sábado, 31 de agosto de 2024

Evocação do referendo de 1999 em Timor

Por diversas razões, incluindo as anomalias da descolonização portuguesa e a guerra civil timorense, no dia 28 de novembro de 1975 a Fretilin (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente) proclamou unilateralmente a independência daquele território que ocupa a parte oriental da ilha de Timor, mas essa declaração não foi reconhecida por Portugal, nem pelas Nações Unidas, nem pela comunidade internacional.
Por isso, no dia 7 de dezembro de 1975, quando as tropas portuguesas se limitavam a uma presença simbólica na pequena ilha de Ataúro, a vizinha e poderosa Indonésia invadiu a antiga colónia portuguesa da ilha de Timor que, de jure, ainda tinha soberania portuguesa, decretando a sua anexação. A repressão indonésia foi violenta e gerou uma resistência armada que lutou nas montanhas e criou dificuldades aos ocupantes. Estima-se que tenham morrido quase duzentos mil timorenses. Apesar de alguns países, como a Austrália e os Estados Unidos, terem aceite a ocupação indonésia, os sucessivos governos portugueses defenderam a causa timorense e mobilizaram a comunidade internacional para respeitar o direito do povo timorense a escolher o seu destino. Depois de um longo e complexo processo diplomático, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, conseguiu que os governos da Indonésia e de Portugal estabelecessem negociações e chegassem a um Acordo sobre a Questão de Timor-Leste, que previa a realização de um referendo, que veio a ser realizado no dia 30 de agosto de 1999. Foi há 25 anos e a generalidade dos mass media portugueses estiveram distraídos e não evocaram esse dia histórico, tanto para Portugal como para Timor-Leste. Uma das honrosas excepções foi o Et cetera, o suplemento semanal do Jornal Económico, cuja primeira página evoca a figura de Xanana Gusmão, ex-comandante da guerrilha timorense, ex-presidente eleito da República e actual primeiro-ministro de Timor-Leste.
Nesse dia 30 de agosto de 1999, sob a supervisão das Nações Unidas, houve 78,5% de timorenses que rejeitaram a proposta de autonomia especial de Timor-Leste, o que significava a independência e a separação da Indonésia.
A independência chegou no dia 20 de maio de 2002. Foi um dia memorável em Portugal. Quem se recorda desse dia?

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Israel radical também ataca a Cisjordânia

O território palestiniano situado a oeste do rio Jordão que é designado por Cisjordânia, ou West Bank, está ocupado militarmente por Israel, o que é ilegal à luz do Direito Internacional e das Resoluções das Nações Unidas.
O território é governado pela Autoridade Nacional Palestiniana presidida por Mahmoud Abbas mas, para além do seu controlo militar, o governo de Netanyahu decidiu agora lançar operações aéreas e terrestres em grande escala a que chamou operações antiterroristas. Assim, invadiu as cidades de Jenin, Nablus, Tubas e Tulkarem e outras áreas cisjordanas, com o apoio da aviação, de helicópteros e de veículos armados. Segundo os relatos de alguma imprensa internacional trata-se de “um dos ataques mais violentos em décadas na Cisjordânia” e o jornal Kuwait Times escreveu em título de primeira página que “Zionist terror hits West Bank”, o que significa que o terror atingiu a Cisjordânia. O insuspeito jornal The Washington Post escreveu ontem em primeira página que “massive Israeli raids kill at least 10”.
Alguns podem compreender a luta contra o Hamas que governa a Faixa de Gaza, como um direito de resposta israelita aos massacres e raptos de 7 de outubro, embora todos considerem injusto, excessivo e cruel o que tem sido feito ao povo palestiniano.
Outros podem compreender a reacção de Israel perante a ameaça do Hezbollah, uma organização política e paramilitar fundamentalista islâmica instalada no sul do Líbano.
Porém, ninguém compreende as acções israelitas nos territórios cisjordanos governados pela Autoridade Nacional Palestiniana onde já morreram mais de 650 palestinianos, desde o dia 7 de outubro. E ninguém compreende os silêncios de Joe Biden, de Ursula von der Leyen, de Emmanuel Macron, de Olaf Scholz e de tantos líderes que se comportam como cúmplices do massacre ao povo palestiniano.

Perda de um F-16: golpe para a Ucrânia

A edição de hoje do The Wall Street Journal publica na sua primeira página uma notícia com o título “Ukrainian Pilot Dies in F-16 Crash”, um facto que terá acontecido na passada segunda-feira, mas que só foi revelado quatro dias depois, certamente porque foi um duro golpe para as aspirações ucranianas.
A notícia avançada por diferentes agências diz que “a Ucrânia perdeu o primeiro dos seus caças F-16 de fabricação norte-americana durante o enorme ataque com mísseis e drones da Rússia na segunda-feira, matando o piloto, tenente-coronel Oleksiy Mes, um dos primeiros do país a ser qualificado para pilotar os caças avançados”. As autoridades militares ucranianas “não acreditam que um erro do piloto esteja por trás do acidente” e também afirmaram que "não parece ter sido resultado de fogo russo".
A longa pressão conduzida por Volodymyr Zelensky para que os seus aliados e amigos lhe cedessem caças F-16 tinha sido bem sucedida e as primeiras unidades tinham chegado à Ucrânia há poucas semanas, provenientes da Bélgica, Dinamarca, Países Baixos e Noruega. Havia a expectativa de que os F-16 poderiam desequilibrar a balança operacional a favor da Ucrânia, pelo que este acontecimento veio arrefecer os ânimos belicosos de muita gente e mostrar que a solução do problema ucraniano está na diplomacia, na negociação, no fim da destruição de vidas e bens, isto é, no cessar-fogo e na paz entre russos e ucranianos, mas também veio mostrar que aqueles que defendem o envolvimento de mais meios militares e até de tropas europeias, estão errados.
Haverá ainda quem pense que a guerra serve para solucionar algum problema?

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

O paradoxo dos negócios do armamento

Os negócios do armamento sempre foram muito lucrativos e a sua prosperidade depende das tensões internacionais e das guerras que delas derivam. 
Os aviões de combate são apenas um subconjunto nesse negócio e é sobre ele que trata a edição de hoje de La Tribune, um jornal económico e financeiro francês. A sua primeira página é dedicada ao avião de combate Dassault Rafale, construído pela Dassault Aviation, a propósito de uma possível nova encomenda de 12 unidades por parte da Sérvia que, dessa forma será, além da França, o oitavo país a escolher “os aviões de combate tricolores”.
No campo da aviação militar, tal como na área da aviação comercial, há uma enorme rivalidade entre construtores e, no caso dos aviões de combate, concorrem vários construtores europeus, designadamente com o Dassault Rafale (projecto da França), o Eurofighter Typhoon (projecto do Reino Unido, Alemanha, Itália e Espanha) e o Saab JAS 39 Gripen (projecto da Suécia). Neste negócio de muitos milhões, é caso para dizer “amigos, amigos… negócios à parte”.
O Dassault Rafale já equipa as forças aéreas da França, India, Egipto, Qatar, Croacia, Grécia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia; o Eurofighter Typhoon foi adoptado pelas forças aéreas do Reino Unido, Alemanha, Itália e Espanha, mas também pela Áustria, Arábia Saudita, Omã, Qatar e Kuwait; o Saab JAS 39 Gripen equipa as forças aéreas da Suécia, África do Sul, República Checa, Hungria, Tailândia e Brasil.
Há, portanto, uma verdadeira disputa por este riquíssimo nicho de mercado e de poder, sendo que cada um destes aviões custa cerca de cem milhões de euros, dependendo o preço da configuração escolhida pelo comprador. Significa que éste negócio se fundamenta num paradoxo terrível, pois é preciso que haja guerras, ou a ameaça de as haver, para alimentar a prosperidade ou a sobrevivência dos negócios do armamento.

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

EUA: Donald, Kamala e tudo por decidir

Depois de uma caminhada de muitos meses, a corrida eleitoral americana entrou agora na sua fase final com dois candidatos já oficializados pelos seus partidos que são, respectivamente, Donald Trump, republicano e ex-presidente com 78 anos de idade, e Kamala Harris, democrata e actual vice-presidente com 59 anos de idade.
O candidato democrata começou por ser o actual presidente Joe Biden, que demorou a reconhecer que estava diminuido física e cognitivamente. Tardou a passar o testemunho a Kamala Harris, mas ao desânimo que assolava as hostes democratas, sucedeu um novo alento na sua campanha, que gerou uma onda de euforia em torno da nova candidata, a que uma revista francesa chamou a kamalamania
Os americanos estão perante duas personalidades bem diferentes e, como referiu um jornal belga, são “duas visões totalmente opostas da América”. Como destacou, o jornal francês Le Parisien, na sua mais recente edição, “rien n’est joué”, ou nada está decidido. A verdadeira luta eleitoral vai agora começar e serão os temas internos – o emprego, a inflação, a saúde, os impostos, os imigrantes e o controlo das fronteiras, entre outros – que irão ser decisivos nas escolhas dos americanos. Porém, porque se trata da nação mais poderosa do planeta, as eleições nos Estados Unidos interessam a todo o mundo e, de forma especial, é sobre a política externa americana que todos se interrogam.
Nesse domínio, os republicanos e os democratas têm visões distintas, mas nem uns nem outros parecem ter soluções para os conflitos em curso, pois não é credível afirmar que se acaba com as guerras em 24 horas, mas também não é aceitável que tanta bomba americana esteja a destruir o povo palestiniano, nem que as nove viagens de Antony Blinken ao Médio Oriente não tenham chegado à paz ou à moderação de Netanyahu.
Quanto a sondagens há-as para todos os gostos.

domingo, 25 de agosto de 2024

A História é uma moeda com duas faces

A revista francesa L’Express foi criada em 1953 e entre os seus fundadores estava o famoso jornalista Jean-Jacques Servan-Schreiber que, pelo seu prestígio, tornou aquela revista num sucesso da comunicação social francesa e europeia, tendo inspirado muitos projectos jornalísticos em vários países que, por vezes, até o seu nome copiaram. Ao longo da sua vida o L’Express passou por diferentes proprietários, modelos de gestão e orientações editoriais situadas no campo da esquerda democrática, mas a partir de 1980 a sua orientação tem-se situado claramente à direita e, como se vê na última edição, assume características panfletárias. 
A revista entrou pelos caminhos da História e escolheu como capa da sua última edição, uma galeria dedicada a cinco tiranos encartados – Josef Stalin, Mao Tsé-Tung, Fidel de Castro, Pol Pot e Nicolas Maduro – classificando-os como “dictateurs qui ont tant fasciné la gauche”, com a curiosidade de incluir essa figura exótica e caricata que é Nicolas Maduro. Não sei se estes indivíduos fascinaram a esquerda, ou que sector das muitas esquerdas que existem, mas a História regista que estes homens aterrorizaram muitos outros homens, que foram tiranos e despóticos, que perseguiram, torturaram e mandaram matar muitos dos seus adversários, sem qualquer observância dos princípios que vieram a ser classificados como direitos humanos.
Porém, essa galeria é enganadora sob o ponto de vista histórico. O bem e o mal existem tanto à esquerda como à direita. Daí que nessa galeria poderiam ser incluídos muitos outros tiranos e tiranetes da nossa História recente, como Adolfo Hitler, Benito Mussolini, Francisco Franco, Augusto Pinochet e Benjamin Netanyahu que, como sabemos, também fascinam muita gente.
A História é como uma moeda e tem sempre duas faces. Não há meias Histórias como aquela que o L'Express nos quer contar.

sábado, 24 de agosto de 2024

Aste Nagusia, a grande festa de Bilbau

Estão a decorrer na cidade de Bilbau as Fiestas de Bilbao ou, utilizando a sua designaçáo em língua basca, a Aste Nagusia, que é o acontecimento cultural mais importante da cidade que se realiza anualmente.
As tradicionais festividades da cidade aconteciam no mês de agosto, mas com o fim do franquismo e o reconhecimento da identidade basca, a partir de 1978 foi criada a Aste Nagusia como uma importante celebração da cultura basca, das suas tradições e dos seus costumes, em que se estimulava a participação popular, mas também se divulgavam as actividades culturais de raíz basca.
As festividades são organizadas pelo Ayuntamiento de Bilbao e pelos Bilboko Konpartsak, que são grupos populares de voluntários organizados para apoiar a preparação das actividades. Diz a organização que “durante 9 dias, quienes se acercan a Bilbao pueden participar de cientos de actividades de todo o tipo: festivas, culturales, artisticas, deportivas”, das quais “más de 300 actividades programadas por el Ayuntamiento de Bilbao son gratuitas”, podendo destacar-se as dezenas de concertos de todos os tipos de música, as oito corridas de touros na Plaza de Toros de Vista Alegre e várias exposições, designadamente no Guggenheim Bilbao Museum.
Este ano, a Aste Nagusia teve uma novidade que foi assinalada na primeira página do jornal El Correo, com a visita, ou “o regresso a casa”, do navio-escola Guayas, uma barca da Marinha do Equador. Esta barca foi construída nos Astilleros Celaya de Erandio, na ria de Bilbao, os mesmos estaleiros que em 1967 construíram a barca colombiana Gloria e, em 1982, a barca mexicana Cuauhtemoc
O navio-escola Guayas deixara Bilbau em 1977 para a sua primeira viagem e, 47 anos depois, regressou ao porto onde foi construído para assistir à Aste Nagusia 2024.

Continua a crise política na Venezuela

Os resultados das eleições venezuelanas realizadas no dia 28 de julho foram anunciados dando a vitória a Nicolas Maduro com 51,2% dos votos, mas foram fortemente contestados desde a primeira hora, tanto pelo candidato derrotado Edmundo González Urrutia, como pela oposição venezuelana e pela generalidade da comunidade internacional. Desde logo, surgiram acusações de fraude e foi exigida a divulgação das actas das mesas eleitorais, para demonstrar, ou não, que houve manipulação na sua transcrição para o registo de apuramento final. 
Nas ruas surgiram manifestações de contestação aos resultados anunciados, mas também outras manifestações de apoio a Maduro e ao chavismo. No entanto, vários países reconheceram González como vencedor e muitos outros países exigiram a divulgação das actas eleitorais, mas Maduro conseguiu que as Forças Armadas lhe manifestassem apoio. Até ver…
Maduro controla todas as instâncias de poder na Venezuela e há dois dias, sem surpresa, ouviu-se a voz da Caryslia Beatríz Rodrígues, a presidente do Tribunal Supremo de Justicia (TSJ), a certificar de forma “inobjetable” os resultados eleitorais, conforme anunciou o jornal El Periodiquito que se publica na cidade de Maracay, no estado de Aragua. Com esta validação da sua reeleição por um TSJ, que é “um braço armado do chavismo”, Nicolas Maduro endureceu o seu discurso e as suas ameaças. Porém, tanto a Organização dos Estados Americanos como a União Europeia recusam reconhecer a vitória de Maduro até à verificação das actas eleitorais e há onze países americanos, incluindo os Estados Unidos, a Argentina, o Chile e o Perú, que se recusam aceitar a decisão do TSJ, enquanto o vizinho Brasil se mostra dialogante com Maduro para ultrapassar a crise política na Venezuela.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

EUA: a questão de Gaza e a luta eleitoral

A propósito da Convenção Nacional do Partido Democrata que hoje se encerra e que escolheu Kamala Harris como candidata à presidência dos Estados Unidos, as notícias televisivas têm mostrado unanimidade, muito entusiasmo e um enorme apoio que lhe tem sido dado, nomeadamente por Oprah Winfrey, Nancy Pelosi, os Clintons, os Obamas e outros dignitários. Porém, a edição de hoje do jornal Chicago Sun Times revela que os Democratas estão divididos pelo problema de Gaza. 
De acordo com aquele jornal, no exterior da Convenção estiveram muitos activistas a protestar contra a ofensiva israelita em Gaza, enquanto no interior da Convenção se manifestou um pequeno mas expressivo contingente de delegados democratas que suspendeu o apoio a Kamala Harris, até que ela “se comprometa a cortar o fornecimento de armas a Israel”. Muitos destes delegados estão alinhados com o movimento de protesto que tem apelado a Joe Biden para cortar o fluxo de armas americanas para Israel, destacando-se Abbas Alawich, delegado do Michigan, que disse da dificuldade em contactar as bases do partido, quando “vemos o assassinato em massa de crianças e bebés em Gaza usando armas dos Estados Unidos”. Durante o discurso de Joe Biden foi desfraldada uma faixa no salão da Convenção pedindo-lhe que “pare de armar Israel”, embora essa faixa tivesse sido imediatamente retirada por outros delegados. Num outro discurso, o senador Bernie Sanders, antigo candidato presidencial, afirmou que “devemos acabar com esta guerra horrível em Gaza” e, dirigindo-se a Kamala Harris, disse-lhe para que “traga os reféns para casa e exija um cessar-fogo imediato”.
Muitos delegados e congressistas Democratas alertaram que esta questão “pode inclinar a votação de 5 de novembro para o candidato republicano”, mas o que é significativo é o facto do conflito israelo-palestiniano e o apoio americano ao radicalismo israelita estarem no centro da luta eleitoral americana. De facto, ainda vai correr muita água debaixo das pontes durante a corrida eleitoral.

EUA: Kamala já chegou e Donald já treme

A Convenção Nacional do Partido Democrata termina hoje em Chicago com a oficialização da candidatura de Kamala Harris para defrontar Donald Trump, cuja candidatura fora oficializada há pouco mais de um mês em Milwaukee. Na sua edição de hoje o jornal francês Libération, destaca em manchete que “Kamala chega, Donald treme”, enquanto vários analistas têm referido que a campanha vai agora começar.
Nunca em Portugal se falou tanto de um país estrangeiro ou de umas eleições que nele se realizam, como tem acontecido nas últimas semanas, sobretudo devido à programação da CNN Portugal, um canal televisivo que dedica tanto tempo às eleições americanas que até parece que os portugueses vão votar, ou que Portugal é o 51º estado dos Estados Unidos. É um exagero e, como consequência, não se trata de Informação mas antes de uma prática a que se vem chamando Desinformação.
Os americanos irão escolher o seu presidente, homem ou mulher, mas qualquer que seja a sua escolha, o modo de vida americano continuará, a solidez das suas instituições políticas manter-se-à, os grupos de pressão serão os mesmos  e a sua política externa e as suas alianças não se vão alterar significativamente. O estilo presidencial pode mudar, mas com republicanos ou com democratas no poder, o mundo continuará a olhar para os Estados Unidos da mesma forma.
O sistema político americano assenta na alternância do poder e, nos últimos anos, viveram na Casa Branca, fazendo dois mandatos presidenciais, os presidentes Bill Clinton (D), George W. Bush (R) e Barack Obama (D). Em 2017 seguiu-se Donald Trump (R) que não foi reeleito e em 2021 foi eleito Joe Biden (D) que desistiu da sua recandidatura. O que vier a acontecer será uma novidade, quer seja o regresso de Trump à Casa Branca, quer seja uma mulher pela primeira vez na presidência. O que não há dúvidas, como o Libération hoje sugere, é que Kamala chegou e Donald treme.

sábado, 17 de agosto de 2024

EUA: até parece que vale tudo na política

As eleições presidenciais americanas vão realizar-se no próximo dia 5 de novembro e são um dos grandes acontecimentos mundiais dos próximos meses, porque vão influenciar o futuro do mundo. Faltam apenas 80 dias para uma disputa eleitoral que, em todo o mundo, é estudada pela comunidade académica, através da Sociologia, da Comunicação e do Marketing, com a análise detalhada das frequentes sondagens e das estratégias de comunicação utilizadas pelos candidatos para influenciar os eleitores e conquistar votos. Dizem os especialistas que nenhuma disputa eleitoral é tão dura como as eleições presidenciais americanas e, em breve, os americanos vão ter de escolher entre os candidatos Republicano e Democrata, ou entre Donald Trump e Kamala Harris, cada qual com os seus discursos mais ou menos aliciantes para o eleitorado.
A campanha eleitoral americana é sempre personalizada e muito agressiva, utilizando muitas vezes o insulto pessoal, a crítica ao passado dos candidatos e os seus escândalos próprios ou das suas famílias, enquanto os projectos para o futuro não são discutidos. Tudo isto decorre num ambiente de manipulaçáo comunicacional e num quadro de concorrência mediática que envolve muito dinheiro, daí resultando que as televisões e os jornais não costumam ser neutrais e declaram apoio a um dos candidatos. Assim sucede, por exemplo, com o New Yok Post, um tablóide nova-iorquino que é o 13º jornal mais antigo e o 7º de maior divulgação nos Estados Unidos, que apoia Donald Trump e que há dias publicava em primeira página a fotografia de Kamala Harris com o título Kameleon, mas que hoje publica a fotografia de Kamala Harris com o título Kamunism
Até parece que do lado de lá do Atlântico vale tudo… Nós não estamos habituados a este tipo de agressividade política e de insulto pessoal nas nossas campanhas eleitorais.

Tragédia: mais de 40.000 mortos em Gaza

A imprensa árabe do Golfo, nomeadamente o jornal The National que se publica em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, destaca nas suas edições de hoje que o número de mortos em Gaza já ultrapassa os 40.000 e que, segundo as autoridades sanitárias palestinianas, desde outubro de 2023, o número de feridos já ascende a 92.400. Estes números são chocantes e se os juntarmos às imagens da brutal destruição do território de Gaza, ficamos com a dimensão de uma tragédia e de um crime contra a humanidade, que muitos dirigentes mundiais e até os mass media parecem ignorar.
A acção do Hamas de 7 de outubro de 2023 foi um acto de natureza terrorista, cometido com barbaridade contra civis indefesos, que se enquadra na tipologia do crime de guerra e do crime contra a humanidade. Houve centenas de mortos, centenas de reféns israelitas e, naturalmente, Israel reagiu para punir o Hamas.
Porém, depressa adoptou uma estratégia que vem sendo classificada como de genocídio do povo palestiniano, pois tratou de todos massacrar sem cuidar de saber se eram ou não eram do Hamas. A Faixa de Gaza foi destruída pela brutalidade israelita e está em curso uma tragédia humanitária, mas o governo israelita tem ignorado todas as recomendações da comunidade internacional para se moderar e parar com a sua vingança que se manifesta todos os dias sobre hospitais e escolas, com o pretexto de que alojam terroristas. O Tribunal Penal Internacional acusou Netanyahu por crimes de guerra mas, como se viu recentemente, ele atravessou o Atlântico e foi recebido apoteoticamente nos Estados Unidos, regressando a Israel com a garantia de todo o apoio militar de que necessita.
Entretanto, a Espanha, a Noruega e a Irlanda reconheceram o Estado da Palestina para abrir caminho para a solução de dois Estados na região (Israel e Palestina), o que desde sempre foi defendido pelas Nações Unidas. O cessar-fogo é necessário, mas as inúmeras viagens de Antony Blinken ao Médio Oriente nada fizeram pela paz e apenas asseguraram o apoio americano ao regime de Netanyahu.
Por cá pouco se comenta esta tragédia humanitária e os espaços televisivos estão dominados por gente que serve Israel e que até confunde palestinianos com terroristas.

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Código Civil português inspira lei indiana

A Índia é uma união de 29 estados e 7 Union territories, que tem 1.441 milhões de habitantes e é o mais populoso país do mundo. Herdeira de uma civilização milenar, é hoje um grande país com uma complexa teia de diversidades religiosas, culturais e linguísticas e, com 22 línguas oficiais, centenas de dialectos e vários tipos de escritas.
Depois de muitos anos em que a “dinastia” de Jawaharlal Nehru e o Congress Party estiveram no poder, em 2014 as eleições parlamentares foram ganhas pelo Bharatiya Janata Party (BJP). Com este resultado, o nacionalismo hindu subiu ao poder e Narendra Modi tornou-se primeiro-ministro, com a oposição a acusá-lo de grande radicalismo religioso e de deriva ditatorial.
Ontem, dia 15 de agosto, a Índia celebrou com a pompa do costume, o 77º aniversário da sua independência e Narendra Modi presidiu ao habitual e imponente desfile militar em Nova Delhi e discursou, tendo salientado que a India tem necessidade de “a new ‘secular’ civil code”, como hoje destaca o jornal Hindustan Times e toda a imprensa indiana de referência.
Acontece que as leis indianas têm códigos específicos para as diferentes regiões e religiões, sobretudo muçulmanas e hindus, mas também para as diferentes castas. Porém, os antigos territórios portugueses do Estado da Índia, nomeadamente Goa e Damão são a excepção, pois os goeses e os damanenses têm um único Código Civil Uniforme (UCC), copiado do Código Civil português de 1867 e que abrange todas as religiões, com leis que regem tudo, desde a igualdade de género no casamento, até à herança pessoal.
É realmente espantoso como, depois de terem sido hostilizados muitos daqueles que defenderam a extensão do Código Civil português como modelo para um UCC para toda a Índia, venha agora Narendra Modi dizer que “o UCC já existe no estado de Goa e todos vivem felizes lá”, mas sem nunca referir que o código que existe em Goa e Damão foi criado pelos portugueses. Se fosse vivo, o advogado goês Manohar Usgaocar, de quem fui amigo, haveria de sorrir. Afinal, os portugueses que são atacados por terem levado a Inquisição para Goa, fizeram por lá muitas coisas respeitáveis e que ainda são modelares.

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

As Festas de Nossa Senhora da Agonia

Gabriela Sampaio e o cartaz de 2024
Começam hoje em Viana do Castelo e vão decorrer até ao dia 22 de agosto as Festas de Nossa Senhora da Agonia, que são a maior romaria que se realiza em Portugal, mas não cabe neste breve texto a descrição estética e cultural deste acontecimento popular único, que atrai mais de um milhão de pessoas àquela cidade minhota, seduzidas por um espectáculo sem paralelo no noso país. Durante os oito dias da romaria há um pouco de tudo o que acontece nas festas populares portuguesas, incluindo muita música, fogo-de-artifício, bandas filarmónicas, gastronomia e feiras de artesanato, mas nas Festas de Nossa Senhora da Agonia há muito mais, destacando-se o deslumbrante Desfile da Mordomia, o Cortejo Histórico e Etnográfico, a Procissão Solene em honra de Nossa Senhora da Agonia, o Festival de Concertinas e Cantares ao Desafio, o Desfile de Grupos de Bombos e Cabeçudos e a Procissão ao Mar, que é um dos mais emblemáticos momentos da romaria. Nesta procissão, os pescadores carregam até ao cais os andores de Nossa Senhora da Agonia, de Nossa Senhora de Monserrate, de Nossa Senhora dos Mares e de São Pedro, que são embarcados e transportados nas embarcações embandeiradas em desfile, ou procissão marítima, ao longo do rio Lima, a que se sucede o desembarque e o regresso dos andores que percorrem as ruas cobertas de tapetes de flores.
Tudo o que nestes dias se vai passar em Viana do Castelo é um deslumbramento! Além de tudo isto, nas festas de 2024 há duas grandes novidades. A primeira é que a Mordoma das Festas de Nossa Senhora da Agonia que se chama Gabriela Sampaio foi, pela primeira vez, escolhida através de um concurso tendo ficado com o direito a figurar no cartaz da Romaria d’Agonia. A segunda novidade é a participação no Cortejo Histórico e Etnográfico, envergando trajes tradicionais minhotos, do campeão olímpico Iúri Leitão e da sua noiva, ambos minhotos.
Neste quadro festivo, aqui deixo uma mensagem de grande admiração pela cultura popular minhota e um abraço ao meu amigo FSM, um orgulhoso vianense que é fiel às suas raízes e está sempre com a Romaria d’Agonia.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Mais tensão entre a Ucrânia e a Rússia

Terminaram os Jogos Olímpicos de Paris e a cerimónia de encerramento foi caracterizada pela criatividade, espectacularidade e perfeita harmonia entre a estética e a tecnologia. A imprensa referiu-se-lhes como “deslumbrantes” e o elogio à organização foi unânime. Porém, nessa grande festa, merece um especial destaque o discurso final de Thomas Bach, o presidente do Comité Olímpico Internacional, pelo seu apelo à paz e à concórdia entre todos os países do mundo, estivessem ou não ali representados.
Porém, o mundo vai regressar ao seu normal, incluindo a continuação das diversas crises que estão a perturbar o planeta, designadamente o conflito da Ucrânia, onde se registaram novos e surpreendentes acontecimentos, como revelou no sábado a edição do jornal inglês The Independent.
De acordo com aquele jornal, as forças militares ucranianas entraram em profundidade no território russo e ameaçam a cidade de Kursk que fica situada a pouco mais de cem quilómetros da fronteira, afirmando que esta acção é uma humilhação para Putin, que tratou de retaliar com novos bombardeamentos sobre a cidade de Kiev. Independentemente de se saber se os russos vão ou não vão travar esta ofensiva, ou de se saber se os ucranianos vão continuar a avançar, se conservam as suas posições ou se recuam, esta acção significa um sério agravamento da situação militar.
Naturalmente, uma acção militar destas já desencadeou as mais diversas análises feitas pelos comentadores e comentadoras das nossas televisões, mas parece não haver dúvidas de que se trata de um inesperado sucesso militar ucraniano que vem reforçar o ânimo dos seus combatentes e dos seus aliados, embora haja quem defenda que esta acção se enquadra numa movimentação preparatória de um cessar-fogo, como é cada vez mais reclamado pelo mundo.
O conflito em causa é histórico, cultural e político e, como aqui escrevemos várias vezes, não tem solução militar, pelo que é preciso que a Diplomacia avance para encontrar as melhores soluções.

domingo, 11 de agosto de 2024

Paris 2024: finalmente o ouro chegou!

Os Jogos da XXXIII Olimpíada, ou os Jogos Olímpicos de Paris 2024, terminam hoje e a televisão mostrou-nos como foram um grande acontecimento desportivo e cultural, mas também político. O presidente Emmanuel Macron pode sentir-se aliviado pela forma como tudo correu, pela imagem de grandeur que a França transmitiu ao mundo, pelos resultados desportivos dos seus compatriotas e até por ver nas bancadas muitas bandeirinhas agitadas pelos mesmos franceses que, duas semanas antes, muito o contestaram, muito protestaram e muito tinham vandalizado o espaço público. Durante duas semanas foram esquecidos os males dos franceses e todos os males do mundo, ao mesmo tempo que as gentes de todos os continentes compreendiam como é bom viver em paz e harmonia universal.
Portugal conquistou quatro medalhas olímpicas, tantas como em Tóquio 2020. Podia ter sido melhor, mas foi bom. Patrícia Sampaio (cobre), Iúri Leitão e Pedro Pichardo (prata) já sido tinham medalhados, mas ontem o mesmo Iúri Leitão e o seu parceiro Rui Oliveira participaram na prova ciclista de madison, uma corrida em pista muito difícil de acompanhar. Lutaram, brilharam e ganharam a medalha de ouro. Foi uma enorme emoção e uma festa extraordinária. Foi a 32ª medalha olímpica que veio para Portugal desde que em 1912 começamos a participar nos Jogos Olímpicos e a 6ª medalha olímpica de ouro do desporto português.
Depois de muitos dias sem medalhas e com algumas frustrações, Iúri Leitão e Rui Oliveira resgataram o nosso orgulho desportivo e colocaram Portugal no 50º lugar do medalheiro olímpico, um ranking em que entraram 84 dos 206 países ou organizações participantes, como os AIN – Atletas Individuais Neutros e a EOR – Equipa Olímpica de Refugiados.
Com a vitória de ontem, vieram para Portugal quatro das 1044 medalhas distribuídas nos Jogos de Paris 2024. Hoje, a edição do jornal A Bola destaca em primeira página o inesquecível feito desportivo dos dois jovens ciclistas portugueses. Foi uma grande alegria e daí o nosso entusiástico aplauso.

sábado, 10 de agosto de 2024

Pichardo, a prata e a nossa auto-estima

Ao 14º dia de provas em Paris a delegação portuguesa conquistou a sua terceira medalha olímpica na prova do triplo salto, na qual o atleta Pedro Pichardo saltou 17,84 metros e ficou apenas a dois centímetros do vencedor. Foi um alívio para os desportistas portugueses, porque as três medalhas já conquistadas em Paris igualam o resultado de Los Angeles 1984 e de Atenas 2004, aproximando-se do nosso melhor resultado olímpico de sempre, isto é, quatro medalhas em Tóquio 2020.
Pedro Pichardo ganhara a medalha de ouro em Tóquio e, agora em Paris 2024, voltou a subir ao pódio com uma medalha de prata, o que significa que com estas duas medalhas igualou o melhor resultado olímpico português de sempre, que passa a repartir com o famoso fundista Carlos Lopes, que em 1984 tinha trazido para Portugal a primeira medalha olímpica de ouro.
A edição de hoje do jornal Diário de Notícias deu grande destaque à proeza atlética de Pichardo e publicou a sua fotografia exibindo uma enorme bandeira portuguesa, mas um outro jornal português escreveu que “Paris viveu a hora P” do atletismo português: P de Portugal, P de Paris, P de prata e um quádruplo P de Pedro Pablo Pichardo Peralta.
Naturalmente, aqui fica o nosso aplauso pela medalha de Pedro Pichardo e o nosso agradecimento pelo seu contributo para a elevação da nossa auto-estima desportiva.

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

O ciclista Iúri Leitão é mesmo um campeão

Depois de muitos dias em que os portugueses esperaram com ansiedade e expectativa os resultados dos seus olímpicos em Paris, ao 13º dia de provas o ciclista Iúri Leitão deu-nos uma grande alegria ao conquistar a medalha de prata em ciclismo de pista, na modalidade de omnium. Com esta medalha, que se junta à medalha de bronze conquistada pela judoca Patrícia Sampaio, a equipa olímpica portuguesa soma, por agora, duas medalhas. É pouco, sobretudo quando nos comparamos com países europeus semelhantes ao nosso que “se fartam de ganhar medalhas”, como os Países Baixos (25), a Hungria (11), a Suécia (9), a Suiça, a Grécia e a Irlanda (7), ou a Bélgica e a Croácia (6).
Por isso, o sucesso de Iúri Leitão entusiasmou-nos, serviu para levantar a nossa auto-estima desportiva e até levou o jornal A Bola a dedicar-lhe a sua primeira página na edição de hoje, o que é realmente justo e curioso, exactamente porque hoje se inicia a Liga Portuguesa de Futebol Profissional e "um poder mais alto se alevanta".
Portugal participou em todas as edições dos Jogos Olímpicos realizadas desde 1912 em Estocolmo e, nas suas 26 participações, conseguiu conquistar 30 medalhas olímpicas, a última das quais aconteceu ontem através de Iúri Leitão, a quem aqui deixamos o nosso aplauso pelo seu sucesso desportivo e pela sua medalha.

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Cabo Verde brilha nos jogos de Paris 2024

A competição olímpica dá visibilidade a cada um dos países participantes e, para os mais pequenos, é um factor de afirmação da identidade nacional e de prestígio internacional, mas também um sinal de resistência aos atropelos por que vai passando o ideal olímpico. A maioria desses países participa nas Olimpíadas apenas pela vontade de se mostrar ao mundo e sem que os resultados desportivos ou as medalhas sejam o seu objectivo principal, isto é, segue o lema do Barão Pierre de Coubertin - “O importante não é vencer mas competir… com dignidade".
Porém, por vezes acontecem excepções, como aconteceu agora em Paris com a participação do atleta cabo-verdiano David de Pina, que se tornou o primeiro atleta do seu país a ganhar uma medalha olímpica. Aconteceu no boxe na categoria de menos de 51 kilos, em que venceu um tailandês e um zambiano, mas perdeu nas meias-finais com um uzbeque que fora campeão olímpico em 2016. Ficou com a medalha de bronze e tornou-se o primeiro medalhado cabo-verdiano em Jogos Olímpicos.
David de Pina vive em Portugal desde há vários anos e, há poucos meses, viu-se forçado a deixar de treinar para trabalhar na construção civil, “porque a bolsa que recebe todos os meses é insuficiente para ser atleta e sustentar a família”. Voltou a dedicar-se ao boxe a tempo de competir em Paris e protagonizar este “feito histórico”, fruto de “muito trabalho, dedicação e sacrifício”, como se lhe referiu a Embaixada de Cabo Verde em Portugal. 
O semanário Expresso das Ilhas, que se publica na cidade da Praia, dedicou-lhe a sua primeira página na edição de hoje e, porque “a nação cabo-verdiana está em festa”, a Embaixada de Cabo Verde em Portugal “convida todos os cabo-verdianos a acolher o jovem herói cabo-verdiano David de Pina no aeroporto de Lisboa no dia 12 de Agosto, pelas 22:30, com ‘a morabeza de sempre’ dos cabo-verdianos.
Um grande aplauso para David de Pina.

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

EUA: a corrida eleitoral vai agora começar

Após a desistência de Joe Biden da sua corrida para a presidência dos Estados Unidos, a candidatura de Kamala Harris não só veio travar a acelerada queda reputacional dos democratas, como permitiu o relançamento e a unidade do Partido Democrata, trazendo para a campanha novos e generosos apoios, um novo entusiasmo dos eleitores, um novo discurso político e uma outra agressividade em relação ao seu adversário, o candidato republicano Donald Trump.
O entusiasmo em torno de Kamala Harris fez com que, antes da convenção democrata que vai acontecer entre 19 e 22 de agosto, tivesse havido uma votação online que decorreu durante cinco dias, na qual os delegados democratas à convenção anteciparam a sua escolha, o que permitiu que, na noite do dia 5 de agosto, o Partido Democrata tivesse nomeado oficialmente Kamala Harris como a sua candidata presidencial. No dia seguinte, a candidata escolheu Tim Walz, o governador do Minnesota, como candidato do seu partido à vice-presidência. Os jornais americanos, designadamente o The New York Times, destacaram essa escolha na sua edição de hoje que, aparentemente, veio valorizar a candidatura democrata.
A partir de agora, se do lado republicano já havia o par Trump-Vance, do lado democrata apareceu o par Harris-Walz.
A verdadeira luta eleitoral vai agora intensificar-se quando faltam apenas noventa dias para uma eleição presidencial que é importante para os Estados Unidos e para o mundo. O nosso futuro também depende das próximas escolhas políticas americanas. Nesta altura há sondagens e previsões para todos os gostos, ao mesmo tempo que as televisões portuguesas dedicam alargados espaços ao momento político americano, quase parecendo que Portugal é o 51º estado dos Estados Unidos.
Noventa dias é pouco tempo, mas também é muito tempo. 
A Terra continuará a girar em torno do sol...

Cuba e o seu pentacampeão olímpico

Nos Jogos Olímpicos que estão a decorrer em Paris participam 206 países e 10.714 atletas que competem em 32 modalidades desportivas e, naturalmente, vão acontecendo proezas invulgares protagonizadas por muitos dos atletas participantes, que vão justificando o lema olímpico Citius, Altius, Fortius, isto é, mais rápido, mais alto, mais forte.
O caso do lutador cubano Mijaín López Núñez que, aos 41 anos de idade, acaba de vencer a final olímpica de luta greco-romana na categoria de peso superpesado (até 130 kilos), merece ser destacado porque, pela primeira vez, um atleta olímpico conquistou cinco medalhas de ouro consecutivas na mesma categoria. O atleta Mijaín López Núñez já era pentacampeão pan-americano e pentacampeão mundial de luta greco-romana, mas agora tornou-se pentacampeão olímpico, pois venceu a mesma prova em Pequim 2008, em Londres 2012, no Rio 2016, em Tóquio 2020 e, agora, em Paris 2024, onde bateu os seus adversários do Azerbaijão, do Irão, da Coreia do Sul e do Chile, sempre de forma expressiva. É um caso único na história das modernas Olimpíadas e o jornal Granma, o “organo oficial del Comité Central del Partido Comunista de Cuba”, destacou esta proeza do atleta cubano com fotografia e com a frase “Mijain es Cuba”. Por sua vez, o atleta reconhecido afirmou “sentirse orgulloso de ser cubano, de darle a Cuba todo lo que me enseñó”, pois “cada medalla olímpica y mundial lleva ese sentimiento”.
Esta intimidade cubana entre Desporto e Política, que ressalta da notícia do Granma, só aparentemente impressiona, porque o ideal olímpico está cada vez mais adulterado e a generalidade dos atletas olímpicos de todos os países do mundo beneficia de substanciais apoios governamentais para a sua preparação, embora poucos mostrem a gratidão de Mijaín López Núñez.
Sim, o desporto olímpico já não é o que era…

Caças F-16 chegaram à Ucrânia. E agora?

Volodymyr Zelensky e a imprensa internacional anunciaram que os primeiros caças F-16 de fabrico americano, há muito pedidos pelo governo ucraniano, já se encontram no país, embora também tenha sido revelado que este número é insuficiente para as necessidades e que há falta de pilotos habilitados para os operar.
Apesar de meio mundo andar anestesiado com os Jogos Olímpicos, a edição de hoje do jornal La Dépêche du Midi, que se publica em Toulouse, dá notícia deste acontecimento e pergunta de estaremos perante um ponto de viragem na guerra. Eu respondo: não sei se é ponto de viragem, mas é certamente um sinal de agravamento do conflito e, portanto, aumentam os riscos da guerra alastrar aos países vizinhos ou mesmo aos aliados da NATO. De facto, depois dos tanques alemães Leopard e dos tanques americanos M1 Abrams, a seguir aos mísseis dos mais diversos tipos e aos sistemas de defesa aérea, agora a aposta é feita nos caças F-16, o que parece dar razão aos observadores que têm afirmado que “a NATO já está na Ucrânia e está cada vez mais alinhada com a política externa americana”. A chegada destes primeiros dez aviões F-16 tem um significado essencialmente simbólico, mas levanta uma questão abundantemente divulgada na internet: “if the F-16’s fail, what is the next wonder weapon the West can send to Ukraine?”. Daí que o uso de armas nucleares tácticas seja uma permanente ameaça e possa ser o passo seguinte.
Ao fim de tanto tempo, tanta tragédia humana e tanta destruição, continua a ser incompreensível a lógica de guerra que partilham ambas as partes, bem como os seus aliados e amigos. Entretanto, o governo chinês apresentou uma proposta para acabar com a guerra na Ucrânia que tem o apoio de 110 países e, segundo revela a imprensa, “mais de metade dos ucranianos quer negociações com a Rússia para acabar a guerra”, enquanto “a maioria dos russos defende a abertura de negociações de paz para a guerra da Ucrânia”. Com este quadro informativo pode perguntar-se porquê se insiste tanto na guerra, ou que interesses estão por detrás dela.

terça-feira, 6 de agosto de 2024

Biles, Marchand, Evenepoel e… Duplantis

Como se esperava, os Jogos Olímpicos de Paris têm sido uma grande festa e as reportagens televisivas têm-nos mostrado um enorme envolvimento da cidade e da sua população, mas também grandes espectáculos desportivos, em que se têm destacado verdadeiras estrelas
A imprensa dos diversos países tem acompanhado as competições e anunciado os feitos dos seus atletas, escolhendo aqueles que se destacam pelas suas proezas, que passam a ser idolatrados nos seus países como símbolos do orgulho nacional ou, até, como  exemplos de uma qualquer superioridade.
A imprensa americana tem destacado Simone Biles, a ginasta de 1,42 metros de altura, que desde Tóquio tem sido a figura maior da ginástica artística e já ganhou mais de uma dezena de medalhas olímpicas. A imprensa francesa encontrou o seu ídolo nas proezas do nadador León Marchand que já ganhou quatro medalhas de ouro, estabelecendo recordes olímpicos nas quatro provas em que participou. Os belgas rejubilaram eufóricos com as medalhas de ouro ganhas no contrarelógio e na prova de estrada pelo ciclista Remco Evenepoel. O entusiasmo no Brasil concentrou-se nas vitórias da judoca Beatriz Sousa e da ginasta Rebeca Andrade, esta porque se tornou a mais medalhada atleta olímpica brasileira de todos os tempos e, também, porque ganhou a Biles. Em sentido inverso, vimos a imprensa espanhola resignada e triste com os insucessos de Rafael Nadal e de Carlos Alcaraz, que viram o seu rival sérvio Novak Djokovic ganhar a medalha de ouro do ténis aos 37 anos de idade. Porém, o caso porventura mais sensacional que até agora aconteceu em Paris terá sido a vitória de sueco Armand Duplantis, que ganhou com invulgar brilho a prova do salto à vara e com um novo recorde mundial.
Simone Biles, León Marchand, Rebeca Andrade, Remco Evenepoel e alguns outros campeões foram excepcionais, mas… Duplantis terá sido ainda mais excepcional.
O diário sueco Nagens Nyheter, que se publica em Estocolmo, não costuma trazer o desporto para a sua primeira página, mas na sua edição de hoje homenageou Duplantis e o seu salto de 6,25 metros, com uma bela fotografia.

domingo, 4 de agosto de 2024

A escandalosa voracidade da nossa banca

A imprensa anunciou ontem que a banca portuguesa, que no ano de 2023 registara os seus maiores lucros de sempre, está a repetir esses lucros históricos em 2024. É uma boa notícia para a banca e para os banqueiros, mas é uma triste notícia para os depositantes e para quem necessita de crédito para a sua vida corrente, que se vê diariamente extorquido pelos apetites vorazes da banca, incluindo a banca pública.
A notícia apareceu na edição do oje – jornal económico, mas também foi destacada noutros periódicos: os cinco maiores bancos portugueses – BCP, BPI, CGD, Novo Banco e Santander – lucraram mais de 2619 milhões de euros no 1º semestre do ano de 2024, o que significa um lucro diário de 14 milhões de euros e um crescimento de 31% nos lucros relativamente ao ano anterior. A CGD teve o maior crescimento absoluto de lucro pois conseguiu 889 milhões de euros, o que significa um aumento de 281 milhões de euros relativamente ao 1º semestre de 2023, enquanto o Santander foi o banco cujos lucros mais cresceram em termos relativos, ao registar um lucro de 547,7 milhões de euros, correspondentes a um crescimento de 64,2% do seu lucro.
Os banqueiros explicam estes números com a margem financeira, o indicador que mede a diferença entre os juros cobrados nos créditos concedidos e os juros pagos nos depósitos, que atingiu 1426 milhões de euros durante o semestre, mas também nos proveitos com as comissões que atingiram 289 milhões de euros.
De facto, estes escandalosos resultados resultam da voracidade da banca e assentam na margem financeira e na cobrança de comissões por tudo e por nada, como por exemplo na “comissão de manutenção de conta”, uma verdadeira prática de extorsão praticada contra os depositantes e que, mensalmente, me vai ao bolso. Embora esses resultados também resultem de um maior dinamismo comercial e da melhoria operacional da estrutura da banca, da situação económica do país e da significativa redução das imparidades dos créditos, a prepotência da banca é mesmo um verdadeiro escândalo.
Estes números parecem referir-se a um país de grande actividade económica, de enorme riqueza e de muita prosperidade, mas na verdade referem-se a Portugal e recordam-nos “O Canto e as Armas”, uma obra publicada em 1967 por Manuel Alegre, certamente o livro mais cantado em Portugal, que inclui o Poemarma e o verso que apela a “que o poema [...] chegue ao banco e grite: abaixo a pança!”. Um belo poema!

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

A 1ª medalha olímpica chegou a Portugal

Ao sétimo dia das provas olímpicas em Paris, os portugueses tiveram a alegria de ver uma atleta portuguesa ser medalhada, pois Patrícia Sampaio conseguiu o terceiro lugar e a correspondente medalha de bronze na prova de judo feminino para menos de 78 quilogramas. 
Não foi a estreia olímpica de Patrícia Tavares que em 2021 participou nas Olimpíadas de Tóquio 2020, onde chegou aos oitavos de final.Muitos portugueses, provavelmente já desesperavam por ver o nome do nosso país no medalheiro olímpico, pelo que este sucesso inesperado de Patrícia Sampaio, que correspondeu à 29ª medalha olímpica conquistada por portugueses em todas as suas participações olímpicas, veio dar algum ânimo aos desportistas portugueses.
Ontem tínhamos criticado a indiferença noticiosa da comunicação social portuguesa relativamente ao brilhante desempenho dos nossos triatletas Vasco Vilaça e Ricardo Baptista que se classificaram em 5º e 6º lugares na prova do triatlo, bem como de outros atletas como o ciclista Nelson Oliveira que obteve o 7º lugar na prova de contrarelógio, ou a atiradora Inês Baptista que conseguiu o 8º lugar na prova de tiro com arco.
O facto é que nas suas edições de hoje, a generalidade da imprensa portuguesa destacou em primeira página, o feito e a foto de Patrícia Sampaio, incluindo os jornais Público e Diário de Notícias, o que aqui vivamente saudamos, embora o apreço pelos atletas não tenha necessariamente de ser expresso apenas quando ganham medalhas.

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

O brilhantismo dos triatletas portugueses

Disputou-se ontem em Paris a prova do triatlo masculino dos Jogos Olímpicos. Trata-se de uma prova que foi incluida pela primeira vez no programa dos Jogos Olímpicos de Sydney no ano de 2000, cujo formato consiste em três módulos ultrapassados de uma forma única e sem interrupção, respectivamente 1.500 metros de natação em águas abertas, seguidos de 40 km de ciclismo e de uma corrida em estrada de 10 km.
Com base nas performances reconhecidas oficialmente, a organização aceitou apenas 55 concorrentes oriundos de 41 países, neles se incluindo os triatletas portugueses Vasco Vilaça e Ricardo Baptista.
Ao contrário do que se passou com outros atletas e ex-atletas olímpicos que foram muito promovidos nos jornais e na imprensa portuguesa, ninguém conhecia Vasco Vilaça nem Ricardo Baptista, que foram praticamente ignorados pela comunicaçáo social. Porém, ontem, em directo pela televisão, pudemos ver a excelência da participação destes dois jovens que concluiram nas ruas de Paris e sob o incentivo de muitos portugueses, a sua extraordinária prova em quinto e sexto lugares, o que representa o melhor resultado até agora conseguido pelos olímpicos portugueses.
O triatlo é uma prova duríssima e muito exigente, pelo que os seus praticantes merecem o nosso aplauso, sobretudo quando conseguem tão bons tresultados como aconteceu com Vasco Vilaça e com Ricardo Baptista. Porém, a imprensa portuguesa, tanto de informação geral como desportiva, voltou a ignorar esta façanha do desporto português, preferindo enfatizar a figura do futebolista João Neves que foi vendido a um clube de Paris, que é propriedade de um árabe.
Neste espaço deixamos o nosso aplauso ao comportamento dos nossos triatletas e, como se trata de um caso desportivo, deixamos um cartão amarelo aos homens que fazem os jornais e aos seus gatekeepers, pela sua falta de sensibilidade noticiosa.

Ser gigante em Paris e em Brasília

A edição de hoje do Correio Braziliense destaca com a palavra “gigantes” o sucesso da equipa feminina de ginástica artística brasileira que obteve o terceiro lugar na sua prova olímpica em Paris, depois dos Estados Unidos e da Itália e, portanto, à frente de algumas potências mundiais da ginástica artística, como a China, o Japão e a Roménia. Foi um feito inesperado e grandioso do desporto brasileiro, através do desempenho de cinco excepcionais ginastas que “levaram o Brasil às lágrimas”, como se referiu aquele jornal a esse notável resultado. 
Porém, o sucesso já foi mais longe e a comitiva olímpica brasileira que tem 274 atletas, apesar da “procissão ainda estar no adro”, já conquistou quatro medalhas olímpicas (uma de prata e três de bronze), no judo e no skate, para além da ginástica artística.
O respeitável jornal Correio Braziliense elegeu o resultado da ginástica artística para ilustrar a sua primeira página, embora tivesse omitido outros gigantes que, não estando a competir em Paris, conseguiram grandes resultados académicos na Universidade de Brasília que, em certo sentido, também são um desporto e, em boa verdade, com o mesmo tipo de exigência. Por isso, aqui fica minha homenagem àqueles e àquelas que foram “gigantes” nas provas disputadas, não só em Paris 2024, mas também nas exigentes provas que disputaram na Universidade de Brasília.