sexta-feira, 10 de setembro de 2021

R.I.P. Jorge Sampaio

Retrato oficial do Presidente
Jorge Sampaio por Paula Rego (2005)
Com 81 anos de idade faleceu hoje Jorge Sampaio. É uma triste notícia para a nação portuguesa porque acaba de perder um dos seus mais ilustres filhos das últimas gerações, que não era apenas um antigo e prestigiado Presidente da República mas, sobretudo, uma referência da Democracia Portuguesa.
Antes do 25 de Abril foi dirigente estudantil no tempo do combate à Ditadura, foi advogado de presos políticos oposicionistas e foi um exemplar defensor da Liberdade e da Democracia. Depois da “madrugada inteira e limpa” foi um esclarecido apoiante dos capitães de Abril que derrubaram a Ditadura, integrou governos provisórios, foi deputado e líder parlamentar e, apesar de se ter filiado no Partido Socialista e ter sido seu secretário-geral, seguiu uma vida política bastante autónoma que o levou à Presidência da Câmara Municipal de Lisboa e à Presidência da República.  Entre muitas outras intervenções relevantes, recordo a sua entrevista à cadeia americana CNN, que se revelou decisiva para a resolução do problema de Timor.
As homenagens que lhe estão a ser prestadas por todos os quadrantes políticos portugueses distinguem o homem de causas e o exemplo de ética, mostrando a grandeza da sua coragem, humanismo e solidariedade. Já ouvira falar dele como oposicionista à Ditadura e, depois de 1974, fui algumas vezes a sessões públicas e a comícios apenas para o ouvir. Nunca tive o privilégio de alguma vez lhe ter falado, apesar de me ter cruzado com ele várias vezes e de, como cidadão, sempre lhe ter dado o meu voto.
Com o desaparecimento de Jorge Sampaio todos perdemos um protagonista de referência da nossa história recente, como homem de cultura, como cidadão exemplar e como político de excelência. 
Homens como Jorge Sampaio fazem muita falta à Democracia portuguesa!

Bolsonaro recua e dá o dito por não dito

Nas recentes celebrações do 199º aniversário da independência do Brasil, pudemos ver e ouvir nas televisões o discurso agressivo e irresponsável de Jair Bolsonaro, em que insultou o Supremo Tribunal Federal (STF) e os seus onze juízes, sobretudo o ministro Alexandre de Moraes, incitando os seus seguidores à desobediência judicial ou mesmo a um levantamento popular. Na rua foi pedida a destituição e a prisão de todos os juízes do STF e até uma intervenção militar que ajudasse a manter Bolsonaro no poder. Foram algumas horas de grande tensão a lembrar as atitudes antidemocráticas e golpistas de Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos que incitou os seus fanáticos seguidores a fazer a insólita invasão do Capitólio no dia 6 de Janeiro de 2021. Bolsonaro ensaiou qualquer coisa semelhante, mas não previu que a dignidade ainda é um valor na sociedade brasileira e na sua esfera judicial, apesar de alguns maus exemplos como o do imprudente e ambicioso Sérgio Moro.
Através da televisão, Luiz Fux, o presidente do STF, reagiu com firmeza e sem equívocos às ameaças de Bolsonaro, que terá concluído que perdeu esta batalha e que tinha ido longe demais ao desafiar o STF. Por isso, dois dias depois do seu inflamado discurso, veio fazer uma declaração em que recua, diz respeitar os poderes dos órgãos constitucionais e até elogia o ministro Alexandre de Moraes que antes atacara com extrema violência verbal. Segundo revelam os jornais, por intermediação do ex-presidente Temer, já está acordado um encontro entre Bolsonaro e Alexandre de Moraes para discutir os acontecimentos de 7 de Setembro.
Parece, portanto, que a tensão no Brasil serenou. Ainda bem.