quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Os excessos do turismo de massa


Numa altura em que em Portugal se utiliza o “crescimento do turismo” como argumento eleitoral, é bem curiosa a reportagem hoje publicada pelo La Dépêche du Midi, um diário que se publica em Toulouse e que trata do excesso de turistas em Barcelona, o que é cada vez pior suportado pelos habitantes da cidade, que é um dos destinos turísticos preferidos pelos franceses do sul.
Barcelona é o pulmão económico da Catalunha e é uma cidade cheia de atracções turísticas – praias, porto de cruzeiro, marinas, clima mediterrânico, património histórico, cultura, gastronomia e futebol, entre muitas outras coisas que fazem convergir 27 milhões de turistas para a cidade em cada ano. O turismo é importante para a cidade e representa cerca de 14% do seu produto. Porém, os efeitos perversos desta “invasão” são preocupantes, nomeadamente a falta de civismo e a perturbação da ordem pública. Nos bairros históricos de Barceloneta e Bario Gotico, os habitantes já não suportam ver grupos de ingleses, alemães, holandeses e franceses a beber sem controlo nos inúmeros bares, a gritar pela noite dentro, a urinar nas esquinas ou a vomitar nas ruas. No ano passado, até houve italianos que se passeram nus por alguns locais. Como se escreveu, Barcelona vive uma “revolução nas Ramblas”. Também nas praias da cidade se acumulam diariamente mais de duas toneladas de dejectos e de lixo de toda a espécie, incluindo latas, garrafas e papéis.
A situação é muito preocupante e Ada Colau, a presidente da municipalidade, decidiu tomar algumas medidas para melhor gerir um fluxo turístico que é vital para a economia da cidade, mas que utiliza milhares de alojamentos ilegais, que gera uma incontrolável especulação financeira e que perturba gravemente uma boa parte dos habitantes da cidade. Por isso, Ada Colau decidiu actuar e começou por suspender três dezenas de novos projectos turísticos “antes que o turismo mate o turismo”. No entanto, Ada Colau sabe que esta “invasão” resulta do livre desenvolvimento do mercado turístico e, por isso, nem ela nem ninguém na Catalunha veio reivindicar o mérito do “crescimento do turismo”, como aqui têm insinuado esses especialistas da propaganda que são Portas, Lima e os seus comentadores-papagaios. Nunca se viu tanto auto-elogio e, como se sabe, só os medíocres e os fracos se auto-elogiam.
 

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