domingo, 4 de agosto de 2024

A escandalosa voracidade da nossa banca

A imprensa anunciou ontem que a banca portuguesa, que no ano de 2023 registara os seus maiores lucros de sempre, está a repetir esses lucros históricos em 2024. É uma boa notícia para a banca e para os banqueiros, mas é uma triste notícia para os depositantes e para quem necessita de crédito para a sua vida corrente, que se vê diariamente extorquido pelos apetites vorazes da banca, incluindo a banca pública.
A notícia apareceu na edição do oje – jornal económico, mas também foi destacada noutros periódicos: os cinco maiores bancos portugueses – BCP, BPI, CGD, Novo Banco e Santander – lucraram mais de 2619 milhões de euros no 1º semestre do ano de 2024, o que significa um lucro diário de 14 milhões de euros e um crescimento de 31% nos lucros relativamente ao ano anterior. A CGD teve o maior crescimento absoluto de lucro pois conseguiu 889 milhões de euros, o que significa um aumento de 281 milhões de euros relativamente ao 1º semestre de 2023, enquanto o Santander foi o banco cujos lucros mais cresceram em termos relativos, ao registar um lucro de 547,7 milhões de euros, correspondentes a um crescimento de 64,2% do seu lucro.
Os banqueiros explicam estes números com a margem financeira, o indicador que mede a diferença entre os juros cobrados nos créditos concedidos e os juros pagos nos depósitos, que atingiu 1426 milhões de euros durante o semestre, mas também nos proveitos com as comissões que atingiram 289 milhões de euros.
De facto, estes escandalosos resultados resultam da voracidade da banca e assentam na margem financeira e na cobrança de comissões por tudo e por nada, como por exemplo na “comissão de manutenção de conta”, uma verdadeira prática de extorsão praticada contra os depositantes e que, mensalmente, me vai ao bolso. Embora esses resultados também resultem de um maior dinamismo comercial e da melhoria operacional da estrutura da banca, da situação económica do país e da significativa redução das imparidades dos créditos, a prepotência da banca é mesmo um verdadeiro escândalo.
Estes números parecem referir-se a um país de grande actividade económica, de enorme riqueza e de muita prosperidade, mas na verdade referem-se a Portugal e recordam-nos “O Canto e as Armas”, uma obra publicada em 1967 por Manuel Alegre, certamente o livro mais cantado em Portugal, que inclui o Poemarma e o verso que apela a “que o poema [...] chegue ao banco e grite: abaixo a pança!”. Um belo poema!