quarta-feira, 31 de maio de 2023

Os grandes veleiros são História ao vivo

O diário El Comercio que se publica em Gijón, a cidade mais povoada da Comunidade Autónoma, ou Principado das Astúrias, destaca na sua edição de hoje a visita ao seu porto do navio-escola mexicano Cuauhtémoc, certamente porque a visita de um veleiro é um acontecimento relevante.
O navio é um veleiro que arma em barca, pertence à Marinha do México e foi construído em 1982 nos estaleiros de Bilbau, onde também tinham sido construídos os veleiros Gloria (Colômbia), Guayas (Equador) e Simón Bolivar (Venezuela). As principais missões do navio-escola mexicano são a realização das viagens de instrução dos cadetes da Marinha do México.
Este ano o Cuauhtémoc largou do porto de Acapulco no dia 1 de Abril para o seu “crucero de instrucción ‘Ibero-Bizantino 2023” numa viagem de nove meses, em que vai “llevando por el mundo el mensaje de paz y buena voluntad del pueblo mexicano”. Depois de Cuba e dos Estados Unidos, o navio fez a travessia do Atlântico em 21 dias e atracou em Gijón, iniciando a componente europeia da sua viagem em que visitará portos de Espanha, França, Reino Unido, Turquia, Itália e Portugal. Quando terminar a sua viagem, aquele “Embajador y Caballero de los Mares” terá visitado treze países.
Em Portugal também temos o navio-escola Sagres e alguns outros belos veleiros históricos, mas são temas que não interessam à imprensa portuguesa, ao contrário do que sucede em Espanha, em que são destacadas as viagens do seu navio-escola Juan Sebastián de Elcano e as visitas dos grandes veleiros internacionais, como sucede com esta visita do Cuauhtémoc. É uma questão cultural, que mostra como a imprensa e os outros meios de comunicação social portugueses vivem sobretudo do sensacionalismo, das fake news e das agendas encomendadas. Como estava enganado o poeta António Nobre quando escreveu “Georges! Anda ver o meu país de Marinheiros/ O meu país das Naus, de esquadras e de frotas!” (Só), ou quando não foi ouvida a mensagem marítima do poeta Fernando Pessoa, quando escreveu que “um navio será sempre belo, só porque é um navio” (Ode Marítima).

terça-feira, 30 de maio de 2023

O reeleito Erdoğan e o futuro da Turquia

A 2ª volta das eleições presidenciais na Turquia, realizadas no dia 28 de Maio, confirmaram a tendência verificada na 1ª volta e deram a vitória a Recep Tayyip Erdoğan com mais de 27 milhões de votos (52,16%), derrotando o candidato Kemal Kılıçdaroğlu que obteve mais de 25 milhões de votos (47,84%). Depois de duas décadas no poder, primeiro como chefe do governo e depois como presidente em dois mandatos, o terceiro mandato presidencial de Recep Erdoğan inicia-se com o país dividido entre a sua linha de estabilidade conservadora e a vontade de mudança que animou o candidato derrotado. 
Porém, Erdoğan prometeu unir a Turquia, combater a inflação que está a afectar a economia e a sociedade turcas e incrementar a gigantesca tarefa de reconstrução das áreas destruídas pelo sismo de 6 de Fevereiro de 2023. Além disso, os desafios de Erdoğan passam pelo seu papel como eventual mediador no processo de paz da Ucrânia, pela sua atitude em relação à NATO e à adesão sueca, pela resolução das questões curdas, pelo apaziguamento da sua relação com a Síria e, de uma forma mais geral, pela construção de um prestígio regional que lhe reconheça o estatuto de potência regional numa zona-charneira entre vários mundos.
Apesar de ter recebido mensagens de felicitações de todo o mundo, incluindo das lideranças dos Estados Unidos e da União Europeia, o facto é que num comício realizado poucas horas antes da votação, Recep Erdoğan acusou o presidente Joe Biden de ter “dado ordens” aos turcos para que o derrotassem nas urnas e o seu adversário Kılıçdaroğlu de se aliar aos interesses ocidentais e de “atacar a Rússia, uma aliada económica e política do país”. Estas tensões não se esquecem facilmente. 
Do que não restam dúvidas é que a presidência de Recep Erdoğan vai dar à Turquia um maior protagonismo na política internacional, embora a sua democracia (árabe) seja diversa das democracias do mundo ocidental.

A alternância do poder em Espanha

No passado domingo realizaram-se as eleições regionais em doze das dezassete comunidades autónomas espanholas e, também, as eleições municipais, completando-se assim o ciclo eleitoral local e regional espanhol, uma vez que as eleições já tinham sido realizadas nas outras cinco regiões autónomas.
Os resultados foram inequívocos, com o PSOE e o primeiro-ministro Pedro Sánchez a sofrerem uma pesada derrota, enquanto o PP de Alberto Núñez Feijóo conseguiu uma assinalável vitória. Dessa forma, o mapa regional da Espanha deixou de ser dominado pelo PSOE, pelo que o PP já reivindica o início de um novo ciclo político.
O PSOE que governa a Espanha desde 2018, liderava os governos regionais de nove das doze regiões que foram a votos e perdeu mais de metade, conservando apenas as Astúrias, Canárias, Castela-la-Mancha e Navarra. Já o PP, que governava apenas Madrid e Múrcia, poderá ficar a governar oito regiões autónomas se conseguir concretizar alguns acordos de coligação.
No que respeita às eleições municipais realizadas em todo o país, também o PP foi o partido mais votado, conseguindo a maioria absoluta em Madrid e conquistando à esquerda algumas grandes cidades, como Sevilha e Valência.
De uma forma geral a imprensa espanhola destacou a derrota socialista e tem afirmado que um tsunami atingiu o PSOE por todo o território. Perante este quadro, o primeiro-ministro Pedro Sánchez decidiu antecipar para 23 de Julho as eleições legislativas nacionais que estavam previstas para Dezembro, conforme noticia o El País.
Chama-se a isto a alternância do poder, que é uma das mais importantes marcas da Democracia, embora esta mudança do eleitorado espanhol nos recorde a famosíssima frase de John Emerich Edward Dalberg-Acton, o historiador britânico que numa carta dirigida em 1887 ao Bispo Mandell Creighton, escreveu: “o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente”. 
Os espanhóis parece que se cansaram daqueles que se deslumbram com o poder...

segunda-feira, 29 de maio de 2023

China entra no grande mercado da aviação

O primeiro grande avião de passageiros que foi fabricado na China realizou ontem o seu voo comercial inaugural entre Xangai e Pequim, que foi concluído em pouco menos de três horas. Nas suas edições de hoje, a imprensa chinesa destaca esse acontecimento e o jornal Shanghai Daily dedica-lhe toda a sua primeira página.
Construído pela COMAC (Commercial Aircraft Corporation of China), o novo avião - Comac C919 - representa a vontade chinesa de contrariar o actual domínio no mercado da aviação comercial de médio curso da europeia Airbus e da americana Boeing, sobretudo através dos seus modelos A320 e B737. O desenvolvimento do projecto chinês durou quinze anos, mas ainda depende em elevado grau de componentes fornecidos por empresas ocidentais, como os motores e os sistemas de navegação, embora os principais elementos do avião como o nariz, a fuselagem, as asas e os estabilizadores verticais e horizontais tenham sido projectados pela COMAC. O avião tem 164 lugares, destina-se a voos de médio curso e tem um alcance nominal de 5.555 quilómetros.
As primeiras encomendas do novo avião foram feitas pela companhia China Eastern Airlines mas, segundo revela a imprensa, já haverá cerca de 1.200 pedidos para o C919, sobretudo por parte de companhias aéreas domésticas. No entanto, é improvável que a COMAC venha a receber encomendas do exterior até que seja certificado pelos reguladores aeronáuticos, tanto europeus como americanos. Porém, como se costuma dizer, a China é um corredor de fundo e até tem uma especial paciência para esperar.

sexta-feira, 26 de maio de 2023

R.I.P. Tina Turner

Tina Turner, que era considerada a rainha do rock and roll, faleceu ontem na sua casa de Kusnacht, perto da cidade suiça de Zurique, onde vivia desde 1994. Tinha 83 anos de idade. Nasceu no Tennessee e o seu verdadeiro nome era Anna Mae Bullock, mas cedo adoptou o nome artístico que não só a tornou famosa, como também contribuiu para fazer dela a artista feminina mais bem-sucedida da sua geração, por ter vendido mais de 200 milhões de discos em todo o mundo e por ter vencido por doze vezes o Grammy, o prémio que reconhece a excelência do trabalho na arte da produção musical.
Por razões de sensibilidade pessoal nunca fui um admirador entusiasta de Tina Turner nem acompanhei a sua carreira, mas o seu desaparecimento foi reportado pela imprensa de todo o mundo com grande destaque, o que habitualmente só acontece com grandes dirigentes políticos mundiais e só raramente acontece com figuras do espectáculo desportivo ou musical.
A sua imagem de marca terá sido a canção simply the best, pois essa frase passou a estar associada ao seu nome que, segundo relata a imprensa, inspirou milhões de pessoas com “a sua verdade e a sua voz”. O jornal nova-iorquino Daily News dedica-lhe toda a sua primeira página e chama-lhe "legend of soul, rock, stage and screen", isto é, vê em Tina Turner quase a perfeição.
Tina Turner esteve em Portugal por duas vezes, tendo-se apresentado em Lisboa onde deu dois grandes concertos, respectivamente no Estádio de Alvalade em 1990 e, seis anos depois, no Estádio do Restelo.

quinta-feira, 25 de maio de 2023

O vulcão “El Popo” está activo no México

O vulcão Popocatépeti, que é conhecido vulgarmente como “El Popo”, entrou em erupção. Localizado no centro do México e a cerca de setenta quilómetros para sueste da cidade do México, a sua actividade tem proporcionado impressionantes imagens que levaram o importante diário americano The Wall Street Journal a publicar uma fotografia a quatro colunas na primeira página da sua última edição.
No passado fim-de-semana a actividade do “El Popo” acentuou-se com exalações e explosões moderadas, assim como a emissão de cinzas e fragmentos incandescentes nas proximidades da cratera, pelo que alguns milhões de pessoas foram avisadas pelas autoridades para a hipótese de terem que abandonar as suas casas, enquanto os dois aeroportos internacionais da capital estiveram encerrados durante várias horas, devido à intensidade dos fumos e cinzas que cobriram toda a região. Cerca de 25 milhões de pessoas vivem a menos de cem quilómetros da cratera do vulcão e esse número mostra bem a ameaça que constitui para a população.
O México é um país com grande actividade vulcânica com cerca de quatro dezenas de vulcões, alguns dos quais activos, mas o mais famoso é exactamente o Popocatépeti, que é o segundo mais alto do país. A montanha do “El Popo” tem 5.426 metros de altitude e, em condições normais de visibilidade, pode ser vista da capital.
Depois de algumas décadas de dormência, o Popocatépeti tornou-se activo em 1994 e, desde então, tem registado intensa actividade, sobretudo entre 2000 e 2003 e entre 2012 e 2016. As autoridades locais afirmam estar atentas na monitorização do fenómeno.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

João Almeida é uma estrela que brilha

Exceptuando alguns futebolistas cuja notoriedade foi ou ainda é alimentada pela cumplicidade entre as indústrias do marketing e do futebol, são muito raros os atletas portugueses que têm um verdadeiro sucesso individual nas competições internacionais em que participam, pelo que os casos dos campeões olímpicos Carlos Lopes e Rosa Mota continuam a ser uma referência no desporto português. Não são casos únicos, porque também houve outros atletas de grande sucesso internacional como Joaquim Agostinho e Rui Costa (ciclismo), Fernanda Ribeiro e Nélson Évora (atletismo), Fernando Pimenta (canoagem) e alguns outros que deram grandes alegrias aos desportistas portugueses.
Ontem, o ciclista João Almeida entrou na lista dos nossos grandes atletas ao vencer a duríssima 16ª etapa do Giro d’Italia disputada entre Sabbio Chiese e Monte Bondone. Foram 203 quilómetros num percurso que incluía várias montanhas e todos pudemos ver, em directo pela televisão, a forma decidida e inteligente como João Almeida se conduziu ao longo da corrida, como estudou os adversários e como os superou na última subida para o Monte Bondone. Foi um notável feito do desporto português que muito nos entusiasmou e que aqui aplaudimos.
Alguns jornais italianos e portugueses destacaram nas suas primeiras páginas o triunfo do ciclista português, mas escolhemos a capa do jornal Record para ilustrar este texto. Agora João Almeida está no 2º lugar da classificação geral e todos ansiamos para que ainda nos possa dar mais alegrias.

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Sonhos independentistas em solo europeu

A Europa é, por razões históricas, um aglomerado de povos, de culturas e de línguas, agrupando-se em cinco dezenas de países das mais diversas dimensões, em que o maior é a Rússia e o menor é o Vaticano. Dessa diversidade geográfica e cultural resultaram rivalidades, confrontações e guerras, passando a ter sentido a expressão “Europa das Pátrias”. A partir de 1957, quando o Tratado de Roma começou a criar um movimento de unidade em torno do chamado ideal europeu e criou a Comunidade Económica Europeia como espaço de paz, de solidariedade e de progresso, algumas vozes contrariaram essa ideia com o argumento que não era possível unir aquilo que a história tinha dividido. A expressão “Europa das Pátrias” popularizou-se, sobretudo pelas posturas nacionalistas do general De Gaulle, embora os europeus se tivessem tornado cada vez mais adeptos de uma Europa unida e solidária, como revelaram as continuadas sondagens do Eurostat. Por isso, a ideia de “Europa das Pátrias” depressa evoluiu e deu origem à “Europa das regiões”, sobretudo depois que o Tratado de Maastricht instituiu o Comité das Regiões, de carácter consultivo, em que têm assento os representantes das colectividades regionais e locais. As regiões têm sido cada vez mais valorizadas no quadro institucional europeu e o maior exemplo dessa realidade é o crescente protagonismo das regiões transfronteiriças.
No entanto, as reivindicações independentistas proliferam no espaço europeu, como mostram os exemplos da Checoslováquia e da Jugoslávia, mas também as reivindicações que, com maior ou menor expressão, se verificam em regiões ou países como a Catalunha, País Basco, Navarra, Córsega, Bretanha, Flandres, Chipre, Padânia, Piemonte, Escócia, Irlanda do Norte, Donetsk e Lugansk, entre outras. Menos conhecida é a reivindicação do País de Gales, um país do sudoeste da Grã-Bretanha, com 20 mil quilómetros quadrados de superfície e cerca de três milhões de habitantes, que o jornal Wales on Sunday, a edição dominical do diário galês Western Mail,  publicitou com o título “marching for independence”, referindo que "thousands unite for Wales to stand alone". 
Afinal o Reino Unido até parece caminhar para a desunião…

domingo, 21 de maio de 2023

Os belos festivais marítimos da Bretanha

A tradição marítima e a prática da navegação têm poucos lugares no mundo onde despertem tanto entusiasmo como na Bretanha, uma região administrativa do oeste da França com uma extensa costa atlântica, sendo inúmeros os festivais náuticos e as grandes regatas que se realizam naquela região. O golfo de Morbihan, nas proximidades da comuna de Vannes e a cerca de cinquenta quilómetros de Lorient e de Sainte-Nazaire, é uma área de belas paisagens marítimas, salpicada de ilhas, de ilhotes e de pequenas reentrâncias, além de cerca de duas dezenas de pequenos portos de pesca ou de recreio. É neste golfo que, nos anos ímpares, acontece a Semaine du Golfe – Morbihan, em que muitas centenas de embarcações históricas provenientes de todos os cantos da Europa, se encontram e confraternizam durante uma semana de festa, sobretudo embarcações históricas de vela e de remo e, em especial, alguns grandes e médios veleiros. É uma grande manifestação cultural e é uma grande festa popular!
Este ano o festival no golfo de Morbihan iniciou-se no dia 15 de Maio e ontem realizou-se o imponente desfile náutico, iniciado a partir do farol de Port-Navalo na entrada do golfo, o que constituiu um grande espectáculo marítimo, com as muitas centenas de embarcações vistosamente embandeiradas a fazer a entrada do golfo e a desfilar nos seus canais. Depois de uma interrupção de quatro anos devido à epidemia do covid-19, a Semaine du Golfe regressou e conforme relata hoje a edição do jornal Le Télégramme que se publica em Brest, que dedicou uma bela fotografia ao acontecimento na sua primeira página, o golfo de Morbihan reencontrou-se com uma das suas mais interessantes vocações: a preservação da cultura marítima.

A integração portuguesa no Luxemburgo

O Grão-Ducado do Luxemburgo é um pequeno país da Europa Ocidental, encravado entre a Bélgica, a Alemanha e a França, com uma superfície de 2.586 quilómetros quadrados e cerca de 650 mil habitantes. É um país muito desenvolvido, com uma economia avançada e o seu PIB per capita é um dos mais elevados do mundo.
A prosperidade luxemburguesa está muito relacionada com a imigração, uma vez que cerca de 47% da sua população não tem a nacionalidade luxemburguesa e, nesse grupo, destacam-se cerca de cem mil portugueses que constituem mais de 15 por cento da população. Os portugueses constituem a maior comunidade estrangeira do Luxemburgo e, num país, em que a língua oficial é o luxemburguês e que as línguas administrativas são o francês e o alemão, acontece que o português é uma das mais importantes línguas do país, sendo falado por cerca de 20 por cento da sua população. Quando em 2017, o primeiro-ministro luxemburguês Xavier Bettel visitou o Parlamento Europeu, afirmou que “o Luxemburgo não seria o que é hoje sem a comunidade portuguesa”, pois ela muito “ajudou a construir o meu país”.
O enquadramento social e cultural dos imigrantes tem sido uma responsabilidade do Conselho Nacional de Estrangeiros que vai ser extinto e que, dentro de alguns meses, será substituído pelo Conselho Superior para a Convivência Intercultural.
Segundo revela a edição deste fim-de-semana do jornal Luxemburger Wort, a comunidade portuguesa tem-se movimentado para garantir o direito à sua integração no país que adoptou, mas sem que perca a sua identidade nacional. Para ilustrar essa notícia, o jornal publica em primeira página uma fotografia de arquivo de uma procissão, em que se destacam as bandeiras de Portugal e do Luxemburgo e escreve: lado a lado ou juntos?

sábado, 20 de maio de 2023

A reinterpretação da tragédia do Titanic

No dia 10 de Abril de 1912, o maior transatlântico que até então fora construído, largou do porto inglês de Southampton com destino a Nova Iorque, na sua viagem inaugural, mas na noite do dia 14 para o dia 15 de Abril colidiu com um iceberg, afundando-se em menos de três horas. Dos 2.223 tripulantes e passageiros apenas houve 706 sobreviventes, o que significa que 1.517 pessoas perderam a vida nas águas geladas do Atlântico Norte. O navio chamava-se Titanic e, desde então, a sua perda passou a ser considerada como o mais famoso naufrágio do mundo e tornou-se o objecto de muitas histórias e muitas lendas.
O navio, ou o que dele resta, foi descoberto em 1985 no fundo do mar, a cerca de quatro mil metros de profundidade, numa posição a cerca de 650 quilómetros da costa canadiana. Desde então, a aventura e a tragédia do Titanic renasceram, sobretudo na literatura e no cinema, mas também despertaram o interesse da arqueologia marítima, daí resultando várias expedições interessadas no estudo daquele famoso naufrágio. As novas tecnologias foram postas ao serviço de muitos projectos, com destaque para aquele que foi conduzido no Verão de 2022 pela empresa de cartografia marítima Magellan, em associação com a Atlantic Produtions. Então, num trabalho realizado por dois ROV (Remotely Operated Vehicle), que são controlados remotamente, após cerca de duzentas horas de operação foram obtidas mais de 700 mil fotografias e, a partir delas, foi feita a reconstrução digital de todo o navio em 3D, o que permite visualizar todo o conjunto como se a água tivesse sido drenada. Assim, é possível reinterpretar ou saber melhor o que de facto aconteceu naquela noite em que naufragou o Titanic.
Alguns jornais, como por exemplo o The Dallas Morning News, publicaram com grande destaque algumas fotografias digitais do navio, porque a lenda do Titanic continua viva um pouco por todo o mundo.

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Canadá: alterações climáticas e incêndios

A problemática das alterações climáticas está cada vez mais presente nas nossas vidas e, mesmo os não especialistas, já assumiram a gravidade da situação. Ontem registamos as inundações na Emilia-Romana, hoje destacamos os incêndios florestais na província canadiana de Alberta, que tem a sua capital na cidade de Edmonton e uma população de mais de quatro milhões de habitantes. As elevadas temperaturas que têm afectado o oeste do Canadá anteciparam a época dos incêndios e a população está a ser afectada por inúmeros megaincêndios florestais, que desde o início do mês assolam quatro províncias canadianas, designadamente Alberta, Colúmbia Britânica, Saskatchewan e Manitoba, onde cerca de quatro dezenas de milhar de moradores foram obrigados a abandonar as suas casas. Tem havido muitos protestos da população contra a impreparação das autoridades para enfrentar a situação, ou até a sua passividade perante os poderosos interesses da indústria do petróleo, mas ontem “tinham chegado finalmente os bombeiros do Quebec e Ontario”.
Embora o Canadá esteja na vanguarda na questão das alterações climáticas, trata-se do quarto maior produtor de petróleo do mundo, de que cerca de 80% é explorado exactamente na província de Alberta. Os incêndios têm afectado a população, mas também os produtores de petróleo e gás natural, tendo muitas explorações interrompido as suas operações como medida de precaução.
Dadas as relações históricas entre o Canadá e a França, o jornal francês Libération decidiu enviar uma equipa de reportagem para Alberta onde estão activos 110 incêndios dos quais 37 são considerados fora de controlo. Na sua edição de hoje, o jornal desvalorizou todo o noticiário internacional e dedicou toda a sua primeira página ao drama do Canadá, onde se cruzam alterações climáticas, incêndios florestais e... os interesses da indústria do petróleo,

quinta-feira, 18 de maio de 2023

As alterações climáticas afectam a Itália

A região da Emilia-Romana, situada a norte de Itália, cuja capital é Bolonha e que é conhecida pelas suas belas cidades medievais, foi ontem afectada por grandes chuvadas e muitas inundações, que alagaram as cidades e provocaram dezenas de desaparecidos e milhares de desalojados. Segundo refere a imprensa italiana foram as piores cheias registadas no país nos últimos cem anos e, até ao momento, estão registadas 14 mortes.
Em 36 horas registou-se a mesma precipitação dos seis meses anteriores, os rios transbordaram e houve inundações sérias em mais de duas dezenas de municípios, havendo até um caso em que foi declarado o estado de emergência. As imagens transmitidas pelas televisões são impressionantes e mostram as ruas inundadas, bem como o trabalho dos bombeiros e dos voluntários envolvidos em centenas de operações de resgate por toda a região. Alguns milhares de pessoas que procuraram refúgio em telhados e terraços, foram retiradas com recurso a helicópteros ou botes de borracha.
O Grande Prémio de Itália de Formula 1 que estava previsto para realizar-se no próximo fim-de-semana foi cancelado e, segundo as autoridades, mais de cinquenta mil pessoas ficaram sem energia eléctrica.
Este é mais um fenómeno extremo que, com toda a probabilidade, está associado às alterações climáticas que se estão a verificar no nosso planeta e para as quais ainda há muita ignorância e egoísmo por parte das autoridades nacionais. A imagem publicada na primeira página da edição de hoje do jornal La Repubblica vale mais do que mil palavras...

terça-feira, 16 de maio de 2023

O triunfante périplo europeu de Zelensky

Volodymyr Zelensky acaba de concretizar uma notável vitória política ao realizar um périplo europeu em que visitou o Papa Francisco e os principais líderes europeus, mas em que também recebeu o prestigiado Prémio Internacional Carlos Magno, na cidade alemã de Aachen.
Esse périplo começou em Roma com Giorgia Meloni, continuou em Berlim com Olaf Scholz, prosseguiu em Paris com Emmanuel Macron e terminou em Chequers, na residência de campo do primeiro-ministro britânico Rishi Sunak. Nunca houvera uma ofensiva diplomática ucraniana tão expressiva como esta e a imprensa deu-lhe a devida cobertura, sobretudo no Reino Unido, onde a fotografia do abraço entre Sunak e Zelensky apareceu em todos os jornais de referência.
De acordo com as declarações que foram conhecidas, Zelensky pediu mais apoio em armamento e recebeu a confirmação da solidariedade dos líderes europeus, bem como a promessa de mais fornecimentos de armas e, eventualmente, de aviões de combate. A Alemanha já tinha anunciado uma ajuda militar de 2,7 mil milhões de euros, a França prometeu fornecer tanques AMX-10RC e o Reino Unido avançou com o fornecimento de centenas de drones de ataque. Porém, pouco se sabe quanto ao eventual fornecimento de aviões de ataque que terá sido o principal pedido de Zelensky. Segundo o jornal The Guardian foram manifestadas em Londres algumas preocupações pelo fornecimento de “equipamentos militares cada vez mais letais”, tendo sido dito que em vez de "escalar o conflito fornecendo armas cada vez mais letais, o Reino Unido deveria estar pedindo negociações para acabar com a guerra".
Não se sabe tudo o que foi discutido nos diversos encontros de Zelensky com os líderes europeus mas, para além dos abraços de solidariedade e da promessa de continuação do apoio militar, certamente, também se falou sobre a forma de acabar com a guerra, conforme muita gente vai pedindo.

segunda-feira, 15 de maio de 2023

Adiada a decisão eleitoral na Turquia

A Turquia surpreendeu o mundo com as eleições presidenciais e parlamentares que ontem se realizaram, quer pela normalidade com que decorreram, quer pela participação de mais de 64 milhões de eleitores, correspondentes a 86,99 por cento do eleitorado.
Segundo anuncia a edição de hoje do diário Daily Sabah, o actual presidente Recep Tayyip Erdoğan obteve 49,5 por cento dos votos (27.088.360) e o seu rival social-democrata Kemal Kılıçdaroğlu conseguiu 44,89 por cento dos votos (24.568.196). Como nenhum dos candidatos obteve 50 por cento dos votos, haverá uma segunda volta que se realizará no dia 28 de Maio, o que acentuará a enorme polarização que já existe entre o candidato da continuidade e o candidato da renovação. Alguns analistas têm exagerado e têm designado esta eleição como “a eleição do século”, pois ela pode determinar uma nova geopolítica regional, com novas alianças no plano internacional, novas atitudes face à vizinha Síria e ao seu conflito e, sobretudo, mudanças em relação ao Curdistão, ao PKK e à guerra que decorre nas margens do mar Negro.
Relativamente às eleições parlamentares turcas, ainda não são conhecidos os resultados finais, mas tem sido avançada a vitória do AKP e de Erdoğan. O AKP - Partido da Justiça e do Desenvolvimento (conservador e islamista) do presidente Erdoğan e os seus aliados terão obtido 50 por cento dos votos e 325 dos 600 assentos parlamentares, enquanto o CHP – Partido Republicano do Povo (centro-esquerda e laico) de Kemal Kılıçdaroğlu e a aliança de partidos que o apoia, terão conseguido 34 por cento dos votos e 215 mandatos. O HDP - Partido Democrático dos Povos (esquerdista e pró-curdo) e os seus aliados terão assegurado 60 deputados.
Na Turquia, vamos ver o que aí vem, ou como diriam os franceses, on vera!

domingo, 14 de maio de 2023

A guerra na Ucrânia e a mediação do Papa

Volodymyr Zelensky deslocou-se a Roma e encontrou-se com o presidente Sergio Mattarella e com a primeira-ministra Giorgia Meloni, mas foi o encontro com o Papa Francisco que tornou importante esta deslocação a Itália do presidente da Ucrânia. 
Segundo relata a imprensa italiana, o Papa começou por dizer “obrigado pela visita”, ao que o presidente ucraniano respondeu “é uma honra estar aqui”, mas pouco se sabe sobre o que foi conversado durante a reunião que durou cerca de 40 minutos. Uma breve declaração depois divulgada, explica que ambos discutiram a “situação humanitária e política causada pela guerra na Ucrânia” e que “ambos concordaram sobre a necessidade de continuar os esforços humanitários em apoio à população”. Porém, não houve quaisquer referências à cessação das hostilidades ou à abertura de pontes entre as partes para um diálogo que conduza à paz. O Papa mantém a sua posição de procura do diálogo entre as partes e já afirmou várias vezes que está pronto para ir a Kiev, se também puder ir a Moscovo. Pelo seu lado, Zelensky pediu ao Papa “para condenar os crimes russos na Ucrânia, porque não pode haver igualdade entre a vítima e o agressor” e afirmou que o seu país não precisa de mediadores, o que significa a sua rejeição dos esforços da Santa Sé e a sua repetida exigência da prévia retirada russa dos territórios ocupados, como condição para quaisquer negociações.
Entretanto, são contraditórias as notícias que nos chegam do terreno, pois tantos os ucranianos como os russos reivindicam avanços em Bakhmut, que se tornou o centro da guerra, mas o que é mais relevante é que a população ucraniana continua a sofrer.

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Timor-Leste, a ASEAN e o Sudeste Asiático

A Associação das Nações do Sudeste Asiático, ou ASEAN, é uma organização de carácter regional criada em 1967 com o objectivo de promover a cooperação económica e de segurança entre os seus dez membros: Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnam. No seu conjunto, os países da ASEAN têm cerca de 662 milhões de pessoas e, por isso, a organização tem tido um papel importante na integração económica asiática, inspirando-se no modelo adoptado pela União Europeia.
Entre os dias 9 e 11 de Maio, a ASEAN realizou a sua 42ª Cimeira na estância indonésia de Labuan Bajo, situada no extremo oeste da ilha das Flores, na província de Nusa Tenggara Timur, com a curiosidade desta ilha ter sido uma “possessão portuguesa” até 1856, data em que foi vendida aos holandeses por 200 mil florins…
O anfitrião foi o presidente da Indonésia Joko “Jokowi” Widodo, que defendeu a união entre os membros da organização para que a região seja pacífica, estável e próspera, mas também para se afirmar como uma voz a ser escutada numa região muito sensível e muito disputada. Por razões relacionadas com o golpe militar e a crise institucional por que o país passa desde então, o Myanmar não participou na Cimeira, mas em contrapartida esteve presente Timor-Leste, o jovem país do sol nascente ou lorosae.
Timor-Leste solicitou oficialmente a adesão à ASEAN em 2011 e em 2022 foi admitido, em princípio, como o 11º membro da organização. Nesse sentido, uma delegação timorense que incluía o primeiro-ministro Taur Matan Ruak e a ministra dos Negócios Estrangeiros Adaljiza Xavier Magno, deslocou-se a Labuan Bajo num Airbus 320 da companhia timorense Aero Dili para participar na 42ª Cimeira da ASEAN. Segundo o relato do jornal The Jakarta Post os governantes de Timor-Leste tiveram a oportunidade de manter encontros bilaterais com os seus homónimos da ASEAN, potenciando o aprofundamento das relações de cooperação bilateral e multilateral.

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Um bom exemplo vindo da Extremadura

No próximo dia 28 de Maio vão realizar-se eleições autárquicas e regionais em doze das dezassete comunidade autónomas espanholas: Aragão, Astúrias, Baleares, Canárias, Cantábria, Castilla-La-Mancha, Comunidade Valenciana, Extremadura, La Rioja, Madrid, Múrcia e Navarra, assim como nas cidades autónomas de Ceuta e Melilla. Com estas eleições autárquicas e regionais completa-se o ciclo eleitoral local e regional espanhol, uma vez que essas eleições já foram realizadas nas outras cinco comunidades autónomas.
Esperam-se grandes lutas eleitorais e as sondagens apontam para uma quebra eleitoral ou mesmo a perda de alguns dos nove governos dominados pelos socialistas do PSOE, sozinhos ou em coligação. Um desses casos acontece com a comunidade autónoma da Extremadura, que inclui as províncias de Cáceres e de Badajoz e que corresponde a grande parte do território da antiga província romana da Lusitânia. Apesar de todas as diferenças ideológicas e das rivalidades que separam as várias candidaturas, o jornal el Periódico de Extremadura, que se publica em Cáceres, conseguiu reunir os candidatos cabeças-de-lista das quatro principais cidades estremenhas que aspiram ser eleitos alcaldes de Cáceres, Badajoz, Plasencia e Mérida. São dez candidatos por Cáceres e por Badajoz, mais oito candidatos por Plasencia e por Mérida, isto é, são 36 homens e mulheres candidatos a alcalde, que se deixaram fotografar conjuntamente e que, por alguns momentos, proporcionaram uma feliz imagem do que é a Democracia – igualdade, liberdade, diversidade.
Estes cidadãos irão concentrar-se na defesa das suas ideias e procurar o voto dos eleitores, provavelmente sem recorrer a ataques pessoais, como por aqui acontece tantas vezes. 
Uma excelente e muito pedagógica iniciativa do jornal de Cáceres!

quarta-feira, 10 de maio de 2023

Há nuvens cinzentas nos céus da Turquia

No próximo domingo a Turquia vai realizar as eleições presidenciais e as eleições parlamentares, mas os dois principais candidatos presidenciais que são Recep Tayyip Erdoğan e Kemal Kılıçdaroğlu, estão muito próximos nas sondagens, pelo que a incerteza quanto ao resultado é a única certeza.
As eleições turcas são muito importantes, porque a Turquia é um país cuja superfície é o dobro da Alemanha e tem cerca de 75 milhões de habitantes, tendo uma parte do seu território na Europa (3,3%) e outra parte na Ásia (96,7%). O país pertence à NATO desde 1952, é candidato à União Europeia e tem desempenhado um papel muito activo no actual conflito da Ucrânia, mantendo contacto com os dois lados.
O actual presidente Recep Tayyip Erdoğan foi eleito em 2014 e, após um referendo constitucional realizado em 2017, o regime turco tornou-se presidencialista e Erdoğan teve os seus poderes alargados, pois também passou a chefiar o governo. Em 2018 foi reeleito para o actual mandato, pelo que a oposição contestou que pudesse concorrer a um terceiro mandato nas actuais eleições, uma vez que a Constituição turca só aceita dois mandatos presidenciais. O Conselho Superior Eleitoral rejeitou os protestos da oposição e aceitou a candidatura de Erdoğan, considerando que o presidencialismo turco se iniciou em 2018.
A poucos dias das eleições a incerteza é completa. A revista francesa Le Point, destacava que a Turquia pode estar perante “l’autre Poutine”, dadas as semelhanças políticas entre ambos, enquanto a mais recente edição da revista L’Express aborda a questão turca e lembra “le risque du chaos”, como aconteceu com algumas turbulências que se seguiram às primaveras árabes que afectaram a região. O facto é que tanto Recep Tayyip Erdoğan como Kemal Kılıçdaroğlu representam o sonho turco de afirmar o país como a potência regional. Porém, há uma dúvida que apoquenta muita gente: se perder, será que Erdoğan abandona o seu cargo pacificamente? E será que a oposição turca aceita a derrota se Kılıçdaroğlu perder?
Há realmente nuvens cinzentas nos céus da Turquia.

terça-feira, 9 de maio de 2023

António Guterres com o Prémio Carlos V

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, receberá esta manhã o Prémio Europeu Carlos V no Mosteiro de San Jerónimo de Yuste, numa cerimónia presidida pelo rei Filipe VI e a que assistirão o presidente e o primeiro-ministro de Portugal. O prémio foi-lhe atribuído pela Fundação Academia Europeia e Ibero-americana de Yuste que, desde 1995, homenageia o trabalho de pessoas, organizações, projectos ou iniciativas que, com o seu esforço e dedicação, tenham contribuído para o conhecimento geral e valorização dos aspectos culturais, sociais, científicos e dos dados históricos na Europa, bem como do processo de construção e integração europeia, representando o espírito de construção de uma Europa unida, justa, igualitária e livre.
O prémio atribuído a António Guterres fundamenta-se na "su acreditada, amplia y larga trayectoria de vida dedicada al compromiso social, el proceso de construcción europea, la promoción del multilateralismo y la dignidad humana como núcleo de su trabajo, abordando retos y crisis globales".Hoje o jornal El País destaca a entrega deste prestigioso prémio a António Guterres e publica uma entrevista na qual reconhece as dificuldades para se encontrar a paz na Ucrânia e a ameaça que as alterações climáticas representam para a humanidade.
Até agora, os galardoados com o Prémio Carlos V foram os seguintes: Jacques Delors (1995); Wilfried Martens (1998); Felipe González (2000); Mijaíl Gorbachov (2002); Jorge Sampaio (2004); Helmut Kohl (2006); Simone Veil (2008); Javier Solana (2011); José Manuel Durão Barroso (2014); Sofia Corradi (2016); Marcelino Oreja Aguirre (2017); Antonio Tajani (2018); o projecto “Itinerários Culturais do Conselho da Europa” (2019), Angela Merkel (2021) e o Foro Europeu da Deficiência (2022), o que significa que três portugueses já receberam o Prémio Carlos V. Aqui fica o meu aplauso para António Guterres!

segunda-feira, 8 de maio de 2023

A salvaguarda do património de Macau

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) adoptou em 1972 a Convenção do Património Mundial, Cultural e Natural, com o objectivo de proteger os bens patrimoniais dotados de um valor universal excepcional. Porém, só em 1980 é que Portugal ratificou aquela convenção e, desde então, teve 17 sítios classificados que passaram a integrar a Lista do Património Mundial.
Actualmente a Unesco tem 1157 sítios do património material classificados, sendo 900 culturais, 218 naturais e 39 misturados, os quais se localizam em 167 países.
No ano de 2005 a Unesco classificou o Centro Histórico de Macau que passou a integrar a Lista do Património Mundial, pois “oferece um testemunho único do encontro de influências estéticas, culturais, arquitectónicas e tecnológicas do Oriente e do Ocidente”, destacando-se “as suas ruas históricas, edifícios residenciais, religiosos e públicos portugueses e chineses”, mas também uma fortaleza e um farol, que é o mais antigo da China.
Entretanto, o crescimento da volumetria do espaço urbano macaense e a ganância de alguns construtores macaenses, tornaram-se uma ameaça em relação aos princípios que norteiam as classificações da Unesco. Daí que, devido às pressões da organização sobre as autoridades locais, uma equipa de investigadores veio propor a redução da altura dos edifícios na área envolvente do farol da Guia, bem como a criação de sete “corredores visuais” para garantir que a integridade do farol fosse protegida. Hoje, o jornal Tribuna de Macau, mas também outros jornais macaenses destacaram esta notícia e publicaram a fotografia do farol da Guia, construído pelos portugueses em 1870.

domingo, 7 de maio de 2023

God save the King Charles III

A edição dominical do The Daily Telegraph, um tablóide publicado em Sydney pela News Corporation de Rupert Murdoch, é apenas um dos muitos jornais que hoje destacam a coroação de Carlos III como o novo rei do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e o novo chefe da Commonwealth, uma organização intergovernamental de 56 países, entre os quais há quinze, designadamente o Canadá e a Austrália, que o reconhecem como Chefe de Estado.
Charles Philip Arthur George, agora Carlos III, tem 74 anos de idade e sucede à rainha Isabel II, a sua mãe, que reinou durante mais de setenta anos e que, com 96 anos de idade, faleceu no passado dia 8 de setembro de 2022. Depois do prestígio da rainha Isabel II e da turbulência que o mundo atravessa, bem como a instabilidade política e social que perturba o Reino Unido, é enorme o desafio de Carlos III, até porque no número 10 de Downing Street não estarão figuras como Winston Churchill ou Margareth Thatcher.
A Monarquia é uma instituição de fortes raízes na sociedade britânica, embora haja alguns sectores minoritários que defendem que é tempo de promover a sua abolição. Depois do longo reinado de Isabel II, houve dúvidas sobre o futuro do sistema monárquico britânico, devido a alguns escândalos que têm envolvido a Família Real, mas a imponência do cerimonial da coroação de Carlos III e da rainha com sorte que tem 75 anos de idade e que antes se chamou Camila Parker Bowles, devem ter restituído uma boa parte do orgulho britânico em relação à sua Monarquia, o mesmo se verificando em vários países da Commonwealth.
Os britânicos é que sabem como querem organizar-se, isto é, se preferem o modo monárquico ou o modo republicano mas, a esta distância e esquecendo algumas malfeitorias que “os nossos velhos aliados nos fizeram”, associamo-nos à festa da Casa de Windsor e também dizemos: God save de King!

sexta-feira, 5 de maio de 2023

O Giro d’Itália e o 'nosso' João Almeida

A 106ª edição do Giro d’Itália arranca amanhã com uma etapa contra-relógio de 19,6 quilómetros, que vai ser corrida na costa adriática, entre a Marina de Fossacesia e a comuna de Ortona. A edição de hoje do jornal L’Équipe dedica uma alargada reportagem a esta clássica do ciclismo mundial que será disputada em 21 etapas e se estenderá por 3.449 quilómetros de vales e montanhas, terminando em Roma no dia 28 de Maio.
Em prova vão estar 176 ciclistas, entre os quais o esloveno Primoz Roglic e o belga Remco Evenepoel, que são os principais favoritos à vitória final, mas entre eles vai estar o português João Almeida, um jovem ciclista com 24 anos de idade que já se afirmou como um grande ciclista no pelotão internacional. Assim, para quem goste de ciclismo, nos próximos dias há a oportunidade de acompanhar o desempenho desportivo de João Almeida e, através das transmissões televisivas, apreciar a beleza das paisagens e das povoações italianas por onde passará o Giro d’Itália.
Em tempos de tantas incertezas internas e internacionais, o acompanhamento desta prova ciclista bem pode ajudar ao nosso desanuviamento.

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Forte ventania sobre Belém e São Bento

Nas últimas horas ocorreram diversos episódios na política portuguesa cuja interpretação tem sido feita por agentes políticos, muitos jornalistas e dezenas de comentadores, com os mais diversos pontos de vista. Depois de muitos meses de alegre e muito cooperante actividade, com dezenas de reuniões e de muitos elogios mútuos, o Presidente da República e o Primeiro-Ministro exibiram publicamente a sua discordância sobre a situação do Governo e a sua composição.
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa conhecem-se há cerca de cinquenta anos, tanto na actividade académica, como na vida política, tendo perfis políticos muito próximos. Tal como acontecera com os anteriores Presidentes da República, desde há cerca de sete anos que estas duas personalidades se reúnem em Belém todas as quintas-feiras. Foram centenas de encontros, em que algumas vezes terão estado em desacordo, mas que souberam ultrapassar com discrição e reserva. E o povo gostava desta aliança, até porque os tempos eram difíceis. Porém, o peculiar costume de Marcelo Rebelo de Sousa de trazer para a comunicação social alguns assuntos que deveriam ser reservados e de lembrar com demasiada frequência os seus poderes, ou seja, aquilo a que por vezes se tem chamado a ausência de uma “gestão cuidadosa da palavra e do silêncio”, fez estalar alguma tensão entre os detentores desses dois órgãos de soberania.
Na presente conjuntura política, Marcelo Rebelo de Sousa fez saber na praça pública que não aceitava a continuação de um certo ministro no governo e António Costa reagiu a essa “ameaça” ou vontade presidencial, tendo decidido manter o referido ministro no seu governo, até porque é um direito que lhe assiste em exclusivo. Aparentemente, ficou o caldo entornado. Veremos.
Nada vai ser como dantes. Hoje, na habitual reunião das quintas-feiras, eles lá se encontrarão em Belém, desejavelmente para se acalmarem, como o país exige.

segunda-feira, 1 de maio de 2023

O mar dos Açores é um imenso recurso

O jornal Correio dos Açores celebrou hoje o seu 103º aniversário e publicou uma edição especial dedicada ao “mar imenso dos Açores”, porque é o mar que “empresta dimensão a Portugal e à União Europeia”. A edição inclui diversos artigos sobre a problemática do mar e as suas especificidades no arquipélago dos Açores.
O mar é um grande desafio e uma grande oportunidade para Portugal, através dos seus recursos conhecidos e não conhecidos, desde a pesca ao aproveitamento da energia das ondas para a produção de electricidade, mas passando por outras actividades como o transporte marítimo, os portos, a construção e reparação naval, os desportos náuticos ou a observação de espécies, todas elas potenciando a criação de valor para o desenvolvimento económico nacional.
As zonas marítimas sob soberania portuguesa, de acordo com a Convenção das Nações Unidas do Direito de Mar (CNUDM), compreendem as águas interiores marítimas, o mar territorial, a zona económica exclusiva (ZEE) e a plataforma continental, o que torna muito assimétrica e desproporcionada a relação entre os escassos espaços territoriais e os enormes espaços marítimos portugueses. No caso do arquipélago dos Açores, cujas nove ilhas têm cerca de 2.322 km2 de superfície terrestre, a zona económica exclusiva ocupa 930.687 km2, isto é, a área marítima é 400 vezes maior do que a área terrestre.
Nestas circunstâncias, o mar é um grande desafio e uma grande oportunidade para Portugal, sobretudo para a Região Autónoma dos Açores, para onde devem ser canalisados os recursos necessários para criar uma verdadeira economia do mar açoriana.