sábado, 18 de maio de 2024

As festas do Espírito Santo nos Açores

As festas do Espírito Santo são, provavelmente, a marca mais forte e mais importante da identidade e da cultura popular açoriana, realizando-se em todo o arquipélago e na diáspora. Porém, o seu palco mais notável ocorre na ilha do Pico onde tem um carácter especial, pois não há freguesia nem lugar que não celebre o Espírito Santo, num dos nove dias que vão do sábado de Pentecostes ou sábado do Espírito Santo (18 de Maio) até ao domingo da Trindade (26 de Maio).
O jornal Ilha Maior que se publica na vila da Madalena destaca na sua última edição os 29 Impérios e mais de 16 mil convidados – mais do que a própria população residente da ilha – salientando que são “5 dias de festa em toda a ilha do Pico”. O jornal publica um roteiro das festividades por toda a ilha, com a indicação dos locais e datas, dos respectivos mordomos e do número de convidados que, por exemplo na comunidade de São Roque, atingem o impressionante número de 1150. É uma semana intensa, sempre igual mas sempre renovada, em que muitos picoenses atravessam o Atlântico e regressam à ilha para participar nas cerimónias, umas de carácter religioso e outras de natureza profana. Toda a população se envolve nos festejos e se veste a rigor. A coroa do Espírito Santo segue para a igreja num desfile com a bandeira do Espírito Santo, seguindo-se a cerimónia da coroação. Depois, os irmãos e os amigos são convidados para as sopas servidas num salão devidamente decorado, sendo tudo preparado numa operação em que participa toda a comunidade, seguindo-se a solidária e tradicional distribuição de rosquilhas e de vésperas.
A música nunca falta, ou não houvesse nos Açores mais de uma centena de bandas filarmónicas, mas por vezes também aparecem os foliões, grupos de três ou quatro homens com vestes próprias e lenços na cabeça, que tocam pandeiros e tambores para animar as festas.
As festas do Espírito Santo não são apenas uma manifestação de fé e um símbolo da cultura popular açoriana, mas também são uma das mais expressivas manifestações da cultura popular portuguesa.

sexta-feira, 17 de maio de 2024

O Ocidente contra o resto do Mundo

O semanário Courrier International tem a sua sede em Paris e os temas que trata em cada uma das suas edições resultam de escolhas editoriais feitas pelo seu corpo redactorial, depois de previamente debatidos, o que significa alguma independência em relação aos interesses que cada vez mais manipulam a informação, através da desinformação ou das fake news.
Na sua última edição o semanário aborda a questão geopolítica do momento e afirma que “as guerras na Ucrânia e em Gaza ampliaram ainda mais o fosso entre os países ocidentais e o Sul Global” e afirma que estão “a pôr em causa a ordem internacional herdada da Segunda Guerra Mundial e as instituições que a acompanham”. Segundo a revista, a expressão “L’Occident contre le reste du Monde” ou “The West versus the Rest” é cada vez mais utilizada para designar o fosso entre os países ocidentais e a multiplicidade de países que são o resto do mundo e que parece rejeitarem cada vez mais a visão ocidental da ordem internacional, como se verificou na recente votação a favor da Palestina nas Nações Unidas. Quando se esperava que o prestígio histórico das democracias ocidentais assumissem um papel de moderadores ou de esforçados mediadores na reconciliação, na arbitragem e na manutenção da paz e da harmonia, optaram por se tornarem protagonistas activos sob a direcção das Ursulas e dos Stoltenberg e, sobretudo, dos grandes interesses ligados à produção e venda de material de guerra.
No caso da Ucrânia e, sobretudo, na aliança objectiva com o extremismo de Benjamin Netanyahu, o chamado Ocidente parece alucinado e perde terreno face ao dinamismo asiático, comporta-se como um velho aristocrata falido e, muitas vezes, tende a apresentar-se como se ainda fosse o centro do mundo. A sua narrativa conta cada vez menos e, como salienta o Courrier International, temos “l’Occident contre le reste du Monde”.

A aliança “sem limites” entre Xi e Putin

Vladimir Putin iniciou ontem uma visita de Estado à República Popular da China, onde foi recebido por Xi Jinping com todas as honras militares, tendo essa visita tido grande destaque na imprensa chinesa e na imprensa mundial. Nas primeiras declarações conjuntas, os dois líderes reafirmaram a sua parceria “sem limites”, criticaram as alianças militares americanas na Ásia e na região do Pacífico e assinaram uma declaração conjunta sobre aprofundamento dos laços entre os seus países.
Aparentemente, as relações entre a Rússia e a China continuam fortes e têm-se aprofundado devido às crescentes pressões ocidentais, cujos poderes não querem perder o seu estatuto hegemónico no mundo.
Embora a China venha procurando apresentar-se ao mundo como neutra no conflito ucraniano, o facto é que apoiou a narrativa que afirma que a Rússia foi provocada pelo Ocidente e que a tem apoiado diplomaticamente, que lhe forneceu tecnologia avançada para uso civil e militar e se tornou um dos principais mercados do petróleo e do gás natural russos. A China também apresentou um plano de paz para a guerra na Ucrânia, em 12 pontos, que foi rejeitado pelos ucranianos e pelos seus apoiantes ocidentais, pois perrmitia que a Rússia conservasse os seus ganhos territoriais no leste da Ucrânia.
Provavelmente, tanto Putin como Xi pensam na Ucrânia e em Taiwan e, na sua perspectiva, estão sob a mesma ameaça. Entretanto, depois de Pequim, Putin vai visitar a cidade de Harbin, perto da fronteira entre os dois países, que é conhecida como a “Pequena Moscovo da China”, onde se realiza uma feira comercial russo-chinesa.
Esta visita à China tem um importante significado político e confirma que Vladimir Putin, com 71 anos, e Xi Jinping, com 70 anos, têm interesses comuns, pois já se reuniram mais de 40 vezes, pessoal ou virtualmente. Encontraram-se agora, mas Xi Jinping estivera em Moscovo em Março de 2023, enquanto Putin visitara Pequim em Outubro de 2023.

quinta-feira, 16 de maio de 2024

A Nova Caledónia em luta com a França

Nas suas últimas edições a imprensa francesa tem ignorado as guerras da Ucrânia e do Médio Oriente, concentrando-se nos violentos motins que desde há três dias estão a agitar a Nova Caledónia e que já levaram o presidente Emmanuel Macron a declarar o estado de emergência.
A Nova Caledónia é um território francês com cerca de 18.500 km2, que abrange algumas dezenas de ilhas do sul do oceano Pacífico e que está situado a leste da Austrália e a norte da Nova Zelândia. Tem cerca de 270 mil habitantes, dos quais 45% são os autóctones chamados kanak, 37% são de origem europeia ou descendentes de europeus, havendo também comunidades de polinésios, vietnamitas, indonésios e chineses.
A onda independentista que varreu as ilhas do Pacífico também chegou à Nova Caledónia e em 1980 verificaram-se situações de tensão entre os opositores e os partidários da independência e, em 1986, o Comité de Descolonização das Nações Unidas incluiu a Nova Caledónia na sua lista de territórios não-autónomos. Seguiu-se um referendo sobre a independência que foi rejeitado por larga maioria da população e, em Outubro de 2020, foi realizado um novo referendo em que 46,7% dos eleitores votaram a favor da independência e 53,3% votaram contra. O independentismo crescera com largo apoio da população kanak. Porém, em Paris foram tomadas medidas legislativas atentatórias da vontade e dos direitos dos autóctones que reagiram, com distúrbios nas ruas, motins violentos e confrontos armados entre manifestantes, milícias e polícias. A tensão entre as diferentes comunidades acentuou-se. Já há mortes e o caos está instalado. Nos últimos dias foi imposto o recolher obrigatório, declarado o estado de emergência e enviados reforços militares para o território. O jornal La Croix pede urgência no diálogo, mas o jornal Le Monde refere “le spectre de la guerre civile”, significando que a França e Emmanuele Macron têm um grande problema para resolver a 16.000 quilómetros de distância.

quarta-feira, 15 de maio de 2024

Viva! Aí está o novo aeroporto de Lisboa!

Ontem foi um dia importante na política portuguesa porque, depois de 55 anos de avanços e de recuos, de estudos e de mais estudos, de pressões e de hesitações, foi finalmente anunciada a decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa. Após tantos anos e tantos primeiros-ministros, foi um improvável Luís Montenegro que, com apenas 32 dias de governo, assumiu essa decisão, devendo salientar-se que teve o apoio das forças políticas mais representativas, o que é um bom sinal de cooperação interpartidária face ao interesse nacional, o que raramente tem acontecido em Portugal. O jornal Público, como nenhum outro jornal português, destacou essa importante notícia na sua edição de hoje.
O reconhecimento da necessidade de um novo aeroporto de Lisboa nasceu durante a chamada “primavera marcelista”, através do Decreto-lei 48.902, de 8 de março de 1969, que criou no Ministério das Comunicações, o Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa, com personalidade jurídica e autonomia administrativa, com a missão de “empreender, promover e coordenar toda a actividade relacionada com a construção do novo Aeroporto de Lisboa”. Esse documento foi assinado por Marcello Caetano e foi promulgado pelo presidente Américo Deus Rodrigues Thomaz, mas ninguém esperava que fosse preciso mais de meio século para escolher o local.
Havia inicialmente quatro possíveis localizações, respectivamente na Fonte da Telha, no Montijo, no Porto Alto e em Rio Frio. Depois apareceu a hipótese de Alcochete, em finais da década de setenta surgiu a hipótese Ota e, mais tarde, as soluções Samora Correia e Santarém. Os interesses eram conflituantes e as pressões dos ambientalistas e dos municípios eram enormes, mas a decisão foi sempre adiada. Nem Mário Soares nem Cavaco, nem Guterres ou Barroso, Sócrates, Coelho ou Costa, tomaram uma decisão. O novo aeroporto de Lisboa já entrara no anedotário nacional.
Não faltaram estudos e ponderações e, por isso, saúda-se que, finalmente, tenha havido uma decisão. Parece que é desta que vamos ter o novo Aeroporto de Lisboa e que vai chamar-se Luís de Camões!

segunda-feira, 13 de maio de 2024

O independentismo catalão foi derrotado

A actividade política e as eleições na Catalunha são acontecimentos que nos interessam por razões de proximidade geográfica e de coesão ibérica. Numa altura em que há algumas tensões na velha Europa e em que não se vislumbra quem possa arrumar a casa e liderar a sua caminhada para o futuro com harmonia e progresso, a estabilidade ibérica é um elemento importante. 
Depois de catorze anos em que o independentismo ameaçou a comunidade autónoma da Catalunha e a unidade espanhola, o Partido dos Socialistas da Catalunha de Salvador Illa venceu as eleições de ontem com 27,9% dos votos e passou de 33 para 42 dos 135 deputados, com expressivas vitórias nas províncias de Barcelona e Tarragona, enquanto o conjunto dos partidos independentistas apenas elegeu 59 deputados, embora tivesse sido maioritário nas províncias de Lérida e Girona.
Foi a primeira vez que o Partido dos Socialistas da Catalunha venceu uma eleição, tanto em número de votos como em número de deputados eleitos, o que também reforça o poder de Pedro Sanchéz que é muito próximo de Salvador Illa. O jornal La Razón escolheu como manchete a frase “Derrota do independentismo”, enquanto o jornal El País diz que “el triunfo de Illa entierra el ‘procés’ e o ABC escolheu o título “Cataluña castiga el independentismo”, o que parece mostrar alguma unanimidade quanto à interpretação dos resultados eleitorais. Aparentemente, os catalães cansaram-se da instabilidade social gerada pelas lutas independentistas e perceberam que a União Europeia não apoiava o soberanismo catalão. Porém, a estabilidade política da Catalunha ainda vai depender dos acordos que o partido mais votado consiga fazer para poder governar.

sábado, 11 de maio de 2024

Em defesa do reconhecimento da Palestina

A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou ontem uma Resolução não vinculativa que pede o reconhecimento da Palestina como um estado soberano, que garante “novos direitos e privilégios” aos palestinianos e que pede ao Conselho de Segurança que reconsidere o pedido para plena adesão, o que a tornaria no 194º membro da organização. A Resolução foi aprovada por 143 votos a favor, com 25 abstenções e nove votos contra, apresentados pela Argentina, Israel, Estados Unidos, República Checa, Hungria, Micronésia, Nauru, Palau e Papua-Nova Guiné. A notícia não teve a devida repercussão nos mass media internacionais, mas o jornal catalão La Vanguardia destaca na sua edição de hoje que “la Asamblea de la ONU vota que Palestina tiene derecho a ser miembro”. Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, regozijou-se com esta Resolução que abre as portas ao reconhecimento da Palestina pelas Nações Unidas, mas Israel criticou esta decisão que classificou como “um prémio ao Hamas”. A decisão cabe agora ao Conselho de Segurança, embora seja de prever o veto dos Estados Unidos.
Entretanto, a imprensa espanhola anuncia hoje que “España reconocerá a Palestina el 21 de mayo”, havendo notícias que referem que, no mesmo dia, também a Irlanda, a Bélgica, a Eslovénia, Malta e a Noruega, reconhecerão o Estado da Palestina. Afirmando que o reconhecimento da Palestina é do interesse da Europa, a Espanha afirma-se com vontade própria e não alinha com o grupo de países europeus que, com grande hipocrisia, continuam a fornecer armas a Israel e a apoiar o governo extremista de Benjamin Netanyahu na sua política de destruição do povo palestiniano. A Espanha bem merece a nossa saudação.

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Paris 2024: a chama olímpica já chegou

A imprensa francesa é hoje unânime a noticiar a chegada a Marselha da chama olímpica, que saíra da Grécia no dia 16 de abril, publicando a fotografia da chegada do navio-escola Belem, escoltado por centenas de embarcações. A partir de agora, a chama olímpica vai percorrer todo o território francês e mais de cinco centenas de localidades, numa viagem que terminará em Paris na noite de 26 de julho, quando se realizará a cerimónia de abertura oficial dos XXXIII Jogos Olímpicos.
Segundo o jornal Le Figaro, estiveram em Marselha a esperar o navio-escola Belem e a chama olímpica entre 150 e 230 mil pessoas, o que mostra como “à boleia dos Jogos Olímpicos”, se está a trabalhar num projecto promocional da França sob a liderança do pequeno napoleão, que Emmanuel Macron parece querer ser.
Os Jogos Olímpicos são a maior manifestação desportiva mundial, mas cada vez mais se afastam dos ideais olímpicos, enunciados através do lema Citius, Altius, Fortis, que significa “o mais rápido, o mais alto, o mais forte”. Se antigamente se considerava que o importante era competir e não vencer, nas suas últimas edições os Jogos Olímpicos tornaram-se um tabuleiro onde se procura “vencer” a qualquer preço, porque isso se traduz numa operação de prestígio interno e internacional. Por isso, os jogos de Paris 2024 vão ser uma monumental operação de marketing dos franceses para si próprios e para o mundo. O presidente Emmanuel Macron e o chauvinismo francês vão, provavelmente, estar insuportáveis na reversão a seu favor de tudo o que os Jogos Olímpicos lhes poderão dar em prestígio, em auto-estima e em vaidade, esperando que todo o mundo ouça muitas vezes a Marselhesa: 
             Allons, enfants de la Patrie / Le jour de gloire est arrivé 
             Contre nous, de la tyrannie/L'étendard sanglant est levé.
Procuremos, portanto, acompanhar a festa desportiva que vai ser o Paris 2024, mas tenhamos paciência com os exageros de egocentrismo a que vamos assistir.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Catástrofe climática no Rio Grande do Sul

Desde há cerca de uma semana que violentos temporais e chuvas de grande intensidade estão a afectar o estado brasileiro do Rio Grande do Sul (RS), que faz fronteira com o Uruguai e com a Argentina. Trata-se do estado mais meridional do Brasil, que é três vezes maior que Portugal e tem cerca cde 12 milhões de habitantes. A cidade de Porto Alegre, que é a sua capital, tem as suas rotas de acesso bloqueadas pelas águas e estima-se que 85% da cidade esteja sem água potável, nem energia eléctrica. O aeroporto Salgado Filho está inundado, como mostra a fotografia publicada na edição de ontem da Folha de S.Paulo, tendo sido encerrado por tempo indeterminado. É uma verdadeira catástrofe climática e humanitária, que está a afectar cerca de um milhão e meio de gaúchos, estando já contabilizados 95 mortos e mais de 130 desaparecidos, mas também cerca de quatro centenas de feridos e mais de duzentos mil desalojados. No centro histórico da cidade de Porto Alegre a inundação atingiu 5,25 metros, sem haver quaisquer garantias de que se reduza nos próximos dias porque há dificuldades na drenagem das águas, mas há situações bem mais extremas, como sucedeu no rio Taquari cujas águas subiram 30 metros.
Os meteorologistas afirmam que os temporais que ocorrem no Rio Grande do Sul são reflexo de três fenómenos que ocorrem localmente e que são agravados pelas alterações climáticas, respectivamente, a onda de calor e as correntes intensas de vento frio que sopram do sul, a influência da Amazónia e um bloqueio atmosférico.
A catástrofe representa um prejuizo incalculável e está a gerar uma onda de solidariedade, tanto no Brasil, como no exterior.

segunda-feira, 6 de maio de 2024

A promoção dos vinhos portugueses

A edição de hoje do jornal O Globo, que se publica no Rio de Janeiro, tem a sua primeira página ocupada com um anúncio da marca Vinhos de Portugal e informa que o maior evento de vinhos portugueses no Brasil se realizará no Rio de Janeiro entre os dias 7 e 9 de Junho. 
O evento seguirá depois para a cidade de São Paulo onde será apresentado entre os dias 13 e 15 de Junho no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, uma infraestrutura de grande prestígio, que foi desenhada por Óscar Niemeyer no Parque Ibirapuera.
A marca Vinhos de Portugal/Wines of Portugal tem tido um assinalável sucesso comercial e resulta de uma iniciativa da ViniPortugal, uma organização interprofissional dos vinhos portugueses reconhecida pelo governo português, que foi fundada em 1996. A ViniPortugal faz a gestão daquela marca colectiva e tem como objectivo a promoção da qualidade e da excelência dos vinhos portugueses. A primeira campanha de marketing dos Vinhos de Portugal realizada no Brasil aconteceu em 2010 e a iniciativa agora anunciada já é a 11ª campanha, o que mostra o sucesso que os vinhos portugueses têm tido no Brasil ao longo dos anos. Esta importante parceria entre os produtores portugueses mostra-se muito activa e, nas mais recentes semanas, foram feitas apresentações e degustações de vinhos portugueses na cidade do México, em Toronto, Montreal, S. Francisco, Nova Iorque e Houston, a mostrar um dinamismo que não é habitual na economia portuguesa.  

sexta-feira, 3 de maio de 2024

O protesto universitário contra Netanyahu

O povo palestiniano está a ser vítima de uma agressão cruel, violenta e desumana por parte das forças extremistas de Benjamin Netanyahu, perante a objectiva cumplicidade dos seus mais poderosos aliados que continuam a fornecer-lhe armamento. Nada, nem ninguém, parece poder travar a ânsia vingativa de Netanyahu.
Porém, nos últimos dias, manifestou-se um movimento de solidariedade para com os palestinianos, cuja expressão mais visível tem acontecido nas universidades americanas, desde Harvard a Los Angeles. Há registo em várias universidades americanas de protestos pró-Palestina e pelo fim da guerra em Gaza, o que já levou o presidente Joe Biden a pedir aos manifestantes moderação e o cumprimento da lei, ao mesmo tempo que se verificava a intervenção policial. Anunciam-se confrontos e mais de duas mil detenções. Os protestos já “atravessaram” o Atlântico e disseminaram-se por várias universidades do Reino Unido, onde os estudantes reclamam o fim da guerra e manifestam a sua solidariedade para com o povo da Palestina. Também em França, conforme documenta a edição de hoje do jornal Le Télégramme, que se publica em Brest, são cada vez mais as universidades que manifestam o seu apoio solidário ao povo palestiniano. A lição a tirar destas manifestações é que há muita gente a querer a paz e que estão cada vez mais isolados os que querem a guerra ou, ainda, que os líderes cedem a interesses sectoriais e não respeitam a vontade dos cidadãos.
Lamentavelmente, há comentadores televisivos entre nós que ainda defendem que a proposta israelita de cessar-fogo “é generosa”, manifestando uma chocante indiferença perante a destruição e a morte que as hostes de Netanyahu têm causado na Faixa de Gaza.

quinta-feira, 2 de maio de 2024

O novo e moderno porta-aviões chinês

A edição de hoje do jornal China Daily destaca com uma eloquente fotografia, o início dos primeiros testes de mar do novo porta-aviões da Marinha do Exército Popular de Libertação da China, que está a ser construído em Xangai, desde há seis anos. Trata-se do Fujian, o terceiro porta-aviões chinês, que desloca 80 mil toneladas e que se junta ao Shandong de 66 mil toneladas e ao Liaoning de 60 mil toneladas.
Logo que entre ao serviço, só a Marinha americana terá porta-aviões maiores que o Fujian. De acordo com a notícia, o novo porta-aviões chinês dispõe de um sistema de catapulta electromagnética semelhante ao do USS Gerald Ford, o único porta-aviões que até agora dispunha desse sistema, o que lhe permitirá operar aviões maiores e com maior capacidade de transporte. Com este novo navio e com as tecnologias que terá disponíveis, a China melhora enormemente a capacidade da sua Marinha, o que parece ser uma preocupação para os Estados Unidos, pelo seu impacto no que respeita ao domínio do mar da China e, sobretudo, em relação à questão de Taiwan.
Porém, o crescimento da Marinha chinesa não é uma novidade, pois nesta altura já é a maior força naval do mundo com mais de 340 navios de guerra e com uma produção a “um ritmo frenético” de novos navios em estaleiros chineses. Relativamente aos porta-aviões, desde 1985 que a China decidiu estudá-los para que a sua indústria os pudesse projectar e construir, tendo para esse efeito comprado quatro porta-aviões que estavam fora de serviço, sendo um australiano (HMAS Melbourne) e três utilizados pela ex-União Soviética (Minsk, Kiev e Varyag).
E assim vai o mundo no que respeita ao rearmamento...

Submarino emergiu da calote polar ártica

A edição de hoje do jornal The New York Times apresenta com grande destaque uma reportagem do seu jornalista Kenny Holston, que embarcou num submarino de ataque com propulsão nuclear, “para ver como o Pentágono está a treinar para uma potencial guerra abaixo do mar congelado”. 
O jornalista embarcou no USS Hampton (SSN 767), uma unidade da classe Los Angeles, habitualmente estacionada na Base Naval de Point Loma, em San Diego. O navio navegou para a região polar e emergiu no gelo ártico duas vezes, no quadro da sua participação na Operação Ice Camp, uma operação anual de três semanas que testa a capacidade da frota submarina americana operar em ambiente hostil. O jornalista descreveu a navegação sob a calote de gelo polar, tendo verificado como é complexa, acontecendo por vezes que o submarino navega entre duas ameaças: a camada de gelo por cima e o fundo do mar por baixo. Segundo o comandante do navio “operamos o navio a 6 metros do fundo, com 12, 18 metros de gelo acima de nós, assim conseguindo evitar os picos de gelo, virados para baixo”.
Como acontece em qualquer submarino, o espaço é sempre muito escasso e a reportagem aborda esse problema, muito importante quando o submarino está submerso, bem como a comida limitada e a ausência de qualquer comunicação externa durante várias semanas.
O embarque do jornalista Kenny Holston no USS Hampton, insere-se numa campanha de divulgação das actividades da Marinha americana, pois esta missão do submarino está relatada em diferentes jornais.

terça-feira, 30 de abril de 2024

Narendra Modi vigia a diáspora indiana

O assassinato de adversários políticos sempre foi uma prática habitual no processo histórico mundial e, nos anos mais recentes, podem-se recordar-se os assassínios de destacados políticos como John Kennedy, Indira Gandhi ou Yitzhak Rabin. Esses casos foram resolvidos internamente mas, por vezes, a obsessão perseguidora aos adversários políticos estende-se para além das suas fronteiras, assim tendo acontecido com o regime de Staline que mandou matar Leon Trotsky quando estava exilado no México, ou com o regime de Salazar que deu ordens para eliminar o general Humberto Delgado que estava em Espanha.
Na sua edição de hoje o jornal The Washington Post divulga um relatório que revela ligações estreitas entre o governo de Narendra Modi e uma tentativa frustrada de assassinato de Gurpatwant Singh Pannun, um líder separatista sikh que vive nos Estados Unidos. Não sabemos se o relatório é falso ou verdadeiro, mas o jornal refere “o longo braço da repressão”.
Pannum defende a independência do Punjab, um estado do noroeste da Índia com 25 milhóes de habitantes de maioria sikh e que já está baptizado como Khalistan.  A tentativa de eliminação de Pannum terá ocorrido em 2023 e teria sido organizada pelos serviços de espionagem de Nova Delhi, num quadro de perseguição à diáspora indiana na Ásia, Europa e América do Norte. Através do jornal The New India Express, o governo de Narendra Modi classificou hoje as notícias do diário americano como “injustificadas e infundadas”.
A India já é o mais populoso país do mundo e é uma federação de 29 estados e sete Union Territories, sendo um caleidocópio de línguas, de religiões e de culturas. As notícias hoje veiculadas pelo The Washington Post mostram que os tempos não parecem ser nada fáceis para a Índia de Narendra Modi.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

A arte espanhola a deslumbrar a China

Na sua edição do último sábado o jornal Shanghai Daily destacou como manchete a exposição que está acontecer no Museum of Art Pudong da cidade de Shanghai, desde o dia 23 de abril e que se vai estender até ao dia 1 de setembro. Trata-se da maior exposição realizada na China pelo Museo Nacional del Prado e que tem por título Idades de Esplendor: Uma História da Espanha no Museu do Prado, na qual estão expostas setenta pinturas originais seleccionadas da coleção do Museu do Prado, metade das quais nunca foram vistas na Ásia, dezasseis que saem da Espanha pela primeira vez e nove que sairão do Museu do Prado pela primeira vez. O jornal escolheu como ilustração da sua capa a fotografia de “La Inmaculada Conceptión de Aranjuez”, um óleo de Bartolomé Esteban Murillo, de circa de 1675.
Na exposição estão representados cerca de cinquenta pintores de primeiro plano da arte europeia, que o público chinês vai poder apreciar, entre os quais Ticiano, Veronese, El Greco, Rubens, Velásquez, Goya, Murillo, Zurbarán, Ribera e outros, pelo que o jornal escreve em primeira página que a exposição da colecção vinda de Madrid é “uma festa para os olhos”.
A cxposição enquadra-se, naturalmente, numa aproximação cultural entre a Espanha e a China, sendo uma lição a aprender pela nossa diplomacia económica e cultural, se porventura estiver activa. Durante muitos anos falou-se de Macau como “porta giratória” para potenciar os interesses portugueses na China, mas são os espanhóis que marcam pontos sem precisarem de portas...

Cresce a contestação à violência israelita

A situação que se vive no Médio Oriente desde o dia 7 de outubro de 2023, de forma especial na Faixa de Gaza, continua a ser muito preocupante, porque não se enquadra no legítimo direito de defesa dos israelitas como resposta ao ataque que lhes foi feito pelo Hamas, mas configura-se como uma tentativa de genocídio do povo palestiniano.
Apesar do apelo internacional para contenção, os israelitas preparam-se para atacar Rafah e para destruir o que resta de Gaza, enquanto Benjamin Netanyahu se comporta cada vez mais como um tirano cruel que faz o que quer e que não escuta o seu próprio povo, nem a comunidade internacional, nem os seus aliados que, com grande hipocrisia, lhe continuam a fornecer armamento. Um pouco por todo o mundo tem havido grandes manifestações de repúdio pelos excessos israelitas e de solidariedade para com o povo palestiniano, que é uma entidade diferente do Hamas.
A condenação da violência israelita contra os palestinianos também chegou aos Estados Unidos e a vastos sectores da sociedade americana, incluindo os meios universitários. Assim aconteceu na Universidade de Harvard, localizada no estado de Massachusetts e próximo de Boston, que é a mais antiga universidade americana e uma das mais prestigiadas universidades do mundo. No passado sábado, alguns grupos de estudantes dirigiram-se para o átrio onde está a estátua de John Harvard, o fundador da universidade, tendo hasteado a bandeira palestiniana no local onde habitualmente está içada a bandeira americana. 
Na sua edição de hoje o jornal New York Post relata este incidente e informa que os serviços da universidade retiraram a bandeira da Palestina, mas destaca que “cenas semelhantes ocorreram em campus universitários em todos os Estados Unidos, incluindo a Universidade de Columbia em Nova Iorque e outras universidades”.

sábado, 27 de abril de 2024

25 de Abril: património comum do PALOP

As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, numa feliz iniciativa do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, trouxeram a Lisboa os presidentes das Repúblicas de Angola, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de Moçambique, de S. Tomé e Príncipe e de Timor Leste, apenas faltando o presidente Lula da Silva que se fez representar pelo seu Ministro dos Negócios Estrangeiros.
A par das grandes manifestações populares realizadas por todo o país e das habituais cerimónias promovidas na Assembleia da República, a sessão realizada no Centro Cultural de Belém em que participaram aqueles sete presidentes de países de língua oficial portuguesa, foi um marco relevante nas comemorações, mas tammbém no futuro da CPLP. Foram sete discursos de grande importância histórica e política, que condenaram o colonialismo salazarista e a guerra colonial, que elogiaram a liberdade reconquistada pelo 25 de Abril e a abertura de negociações para a paz, mas que reforçaram os sentimentos de amizade e de cooperação entre os países de língua oficial portuguesa. Como refere o Jornal de Angola e foi salientado por João Lourenço, o presidente da República Popular de Angola, “a nossa causa era a mesma que a do povo português”. O 25 de Abril foi, portanto, um movimento que libertou o povo português de uma ditadura cruel e retrógrada, mas também se pode afirmar que resgatou os povos colonizados e muitos dos excessos do colonialismo português.
Não é frequente que os presidentes dos países que têm a língua portuguesa como língua oficial se encontrem pessoalmente e, por isso, este encontro proporcionado pelas comemorações do 25 de Abril foi um ponto alto, que demonstra como aquele movimento libertador é um património comum que foi incorporado na história das antigas colónias portuguesas.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

25 de Abril sempre!

O semanário Expresso adquiriu um estatuto de jornal de investigação, de objectividade noticiosa e de não alinhamento partidário, que lhe conferem uma singular posição de prestígio no panorama da imprensa portuguesa. Nascido há mais de 51 anos, o seu grafismo foi sempre muito discreto e nunca apostou em grandes manchetes, nem sequer no sensacionalismo com que muitas vezes se enganam os leitores. Porém, na edição de ontem que dedicou aos 50 anos do 25 de Abril, o semanário parece ter sido seduzido pelo entusiasmo popular e pelos cravos vermelhos que regressaram às ruas portuguesas, utilizando uma ilustração que representa a alegria do povo e um advérbio de tempo que aparece muitas vezes associado ao 25 de Abril: sempre.
Até parece que o Expresso só agora aderiu aos ideiais do 25 de Abril, o que obviamente não é verdade. Numa altura em que há sérias preocupações quanto ao futuro, tanto lá fora como por cá, os portugueses regressaram às grandes manifestações populares e mostraram como estão alinhados com os ideais da Liberdade e da Democracia, podendo afirmar-se com segurança, que ressuscitaram a força mobilizadora, as esperanças e o entusiasmo do 25 de Abril, voltando a cantar as canções de José Afonso. A simbólica manifestação que em Lisboa costuma descer a avenida da Liberdade, juntou muitos milhares de pessoas, um verdadeiro mar de gente como já não se via desde há muitos anos. Como diria Chico Buarque, “foi bonita a festa pá, fiquei contente”.
A imprensa portuguesa, bem como alguma imprensa estrangeira, associaram-se a esta efeméride e destacaram os progressos sociais proporcionados aos portugueses pelas “portas que Abril abriu”, lembrando que a revolução portuguesa também inspirou a democratização em Espanha, na Grécia e em vários países da América Latina, para além de ter permitido o fim da guerra colonial e a independência dos novos países de língua oficial portuguesa.
Tal como o Expresso escreveu na sua edição de ontem, também aqui deixamos a nossa mensagem: 25 de Abril sempre!

terça-feira, 23 de abril de 2024

A cidade de Macau: não há outra mais leal

No século XVI, segundo escreveu Luís de Camões, os portugueses andaram “por mares nunca de antes navegados e passaram ainda além da Taprobana”. Passados cinco séculos de convivência luso-asiática, as marcas dessa passagem ainda são observáveis em vários países e regiões da Ásia do Sul, do Sudoeste Asiático e da Ásia Oriental, tanto nos seus patrimónios materiais, como imateriais.
Macau é, porventura, o maior símbolo dessa realidade. Depois de 442 anos de administração portuguesa, o território regressou à soberania chinesa em 1999 e tornou-se a Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China que, de acordo com a famosa Declaração Conjunta Sino-Portuguesa de 1987, conservará durante 50 anos o seu modo de vida e as suas especificidades culturais, resultantes do longo período em que o território foi administrado por Portugal.
Hoje, a marca portuguesa em Macau não é tão forte como muitos desejariam, mas também não é tão fraca como muitos acusam. Um facto revelador da força da memória portuguesa em Macau aconteceu em 2005, quando a Unesco inscreveu o Centro Histórico de Macau na sua World Heritage List, como “testemunho único do encontro de influências estéticas, culturais, arquitectónicas e tecnológicas do Oriente e do Ocidente”. Nesse território, a que estão emocionalmente ligados muitos milhares de portugueses e onde existem três jornais diários em português, também os 50 anos do 25 de Abril vão ser comemorados, como anuncia na sua edição de hoje o diário hojemacau
Naturalmente, ocorre-nos o título concedido à cidade em 1654 pelo rei D. João IV, como recompensa à lealdade da população portuguesa da cidade durante a ocupação filipina: Cidade do Santo Nome de Deus de Macau, Não Há Outra Mais Leal.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

A imprensa e a evocação do 25 de Abril

Estão a comemorar-se cinquenta anos sobre o 25 de Abril de 1974 – o dia inicial, inteiro e limpo, como se lhe referiu Sofia de Melo Breyner – e, sem polémicas nem contestações, os portugueses estão a celebrar essa data histórica com entusiasmo.
Numa sondagem publicada na última edição do semanário Expresso era revelado que 65% dos portugueses considerava o 25 de Abril o mais importante acontecimento da História de Portugal, enquanto 68% entendia que o modelo de comemoração oficial ainda faz sentido. De facto, um pouco por todo o país, em especial nas escolas, nas autarquias e nas associações cívicas, tanto o Estado como a sociedade civil têm vindo a celebrar a reconquista da Liberdade e da Democracia por diferentes formas, sobretudo exposições, conferências, colóquios, torneios desportivos e festas populares.
A comunicação social tem-se associado a esta histórica celebração com edições especiais, nas quais se fazem balanços, se evocam episódios mais ou menos conhecidos, se republicam fotografias históricas e se destaca o papel de alguns protagonistas como Salgueiro Maia, Otelo Saraiva de Carvalho ou Vasco Lourenço. Porém, a edição especial do Jornal de Letras, Artes e Ideias ou, simplesmente JL, dirigida pelo histórico José Carlos de Vasconcelos, difere da generalidade das outras edições especiais, ao focar-se na análise dos 50 anos de Liberdade e Democracia através de textos subscritos por diversos intelectuais de referência. É frequente que, por motivos comerciais, algumas edições especiais usem a frase “esta é uma edição para guardar”, mas não é o caso do JL, embora tivesse todo o sentido que essa recomendação fosse feita. É mesmo uma edição para ler e guardar!

sábado, 20 de abril de 2024

A Índia e o extremismo de Narendra Modi

O complexo processo eleitoral indiano arrancou ontem e vai desenvolver-se até ao dia 1 de junho, tendo como favorito à vitória final o Bharatiya Janata Party ou BJP, o partido de Narendra Modi, o actual chefe do Governo. Serão quase 970 milhões de eleitores que irão escolher os 543 membros do Lok Shaba, a câmara baixa do parlamento indiano, que depois escolherá o primeiro-ministro para os próximos cinco anos. Há dez anos no poder, o primeiro-ministro Modi lidera com mão de ferro o BJP, com o apoio de um poderoso braço político-militar que é o Rashtriya Swayamsevak Sangh ou RSS, um grupo paramilitar nacionalista hindu, com características extremistas de direita. 
O autoritarismo é, provavelmente, a marca mais relevante da política de Modi e tem sido utilizada na repressão dos movimentos dos pequenos agricultores, nos ataques à liberdade de expressão e ao jornalismo independente, mas também na afirmação do sectarismo religioso hindu. 
Segundo relata hoje o jornal The New Indian Express, que insere um anúncio de primeira página em que Narendra Modi apela ao voto, na sua campanha eleitoral ele atacou os seus adversários por não terem liderança nem visão de futuro, denunciando a influência “de várias pessoas grandes e poderosas, tanto a nível nacional como internacional, que deram as mãos para o destituir do seu cargo”. Porém, o RSS e os seus grupos paramilitares radicais e que actuam com evidente protecção do poder do BJP e de Narendra Modi, têm conduzido acções de grande violência contra mesquitas e igrejas, que as grandes potências tendem a ignorar pois o que lhes interessa é o liberalismo económico indiano e os grandes negócios de armamento. 
Os católicos de Goa, um dos 28 estados da Índia, têm vivido com muita preocupação a permanente ameaça que constitui o RSS, sobretudo nesta fase em que são mobilizados pelo processo eleitoral.

Paris 2024: só faltam 100 dias para a festa

Os Jogos Olímpicos de 2024 ou Jogos da XXXIII Olimpíada vão disputar-se em França entre os dias 26 de julho e 11 de agosto de 2024, com a cidade de Paris a ser o centro desse grande evento mundial, embora se realizem provas desportivas em 16 cidades da França Metropolitana, ou no Hexágono, como os franceses por vezes se referem ao seu território europeu.
Há dias, quando faltavam 100 dias para a cerimónia de abertura desta Olimpíada, a generalidade da imprensa francesa dedicou grandes reportagens ao acontecimento e tratou de forma especial, ou até com o costumado chauvinismo francês, os atletas que vão defender “l’honneur de la France”. O jornal Le Parisien foi apenas um dos jornais que dedicou uma edição especial ao acontecimento, tendo escolhido “les 100 Français qui vont faire briller les Jeux”, sobre os quais colocou o peso de ganharem medalhas e de levarem a bandeira tricolor a subir ao ponto mais alto dos mastros olímpicos.
Os Jogos Olímpicos são um enorme investimento financeiro que, sobretudo, visa proporcionar ao país-organizador ganhos de prestígio e de afirmação internacional, com repercussão em todas as áreas da vida francesa, como por exemplo no turismo, no comércio, no desporto, na diplomacia e em muitas outras áreas. Durante duas semanas, os olhos e os ouvidos do mundo estarão concentrados em França, mas também na bandeira francesa, enquanto os franceses esperam ouvir muitas vezes La Marseillaise, o hino nacional da França. O pequeno Emmanuel Macron vai jogar a sua popularidade e o seu prestígio no plano internacional, mas sobretudo no plano interno, como se fosse um atleta em prova.

A guerra iminente ou o fim de um capítulo

A enorme rivalidade e a consequente conflitualidade existentes entre Israel e o Irão tiveram nos últimos meses uma grande e muito preocupante aceleração, cujos pontos mais altos terão sido o ataque ao consulado iraniano em Damasco efectuado no dia 1 de abril por aviões israelitas F-35, a que se seguiu um ataque de retaliação em larga escala, realizado no dia 14 de abril, em que foram lançados cerca de três centenas de drones, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos iranianos sobre território israelita. O massacre que tem sido feito aos palestinianos em Gaza parece ter sido esquecido, bem como a exigência do fim da venda de armas a Israel, que alguém já classificou como “a ruína moral do Ocidente”.
O mundo pediu contenção aos dois adversários. Hoje, a edição da revista alemã Der Spiegel  publica as imagens do ayatolá Ali Khamenei e de Benjamin Netanyahu, afirmando que o conflito entre o Irão e Israel é perigoso para o mundo e perguntando se estamos perante o início da próxima guerra mundial. Porém, em sentido inverso, o jornal Público destaca na sua edição de hoje que o “ataque limitado de Israel pode ser o fim de um capítulo perigoso”.
As nossas televisões estão inundadas de eruditos comentadores e comentadoras que nos dão todas as análises opinativas e especulativas sobre aquele conflito, por vezes com lições de história aprendidas apressadamente no Google, mas parece que sabem pouco sobre o que se está a passar, como mostram as manchetes de hoje da revista alemã e do jornal português.
O nosso voto é que o jornal português tenha razão e que já estejamos no “fim de um capítulo perigoso”.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Açoriano Oriental: 189 anos de vida cívica

Completa hoje 189 anos de idade o jornal Açoriano Oriental, um diário que se publica na ilha de São Miguel desde o dia 18 de abril de 1835, sempre com o mesmo nome e de forma contínua e regular. É uma relíquia ou um monumento nacional, pois não só é o mais antigo jornal em circulação em Portugal, como também é um dos dez jornais mais antigos do mundo.
Hoje, o jornal mantém o seu dinamismo editorial e, a provar que está vivo e de boa saúde, assinalou o seu 189º aniversário com uma edição especial dedicada ao debate do tema “Que futuro para os Açores, 50 anos após o 25 de Abril”, na qual diversos especialistas tratam a problemática das ilhas dos Açores em diferentes áreas temáticas, incluindo o desenvolvimento económico, a cultura, a política, os parques tecnológicos, o turismo, a agricultura e as pescas, engtre outros, sempre orientados para o futuro.
A propósito da efeméride que hoje se celebra, também foi organizada uma exposição na cidade de Ponta Delgada em que, através da apresentação de algumas das suas primeiras páginas, é possível apreciar a evolução gráfica do jornal e recordar o relato então feito de alguns momentos históricos da vida açoriana, como a erupção vulcânica dos Capelinhos ou a visita do Papa João Paulo II.
Enquanto leitor do Açoriano Oriental desde há muitos anos, é com muita satisfação que acompanho esta histórica efeméride e aplaudo aqueles que diariamente constroem cada edição do jornal.

Uma evocação francesa do 25 de Abril

O 25 de Abril de 1974 foi um acontecimento histórico que devolveu a Liberdade e a Democracia aos portugueses, depois de 48 anos de Ditadura, mas sua importância foi universal, como mostra a edição nº 517, de Março de 2024, da revista francesa L’Histoire, que agora surgiu à venda em Portugal e que no seu Dossier Portugal 1974, inclui uma alargada reportagem intitulada “Portugal: la Révolution des Œillets”.
Cinquenta anos depois do “jour initial, entier et pur”, segundo as palavras de Sophia de Mello Breyner, o 25 de Abril é evocado em França como uma data histórica e libertadora. São 27 páginas muito ilustradas, com fotos e infografias, que são assinadas por diferentes especialistas franceses, entre os quais Yves Léonard que, no seu extenso texto escreveu que “com o 25 de Abril se abriu uma porta para a democracia, que depois foi fonte de inspiração para a Grécia, para a Espanha e para a América Latina”. Sobre a guerra colonial que foi determinante na iniciativa libertadora e num tempo a que chamou “le printemps des capitaines”, o mesmo autor mostra possuir boa informação e escreveu que se fala mesmo de um “Vietnam português na Guiné-Bissau” em que “os três G” – os três quartéis de Guidage, Guileje e Gadamael, cercados pelas forças da guerillha independentista do PAIGC – eram, em Maio de 1973, “sinónimo de corredor da morte para as tropas portuguesas”. O texto de Yves Léonard recorda o efeito dos ideais libertadores portugueses na Europa e lembra o que cantava Georges Moustaki em 1974: “Dis-leur qu’un oeillet rouge a fleuri au Portugal”.
O Dossier Portugal 1974 inclui outros textos de muito interesse, nomeadamente “La révolution vue de France”, onde se afirma que o 25 de Abril foi também “une affaire française”, porque havia quase um milhão de emigrantes portugueses em França, muitos dos quais tinham deixado o país clandestinamente para fugir à pobreza, à guerra e à ditadura de Salazar.
Em síntese, é uma belíssima edição de homenagem ao 25 de Abril e a Portugal.

terça-feira, 16 de abril de 2024

Feira de Sevilha é a casa dos sevilhanos

A Feira de Sevilha é um festival de interesse turístico internacional e decorre desde 14 de abril, prolongando-se até ao dia 20. Durante uma semana, a cidade de Sevilha está em festa, com os sevilhanos e os forasteiros a divertirem-se na feira onde se encontram mais de um milhar de stands de todo o tipo, para além da música, da dança, da gastronomia e, sobretudo, das touradas, que animam toda a gente, todos os dias e até altas horas da madrugada. Durante uma semana, diz-se que “a feira é a casa dos sevilhanos”.
Com a feira intensifica-se a temporada tauromáquica sevilhana, estando anunciadas catorze corridas de touros e a apresentação de alguns dos mais famosos toureiros do momento. De forma diversa do que acontece em Portugal onde a festa brava é cada vez mais hostilizada, em Espanha e em especial na Andaluzia e na Extremadura, o entusiasmo pelas touradas quase provoca o delírio e é uma afirmação cultural bem forte, sobretudo quando se realizam na Plaza de Toros da Real Maestranza de Sevilla. Na feira de este ano estarão presentes os espadas Morante de La Puebla em cinco corridas e os espadas Roca Rey e Daniel Luque em quatro, mas há sempre alguns matadores que não são contratados e deixam os seus apoiantes desiludidos.
Nas suas edições de hoje, tanto o Diario de Sevilla como o jornal ABC dedicaram as suas primeiras páginas à corrida de touros de ontem, destacando o matador sevilhano Juan Ortega que brilhou e que “hace la faena de la Feria”.
Naturalmente que a Feria de Sevilla não é só tourada, mas o facto é que a imprensa de referência da cidade é na tourada qure encontra o destaque da notícia.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Prudência e contenção no Médio Oriente

Na interpretação dos conflitos internacionais, sobretudo daqueles em que as partes se provocam, se ameaçam e recorrem a soluções pela via militar, os estudiosos procuram sempre saber as causas dessas situações, mas encontram-se muitas vezes confrontados com um dilema, ou um enigma, que é o de saber quem veio primeiro ao mundo, se foi o ovo ou a galinha. Um pequeno incidente ou um pequeno conflito localizado, servem muitas vezes de pretexto para que uma das partes suba o patamar da conflitualidade e acuse e agrida, ou responda e retalie, como se tem visto na Ucrânia e no Médio Oriente. As causas profundas existem, mas os pretextos são muitas vezes fabricados e ampliados, enquanto as vítimas são, por agora, os ucranianos e os palestinianos. Se em relação ao conflito da Ucrânia com a Rússia costumamos dizer que é a altura de pararem, no que respeita ao conflito do Irão com Israel o que há a dizer é que não comecem.
A comunidade internacional e as maiores potências mundiais, têm repetido a necessidade de haver muita contenção, pois a continuação da escalada é uma séria ameaça à paz mundial, para além de ambas as partes já poderem reclamar que atingiram os seus objectivos, um porque atacou o adversário no seu próprio território e o outro porque deteve centenas de mísseis e drones iranianos. Os Estados Unidos já anunciaram que não querem ser arrastados para o conflito até porque têm eleições presidenciais, enquanto o Reino Unido e a França sabem que se arriscam a que a guerra chegue a Londres e a Paris. Por tudo isto, é preciso baixar as tensões e fazer com que a Diplomacia encontre soluções.
Essa é a orientação que a imprensa mundial parece adoptar, sugerindo prudência a ambas as partes, mas muita prudência, porque está ameaçada a paz mundial. Assim faz, também, a edição de hoje do jornal Dennik N, que se publica na cidade eslovaca de Bratislava.

domingo, 14 de abril de 2024

O confronto não desejado de Irão e Israel

Os espaços televisivos anunciaram ontem à noite que o Irão lançara um ataque aéreo maciço de retaliação contra Israel, que era esperado desde o ataque israelita de 1 de abril contra o complexo diplomático iraniano em Damasco, no qual morreram vários oficiais iranianos. Apesar de viverem há muitos anos em clima de ameaça e de inimizade, foi a primeira vez que o Irão atacou directamente o território israelita, enquanto Israel já antes atacara o solo iraniano. O medo da guerra no Médio Oriente acordou. Toda a região entrou em estado de alerta e o mundo aumentou muito o seu grau de ansiedade e preocupação.
A imprensa matutina ainda não dispunha de informações suficientes e independentes sobre o impacto do ataque iraniano, mas as manchetes já apareceram com o sensacionalismo de “quem quer vender jornais”, assim sucedendo com vários jornais como o nova-iorquino Daily News.
Era sabido que cerca de três centenas de mísseis e de drones tinham sobrevoado o Iraque, a Síria e a Jordânia, mas na sua grande maioria, ou cerca de 99%, terão sido neutralizados pelas forças israelitas, com a ajuda americana e inglesa. Entretanto, as autoridades iranianas declararam que a operação militar contra Israel “foi concluída”, mas que se houver resposta israelita a este ataque “a próxima operação será muito maior” e, ao mesmo tempo, avisaram os Estados Unidos que as suas bases militares na região serão um alvo iraniano, no caso de virem a cooperar em eventuais acções ofensivas israelitas.
Em Israel desvalorizam-se os efeitos do ataque e afirma-se que quase tudo foi abatido, enquanto o Irão se mostra satisfeito com a retaliação que realizou. Não sabemos a verdade, mas desejamos que haja contenção das partes e que a Diplomacia lhes possa mostrar que é melhor pararem…
O facto é que a iniciativa iraniana pode gerar uma escalada perigosíssima. Por isso, foi condenada, sobretudo pelos Estados Unidos e pelos seus amigos e aliados que, mais uma vez, têm dois pesos e duas medidas, pois condenam o Irão por esta acção, mas ainda não condenaram Israel pelos seus excessos e as suas repetidas agressões, além de lhe continuar a fornecer equipamento militar.

sábado, 13 de abril de 2024

Narendra Modi e as eleições indianas

O processo eleitoral indiano arranca no próximo dia 19 de abril e decorrerá em sete fases até ao dia 1 de Junho, com o apuramento dos resultados finais a iniciar-se três dias depois. Com cerca de 1,4 mil milhões de habitantes, a Índia já é o país mais populoso do mundo e os seus cadernos eleitorais têm cerca de 970 milhões de eleitores, que votarão em mais de um milhão de assembleias de voto.
O Bharatiya Janata Party (BJP), que é o partido do actual primeiro-ministro Narendra Modi, é o favorito à vitória e, depois de Jawaharlal Nehru, pode tornar-se no segundo primeiro-ministro indiano a conseguir três mandatos consecutivos. O seu principal adversário é Rahul Gandhi, bisneto de Nehru, que é o candidato do Indian National Congress (INC), mas as sondagens são-lhe muito desfavoráveis.
A este propósito, a revista Newsweek publicou uma entrevista exclusiva com Narendra Modi, classifica-o como unstoppable, isto é, imparável, anunciando que ele “está mudando a Índia e o mundo”. A longa entrevista de Modi é, sobretudo, uma peça de propaganda e uma reportagem muito laudatória em relação à sua liderança, tendo todas as características de uma publireportagem ou reportagem paga.
Modi quer ter um estatuto mais elevado na comunidade internacional e paga para isso, mas porque é muito popular internamente, tudo aponta para que a sua vitória seja muito expressiva. Ele tem liderado a modernização do país, desde as infraestruturas às redes digitais, bem como a luta contra a pobreza. Porém, a sua ambição está cheia de contradições e revela um radical do nacionalismo e do hinduísmo, que coloca as suas hostes do RSS, a milícia paramilitar nacionalista hindu do BJP, a destruir mesquitas e igrejas e a perseguir, por vezes de forma muito violenta, as alargadas comunidades muçulmanas e cristãs da Índia.
Diz-se que a Índia é a maior democracia do mundo, mas há quem disso tenha dúvidas. A última edição portuguesa da revista Le Monde Diplomatique pergunta mesmo se a Índia é uma democracia.

terça-feira, 9 de abril de 2024

O eclipse que impressionou a América

Um eclipse solar total ocorreu ontem, quando a Lua se interpôs entre a Terra e o Sol, dando origem a um espectáculo seguido por milhões de pessoas em grande parte da América do Norte (México, Estados Unidos e Canadá), mas que também foi observado em algumas regiões ocidentais da Europa, incluindo os arquipélagos dos Açores e da Madeira.
Se antigamente os eclipses eram fenómenos venerados e temidos pelas populações, nos tempos modernos tornaram-se um acontecimento de massas, sobretudo pela divulgação prévia que deles é feita pela comunicação social, que acelera o interesse das populações por este tipo de acontecimentos que são esteticamente belos e que impressionam. Por isso, nas suas edições de hoje, a imprensa americana deu eco noticioso a este grande eclipse, publicando fotografias do fenómeno, assim acontecendo com o The Washington Post
Porém, as principais notícias que foram publicadas não foram para explicar o fenómeno, nem para salientar o enorme número de amadores de Astronomia que o acompanharam com óculos e filtros apropriados. A imprensa tratou de descrever os monumentais engarrafamentos que aconteceram nas estradas americanas quando, após a observação do eclipse, todos regressavam a casa. Escreveu-se que “a Améica parou” e, durante os quatro minutos ou menos que durou o eclipse em vários estados americanos, cessou todo o movimento nas estradas, mas depois seguiu-se uma monumental confusão.