quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Os especuladores não cedem à Argentina

O navio-escola argentino Libertad fazia a sua habitual viagem de instrução anual, tendo a bordo mais de trezentos tripulantes e alunos, incluindo cadetes de outros países sul-americanos. O navio tinha largado de Buenos Aires no dia 2 de Junho e, no dia 2 de Outubro, encontrava-se no porto de Tema, nas proximidades de Accra, a capital do Ghana. Foi aí que o navio foi surpreendido por uma ordem judicial emitida pelo Supremo Tribunal do Ghana que o impedia de sair do porto, dando provimento a uma queixa apresentada por um grupo de investidores das Ilhas Cayman, agrupados no Fundo NML, que é controlado pelo especulador internacional Paul Singer e que reclama o pagamento pela República Argentina de cerca de 370 milhões de dolares. Era o arresto ou uma quase penhora de um navio da Marinha de Guerra Argentina! O Fundo NML tem procurado apropriar-se judicialmente de bens argentinos no estrangeiro (aviões, agências bancárias e até o património da família Kirchner), no sentido de ser ressarcido do dinheiro que emprestou à República Argentina e, agora, escolheu o Libertad como alvo. Porém, o Fundo NML não aceitou participar no sindicato que em 2005 e 2010 possibilitou a reestruturação da dívida externa argentina, que permitiu superar a situação de bancarrota declarada em 2001, tendo por isso ficado fora do plano de pagamentos argentino. É, portanto, um caso de vingança a demonstrar a força dos especuladores internacionais!
Para a Argentina está-se perante uma grosseira violação da Convenção de Viena, uma vez que os navios militares estão protegidos por imunidade diplomática, pelo que está ser pedido o apoio dos países amigos. O facto é que desde então, a imprensa argentina tem acompanhado o caso com muita emoção, interrogando-se sobre as condições em que o Libertad foi apanhado nesta delicada questão judicial. O navio está atracado em Tema há duas semanas e o Chefe da Marinha Argentina já se demitiu. Entretanto há quem lamente a política da Presidente Cristina Kirchner que reivindica as Malvinas e que nacionalizou a espanhola Repsol, o que representa o isolamento argentino em relação ao apoio que poderiam receber do Reino Unido e da Espanha.  

Scotland 2014 - a independência?

Há uma onda de nacionalismo que está a atravessar a Europa que tem raízes históricas, mas que também é uma consequência da fraqueza da União Europeia e da profunda crise institucional e financeira em que está mergulhada. O projecto de solidariedade europeu está em risco e volta a falar-se numa Europa a duas velocidades, na saída voluntária de alguns dos seus Estados-membros, na sua total fragmentação ou até no fim do próprio ideal europeu e do sonho de Jean Monnet, Robert Schuman e Konrad Adenauer. Depois de meio século em que a ideia federalista se aprofundou à custa das soberanias nacionais, os interesses e as opiniões públicas nacionais estão a reagir contra os projectos hegemónicos que, até há bem pouco tempo, eram corporizados pelo eixo franco-alemão e, em particular, pela chanceler Merkel.
O nacionalismo é uma ideologia que defende os interesses da nação antes de quaisquer outros, sobretudo a defesa do seu território, da sua identidade e da sua população – unida por tradições, língua, cultura, religião ou interesses comuns – e constituindo uma individualidade territorial e política com direito de se auto-determinar.
A Europa sempre foi uma Europa de Nações, com afinidades e rivalidades, que tantas vezes se guerrearam, se uniram em espaços imperiais ou se sujeitaram a tutelas supra-nacionais. Nas actuais condições, a onda de nacionalismo europeu está a renascer em Espanha, França, Bélgica, Itália e Reino Unido, entre outros países. O acordo assinado entre o primeiro-ministro britânico David Cameron, e o ministro britânico para a Escócia, Alex Salmond, para a realização de um referendo em 2014 com uma só pergunta – Independência? Sim ou Não – vai permitir que os 5 milhões de escoceses decidam se querem ou não desligar-se do Reino Unido, ao qual estão ligados há três séculos. Foi um dia histórico para os escoceses, como salientou o jornal The Scotsman de Edimburgh.