segunda-feira, 30 de maio de 2022

Um novo cardeal para a Igreja de Goa

A edição de hoje do jornal oHeraldo, um diário que foi fundado em Goa no ano de 1900 e que até 1983 se publicou em língua portuguesa, anunciou com grande destaque que o Arcebispo Filipe Neri Ferrão vai ser elevado a cardeal pelo Papa Francisco, no consistório marcado para o próximo dia 27 de Agosto.
Filipe Neri António Sebastião do Rosário Ferrão é natural de Goa onde nasceu em 1953, quando aquele território estava sob soberania portuguesa, tendo enveredado pela vida religiosa e pelo catolicismo, num país maioritariamente hindu. Foi sacerdote em várias paróquias de Goa e estudou em Itália e na Bélgica. Em 1994 o Papa João Paulo II escolheu-o para Bispo Auxiliar de Goa e Damão e, em 2004, nomeou-o Arcebispo de Goa e Damão, o mais antigo arcebispado da Ásia que tinha sido criado em 1557, com direito ao título honorífico de Patriarca das Índias Orientais, a que aquela diocese tinha sido elevada em 1886.
O Arcebispo Filipe Neri Ferrão fala fluentemente várias línguas, entre as quais o português, tendo presidido às cerimónias de Fátima em Outubro de 2014. A sua escolha para o Cardinalato deve ter sido recebida euforicamente pelos católicos de Goa, numa altura em que o catolicismo já não é a religião maioritária naquele estado e em que há tensões religiosas em alguns estados indianos vizinhos. 
A comunidade católica goesa que vive em Portugal também acolheu esta notícia com enorme alegria e eu, que conheço o homem de cultura e o amigo de Portugal que é o futuro cardeal, também aqui deixo o meu aplauso à escolha do Papa Francisco. 

Sucessos e alegrias do desporto português

No passado fim-de-semana ocorreram alguns acontecimentos desportivos internacionais em que, a título colectivo ou individual, se destacaram alguns dos nossos compatriotas. Sou do tempo em que os portugueses, exceptuando o caso singular do hóquei em patins, só tinham vitórias morais e, por isso, estamos perante uma grande satisfação, sobretudo os que praticaram ou os que gostam de desporto.
No topo colocamos a vitória do Benfica sobre os alemães do Magdeburgo e a conquista da Liga Europeia de andebol ou EHF Champions League, improvável e inesperada, mas muito justa, que passa a constituir o maior feito da história do andebol português. É certo que a selecção portuguesa já em 2021 entrara definitivamente para a elite mundial do andebol com o 10º lugar no Mundial do Egipto e o 9º lugar nas Olimpíadas do Japão, mas a vitória benfiquista sobre os poderosos alemães é mesmo um feito desportivo histórico. Porém, no mesmo patamar de destaque, colocamos Fernando Pimenta, o canoísta português que tem duas medalhas olímpicas e que é, certamente, o maior atleta português de todos os tempos e que, num só dia, conquistou quatro medalhas de ouro na Taça do Mundo de Poznan em canoagem, ao vencer as provas de K1 500, K1 1000, K2 500 (com Teresa Portela) e K1 5000.
Porém, os atletas portugueses não tiveram só vitórias. A equipa de futebol sub-17 perdeu com a França na “lotaria dos penaltis” e foi afastada da final do UEFA Under 17 Championship, enquanto o ciclista João Almeida desistiu do Giro d’Italia quando lutava pelos primeiros lugares e foi apanhado pelo covid-19.
Foi, portanto, um fim-de-semana com algumas boas alegrias desportivas, mas lamenta-se que a imprensa desportiva e não só, apenas se tivesse fixado nos êxitos do andebol e tenha ignorado Fernando Pimenta, João Almeida e os jovens futebolistas sub-17. A capa do jornal A Bola confirma o que se escreveu.

domingo, 29 de maio de 2022

O imparável Real Madrid ganhou outra vez

O Real Madrid bateu ontem o Liverpool na final da Liga dos Campeões da UEFA e conquistou o seu 14º troféu nesta prova, o que constitui um feito desportivo notável. A imprensa espanhola ficou eufórica e encheu as suas primeiras páginas com imagens dos festejos dos vencedores e com títulos como “Madrid eterno”, ou “Campeón infinito”, ou ainda, “El Real Madrid agiganta su mito”. Essa euforia é natural, porque traduz a expressão do entusiasmo popular dos madrilenos e da maioria dos espanhóis pela enorme supremacia futebolística do Real Madrid com os seus 14 títulos, claramente acima dos seus rivais que são o Milan com sete, o Liverpool e o Bayern de Munique com seis e o Barcelona com cinco.
Contrariamente à euforia da imprensa espanhola, a imprensa britânica ficou decepcionada e, nas suas edições de hoje, ignora a final da Liga dos Campeões da UEFA. No entanto, o jornal The Independent dá uma lição de desportivismo e fair play, ao publicar a fotografia dos festejos dos vencedores e ao destacar como título “Real Madrid end Liverpool’s dream”. 
Como nota de curiosidade relativamente a Portugal e aos portugueses, aqui se salienta que tanto o Benfica como o FC Porto venceram esta prova e este troféu por duas vezes cada um, enquanto Cristiano Ronaldo é o recordista da competição pelos 183 jogos que disputou e pelos 140 golos que marcou.

sábado, 28 de maio de 2022

Boston Common e Jardim das Bandeiras

A edição de hoje do jornal The Boston Globe publica uma interessante fotografia que mostra duas pessoas a passear por entre “a sea of more than 37,000 American flags”, como explica a respectiva legenda. 
A cena passa-se no Boston Common, um parque público da cidade de Boston com 20 hectares, que é considerado o mais antigo parque urbano dos Estados Unidos. Nele se encontra um pouco de tudo, desde jardins e espaços culturais, até equipamentos de diversões e espaços de memória para perpetuar figuras de referência, incluindo as sepulturas de grandes personalidades do estado de Massachusetts.
Desde 2010 que uma organização de voluntários criou um imponente jardim no interior do Boston Common, no qual foi instalado um Monumento aos Soldados e Marinheiros do estado de Massachusetts que deram a vida pelo país, desde a Guerra da Independência. Nesse jardim são anualmente colocadas 37.000 bandeiras americanas em memória dos mortos do estado de Massachusetts nas diferentes guerras em que participaram. Esta gigantesca operação é realizada por centenas de voluntários e acontece nas vésperas da última segunda-feira do mês, o dia em que é celebrado por todo o país o Memorial Day, um feriado em que se homenageiam os homens e as mulheres que morreram enquanto serviam nas Forças Armadas dos Estados Unidos. Segundo referem as notícias o espectáculo proporcionado pelas 37.000 bandeiras é imponente.

sexta-feira, 27 de maio de 2022

A nau Victoria a fazer... História ao vivo

A cidade de Avilés é a terceira maior cidade do Principado das Astúrias e o seu porto é o segundo maior daquela região, logo a seguir ao porto de Gijón. Nos últimos dias tem estado atracada no porto a réplica da nau Victoria, que foi construída nos estaleiros da Isla Cristina, em Huelva, por ocasião da Exposição Universal de Sevilha de 1992.
A nau Victoria foi o navio em que Juan Sebastián de Elcano concluiu a primeira volta ao mundo em 1522, mas que antes tinha sido comandado por Duarte Barbosa, cunhado de Fernando de Magalhães e que lhe sucedera no comando da expedição após a sua morte em Abril de 1521, na ilha de Mactan.
A base da réplica da nau Victoria é o porto de Cádis, mas segundo refere o jornal La Voz de Avilés, “realmente, pocas veces está parado porque navega por Europa dando a conocer la gran hazaña de Magallanes y Elcano”. De facto, as actividades da réplica são destinadas a promover a epopeia espanhola e são geridas pela Fundación Nao Victoria. Assim, a réplica antes esteve na Corunha e, depois desta visita a Avilés, seguirá para Laredo, na Cantábria e, depois, para Bordéus, em França. Em setembro navegará para Sevilha, para estar presente nas cerimónias finais das comemorações dos 500 anos da volta ao mundo de 1519-1522. Naturalmente, a nau Victoria vai cumprindo a sua missão de promover a Espanha e estará aberta a visitas em todos os portos. No caso de Avilés as entradas custam 5 euros para adultos, 3 euros para jovens dos 5 aos 10 anos e 13 euros para famílias. É um caso de História ao vivo e de divulgação histórica, mas também de boa promoção, que se financiam a si mesmo, ou um caso de pay yourself first.

quinta-feira, 26 de maio de 2022

Sobre a cultura das armas e a violência

A edição de ontem do jornal Correio Braziliense destaca duas notícias alarmantes sobre a violência que se vai manifestando por esse mundo fora e que mostra que já não é apenas o que se passa na Ucrânia a encher-nos de preocupações, mas também outras situações que o jornal identificou como a “guerra no Rio” e o “massacre nos EUA”.
Os factos noticiados são os seguintes:
1. Uma operação policial realizada numa favela do Rio de Janeiro com o objectivo de prender os líderes de organizações criminosas que operam no Brasil, deixou 25 mortos no terreno.
2. Um jovem americano de origem hispânica com 18 anos de idade, chamado Salvador Ramos, entrou numa escola em Uvalde, uma pequena cidade americana nas proximidades da fronteira mexicana e matou a tiro 19 crianças e duas professoras.
Estes dois casos, embora diferentes nas suas motivações, chocaram o mundo e tiveram como denominador comum a violência, que é um problema demasiado complexo para ser analisado neste espaço. Porém, em ambos os casos estão presentes distorções sociais e actividades criminosas, designadamente o tráfico de drogas e o negócio das armas. No caso das armas, a permissividade da legislação americana é apontada como a grande responsável pela violência, estimando-se que 39% das famílias americanas tenham pelo menos uma arma em casa. Acontece que “entre 1968 e 2017, houve 1,5 milhão de mortes por arma de fogo nos EUA — o número é maior que o de todos os soldados americanos mortos nas guerras em que o país se envolveu desde a Guerra da Independência, em 1775”.
Desde há muitos anos que os presidentes dos Estados Unidos tentam travar esta violência e esta tragédia, mas o lobby da indústria do armamento é muito poderoso e a cultura das armas – produção, venda e uso – faz parte da mentalidade americana.

terça-feira, 24 de maio de 2022

Macau reabriu as portas aos portugueses

A epidemia de covid-19 afectou meio mundo e impôs restrições mais ou menos severas à vida das comunidades, perturbando a sua vida económica e cultural a uma escala quase global. No caso da Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China essas restrições foram muito rigorosas e, desde Março de 2020, que as autoridades macaenses proibiam a entrada de não residentes, como medida de controlo e prevenção da covid-19.
Calcula-se que Macau tenha cerca de 650 mil habitantes dos quais haverá cerca de nove mil residentes com nacionalidade portuguesa, uma parte dos quais nasceu em Macau, uma outra parte permaneceu no território depois da transferência da soberania em 1999 e, outra parte, instalou-se mais recentemente. Para os portugueses não residentes, ou que não possuem o Bilhete de Identidade de Residente (BIR), a medida de proibição de entrada no território era uma enorme contrariedade, pois representava a separação de famílias e o abandono de muitos projectos.
Porém, as autoridades decidiram agora abrir as portas aos portugueses não residentes, que passam a poder entrar no território sem autorização prévia dos Serviços de Saúde macaenses, desde que nos 21 dias anteriores não tenham estado fora da China, de Hong Kong ou de Portugal. Esta medida é dirigida especificamente aos portugueses não residentes e significa a possibilidade de reunião familiar de muitas famílias, a retoma de projectos profissionais e académicos interrompidos desde há dois anos e até o renascimento do turismo português para Macau. Por isso, o jornal Hoje Macau saudou esta medida com uma expressiva saudação: bem-vindos a Macau!

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Houve festa a dobrar no futebol português

A época futebolística portuguesa terminou ontem com a realização da final da Taça de Portugal e, para quem gosta de futebol, vem aí um período monótono em que não teremos as emoções do futebol em directo nas televisões.
Ontem o Estádio Nacional estava cheio, havia muito entusiasmo e ambiente de festa e, segundo apuramos, nas equipas finalistas do FC Porto e do CD Tondela entraram em campo jogadores de doze diferentes nacionalidades, a mostrar que o futebol é uma indústria multinacional. Para além de portugueses e brasileiros, havia em campo jogadores espanhóis, franceses, argentinos, uruguaios, colombianos, sérvios, senegaleses, nigerianos, congoleses e azeris.
O jogo foi bem disputado e decorreu sem quaisquer sobressaltos. O FC Porto, que já triunfara no campeonato, também venceu esta final, o que significa que conquistou a dobradinha, nome por que os brasileiros designam as duplas vitórias. O jornal A Bola salienta que a festa foi a dobrar.
O futebol é um belo espectáculo quando é jogado por artistas e desperta profundas emoções, embora por vezes excessivas, mas tem a particularidade de ciclicamente satisfazer toda a gente pois há uma alternância de vencedores, isto é, uns anos ganham uns e nos anos seguintes ganham outros.
Embora venham aí os jogos da selecção nacional respeitantes à Liga das Nações, a disputa clubística e o futebol-paixão entram agora no defeso, embora cada clube comece já a pensar na próxima temporada e nos jogadores que vai vender ou comprar. Essa é a componente menos interessante do futebol porque suscita desvarios financeiros e conduz à assinatura de contratos verdadeiramente obscenos.

domingo, 22 de maio de 2022

Os imensos milhões para apoio à Ucrânia

António Costa, o primeiro-ministro de Portugal, foi à Roménia visitar os soldados portugueses, passou pela Polónia e foi a Kiev visitar o presidente Volodymyr Zelensky, como atesta a primeira página da edição de hoje do Público.
Fez o que está na moda e fez bem. Portugal não pode voltar aos tempos do “orgulhosamente sós”. Nas peregrinações a Kiev já se tinha destacado António Guterres, que até ouviu as explosões dos mísseis bem perto de si, mas os inúmeros políticos ocidentais que têm visitado Zelensky. As opiniões públicas nacionais gostam de ter políticos valentes, daqueles que não se cortam e, por isso, muitos têm cumprido essa missão. Agora foi a vez de António Costa. Marcelo já está à espreita…
A visita ao presidente ucraniano teve vários objectivos, mas o principal terá sido o interesse pessoal de António Costa em marcar presença no teatro mediático, que tem sido a apresentação das visitas de políticos europeus a Kiev. Com 60 anos de idade e com forte prestígio europeu, a fotografia do seu encontro com Zelensky vai ser-lhe indispensável para viabilizar o seu futuro político internacional. Para além disso, António Costa foi afirmar a solidariedade e a disponibilidade portuguesa para se juntar à reconstrução da Ucrânia, tendo já reservado o sector da reconstrução das escolas e jardins de infância, ao mesmo tempo que anunciou a concessão de um apoio financeiro de 250 milhões de euros. Nas redes sociais logo apareceram as críticas – “não há dinheiro para a educação e para a saúde, mas há dinheiro para a guerra”, ou “nós a rebentar pelas costuras e eles a fazerem-se de grandes” ou, ainda, “muito gostam os políticos de dar o que não é deles”. 
Hoje sabe-se pelo Kiel Institute for the World Economy que, só no primeiro mês da invasão, a Ucrânia recebeu 13 mil milhões de euros de ajuda humanitária, militar e apoio financeiro. Seguiram-se anúncios de muitos e muitos milhões. Os últimos foram anunciados pelos Estados Unidos e cifram-se em 40 mil milhões de dólares. Quando o Kiel Institute for the World Economy nos anunciar os montantes dos apoios até agora concedidos à Ucrânia vamos ficar estarrecidos, até porque muito desse dinheiro não irá chegar ao seu destino, nem aos seus destinatários.

sábado, 21 de maio de 2022

Ainda é possível a paz na Ucrânia?

Desde o dia 24 de Fevereiro que, em relação à invasão russa da Ucrânia, temos aqui defendido um cessar-fogo sob a égide das Nações Unidas, que conduza a negociações e à paz. Diversos mediadores juntaram as partes em confronto, trocaram-se prisioneiros e foram abertos corredores humanitários, mas como disse um ministro turco “há alguns países no seio da NATO que querem que a guerra na Ucrânia continue”, porque isso enfraquece e humilha a Rússia, mas também porque alimenta a indústria americana do armamento, nomeadamente a Lockeed Martin, a Raytheon Technologies, a General Dynamics e outros grandes tubarões. Há também quem defenda que a guerra só pode acabar com a derrota da Rússia como responsável pela invasão, mas há outros países que não escondem que se deve evitar humilhar a Rússia, até porque os lobos enfurecidos tendem a morder mais e ninguém pode ignorar as ameaças nucleares russas. Enquanto isto e depois de várias derrotas em Kiev e Kharkiv, a Rússia terá conseguido a sua primeira vitória em Mariupol. Assim, as duas partes já têm algumas vitórias registadas, pelo que poderão estar reunidas as condições para que russos e ucranianos ouçam os mediadores e se sentem à mesa de negociações, sem que se apresentem na condição de derrotados.
Porém, já foram acumuladas tantas provocações, insultos e acusações que, na sua última edição, o Courrier international pergunta se a paz ainda é possível. Sem ser especialista, atrevo-me a dizer que a paz tem que ser possível, porque a alternativa à paz é sempre catastrófica, não só para a Ucrânia e para os ucranianos, mas também para a Europa e até para o mundo.
Entretanto, já há muita gente a quem a dor ucraniana pouco interessa e que recorre à famosa análise SWOT, tratando a guerra como uma oportunidade e procurando posicionar-se para fazer negócios no futuro.

Timor Leste: 20 anos de independência

A República Democrática de Timor-Leste celebrou o 20º aniversário da sua independência e, ao mesmo tempo, empossou José Ramos-Horta como o seu sétimo presidente da República.
Portugal esteve representado neste evento através do presidente da República Portuguesa, que viajou num voo especial da EuroAtlantic Airways e que se fez acompanhar por uma comitiva de 18 pessoas, segundo indicam alguns relatos. As várias estações de televisão portuguesas também acompanharam Marcelo Rebelo de Sousa, pelo que o pudemos ver no cemitério de Santa Cruz e na sua intervenção no Parlamento Nacional, durante a sessão solene comemorativa dos 20 anos da Constituição da República Democrática de Timor-Leste, mas também em múltiplas situações de grande excitação de cariz populista e entusiasmo desproporcionado, em que abraçou, beijou, dançou e tirou selfies, exactamente como se estivesse em campanha eleitoral em Alcabideche ou em Carrazeda de Ansiães. Porém, o momento porventura mais emocionante desta visita, sobretudo para quem viveu localmente uma parte do processo independentista timorense, foi a merecida condecoração do padre João Felgueiras, um jesuíta natural de Caldas das Taipas, concelho de Guimarães, que dentro de um mês completará 101 anos de idade e que muitos timorenses consideram um símbolo da resistência e da preservação da língua e da cultura portuguesas em Timor, durante os anos da ocupação indonésia.
Lamentavelmente, com a excepção do Diário de Notícias, a imprensa escrita portuguesa ignorou o 20º aniversário da independência de Timor Leste.
A deslocação de Marcelo Rebelo de Sousa a Timor Leste coincidiu com a visita de António Costa ao Leste europeu e aquele não quis que este tivesse mais protagonismo do que ele e, por isso, tratou de comentar aquilo que um presidente da República não deve comentar. Alguns jornais chamaram-lhe gafes presidenciais. Tendo ambos feito importantes visitas de Estado, não havia necessidade destas guerras de popularidade.

sexta-feira, 20 de maio de 2022

A queda da Azovstal e o que se segue agora

As hostilidades na Ucrânia transformaram-se numa guerra por procuração ou num confronto entre a Rússia e os Estados Unidos. Apesar de sermos bombardeados diariamente com imagens, mapas, comentários e serviços dos enviados especiais, pouco sabemos sobre o que realmente se passa no terreno, parecendo que toda essa informação, falsa ou verdadeira, está ao serviço das estratégias de propaganda das partes em conflito. A mesma notícia e as mesmas imagens são repetidas em dias consecutivos e a maioria das informações difundidas pouco esclarecem, pois tendem a fazer-nos crer que se trata de uma guerra entre os que são bons e os que são maus. A somar a esta deformação das informações, acresce a narrativa dos “especialistas de relações internacionais” que aprenderam todos pela mesma cartilha e só mostram uma face da moeda.
Tudo isto a propósito do cerco russo à cidade de Mariupol e do recuo das forças ucranianas até ao reduto da Azovstal, uma das maiores instalações siderúrgicas da Europa, que possui túneis e bunkers capazes de resistir a um ataque nuclear. Elogiou-se a corajosa resistência das forças ucranianas. Desconhece-se se havia mercenários no local, mas havia muitos feridos no interior da Azovstal. Parece que intervieram mediadores. Alguma coisa se conseguiu mas não se sabe bem o quê.
O facto é que, devido a essas e outras circunstâncias, a partir do dia 16 de Maio “renderam-se 2.439 elementos do regimento Azov e das forças ucranianas”, mas hoje ter-se-ão rendido os últimos 531 combatentes que se encontravam no Azovstal. Aparentemente, tratou-se de uma rendição das forças ucranianas depois do seu comandante ter recebido ordens de Kiev para “salvar a vida dos seus soldados e parar de defender a cidade”. Após mais de um mês de cerco e de constantes bombardeamentos, a Rússia veio anunciar a “libertação total” da Azovstal, mas a Ucrânia recusou falar em rendição, embora assuma o fim da resistência em Mariupol.
Não se sabe o que aconteceu e, afinal, com tantos enviados especiais disseminados pela Ucrânia, ninguém nos esclarece, embora pareça que a Rússia obteve uma primeira vitória. Esta manhã o jornal Ouest France, pareceu adivinhar o que veio a acontecer durante o dia e pergunta: que destino para os soldados da Azovstal?

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Um milhão de mortos por covid nos EUA

Os Estados Unidos registaram um milhão de mortes por covid-19 e, com grande destaque, o jornal USA TODAY classificou esse número como um marco histórico. O tema já aqui tinha sido tratado, mas a forma como a imprensa americana o destacou, justifica que voltemos a apreciá-lo, pois a epidemia foi realmente catastrófica nos Estados Unidos, sobretudo quando comparamos este marco de um milhão de mortos com o total de mortes militares americanas em batalhas e outras causas durante a 2ª Guerra Mundial, que atingiu 407.316 mortes.
Significa que morreram muitos mais cidadãos americanos devido ao covid-19, do que tinham morrido durante a 2ª Guerra Mundial. A diferença de números é impressionante e como refere o jornal, é um milestone!
O jornal apresenta uma segmentação da incidência etária das mortes por covid-19, verificando-se que 51,5% delas atingiram indivíduos com mais de 75 anos de idade. Depois, verifica-se que 23% das mortes ocorreram na faixa etária dos 65 aos 74 anos, que 14,7% ocorreram na faixa etária dos 55 aos 64 anos e que 10,5% das mortes ocorreram na faixa etária dos 25 aos 54 anos. Finalmente, apenas 0,3% das mortes atingiram a população com menos de 24 anos de idade.
Esta gigantesca amostra confirma que a perigosidade do covid-19 afectou sobretudo os mais idosos, mas também mostra que, nem os países com mais recursos sanitários e tecnológicos como acontece com os Estados Unidos, estão mais imunizados para resistir a este tipo de epidemias. Agora, que se confirma que a epidemia apenas abrandou, mas que parece estar de volta por todo o lado, há boas razões para voltarmos a ter os cuidados necessários.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Os países bálticos e a sua adesão à NATO

A guerra na Ucrânia já dura há mais de oitenta dias e não se vislumbra como possa acabar, mas a conversa havida no dia 13 de Maio entre os responsáveis políticos pela defesa americana e russa, respectivamente Lloyd Austin e Sergey Shoygu, a primeira que tiveram desde o início da guerra, pode ser uma oportunidade para a paz. 
Hoje é evidente que o que se passa na Ucrânia é uma guerra por procuração entre os Estados Unidos e a Rússia, na qual esta não conseguiu os seus objectivos iniciais, nem obteve nenhuma grande vitória, correndo mesmo o risco de ser humilhada pelos combatentes ucranianos e pelo seu moderno armamento, que tem sido fornecido em abundância pelos Estados Unidos e por outros países da NATO. A invasão russa e a máquina militar americana, fizeram da Ucrânia um campo de batalha entre as duas potências militares rivais, ignorando os interesses de um país que é dividido por duas culturas, duas línguas e duas religiões. Os países europeus podiam ter procurado a paz, mas pouco têm feito para além de seguirem o “amigo americano”, como se os interesses de ambos fossem comuns, enquanto são muito poucas as vozes que pedem a paz.
Neste quadro, a Suécia e a Finlândia decidiram pedir a adesão à NATO, por entenderem ser essa a melhor forma de garantir a sua segurança, depois do que viram ter acontecido à Ucrânia, apesar das ameaças russas explícitas ou implícitas. O jornal espanhol ABC dedica a primeira página da sua edição de hoje a esse facto e reproduz as afirmações do secretário-geral da NATO, um homem que fala como se tivesse mandato dos estados-membros e que afirmou que “la OTAN protegerá militarmente a Suecia y Finlandia durante el proceso de adhesión”. Ele lá sabe quem lhe deu estas instruções...
Estes países nórdicos, tradicionalmente neutrais e que actualmente têm mulheres como primeiras-ministras, tomaram uma decisão histórica e legítima que os seus Parlamentos aprovaram, mas de que a Rússia não gostou, o que poderá enfurecer mais o imprevisível Putin.
Com esta decisão, que certamente vai ser aprovada, toda a arquitectura de segurança e defesa europeia vai ser alterada e ninguém é capaz de dizer como vai ser o futuro.

domingo, 15 de maio de 2022

A pandemia do covid-19 ainda nos ameaça

Quando o mundo parecia começar a sentir-se livre da epidemia do covid-19 e se anunciava um tempo de alívio, têm surgido sinais que mostram que o vírus afinal ainda anda por aí, a causar muitas preocupações. Por isso, as autoridades sanitárias recomendam cautelas, sobretudo por parte das pessoas mais débeis, mas também o uso de máscara nos transportes públicos, hospitais, farmácias, centros de saúde e lares. É grande a apreensão sobre o que possa aparecer no futuro e, em alguns países, já está a ser ministrada a quarta dose da vacina.
Quando a ultrapassagem da crise sanitária estava a dar lugar a uma retoma económica quase de euforia, surgiu a guerra na Ucrânia e, agora, o há o reaparecimento do covi-19. O mundo não se consegue libertar deste tipo de tristes episódios. A Organização Mundial de Saúde, mas também as autoridades nacionais, bem procuram serenar os ânimos das populações, mas a situação é pouco animadora. Hoje, numa perspectiva de alerta à população, mas também de homenagem ao milhão de americanos que foram vítimas do covid-19, o jornal The New York Times ilustrou a sua primeira página com uma imagem da distribuição dos óbitos pelo território americano e escolheu para título “Um milhão – a dor incomensurável de uma nação”.
De acordo com os números que vão sendo divulgados, a pandemia já causou cerca de seis milhões de óbitos no mundo e, nessa lista negra, os Estados Unidos lideram com 998.301 óbitos, seguindo-se o Brasil, a Índia, a Rússia, o México, o Peru, o Reino Unido e a Itália.
Em Portugal verificaram-se, até agora, um pouco mais de quatro milhões de casos e há a lamentar 22.583 óbitos. Pelo sim e pelo não, o melhor é ter cautelas.

quinta-feira, 12 de maio de 2022

Luxemburgo/Portugal:relação excepcional

Os Grão-Duques do Luxemburgo estão desde ontem em visita oficial a Portugal, tendo sido cumpridas as formalidades protocolares que são devidas aos Chefes de Estado estrangeiros, incluindo honras militares, a que se seguiu um encontro no Palácio de Belém, onde o Presidente da República afirmou que Portugal e o Luxemburgo estão “totalmente de acordo” na União Europeia e na NATO, com “os mesmos pontos de vista” sobre a situação que se vive na Europa. Nessa oportunidade, fez bem em agradecer a forma como o Luxemburgo tem acolhido e integrado a comunidade portuguesa naquele país, que actualmente tem cerca de 90 mil cidadãos, que representam cerca de 15% da população do Grão-Ducado.
Marcelo Rebelo de Sousa já fizera uma visita oficial ao Luxemburgo em 2017 e os Grão-Duques já tinham visitado Portugal em 2010.
O Grão-Duque Henrique, segundo relata a edição de hoje do jornal Le Quotidien, referiu que existe uma regra luxemburguesa que interdita uma segunda visita de Estado ao mesmo país, mas que “a relação excepcional com Portugal” justifica esta sua segunda visita. Depois, ainda de acordo com o jornal luxemburguês, “de manière sincére”, o grão-Duque saudou “l’apport inouï de la population portugaise à la construction du Luxembourg”. O Presidente da República acompanhou os visitantes num passeio de carro eléctrico por alguns bairros históricos da cidade de Lisboa, que terminou no Miradouro das Portas do Sol, no bairro de Alfama, tendo à noite oferecido um jantar no Palácio Nacional da Ajuda, em honra dos visitantes luxemburgueses.
Curiosamente, a imprensa portuguesa esqueceu completamente a visita oficial dos Grão-Duques do Luxemburgo, porque nisso de visitas oficiais só lhe interessam as que faz Marcelo Rebelo de Sousa ao estrangeiro e que os leva na sua comitiva a bordo do Falcon, evidentemente à custa do pobre do contribuinte.

Finalmente, aproxima-se a hora do Carlos.

A rainha Isabel II tem 96 anos de idade e os seus médicos aconselharam-na a que não estivesse presente na tradicional cerimónia da abertura do Parlamento, devido aos seus “problemas episódicos de mobilidade”. Tendo iniciado o seu reinado em 1952, depois da morte de seu pai o rei Jorge VI, a rainha já leva 70 anos no trono britânico como rainha do Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, além de mais de uma dezena de pequenos estados, como a Jamaica, Bahamas, Granada, Papua-Nova Guiné, ilhas Salomão e outros. É a monarca britânica com mais tempo no trono, superando a longevidade da rainha Victoria, que durante 63 anos foi a rainha do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, mas também Imperatriz da Índia.
A rainha Isabel II tinha-se casado em 1947 com Filipe da Grécia e Dinamarca e tem quatro filhos, oito netos e doze bisnetos. O seu sucessor será Carlos, o seu filho mais velho, que é também o Príncipe de Gales e que, tendo nascido em 1948, tem agora 73 anos.
No passado dia 10 realizou-se a tradicional cerimónia de abertura do Parlamento e pela terceira vez no seu longo reinado a rainha não esteve presente, depois de também ter estado ausente em 1959 e 1963, por então estar grávida.
Pela primeira vez, o príncipe Carlos presidiu e discursou nesta cerimónia, tendo-se sentado ao lado da cadeira da rainha, ocupada pela Coroa Imperial, que só é usada nas cerimónias da coroação do monarca do Reino Unido e da abertura do Parlamento. A Coroa Imperial é uma das joias da Monarquia Britânica e pesa 1,060 quilogramas, tendo quatro diademas e 2.868 diamantes, 273 pérolas, 17 safiras, 11 esmeraldas e 5 rubis.
Por maior que seja o respeito por Her Majesty, a sua Mãe, o príncipe Carlos deve ter pensado “finalmente “ ou “o que eu andei para aqui chegar”. Certamente que este tipo de tradições desperta algum interesse, inclusive naqueles que não sendo monárquicos, nem apreciam a figura casmurra do príncipe herdeiro do Reino Unido. Porém, pelas leis da vida, aproxima-se finalmente a hora do Carlos.

terça-feira, 10 de maio de 2022

O orgulho ferido de Vladimir Putin

Ao noticiarem as celebrações do Dia da Vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazi em 1945 que ontem decorreram em Moscovo, são vários os jornais espanhóis, franceses e italianos que, nas suas edições de hoje, utilizam a mesma fotografia de Vladimir Putin entre dois soldados russos e destacam que ele nada tinha para celebrar, porque as forças russas têm sofrido muitas derrotas em território ucraniano, que não esperavam. Segundo foi referido pelos comentadores televisivos, a imponência do desfile militar ficou aquém do que era habitual e nem houve o tradicional desfile aéreo por receio de um eventual ataque de drones. A sombra da guerra na Ucrânia pairou sobre a Praça Vermelha e embora no seu discurso não se tivesse referido à sua operação especial em curso, o Vladimir deixou claro que a sua decisão resultou da ameaça de uma invasão do território russo por forças da NATO. O discurso de Putin dirigiu-se sobretudo aos soldados e à população russa, sendo mais uma peça para a guerra da propaganda que, de certa forma, está a ser uma das surpresas deste conflito.
A fotografia de Putin que foi publicada no jornal la Reppublica vale mais do que mil palavras, pois mostra um homem cabisbaixo e vergado ao peso de uma evidente derrota pessoal, o que não significa necessariamente a derrota militar das forças russas.
Ninguém tem dúvidas de que o actual conflito na Ucrânia e as suas consequências para o mundo, continuam a estar dependentes deste homem que, por estar ferido no seu orgulho e na sua arrogância, está cada dia mais desesperado e mais perigoso. Não é necessário ser-se psicólogo ou perito em estratégia para perceber essa realidade, enquanto a História nos ensina o que sempre aconteceu quando os poderosos são feridos no seu orgulho.
Daí as sábias palavras de Emmanuel Macron que, há dois dias, defendeu em Estrasburgo que para terminar a guerra na Ucrânia, a paz terá de ser construída sem a humilhação da Rússia, que é exactamente o contrário do que disseram Lloyd Austin e os americanos.

segunda-feira, 9 de maio de 2022

O Dia da Europa e os Dias da Vitória

O jornal Público destaca na sua edição de hoje o Dia da Europa ou Dia da União Europeia, uma data que foi escolhida com base numa proposta feita em 9 de Maio de 1950 pelo político francês Robert Schuman, no sentido de ser criada uma entidade supranacional europeia que assegurasse um futuro de paz na Europa. No ano seguinte surgiu a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) e em 1957 a Comunidade Económica Europeia (CEE), que evoluiu para a União Europeia e que agrega actualmente 27 estados. Apesar da enorme diversidade económica e cultural do espaço europeu e de alguns insucessos do seu projecto integrador, de que são exemplos o Brexit e o actual conflito na Ucrânia, a União Europeia tem sido um factor de progresso e de estabilidade para os povos da Europa. 
O jornal apresenta as três personalidades provavelmente mais destacadas da União Europeia, respectivamente Ursula von der Leyen, Olaf Scholz e Emmanuel Macron, os quais têm sobre os seus ombros o enorme desafio provocado pela invasão russa da Ucrânia, inclusive para manter a coesão e a unidade europeia nesta grave e dramática emergência. Muitos acreditaram que aqueles dirigentes poderiam ter mediado o conflito e evitado a invasão russa. Muitos acreditaram que era possível evitar o renascimento da Guerra Fria ou uma guerra por procuração. Agora, muitos acreditam que serão eles, mas não só eles, que podem travar a escalada do conflito e levar as duas partes a um cessar-fogo e à paz.
Nestes dias, para além do Dia da Europa, também houve o Dia da Vitória. Há 77 anos, depois da morte de Hitler, a Alemanha reconheceu a sua derrota na guerra e assinou a sua rendição, que foi aceite pelos Aliados no dia 8 de Maio de 1945, mas que a União Soviética só aceitou no dia seguinte. Desde então o Dia da Vitória é celebrado por diversas formas em duas datas diferentes e daí que ontem tivéssemos visto Macron no Arco do Triunfo, em Paris, enquanto hoje vimos Putin na Praça Vermelha, em Moscovo.
Dia da Europa e os Dias da Vitória que deveriam ser de festa, mas que são dias bem perturbadores.

domingo, 8 de maio de 2022

Quem não quer a paz que Guterres deseja

António Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas, esteve em Ancara no passado dia 25 de Abril para falar com Recep Erdogan, esteve em Moscovo no dia 26 para falar com Vladimir Putin e esteve em Kiev no dia 28 para falar com Volodymyr Zelensky. Na altura foi muito criticado, inclusive por alguma comunicação social portuguesa, porque a sua iniciativa foi demasiado tardia. Porém, os resultados foram positivos e foi possível retirar idosos, mulheres e crianças do Azovstal, o complexo industrial da cidade de Mariupol, tendo António Guterres declarado depois que, mesmo em tempo de hipercomunicação, a diplomacia silenciosa produziu e pode produzir mais resultados. Durante esses dias, ele recusou dar detalhes sobre as operações em curso “para evitar minar possíveis sucessos”.
Ao contrário de Guterres, muitos têm sido os líderes que têm ido a Kiev para mostrar solidariedade ou levar um cheque mas, sobretudo, apenas para se mostrarem e fazerem a sua propaganda pessoal.
A imprensa mundial a que temos acesso, que tanto tem feito para formatar as opiniões públicas através da repetição exaustiva das mesmas histórias, dos mesmos relatos e dos mesmos comentários, simplificando o que é uma história complexa e reduzindo-a frequentemente a uma confrontação entre o bem e o mal, não deu relevo aos esforços de António Guterres e, pelo contrário, todos os dias anuncia o envio de mais javelins e mais stingers, mais carros de combate destruídos ou mais aviões abatidos.
Nestas circunstâncias, tem um enorme significado a declaração unânime do Conselho de Segurança das Nações Unidas de “forte apoio” aos esforços do secretário-geral para encontrar uma solução pacífica para o conflito, pois foi a primeira vez que produziu uma declaração conjunta sobre a Ucrânia, desde que a guerra começou no dia 24 de Fevereiro. Reagindo a essa declaração, António Guterres afirmou, em comunicado: "Hoje, pela primeira vez, o Conselho de Segurança falou a uma só voz pela paz na Ucrânia. Como tenho dito muitas vezes, o mundo deve unir-se para silenciar as armas e defender os valores da Carta das Nações Unidas". É exactamente isso, que aqui temos defendido mas, objectivamente, tanto a imprensa nacional como a internacional parecem não se interessar por estes esforços de António Guterres.

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Ucrânia face a um perigoso braço de ferro

No dia 24 de Fevereiro as tropas russas iniciaram a invasão da Ucrânia e, nesse dia, escrevemos aqui que era “Um dia muito negro na História da Europa”. No dia 27 registamos a nossa surpresa escrevendo sobre “A resistência e a coragem de Zelensky” e, no dia 28, porque houvera um primeiro encontro entre negociadores russos e ucranianos e se estudava o cessar-fogo, escrevemos a respeito de “Um breve encontro, um passo necessário”.
Desde então passaram mais de dois meses e tudo se tornou bem diferente do que parecia. Em vez de terminar, a guerra intensificou-se e muitas cidades ucranianas foram destruídas, morreu muita gente e há milhões de refugiados. Não há sinais de cessar-fogo nem de negociações para a paz, embora a aposta de António Guterres na diplomacia silenciosa tenha dado alguns resultados positivos. Há notícias de combates e da entrada maciça de material de guerra nos teatros de operações. Os países da NATO anunciam sanções à Rússia e muitos milhares de milhões de euros de apoio militar e de ajuda humanitária à Ucrânia. A indústria do armamento e as petrolíferas rejubilam. Cada vez parece ser mais claro que a Ucrânia é um pretexto para uma guerra por procuração (proxy war), isto é, uma guerra em que dois ou mais países se utilizam de terceiros (os proxies), como intermediários ou substitutos, de forma a não lutarem directamente entre si.
Agora, percebem-se melhor as declarações de Mevlut Çavusoglu, o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, quando afirmou que “há alguns países no seio da NATO que querem que a guerra na Ucrânia continue. Eles pensam que, se a guerra continuar, a Rússia ficará enfraquecida. A situação na Ucrânia pouco importa para eles”. Quatro dias depois em Kiev, foi Lloyd Austin, o secretário da Defesa americano, a confirmar o que Çavusoglu tinha dito. Portanto, há quem queira a guerra.
Porém, se tivessem sido ponderadas as palavras de Henry Kissinger, no texto publicado no The Washington Post do dia 6 de Março de 2014 em que, entre outras coisas, defendia que a Ucrânia não devia aderir à NATO, posição que também tinham Angela Merkel e Emmanuel Macron, talvez não tivesse começado uma tão dolorosa guerra.
Na sua última edição, o Courrier International mostra Biden e Putin face a face, referindo o braço de ferro que estão a fazer e perguntando se os Estados Unidos e a Rússia não estarão à beira de um confronto directo.

quinta-feira, 5 de maio de 2022

Língua portuguesa: um oceano de culturas

Hoje, dia 5 de Maio, é o Dia Mundial da Língua Portuguesa, conforme proclamação da 40ª sessão da Conferência Geral da Unesco, realizada em Paris entre os dias 12 e 27 de Novembro de 2019. 
A data já tinha sido estabelecida em 2009 para celebrar a língua portuguesa e as culturas lusófonas por decisão da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), uma organização que desde 1996 agrega os países que têm a língua portuguesa como língua oficial, como língua de comunicação e como veículo de cultura.
Esta terceira edição será hoje assinalada através de 139 atividades em 52 países, com Angola e o Brasil a assumirem os principais destaques entre um conjunto de eventos espalhados por quatro continentes. A imprensa portuguesa de Macau também assinala esta celebração e o jornal ponto final destaca-a com uma fotografia de capa em que uma jovem macaense exibe Os Maias de Eça de Queiroz. Lamentavelmente, a imprensa portuguesa ignora ou não destaca este Dia Mundial da Língua Portuguesa. Que mau serviço que prestam à língua portuguesa!
A língua portuguesa é uma das mais difundidas no mundo pois estima-se que seja falada por 265 milhões de pessoas espalhadas por todos os continentes, sendo também a língua mais falada no hemisfério sul. Os diversos institutos internacionais que se dedicam ao estudo da distribuição das línguas mais faladas no mundo, colocam a língua portuguesa numa posição entre o 5º e o 9º lugar no ranking das línguas mais faladas no mundo, conforme os critérios utilizados.
Alguns cultores da língua portuguesa comentaram a sua importância: Fernando Pessoa escreveu que a “minha Pátria é a língua portuguesa” e, sobre a sua diversidade, também José Saramago escreveu que “quase me apetece dizer que não há uma língua portuguesa, há línguas em português". Outros dirão, muito a propósito, que a língua portuguesa é um oceano de culturas. 

segunda-feira, 2 de maio de 2022

A migração dos pinguins-de-magalhães

O jornal argentino Hoy en la Noticia é publicado na cidade de La Plata, na província de Buenos Aires, anunciando na sua edição de hoje que “comenzó la migración de los pingüinos de Magallanes”.
A notícia é interessante pois relata um acontecimento invulgar e pouco conhecido na Europa, que é a viagem de mais de três mil quilómetros empreendida por esta espécie patagónica até às costas do Uruguai e do sul do Brasil, sobretudo em busca de alimento que, com a aproximação do inverno austral, começa a faltar. A espécie tem o nome científico de spheniscus magellanicus, foi avistada pela primeira vez em 1520 pela frota de Fernão de Magalhães e foi mencionada no relato que Antonio Pigafetta fez dessa viagem. O seu habitat é, essencialmente, o estreito de Magalhães e a Patagónia, as ilhas Malvinas e as costas argentinas e chilenas, embora se desloquem até ao Brasil e ao Peru para procurar alimento durante o inverno austral.
O pinguim-de-magalhães é uma ave não voadora, ovípara, com uma estatura média de 70 centímetros e cujo peso varia entre quatro a seis quilogramas. É uma das dezoito espécies de pinguins, das quais pelo menos metade estão ameaçadas de extinção, devido à crescente escassez alimentar provocada pelas alterações climáticas.
Para promover a conservação de todas as espécies de pinguins e a preservação das costas e dos oceanos onde habitam, foi criada a Global Penguin Society (GPS), uma entidade reconhecida internacionalmente, que tem a sua sede na cidade argentina de Puerto Madryn, na província de Chubut. O destaque da notícia do diário Hoy en la Noticia mostra como a Global Penguin Society é dinâmica e prestigiada na comunicação social argentina, mas também mostra que magalhães é nome de muita coisa, incluindo pessoas, galáxias, territórios, computadores e até pinguins.

domingo, 1 de maio de 2022

Já se festeja a Feria de Abril de Sevilla

Ontem à meia-noite começou a Feira de Sevilha, oficialmente designada por Feria de Abril de Sevilla, que é a “más esperada” de todas as feiras da Andaluzia e que vai durar até ao dia 7 de Maio.
A festa ocorre duas semanas depois da Semana Santa e as festividades começam sempre à meia-noite de sábado, quando são acesas as luzes da monumental porta de entrada no recinto da feira – a portada – que a edição de hoje do Diario de Sevilla nos mostra. Nessa altura, milhares de pessoas juntam-se em frente da portada para assistir ao alumbrão, ou à iluminação simultânea de milhares de lâmpadas coloridas do recinto da feira e da porta principal, que tem quase cinquenta metros de altura, que é diferente em cada ano e que este ano se inspira no hotel Alfonso XIII, segundo foi anunciado. Durante uma semana a cidade de Sevilha vive apenas para a festa e, em especial, para a música, a gastronomia e a dança, o que leva os sevilhanos a passar a maior parte do seu tempo no recinto da feira instalada na margem direita do rio Guadalquivir e, sobretudo, no seu enorme parque de diversões e nas muitas centenas de stands ou pavilhões preparados por grupos de amigos, por associações, por empresas e até por partidos políticos. A partir do fim da tarde, nas ruas e nesses pavilhões, há multidões que festejam e dançam, que bebem xerez, manzanilla e, mais recentemente cerveza, além de comerem as apreciadas tapas andaluzas. Todos os dias a festa começa com o desfile de carruagens e cavaleiros que se dirigem para La Real Maestranza, a monumental praça de touros de Sevilha, onde todas as tardes se realizam touradas.
Durante as festividades as pessoas vestem trajes típicos da Andaluzia, em especial as mulheres, que usam trajes flamencos ou ciganos, que são muito apreciados pelos curiosos da fotografia. 
Após uma semana de diversão e de folia, a feira termina com o sempre impressionante espectáculo de fogo-de-artifício.