenas de países.
António Horta Osório é um gestor que, depois de uma carreira na banca internacional, teve grande sucesso durante nove anos como presidente executivo do Lloyds Banking Group e onde, segundo a imprensa, terá recebido mais de 56 milhões de libras em salários e prémios. A Rainha Isabel II reconheceu o seu mérito, condecorou-o e nomeou-o cavaleiro como Knight Bachelor, com direito a usar o título de Sir.
Em Dezembro de 2020 foi contratado para presidir ao Credit Suisse Group, que atravessava uma grave crise, mas no passado domingo demitiu-se por ter violado as regras de quarentena da covid-19 a que estava obrigado, quer na Suíça, quer no Reino Unido. Segundo foi revelado, Horta Osório viajou do Reino Unido para a Suíça no dia 28 de Novembro mas, antes que decorressem os dez dias de quarentena obrigatória, viajou da Suíça para a península Ibérica. Antes, Sir António já teria quebrado as regras quando em Julho assistiu às finais do torneio de Wimbledon, violando as normas sanitárias em vigor no Reino Unido.
Vários jornais ingleses e espanhóis destacam esta notícia com fotografia em primeira página, mas The Times escolheu uma imagem que associa o gestor à sua paixão pelo ténis que, segundo parece, ditou o seu pedido de demissão e o coloca de férias por algum tempo.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

O preço dos combustíveis que sobe e sobe!

Nos últimos meses, um pouco por todo o mundo, tem-se verificado um constante aumento do preço dos combustíveis, havendo muitos casos em que houve agitação social, com protestos, tumultos e sinais de insurreição. O caso porventura mais mais grave aconteceu no Casaquistão que, sendo um país produtor de petróleo, assistiu a uma contestação generalizada pelo aumento dos preços dos combustíveis, o que levou as respectivas autoridades a decretarem o estado de emergência e a pedir a ajuda de forças militares externas.
O preço dos combustíveis resulta essencialmente das leis da oferta e da procura, isto é, em tempos de recuperação económica como os que atravessamos, a procura tem excedido a oferta que, sob a hegemonia do cartel da OPEP e das grandes petrolíferas, suporta custos de produção cada vez mais elevados e os reflecte no preço. Há outros factores que influenciam os preços, como o valor do dólar e o preço dos biocombustíveis. A cotação do barril de petróleo é expressa em dólares e, com a moeda americana em alta, o custo do petróleo bruto aumenta e é preciso mais dinheiro para comprar a mesma quantidade de produto, enquanto os biocombustíveis que entram na composição das gasolinas também têm estado em alta.
Depois desta subida de preços na produção, o crude ou petróleo bruto entra no processo nacional de refinação, após o que os seus derivados entram no circuito comercial pela mão dos distribuidores e dos revendedores, aparecendo então o Estado como regulador da actividade e como cobrador de impostos.
No caso dos países que não produzem petróleo, como acontece com Portugal, todos estes factores se tendem a agravar, até porque na falta de outras vias de financiamento, o Estado arrecada para si uma boa parte do preço final dos combustíveis através do Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP).
O problema é mundial e hoje o jornal francês Le Télégramme destaca como manchete “a implacável subida dos preços dos combustíveis”. Há opiniões muito sábias sobre o assunto, mas não se vê solução a curto prazo para combater este verdadeiro vírus económico.

Um vulcão em Tonga, um tsunami nas Fiji

O reino de Tonga fica do outro lado do mundo, quase nas nossas antípodas e poucas vezes é notícia. É um arquipélago que se localiza nos mares da Polinésia e que consta de 177 ilhas, das quais 36 são habitadas por cerca de cem mil habitantes. Este pequeno reino é independente desde 1970 e é membro das Nações Unidas, estando organizado como uma monarquia constitucional que é chefiada pelo rei Tupou VI e tem a sua capital na cidade de Nucualofa.
O arquipélago está situado a cerca de 5.200 quilómetros da Austrália, a 2.300 quilómetros da Nova Zelândia, a 950 quilómetros da Samoa Americana e a 800 quilómetros das ilhas Fiji.
No passado sábado foi notícia quando entrou em erupção o vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Há’apai, localizado a cerca de 65 quilómetros para norte da capital tonguesa. A explosão foi violenta e foi ouvida a centenas de quilómetros de distância, gerando-se uma gigantesca nuvem de fumos e cinzas saindo do mar, produzindo-se fortes ondas de choque e formando-se tsunamis que provocaram grandes inundações, que em Tonga atingiram cerca de um metro de altura e nas ilhas Fiji e na Samoa Americana chegaram aos sessenta centímetros. Uma fotografia da erupção, obtida via satélite, correu mundo. 
Porém, destacamos aqui as inundações havidas nas ilhas Fiji por efeito do tsunami, que foram relatadas no jornal The Sunday Times, a edição dominical do The Fiji Times que se publica em Suva, em que aparece uma fotografia das inundações que ocorreram naquelas ilhas e um título que reflecte a ansiedade da população: “Pray for us”. 
Entretanto, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) anunciou que o tsunami gerado pela erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga Há’apai afectou o nível das águas portuguesas, designadamente em Ponta Delgada (40 centímetros), Peniche (39 centímetros) e Funchal (20 centímetros).

domingo, 16 de janeiro de 2022

CAN, a grande festa do futebol africano

Está a disputar-se nos Camarões a 33ª edição do Campeonato Africano das Nações ou CAN, que é organizado pela Confederação Africana de Futebol que tutela o futebol africano e é filiada na FIFA. Participam nesta prova 24 equipas e a final será jogada no dia 6 de Fevereiro na cidade de Yaoundé, a capital do país.
Entre os participantes encontram-se as equipas com maior historial no CAN, casos dos favoritos Egipto, Camarões, Gana, Nigéria e Zimbabwe, mas está ausente a equipa da África do Sul, bem como as equipas de Angola e de Moçambique, o que aqui em Portugal se lamenta. Embora não sejam estreantes no torneio, destacam-se as presenças das selecções de Cabo Verde e da Guiné-Bissau, o que aguça o interesse português por este torneio. Curiosamente, para além destas duas equipas que “falam português”, ainda há duas equipas que são orientadas por treinadores portugueses, assim acontecendo com Carlos Queirós (Egipto) e António Conceição (Nigéria).
Muitos dos jogadores que integram as selecções presentes no CAN jogam na Europa e alguns deles actuam nas maiores equipas europeias, como acontece com o egípcio Mohamed Salah, o senegalês Sadio Mané ou o argelino Riyad Mahrez, havendo também vários jogadores africanos que integram equipas portuguesas.
O CAN começou há poucos dias e ainda é cedo para apontar favoritos, mas a imprensa dá-lhe boa cobertura, inclusive na África do Sul, apesar da sua equipa não se ter classificado para a fase final. Assim, o jornal Sunday Times, que é o maior jornal dominical sul-africano e que se publica em Johanesburgo, destaca na sua edição de hoje aquela grande festa do futebol africano e escolheu uma interessante fotografia para ilustrar a sua reportagem. Nessa fotografia, obtida no estádio Olembe, em Yaoundé, durante o jogo entre as equipas do Burkina Faso e de Cabo Verde, um adepto do Burkina Faso exibe uma indumentária exótica e bem colorida que mereceu o título “magnificent header”.
É uma bela imagem alusiva ao CAN, a mostrar que o futebol tem que ser uma festa.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

O renascimento da tendência inflacionária

O ano de 2021 que recentemente nos deixou, foi marcado pela crise pandémica, pelo agravamento das alterações climáticas e, em termos económicos, por uma alta da inflação em quase todo o mundo. De entre os países mais desenvolvidos, a Argentina destacou-se e registou uma das mais elevadas taxas de inflação mundiais ao atingir 50,9 %, o que levou o diário El Dia, que se publica na cidade argentina de La Plata, a anunciar que “la inflación anual volvió a pasar la barrera del 50 %”, o que faz deste país que é rico em recursos, um caso permanente de instabilidade económico-financeira. 
Na lista das mais altas inflações verificadas em 2021, depois da Argentina, aparecem a Turquia com 36,08 % e o Brasil com 10,06 %. Com taxas de inflação tão elevadas, a política anti-inflacionista nestes países vai necessariamente assentar na subida das taxas de juro, o que representa uma quebra e uma maior selectividade no investimento e uma desaceleração do crescimento económico, com reflexo no produto, no emprego e na estabilidade social.
Porém, o problema do aumento da inflação generalizou-se em 2021. Nos Estados Unidos a inflação chegou aos 7 %, a mais alta em quase quarenta anos, na Espanha atingiu 6,5 %, na Holanda 5,7 %, na Alemanha 5,2 % e na Zona Euro foi de 5 %. Neste quadro há que realçar que a taxa de inflação média em Portugal foi de 1,3 %, conforme já foi anunciado pelo INE. 
Um caso a merecer destaque é o da Venezuela. Segundo anunciou o seu Banco Central, em 2021 a inflação atingiu 684,4 %, embora desde Setembro se tivesse verificado que a inflação se mantivesse na casa de um dígito, representando esta evolução uma substancial melhoria em relação a 2020, quando a inflação foi de 2.959,8 %.  
Em quaisquer circunstâncias, tendencialmente os próximos tempos vão ser mais difíceis e mais sombrios, com o dinheiro mais caro e mais escasso, a desaceleração do crescimento, a redução do investimento e do emprego.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Os problemas do Brasil em ano de eleições

Pela história e pela língua, o Brasil é sempre um país em que os portugueses projectam os seus olhares, partilhando os sucessos e os insucessos, as alegrias e as tristezas do povo brasileiro. Por isso, aqui em Portugal, tanto pela televisão como por outras plataformas de comunicação, são acompanhados com interesse e com curiosidade os quotidianos brasileiros.
Neste início do ano de 2022, o covid-19 continua a ser o grande problema do país pois já causou mais de 621 mil mortos e mais de 22 milhões de infectados, afectando a sociedade e a economia brasileiras. Apesar da intensidade da campanha de vacinação, as preocupações continuam bem altas, aliás como no resto do mundo. Como resultado da situação sanitária, mas também da conjuntura internacional, no passado ano de 2021 a inflação ultrapassou os dois dígitos, o que não acontecia desde o ano de 2015, tornando-se um factor adicional de incerteza para os brasileiros.  
Porém, o Brasil é um país extenso e também os efeitos das alterações climáticas se têm manifestado de formas bem diversas neste início do ano. Assim, enquanto o Rio Grande do Sul (RS) se confronta com uma onda de calor, um elevado grau de secura e muitos danos devido à estiagem, em Minas Gerais (MG) e na Baía (BA) as chuvas torrenciais castigam as populações e inundam cidades, bloqueiam estradas, provocam desmoronamentos e a ruptura de barragens. O jornal Estado de Minas destaca “a invasão das águas” e informa que as ruas das cidades mineiras se transformaram em rios.
A explosão de casos de covid-19 e a ameaça de ruptura dos stocks de vacinas, a inflação e a sua influência sobre o custo de vida e os efeitos das alterações climáticas, tudo são preocupações para os brasileiros em ano de eleições presidenciais.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Conversa entre a Rússia, os EUA e a NATO

Desde o fim da 2ª Guerra Mundial que a paz e a estabilidade mundiais se têm polarizado em torno dos poderes de Washington e de Moscovo e, com maior ou menor intensidade, a tensão tem sido permanente entre americanos e russos. Parece mesmo que a manutenção dessa tensão, ou mesmo dessa recíproca ameaça, é a necessidade que cada um desses blocos tem de construir os seus nacionalismos e de alimentar os seus complexos militares-industriais e, naturalmente, as suas economias.
Nos meses mais recentes essa tensão acentuou-se. Os americanos acusam a Rússia de ter concentrado dezenas de milhares de soldados na sua fronteira com a Ucrânia, como acção preparatória de uma invasão daquele país, o que os responsáveis russos têm negado. Por outro lado, os russos acusam os americanos e a NATO de fazerem repetidas manobras militares junto das suas fronteiras e exigem que a Ucrânia não seja integrada na estrutura militar da NATO. Estão em jogo tanto a segurança russa como a segurança europeia, forjadas depois da Guerra Fria e da implosão da União Soviética, quando vários países desse antigo bloco aderiram à União Europeia e à NATO.
Por isso, o encontro havido em Genebra no passado domingo e na segunda-feira, entre as delegações americana e russa, foi um passo muito positivo para desanuviar a tensão. Amanhã em Bruxelas, delegações da Rússia e da NATO reunirão e o tema da agenda vai ser a segurança europeia. Entre estas duas reuniões apareceu o norueguês Jens Stoltenberg, o secretário-geral da NATO, a dizer que a sua organização está inquieta quanto aos riscos de um conflito na Ucrânia e que a NATO se deve preparar para um falhanço da diplomacia, porque “o risco de um novo conflito é real”.
Estes importantes encontros foram tema em destaque no The Wall Street Journal, mas a generalidade dos jornais de referência preferiu destacar o caso do tenista Novak Djokovic ou alimentar o noticiário sobre a variante ómicron do coronavírus SARS-CoV-2 que provoca a covid-19. Os gritos de alarme do falcão Stoltenberg parece não serem partilhados, nem pela generalidade da imprensa, nem pelos líderes europeus.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

A protecção da saúde e os seus negócios

Uma notícia hoje avançada pelo jornal francês Le Télégramme revela que os hospitais públicos franceses estão a sofrer “uma hemorragia” de pessoal e que já estão a contratar médicos tarefeiros ao preço de 3000 euros por 24 horas. Esta informação é a imagem do descalabro que ameaça o sistema de saúde francês, provocado pela concorrência entre o público e o privado, mas também nos alerta para o facto de em Portugal já estarmos ou caminharmos para uma situação semelhante. Até parece que a saúde está doente.
A crise pandémica que nos apoquenta desde os finais de 2019 tem mostrado alguma debilidade do nosso sistema de saúde, daí resultando que haja muita gente a criticar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) que é, seguramente, uma das maiores realizações do nosso regime democrático. Algumas dessas críticas serão justificadas, sobretudo quando se referem à falta de pessoal médico e paramédico, que se tem transferido do SNS para os hospitais privados ou que, não tendo abandonado o SNS, acumula funções nos dois sistemas de saúde e privilegia aquele que melhor lhe paga.
O número de hospitais privados não cessa de aumentar. Essas unidades são geridas por grupos económicos poderosos e são o exemplo de que a saúde se tornou num próspero negócio, que cobra sem piedade aos seus utentes, quase sempre protegidos por acordos de prestação de cuidados de saúde que, em última instância, são pagos pelo Estado. Esses grupos privados de saúde atraem os profissionais do SNS com remunerações mais atraentes e, dessa forma, estão objectivamente na primeira linha de esvaziamento e de ruptura do SNS. Porém, a protecção da saúde não pode ser um negócio e o SNS tem que ser protegido. 
O facto é que com tantos hospitais públicos e privados em Portugal, não parece que a cobertura sanitária do país satisfaça as necessidades da população e esse é um dos grandes problemas que tem que ser rapidamente estudado pelos poderes públicos para encontrar soluções. Há muita gente, sobretudo na política e no sindicalismo, que pressiona para que se injecte mais dinheiro no SNS, mas parecem esquecer que somos um país de recursos escassos e sem possibilidade de um contínuo endividamento público. 
O caminho tem que ser outro, com organização, inteligência e sentido comunitário.

domingo, 9 de janeiro de 2022

A travessia aérea do Atlântico Sul em 1922

A última edição da versão portuguesa da revista National Geographic (Janeiro de 2022) inclui uma desenvolvida e bem ilustrada reportagem sobre o “centenário de uma saga da aviação nacional”, ou sobre “os gloriosos aviadores de 1922”. São 18 páginas de grande rigor histórico, em que são descritas as circunstâncias conjunturais e operacionais com que os comandantes Sacadura Cabral e Gago Coutinho prepararam e empreenderam a pioneira viagem aérea de Lisboa ao Rio de Janeiro em 1922. O hidroavião Santa Cruz, no qual os aviadores chegaram ao Rio de Janeiro no dia 17 de Junho de 1922 e que se encontra preservado no Museu de Marinha, faz capa da edição da revista que tão criteriosamente assinala o primeiro centenário daquela epopeia, que alimentou o imaginário e a cultura popular nas duas margens do Atlântico e reforçou as ligações afectivas entre Portugal e o Brasil.
Nos próximos meses, certamente que não faltarão iniciativas editoriais e jornalísticas a evocar esta importante página da história da Marinha Portuguesa, mas a reportagem do National Geographic apresenta-se como a primeira e com grande qualidade e rigor histórico.
Curiosamente, a edição em referência, inclui uma reportagem, alargada e bem documentada fotograficamente, sobre o vulão da ilha de La Palma, no arquipélago das Canárias e, na sua secção “Visões” inclui duas expressivas e belas fotografias: o nó do Carregado e um corajoso surfista na costa da Lourinhã.
Embora a excelência da qualidade das edições da National Geographic não surpreenda, esta edição merece destaque. 

sábado, 8 de janeiro de 2022

Novak Djokovic está ou não acima da lei?

No próximo dia 17 de Janeiro tem início o Open da Austrália, um dos quatro torneios de ténis que constituem o Grand Slam e que são os mais importantes da modalidade, tanto pelos seus avultados prémios em dinheiro, como pela atracção que suscitam nos mass media e no público. No seu historial destacam-se os nomes do sérvio Novak Djokovic, nove vezes vencedor do torneio e actual número um do ranking mundial, mas também do suíço Roger Federer que conseguiu seis vitórias. Ambos têm vinte vitórias nos torneios do Grand Slam, tal como o espanhol Rafael Nadal. Com 40 anos de idade, Federer não competirá em Melbourne pois estará em vésperas de se retirar; com 35 anos de idade, Nadal já está na Austrália para se preparar para uma eventual segunda vitória; com 34 anos de idade, Novak Djokovic foi impedido de entrar em território australiano por não estar vacinado contra o covid-19, tendo ficado retido no aeroporto durante várias horas e depois sido levado para um hotel nos subúrbios de Melbourne, que é usado para a detenção de imigrantes. O orgulho sérvio foi ferido, mas a lei australiana obriga a que quem queira entrar no país tenha sido antes vacinado contra o covid-19
Aleksander Vucic, o presidente da Sérvia, tratou de protestar mas Scott Morrison, o primeiro-ministro australiano, já veio afirmar que ninguém está acima da lei, enquanto um seu ministro afirmou que só porque se é rico, não se pode viajar pelo mundo contrariando as leis das outras nações. Um tribunal decidirá na segunda-feira sobre a deportação de Novak Djokovic, como refere o jornal australiano The West Australian que se publica em Perth, mas a opinião pública australiana vem acusando as autoridades de terem dois pesos e duas medidas, umas para os ricos e outras para os outros. O caso assumiu contornos diplomáticos e está a interessar meio mundo, enquanto o tenista alemão Alexander Zverev e o russo Daniil Medved espreitam a sua oportunidade.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Espanha e a “cabalgata de Reyes Magos”

No passado dia 5 de Janeiro voltou a cumprir-se a tradição espanhola da cabalgata de Reyes Magos, um desfile de carros alegóricos em que os Reis Magos - Melchior, Gaspar e Baltazar – acompanhados por uma colorida comitiva de indumentária apropriada, lançam caramelos e guloseimas às crianças e que “van a poder devolver la ilusón a los niños”.
A imprensa espanhola, tanto de âmbito nacional como regional, deu grande destaque a este evento, sobretudo porque devido à crise pandémica não se realizara nos dois anos anteriores. Um dos muitos jornais que destacaram o acontecimento foi o Diario de Navarra que se publica em Pamplona, que inseriu uma fotografia a toda a largura da primeira página com o título Reyes Magos en tiempo de mascarillas.
Segundo refere a generalidade da imprensa, as crianças voltaram a encher as ruas de alegria depois de terem estado confinadas devido ao covid-19 que as privou de tantas coisas, incluindo o “el día más bonito del año: la Cabalgata de Reyes Magos”. As palavras ilusión e magia aparecem na maioria dos títulos das primeiras páginas dos jornais - a ilusión vuelve a la calle, la noche de la ilusión, la ilusión vuelve en carroza ou magos de ilusión, mas também la magia vence al covid e regresaron y fue mágico
Uma das cidades que mais apostou na cabalgata de Reyes Magos foi Sevilha, cujo desfile incorporou 33 carros alegóricos e mais de três mil pessoas que ocuparam um quilómetro e meio da via pública e demoraram 45 minutos a desfilar.
A cabalgata foi uma grande festa em toda a Espanha, um grande êxito popular e, segundo os jornais, serviu para elevar o ânimo dos espanhóis e atenuar a depressão acumulada por mais de dois anos de pandemia.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Um ano depois da invasão do Capitólio

Completa-se hoje o primeiro aniversário sobre o assalto ou tentativa de assalto ao Capitólio, o edifício que em Washington aloja o Congresso, que é constituído pelo Congresso e pela Câmara dos Representantes. É, por isso, o centro legislativo dos Estados Unidos da América e o centro da democracia americana.
Na eleição de 3 de Novembro de 2020, a 59ª eleição presidencial da história dos Estados Unidos, o senador Joe Biden que fora o vice-presidente de Barack Obama nos seus dois mandatos, derrotou o presidente em exercício Donald Trump que, dessa forma, não conseguiu ser reeleito. Na votação, Biden obteve 51,3% dos votos populares e recolheu 306 votos no Colégio Eleitoral, enquanto Trump conseguiu apenas 46,9% dos votos populares e 232 votos no Colégio Eleitoral. Donald Trump não aceitou a derrota e alegou ter havido fraude, avançando com dezenas de acções judiciais e exigindo a recontagem de votos nos estados em que fora derrotado. Recusando-se a aceitar a vitória de Biden, tratou de convocar uma grande manifestação dos seus seguidores para o dia 6 de Janeiro para protestar contra o resultado eleitoral, em frente do Capitólio, onde o Congresso se iria reunir nesse dia para ratificar a vitória de Joe Biden. Os manifestantes estiveram antes num comício onde ouviram “discursos de guerra” e foram incitados a avançar para o Capitólio, que invadiram no sentido de aterrorizar os seus ocupantes e forçar o vice-presidente Mike Pence e os congressistas a rejeitar a vitória de Biden. A invasão do Capitólio que visava impedir a certificação dos resultados eleitorais durou várias horas e provocou cinco mortos e grandes destruições.
Joe Biden classificou este episódio como uma insurreição mas, no dia 20 de Janeiro de 2021, foi empossado como o 46º presidente dos Estados Unidos.
Um ano depois dos acontecimentos de 6 de Janeiro de 2021, o jornal Houston Chronicle é apenas um dos jornais americanos que nas suas edições de hoje recorda esse dia negro da história da democracia americana e reclama o julgamento dos seus responsáveis, incluindo Donald Trump que foi o seu inspirador e também o seu mandante.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Os ex-guerrilheiros e a droga colombiana

A Colômbia suportou “a guerrilha mais longa do mundo” através de um acordo assinado em 2016 entre o governo colombiano e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia ou Exército do Povo), uma organização fundada em 1964. Significa que a guerra de guerrilhas na Colômbia durou 52 anos, tendo feito cerca de 260 mil mortos! 
Aconteceu, porém, que a maioria dos colombianos não aceitou aquele acordo, o que levou o então presidente Juan Manuel Santos a convocar os negociadores para refazerem o processo de paz, o que veio a acontecer com sucesso ainda em 2016, com a assinatura dos Acordos de Paz de Havana. A partir de então decretou-se o cessar-fogo, iniciou-se o desarmamento e a integração de guerrilheiros, começou o exaustivo trabalho de reconciliação nacional e o estudo da solução para o problema das drogas ilícitas, porque a Colômbia é considerada o maior produtor mundial de cocaína, abastecendo cerca de 70% do mercado mundial, segundo as Nações Unidas. Esse parece ser o grande problema da Colômbia, pois o controlo da “economia da droga” é disputado por vários grupos ilegais, incluindo dissidentes das FARC que rejeitaram o acordo de 2016, elementos do ELN (Exército de Libertação Nacional) e outros grupos armados ilegais.
A região de Arauca faz fronteira com o estado venezuelano de Apure e os confrontos entre grupos rivais nestas regiões são frequentes. Desde os acordos de Havana estão registados 1.284 assassinatos de defensores de direitos humanos, ex-guerrilheiros e líderes comunitários, bem como frequentes confrontos entre esses grupos, sobretudo entre ex-elementos das FARC e do ELN. Foi o que aconteceu na segunda-feira e que foi noticiado pelo Correio do Brasil, que anunciou que os “guerrilheiros lutam entre si e 26 morrem”, informando ainda que nesses confrontos se registaram mais de trinta feridos e que este dia foi considerado “o mais violento dos últimos dez anos no país”. Curiosamente, a imprensa colombiana não deu qualquer destaque a este acontecimento, provavelmente para não alarmar a população colombiana que teme o regresso da guerra.

Moçambique e os seus hidrocarbonetos

O Instituto Nacional de Petróleos e toda a imprensa moçambicana, como por exemplo o jornal Notícias, noticiaram a chegada à Área 4 da bacia do Rovuma da plataforma gigante FLNG (Floating Liquefied Natural Gas) que vai fazer a exploração de gás naquela área marítima. A enorme estrutura assemelha-se a um navio gigante com 432 metros de comprimento e foi construída na divisão industrial da Samsung em Geoje, na Coreia do Sul, tendo saído para a costa de Cabo Delgado no dia 15 de Novembro.
A plataforma vai estar ligada a seis poços para extrair gás para uma fábrica instalada a bordo, onde vai ser arrefecido e liquefeito, de modo a poder ser transportado em cargueiros que se abastecerão a partir da própria plataforma e dos seus depósitos de armazenamento. Acima do plano do convés a plataforma dispõe de treze módulos onde se localiza a fábrica, um heliporto e um módulo de oito andares onde podem viver 350 pessoas.
A Área 4 está concessionada à Mozambique Rovuma Venture (MRV), uma joint venture participada em 70% pela americana Exxon Mobil, pela italiana Eni e pela chinesa CNPCO, estando os restantes 30% repartidos pela Empresa Nacional de Hidrocarbonetos de Moçambique (ENH), pela coreana Kogas e pela Galp Energia Rovuma que tem a sua sede… na Holanda. O início da produção offshore está prevista para meados do corrente ano de 2022.
Na bacia do Rovuma também está delimitada a Área 1, concessionada a um consórcio dominado pela petrolífera francesa Total, a japonesa Mitsui e a indiana Beas, que aposta na produção onshore na península de Afungi, mas que tem sido perturbada pela insurreição jihadista que tem estado activa em Cabo Delgado.
Como aqui foi dito há tempos, para quem navegou naquelas águas da bacia do Rovuma, causa uma natural impressão imaginar uma tão grande estrutura num local onde o mar era livre e não havia plataformas a perturbar a paisagem marítima. Porém, as coisas são como são e, ao longo da costa moçambicana, estão definidas outras áreas de pesquisa e de produção de hidrocarbonetos.

domingo, 2 de janeiro de 2022

A chegada do novo ano ao Rio de Janeiro

A última publicação que fizemos na ruadosnavegantes enfatizava os festejos de entrada do novo ano de 2022 em Sydney e referia alguns outros que tiveram lugar no Dubai, em Atenas e em Londres. Porém, muito mais para ocidente, também outras cidades festejaram a entrada do novo ano e, catorze horas depois dos festejos de Sydney, foi a cidade do Rio de Janeiro que também apresentou o seu espectáculo pirotécnico a rivalizar com Sydney.
A excelente fotografia que foi publicada a toda a largura da sua primeira página na edição de ontem do jornal O Globo, mostra a imponência do fogo de artifício que iluminou a “cidade maravilhosa cheia de encantos mil” e o “coração do meu Brasil”. Segundo refere o jornal, o Rio de Janeiro recebeu o novo ano de 2022 “com fogos e esperança”. Com a estátua do Cristo Redentor localizada sobre o morro do Corcovado a enquadrar o cenário de Copacabana, pode observar-se na fotografia a profusão de focos de fogo alinhados ao longo da orla da baía, onde ocorreram a população e os turistas para desfrutar do espectáculo e festejar a chegada do novo ano.
Foi uma retoma da veia festiva carioca, pois a pandemia tinha inviabilizado os festejos da chegada de 2021, o que muito perturbou a economia e a vitalidade da “cidade maravilhosa”.

sábado, 1 de janeiro de 2022

O famoso festejo do ano novo em Sydney

Por ocasião da entrada de um novo ano, há notícias que sempre interessam a comunicação social e que anualmente se repetem: no plano internacional são as imagens dos festejos da passagem do ano sobretudo em Sydney e, no plano nacional, são o fogo de artifício em algumas cidades, mas também a desinteressante informação recolhida todos os anos nas maternidades sobre a primeira criança nascida em Portugal.
A entrada do novo ano em Sydney origina sempre as mais divulgadas imagens sobre esse evento em todo o mundo, por ser a primeira grande cidade a receber o novo ano. Esse facto é uma consequência da Conferência Internacional de Washington realizada em 1884, na qual foi adoptado o meridiano de Greenwich para o início da contagem das longitudes e dos 24 fusos horários. Daí resultou, também, a adopção de uma Linha Internacional de Mudança de Data, cujo traçado imaginário se desenvolve no oceano Pacífico próximo do meridiano dos 180 graus, isto é, diametralmente oposta ao meridiano de Greenwich. Pela posição dessa linha, a cidade australiana de Sydney é a primeira grande cidade que entra no novo ano, quando na Europa ainda se está no princípio da tarde. 
Os festejos do acontecimento são vistos nas televisões mundiais e a sua fotografia ilustra sempre muitos jornais europeus, como hoje acontece com o jornal sueco Dagens Nyheter. As televisões mostram depois as imagens da iluminação dos 828 metros de altura do imponente Burj Khalifa Bin Zayid no Dubai, o fogo de artifício de Atenas, de Paris e de Londres, mas o fogo de artifício na área da Harbour Bridge de Sydney é, certamente, o mais famoso e mais noticiado em todo o mundo.