quarta-feira, 31 de julho de 2024

Todo ambicionam medalhas olímpicas

Ao fim de cinco dias de provas olímpicas, as imprensas nacionais vão glorificando os seus atletas com noticiários e títulos que procuram ser mobilizadores para eles, para os seus patrocinadores e para os seus públicos. É assim em toda a parte.
Ontem o jornal francês Le Parisien escrevia que “les Bleus sont chauds”, enquanto o espanhol Marca anunciava que “España ruge”, o italiano La Stampa escrevia “Regina di spada”, o New York Post escolhia como título “Golden girls” e o Correio Braziliense escrevia apenas “Gigantes”. Neste contexto informativo excessivamente desportivo e demasiado laudatório, o noticiário sobre o que se passa na Venezuela, na Ucrânia, em Gaza ou no Líbano, torna-se absolutamente marginal, embora as diferentes situações continuem a ser preocupantes.
O facto é que as competições da 33ª Olimpíada vão decorrendo como se o mundo vivesse tempos gloriosos de paz e de concórdia, enquanto Emmanuel Macron vai aproveitando esta anestesia que está a acalmar os franceses, para se recompor dos seus desaires políticos.
A França tem estado à altura deste grande desafio e, enquanto país organizador, tem tido assinalável sucesso desportivo. O medalheiro deste episódio olímpico designado como Paris 2024 vai sendo preenchido e, nesta altura, já há 40 países que ganharam medalhas, dos quais 21 ganharam medalhas de ouro. Todos ambicionam medalhas olímpicas, mas a China, a Austrália e o Japão já estão na frente, enquanto os portugueses ainda esperam com alguma impaciência para ver a sua bandeira ser hasteada no mastro do pódio olímpico e ouvir A Portuguesa.

terça-feira, 30 de julho de 2024

Uma espectacular fotografia de Paris 2024

À margem dos desempenhos desportivos e da luta pelas medalhas, os Jogos Olímpicos também são uma “quase-competição” pela captura das melhores fotografias, na qual “participam” centenas de fotojornalistas do mundo inteiro.
Um deles é Jerôme Brouillet, um fotojornalista francês da Agence France-Presse, que ontem em Teahupo’o, na ilha do Taiti da Polinésia Francesa, se encontrava a bordo de uma pequena embarcação para fotografar as provas de surf olímpico, tendo-se posicionado nas proximidades do “tubo” provocado pela rebentação da onda, por onde os surfistas iriam passar, a fim de fotografar a sua “saída do tubo”.
Quando o surfista brasileiro Gabriel Medina “surfou” uma das maiores ondas do dia, teve a sensação que lhe correra muito bem e “saíu” em linha recta acima das ondas, manifestando exuberante satisfação pela sua prestação. Jerôme Brouillet “estava lá” e fez a fotografia desse instante em que Gabriel Medina “saía” de um “tubo” que lhe rendeu 9,90 pontos, a maior pontuação da história do surf olímpico, apontando um dedo para o céu, com a prancha ao seu lado que, por acaso, também apontava para o céu.
A fotografia de “um surfista a voar” correu mundo, já foi considerada a “foto perfeita” e um grupo de comunicação australiano escreveu que era “a melhor foto de desporto de todos os tempos”.
A foto de Jerôme Brouillet foi publicada na primeira página do jornal O Globo, mas como celebrava Gabriel Medina, também foi publicada por toda a imprensa brasileira de referência. Ainda faltam duas semanas para o fim dos Jogos Olímpicos, mas já há quem diga que esta é a mais icónica de todas as que vierem a ser feitas.

segunda-feira, 29 de julho de 2024

Venezuela não se livra de Nicolás Maduro

Tal como muitos esperavam, as eleições presidenciais na Venezuela foram um grosseiro exercício de simulação democrática. Tudo foi manipulado para dificultar a vida aos adversários do ditador venezuelano e foi o próprio Nicolás Maduro que anunciou a sua vitória com 51.2% dos votos, com Edmundo Gonzalez Urrutia, o principal candidato da oposição, a obter apenas 44,2% dos votos. A oposição repudiou esta declaração e afirmou que Maduro só teve 30% dos votos e que Edmundo Gonzalez venceu com 70% dos votos.
O exuberante anúncio de vitória feito por Maduro, travestido de clown,  aconteceu quando estavam contados apenas 80% dos votos e sem haverem sido apurados os resultados parciais de milhares de mesas de voto, o que é surrealista e mentiroso. O ditador nem esperou pela contagem dos votos e tratou de se autoproclamar vencedor. Os portugueses, sobretudo aqueles que viveram as eleições presidenciais de 1958, em que Humberto Delgado ganhou nas urnas mas perdeu devido à extensão da fraude eleitoral, conhecem bem a forma fraudulenta como os ditadores ganham eleições.
A oposição venezuelana denunciou muitas irregularidades durante a campanha eleitoral, muitos viram a agonia do chavismo e o fim da ditadura bolivarista. Os resultados anunciados levaram a população para as ruas a contestar os resultados. Diz-se que o povo é quem mais ordena e o ambiente de tensão está a aumentar. Ninguém quer prever o que possa acontecer.
Alguns países já felicitaram a figura caricata de Nicolás Maduro, casos da China, Rússia, Cuba, Bolívia, Nicarágua, Honduras e Síria. Outros países recusam-se a reconhecer os resultados, como a Argentina, o Uruguai, o Brasil, o Perú e a Costa Rica e outros, ainda, mostraram-se cautelosos como o Chile, a Colômbia, os Estados Unidos e a União Europeia, pedindo maior transparência no processo de contagem dos votos.
A imprensa reflecte as posições dos diferentes países e enquanto alguns se limitam a repetir o anúncio do Conselho Nacional Eleitoral, dizendo que “Maduro é o vencedor mas a oposição contesta”, outros como acontece com o jornal peruano La Razón falam em “fraude na Venezuela”. 
Haverá alguém que tenha dúvidas de que as eleições foram fraudulentas?
O facto é que as eleições venezuelanas nada contribuiram para o desanuviamento de um panorama internacional cada vez mais complexo.

domingo, 28 de julho de 2024

Venezuela: continuidade ou renovação?

O jornal uruguaio El País destaca na sua edição de hoje que “Venezuela decide si pone fin a 25 años de régimen chavista”, porque hoje se realizam eleições presidenciais no país. O assunto é importante para Portugal porque vivem na Venezuela cerca de meio milhão de portugueses ou luso-descendentes, oriundos sobretudo do arquipélago da Madeira, havendo muitos deles com dupla-nacionalidade.
A Venezuela é o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, mas deixou passar o tempo da “petroprosperidade” para se desenvolver. Actualmente, o seu Índice de Desenvolvimento Humano, que agrega condições de saúde, educação e rendimento, está em 119º lugar do ranking IDH das Nações Unidas, o que significa um desenvolvimento abaixo da média.
Entre 1999 e 2013 o país foi governado por Hugo Chávez que impôs um regime de cunho nacionalista que foi chamado bolivarismo. Com a sua morte por doença, sucedeu-lhe o seu vice-presidente Nicolás Maduro, que foi eleito em 2013 e em 2018, embora esta vitória não tivesse sido reconhecida pela oposição, nem pela comunidade internacional. Enquanto cópia de Chavez, dizem os críticos que é pior que o original, daí resultando uma crise política e económica, com aumento da pobreza, da fome, da inflação, da criminalidade, da emigração e do isolamento internacional.
Hoje, cerca de 21 milhões de eleitores venezuelanos vão escolher o seu novo presidente entre dez candidatos, mas o que eles irão fazer é a escolha entre a continuidade ou o fim do chavismo/bolivarismo, ou entre Nicolás Maduro, do Partido Socialista Unido da Venezuela e o diplomata Edmundo Gonzalez Urrutia, da Mesa Unitária Democrática.
A situação é complexa, até porque Maduro está em desvantagem nas sondagens e pediu aos eleitores para “pensarem bem” no seu voto, alertando para um “banho de sangue” se perder, o que para muitos foi visto como uma ameaça.

sábado, 27 de julho de 2024

O ditador Benjamin é um perigo mundial

Blaise Pascal, um filósofo, matemático, físico e inventor francês do século XVII, é o autor da frase “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Esta frase tornou-se famosa e tem sido utilizada em diferentes contextos e com significados muito diversos. Por isso, também me sinto autorizado a plagiar Pascal e a escrever que “a política internacional tem razões que a própria razão desconhece”.
Benjamin Netanyahu, que é o primeiro-ministro de Israel, está acusado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por diversos crimes de guerra e crimes contra a humanidade, sendo objecto de um mandato de captura internacional por “extermínio” e “morte de civis pela fome”. Apesar de manter um massacre sobre o povo palestiniano que já matou mais de 39 mil pessoas e gerou uma catástrofe humanitária, o ditador israelita foi convidado a visitar os Estados Unidos e a discursar em Washington, numa sessão conjunta da Câmara dos Representantes e do Senado, em que defendeu a guerra em Gaza, mostrou o seu ódio contra os palestinianos e foi muito aplaudido. 
O apoio que recebeu não foi unânime, como refere o The Wall Street Journal. Kamala Harris, a vice-presidente e candidata presidencial, acusou a política de extermínio israelita e recusou-se a assistir à sessão, a que constitucionalmente devia presidir, enquanto o senador independente Bernie Sanders não discursou naquela sessão, em protesto contra a presença de Netanyahu e a sua recusa de uma solução de dois estados para aquela região.
A contestação ao discurso também se revelou no estrangeiro e Recep Tayyip Erdogan, o presidente da Turquia que é membro da NATO desde 1952, acusou o Congresso americano de “coroar o Hitler da nossa era”, afirmando que “em vez de parar o massacre, estamos a assistir a um colapso da razão, quando dão as boas-vindas ao carniceiro no Congresso e aplaudem-no 57 vezes durante o seu discurso delirante”.
Custa a crer como tantos senadores e congressistas americanos pactuaram com este ditador e o aplaudiram ou, então, a política internacional tem razões que a própria razão desconhece.

As surpresas do anticiclone dos Açores

A ponta dos Rosais, na ilha de S. Jorge
A meteorologia dos Açores é dominada pelo seu famoso anticiclone, que é um centro de altas pressões atmosféricas que influencia o tempo e o clima de vástas áreas da Europa, do Norte de África e das Américas. Este sistema é um exemplo de um anticiclone subtropical quente e tem variações de posição ao longo do ano, mas no Verão mantém-se bastante estacionário na proximidade do arquipélago, o que origina um tempo ameno, com ventos fracos e fraca pluviosidade. Porém, o comportamento do anticiclone não é regular pelo que, apesar das condições meteorológicas favoráveis em que a luminosidade oferece panoramas de grande deslumbramento, também se sucedem fenómenos de excepção, designadamente no mar, onde a temperatura da água atingiu os 26 graus nos últimos dias, bem como situações de invernia fora do tempo, com ondulação e mar encapelado, nevoeiro e pouca visibilidade, vento e alguma pluviosidade. 
Foi nessas condições de excepção que navegamos recentemente da ilha do Pico para a ilha Graciosa, mas o anticiclone surpreendeu-nos. A passagem pela ponta dos Rosais, na extremidade ocidental da ilha de S. Jorge, proporcionou nesse dia uma visão digna da passagem do cabo Horn, tido como o "lugar mais perigoso do mundo para os navegantes". Na fotografia que então captei destaca-se o dia sombrio, o mar encapelado e, imponente e solitário, o farol dos Rosais.

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Angola e Portugal em onda de cooperação

A edição de hoje do Jornal de Angola destaca a visita do primeiro-ministro português a esse grande país a que nos ligam demasiadas memórias históricas e em cujo mercado actuam mil empresas portuguesas. As relações entre Portugal e Angola, mas também entre todos os nove países da CPLP, são muito importantes porque assentam num íntimo conhecimento histórico, em afinidades culturais e numa língua comum.
No Livro do Desassossego, que é considerado pela crítica como uma obra-prima ou uma verdadeira obra de arte da literatura portuguesa, “composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa, por Fernando Pessoa”, publicado pela primeira vez em 1982, quase meio século após a sua morte acontecida em Lisboa no dia 30 de novembro de 1935, o poeta escreveu:
“Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa”.
Essa frase escrita há quase cem anos é uma âncora emocional para milhões de pessoas que se exprimem em português. Durante os séculos da sua expansão marítima os portugueses fixaram-se em muitas das terras que encontraram em todos os continentes e, desse processo histórico muito complexo e nem sempre respeitador das culturas locais, resultaram algumas fricções mas também um rico processo de aculturação, cujo principal vector foi a língua portuguesa. Com o movimento do 25 de Abril de 1974, foram criadas as condições de pacificação, de cooperação e de solidariedade entre Portugal e os países nascidos da sua era colonial, com base nas suas relações históricas e na língua comum.  Actualmente, segundo anuncia o Instituto Camões, cerca de 260 milhões de pessoas falam o português, que é a quarta língua materna mais falada do mundo, depois do mandarim, do inglês e do espanhol, enquanto nove países da CPLP e Macau têm o português como língua oficial.
A visita a Angola de Luís Montenegro é um passo dado no sentido certo e estimula a necessária onda de cooperação entre os dois países.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Paris 2024 também é um acto cultural

Em vésperas da abertura oficial dos Jogos Olímpicos, sucedem-se as reportagens na imprensa sobre os seus aspectos desportivos, mas também outros aspectos que lhe estão associados, sobretudo de ordem política, económica, logística, cultural e diplomática. 
O pequeno Emmanuel Macron que tem acumulado tantos desaires políticos internos e internacionais, tem agora a oportunidade de ocupar o centro do mundo e brilhar à sombra dos 330 metros da altura da Tour Eiffel. Por isso, organizou uma grande festa de inauguração, a realizar no rio Sena, tendo convidado os presidentes das maiores multinacionais do mundo que já lhe garantiram 15 mil milhões de euros de investimento e um cortejo numeroso de líderes mundiais que lhe comprarão Airbus e material militar, mas nesse grupo faltarão Joe Biden, Vladimir Putin, Xi Jinping e Lula da Silva, porque os tempos não estão para grandes festas. Porém, não faltará Marcelo Rebelo de Sousa com a sua comitiva de assessores, mais os seus jornalistas convidados.
Haverá por certo várias declarações, nomeadamente de Macron, a pedir um cessar-fogo em Gaza e na Ucrânia, mas a França é um dos principais fornecedores de armamento a Israel e à Ucrânia, o que significa que muitos dos pedidos de tréguas ou de cessar-fogo que venham a ser feitos, são meros exercícios de retórica, ou mesmo de hipocrisia.
No entanto, nenhum destes comentários retira importância nem destaque à parte desportiva dos Jogos Olímpicos, como mostra a edição de hoje do JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias que, sendo o mais importante órgão de comunicação português na área cultural, reconhece nesta sua edição a grandeza cultural dos Jogos Olímpicos. E faz muito bem!

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Aí estão os Jogos Olímpicos de Paris 2024

Na próxima sexta-feira, dia 26 de julho de 2024, serão oficialmente inaugurados os Jogos da XXXIII Olimpíada, designados como Jogos Olímpicos de Paris 2024, que decorrerão até ao dia 11 de agosto. Será, certamente, o mais atraente espectáculo televisivo do ano, em que se concentrarão milhares de milhões de espectadores em todo o mundo.
Os tempos mudaram e já não são o que foram, quando em 1894 foram criados pelo Barão Pierre de Coubertin e em que o espírito dominante assinalava que “o mais importante não é vencer, mas participar”. Agora, os 10.714 atletas que participarão em 32 modalidades desportivas nestes Jogos querem mesmo vencer, ganhar medalhas, regressar aos seus países como os heróis e acumular as suas contas bancárias.
Portugal participa nos Jogos Olímpicos desde a sua 5.ª edição, realizada em Estocolmo no ano de 1912 e, nesta 33ª edição, a comitiva olímpica portuguesa terá 73 atletas em que, pela primeira vez, haverá mais mulheres (37) do que homens (36), que irão competir em 15 modalidades, havendo a habitual esperança de alguns bons resultados.
Ontem o jornal i dedicou muitas páginas da sua edição às Olimpíadas de Paris e escolheu a fotografia do canoista Fernando Pimenta para a ilustrar, até porque é o atleta português sobre quem recai o maior favoritismo para uma vitória olímpica.
Desde a sua primeira participação olímpica em 1912 os portugueses já ganharam 28 medalhas, das quais cinco de ouro, nove de prata e catorze de bronze. 
Aqui fica a nossa homenagem aos nossos campeões olímpicos: Carlos Lopes (Los Angeles, 1984), Rosa Mota (Seoul, 1988), Fernanda Ribeiro (Atlanta, 1996), Nelson Évora (Pequim, 2008) e Pablo Pichardo (Tóquio, 2020). Haverá algum Fernando Pimenta que se possa juntar a esta lista?

terça-feira, 23 de julho de 2024

EUA: sai Joe Biden e entra Kamala Harris

As eleições presidenciais americanas são importantes para o mundo e é sabido como há muitos assuntos da política internacional que “esperam” pelos seus resultados, inclusive a paz em várias regiões do nosso planeta. A hipótese de se confrontarem os mesmos candidatos das anteriores eleições – Donald Trump e Joe Biden – tornou o presente processo eleitoral americano mais disputado e até mais emotivo.
Acontece que nos últimos dias se sucederam alguns acontecimentos relevantes, como o debate do dia 27 de junho em que Biden esteve desastrado, a tentativa de assassinato de Trump do dia 13 de julho e o anúncio da desistência de Biden no dia 21 de julho. As hostes democratas andavam divididas e desalentadas pois a escolha de Biden não era consensual devido à sua idade e ao seu estado de saúde. Com a sua desistência, em poucas horas surgiu a candidatura de Kamala Harris, a actual vice-presidente dos Estados Unidos, que logo devolveu a esperança aos Democratas, atacando Donald Trump com muita dureza, atraindo avultados apoios políticos e financeiros e garantindo a adesão da maioria dos delegados para a convenção democrata que se realizará entre os dias 19 e 22 de agosto, para escolher o candidato que concorrerá contra Donald Trump.
A imprensa americana está repartida entre os que entendem que com Kamala Harris a vitória de Trump será mais fácil e os que acreditam que o entusiasmo e o dinamismo de Harris vão derrotar Donald Trump. Será, certamente, um case study para ser acompanhado pelos estudiosos da sociologia política.
Hoje, a imprensa afecta aos Democratas encheu as suas primeiras páginas com a fotografia de Kamala Harris sorridente e determinada em inverter os números que são indicados pelas sondagens, com o Daily News a destacar que “Harris une os Democratas”.
Sem dúvida que a renúncia de Biden abriu uma nova página na corrida presidencial americana. Porém, porque Biden ainda estará na Casa Branca por mais seis meses, será de esperar que queira deixar o seu nome ligado a um grande acontecimento mundial, que apague esta sua derrota de julho de 2024.

segunda-feira, 22 de julho de 2024

As eleições nos EUA e a renúncia de Biden

Depois das evidências que a televisão mostrou a respeito das debilidades físicas e cognitivas de Joe Biden e das pressões que sobre ele foram feitas para desistir da corrida à Casa Branca, este candidato presidencial dos democratas americanos tomou ontem a decisão que muitos esperavam. Invocando o bem do seu partido e do seu país, Joe Biden anunciou a desistência da sua candidatura e o apoio à sua vice-presidente Kamala Harris, que já aceitou o desafio de se candidatar mas que, naturalmente, ainda terá que aguardar a ratificação da sua candidatura pela convenção democrata que se realiza em agosto.
O caso é muito importante porque Joe Biden é o presidente em exercício e se aproxima a data das eleições. Por isso, logo que foi anunciada a sua decisão, as televisões portuguesas encheram-se de comentadores, de muitos comentadores, que trataram de especular sobre o futuro da corrida eleitoral, sobre o futuro da América e sobre o futuro do mundo. Numa altura em que os americanos e, sobretudo, as hostes democratas, ainda não sabem como “descalçar esta bota” surgida a menos de um mês da convenção democrata, neste canto ocidental da Europa vimos os nossos iluminados comentadores a mostrar aos americanos os caminhos que devem seguir.
O facto é que neste contexto de maior incerteza, parece que Donald Trump ganha alguma vantagem, mas também há quem defenda que a saída de Joe Biden vai levar o eleitorado a optar pela continuidade. É tudo muito imprevisível e serão os cidadãos americanos a fazer a escolha presidencial que vai determinar a evolução do mundo nos próximos quatro anos.

Grandes resultados do desporto português

O dia de ontem foi um grande dia para o desporto português, pelo conjunto de bons resultados internacionais conseguidos por atletas portugueses e o jornal A Bola destacou-os com o título “História de Portugal”. É caso para dizer que “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, embora o jornal não esqueça a sua intimidade com o futebol, pois o nome com maior destaque na sua primeira página é o do futebolista Pavlidis…
Ontem brilharam o ciclista João Almeida e o tenista Nuno Borges. O ciclista João Almeida tornou-se hoje o segundo melhor português de sempre na Volta a França, ao terminar em 4º lugar e consolidando-se como o sucessor de Joaquim Agostinho que se classificou em 3º lugar naquela prova em 1978 e 1979.
O ciclista da UAE Emirates foi o primeiro ciclista português a fechar as três grandes Voltas nos cinco primeiros lugares, já que também foi quarto na Vuelta 2022, terceiro no Giro 2023 e, agora, acabou em quarto no Tour 2024.
O tenista Nuno Borges venceu o Open de Bastad na Suécia, derrotando na final o espanhol Rafael Nadal pelos parciais de 6-3 e 6-2, o que representou a sua primeira final e a sua primeira vitória numa prova da Association of Tennis Professionals (ATP). Com esta vitória e logo sobre o famosíssimo Rafael Nadal, Nuno Borges tornou-se o segundo tenista português a vencer provas do circuito ATP, depois de João Sousa (Kuala Lumpur em 2013, Valência em 2015, e Estoril Open em 2018). 
Mas houve mais sucessos do desporto português neste fim-de-semana, pois a equipa nacional de hóquei em patins de sub-17 bateu a Espanha por 5-2 em Olot - Girona e tornou-se campeã da Europa naquela categoria. Já no andebol, na categoria de sub-21, a equipa portuguesa chegou à final do campeonato da Europa disputado em Celje, na Eslovénia, tendo perdido com a Espanha por 35-31 e ficado “apenas” com o título de vice-campeã europeia, embora já seja a terceira final que perde nesta competição.
Bom seria que estes resultados fossem inspiradores para a participação olímpica portuguesa que se aproxima…

domingo, 21 de julho de 2024

Um boné como símbolo de uma campanha

Os americanos estão a cerca de quatro meses de escolher o seu presidente, naquela que será a 60ª eleição presidencial dos Estados Unidos que, desde 1788, se realiza de modo ininterrupto, a cada quatro anos.
O processo iniciou-se com a apresentação individual das candidaturas do Partido Democrata, cujo símbolo é um burro, bem como do Partido Republicano, cujo símbolo é um elefante. Depois, entre Janeiro e Junho realizaram-se as eleições primárias em cada um dos cinquenta estados para seleccionar os delegados dos dois principais partidos políticos americanos, que iriam representar os diversos candidatos na convenção dos partidos.
Esses delegados escolhidos nas eleições primárias, participam nas convenções dos partidos que se realizam em julho e agosto, para nomear e aclamar o candidato de cada partido. A convenção republicana já se realizou em Milwaukee, entre os dias 15 e 18 de julho, tendo nomeado Donald Trump. A convenção democrata será realizada em Chicago entre os dias 19 e 22 de agosto e, até agora, tem o actual presidente Joe Biden como favorito à nomeação.
Porém, se a idade dos candidatos já era um preocupante problema nacional, alguns acontecimentos recentes vieram perturbar o normal andamento do processo eleitoral, nomeadamente o atentado contra Donald Trump e a cada vez mais evidente senilidade de Joe Biden. As sondagens estão a favorecer Trump e os republicanos já exibem o seu radicalismo triunfante, enquanto o democrata Joe Biden é pressionado para abandonar a corrida eleitoral. 
Os americanos estão preocupados e a edição de hoje da revista alemã Der Spiegel mostra que também há preocupações na Europa, ao publicar a imagem do boné e a referência à orelha ensanguentada de Trump como símbolos da sua campanha, perguntando se “os Estados Unidos estão ameaçados por uma guerra civil”, porque a figura de Donald Trump suscita tantos apoios como rejeições, sendo ambas demasiado perigosas. No mesmo sentido se expressa o jornal El País ao escrever que "un tornado politico de alcance imprevisible planea sobre EE UU".

sexta-feira, 19 de julho de 2024

Mais cinco anos para Ursula von der Leyen

Ursula von der Leyen, uma política alemã com 65 anos de idade, foi ontem reeleita presidente da Comissão Europeia com 401 votos a favor, 284 votos contra, 15 abstenções e sete votos nulos. Precisava de 360 votos mas superou essa fasquia por 41 votos, significando que teve mais votos do que tivera em 2019, o que pode ser interpretado como uma grande vitória e uma prova de confiança no trabalho realizado durante o seu anterior mandato. Porém, apesar do voto ser secreto, esta eleição é o resultado do acordo celebrado entre algumas famílias políticas para os chamados top jobs (Conselho Europeu, Parlamento Europeu e Comissão Europeia). De qualquer forma, Ursula von der Leyen foi a escolha dos eurodeputados, embora tivesse recebido um significativo número de votos contra.
Durante o seu mandato de 2019 a 2024, a União Europeia estagnou por efeitos diversos, desde o covid-19 até ao conflito na Ucrânia, com Ursula von der Leyen a secundarizar os problemas dos europeus, designadamente as alterações climáticas, as migrações, a energia, a habitação, a demografia, a pobreza, a independência científica, a capacidade tecnológica, as concorrências chinesa e americana, mais outros tantos problemas, enquanto demasiadas vezes, mostrou um espírito belicista contrário à lógica de paz e de cooperação que levou à criação da União Europeia, que é um projecto de paz e de progresso. Em vez de ser o motor do desenvolvimento e do bem-estar dos europeus, a sua acção esqueceu-os e ela nada se esforçou na busca de soluções para fazer a paz na Ucrânia, mostrando-se obcessiva no apoio militar a Zelensky e subserviente em relação às orientações americanas. Além disso, ao contrário do que se esperava, sempre apoiou os excessos cometidos por Israel, sem se demarcar da violência ou criticar a crueldade que está a ser praticada contra o povo palestiniano.
A senhora von der Leyen pensa mais em guerra do que em paz. As indústrias militares agradecem-lhe. Como vão longe os tempos de Jean Monnet, que acreditava que o projecto europeu iria impedir novos conflitos militares na Europa, ou de Jacques Delors, que foi o principal arquitecto da unidade, do progresso e da paz na União Europeia.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Mbappé e os milhões do negócio do futebol

O Real Madrid C. F. que é o mais famoso clube de futebol do mundo e que já conquistou 15 títulos da Champions League, acaba de contratar o futebolista francês Kylian Mbappé por cinco temporadas. A sua apresentação no estádio Santiago Bernabéu aconteceu ontem perante mais de 80.000 entusiastas, um número semelhante ao que teve em 2009 a apresentação de Cristiano Ronaldo.
Como sempre acontece com as transferências dos grandes jogadores de futebol, os valores envolvidos neste negócio não são tornados públicos, embora a imprensa acompanhe este mercado e revele que este jovem de 25 anos de idade esteja cotado em 180 milhões de euros.
Segundo tem sido divulgado pela imprensa, o Real Madrid terá de pagar ao jogador um bónus de assinatura de contrato que a Sky Sports estima em 117 milhões de euros e que a BBC avalia em 150 milhões de euros, mas a este valor acresce um salário anual de 15 milhões de euros. Depois ainda há os direitos de imagem e os valores a receber como bónus, em função do desempenho do jogador e dos troféus conquistados pela equipa.
Estes números impressionam e, provavelmente, não têm nada de comparável em qualquer actividade empresarial, mostrando como o futebol se tornou um negócio de muitos milhões em que a parte desportiva parece ser secundária e servir para encapotar outros poderosos interesses.
Naturalmente, a imprensa espanhola que ainda anda excitada com a vitória espanhola no Euro 2024, também se concentrou na contratação e na apresentação de Mbappé. Porém, o acontecimento ultrapassou as fronteiras espanholas e chegou a outros países, como por exemplo à Venezuela, onde o diário desportivo Líder destacou a chegada a Madrid de Kylian Mbappé que, definitivamente, se tornou o sucessor de Messi e de Ronaldo.

terça-feira, 16 de julho de 2024

Donald, o penso na orelha e as fake news

A tentativa de assassinato de Donald Trump, ocorrida no passado sábado durante um comício no estado da Pensilvânia, foi um acontecimento importante e encheu as primeiras páginas dos jornais de quase todo o mundo, porque é um caso de extrema violência política e se dirigiu a um ex-presidente do Estados Unidos, que é candidato à reeleição presidencial americana do próximo mês de Novembro.
O caso está a tornar-se em mais um case study porque, sob a influência das redes sociais, estão a proliferar as fake news ou a desinformação, que têm posto a circular as mais diversas interpretações sobre o que se passou, havendo afirmações de que o tiroteio teria sido encenado pela equipa de Trump, ou mesmo ordenado pelo presidente Joe Biden, que também é candidato presidencial. Segundo informações divulgadas como verdadeiras mas que ninguém autenticou, até o ex-presidente Barack Obama e os Clinton poderiam estar envolvidos nesta tentativa de assassinato. Até parece que vale tudo!
As teorias explicativas deste incidente são numerosas e dizem uma coisa e o seu contrário, propagam-se como verdades absolutas e cada uma tem objectivos específicos para favorecer alguém ou alguma coisa, através de conteúdos sensacionalistas e atraentes. Lá como cá, o telespectador, o ouvinte ou o leitor, tendem a perder a confiança no que vêem, no que ouvem e no que lêem, mas muitos acreditam religiosamente nas manipulações que lhes são servidas. Assim se vai moldando a opinião pública com inverdades e em benefício dos mais diversos tipos de interesses não explícitos.
A tentativa de assassinato de Donald Trump, que o próprio afirmou ter sido salvo “graças a Deus ou à sorte”, ainda vai fazer correr muita tinta. Porém, o “homem do penso na orelha” - tornado um herói e um símbolo de resistência à adversidade como o povo gosta - foi recebido em apoteose na Convenção Republicana em Milwalkee, que o confirmou como candidato presidencial e na qual anunciou o senador J. D. Vance como a sua escolha para vice-presidente.
Os americanos decidirão o que entenderem.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

España reina en Europa y Alcaraz también

A Espanha vive horas de grande euforia porque a sua selecção nacional de futebol – la roja – ganhou o Euro 2024, somando sete indiscutíveis vitórias em sete jogos. Ontem bateu a selecção da Inglaterra, depois de, sucessivamente, ter derrotado as selecções da Croácia, da Albânia, da Itália, da Geórgia, da Alemanha e da França. O triunfo espanhol resultou do valor dos seus jogadores e da coesão da equipa, não assentou em quaisquer polémicas e tem o aplauso unânime da crítica internacional.
Toda a imprensa espanhola alinha na enorme onda de entusiasmo que inunda o país, quase esquecendo o brilhantismo da vitória de Carlos Alcaraz sobre Novak Djokovic no Torneio de Wimbledon, enquanto a imprensa internacional centra a sua atenção na tentativa de assassinato de Donald Trump, um caso de violência política que que está a perturbar a América e a preocupar o mundo.
Porém, justificando os seus créditos como jornal de referência internacional, a edição de hoje do jornal El País destaca em primeira página esses três acontecimentos importantes para a Espanha, mas também para o mundo, com os seguintes títulos: “España reina en Europa”, “Alcaraz abre outra era en Wimbledon” e “el intento de asesinato a Trump sacude EE UU en plena campaña”. O jornal mostra como é possível identificar os assuntos que são notícia e informar com rigor, sem alinhar em sensacionalismos, nem em distorções com objectivos “cirúrgicos”, nem nas práticas cada vez mais comuns de desinformação.
Hoje, no meio do turbilhão de louvores e de discursos, por vezes demasiado exaltados e desproporcionados que toda a imprensa espanhola presta à la roja, o El País dá um exemplo de bom jornalismo. 

domingo, 14 de julho de 2024

Atentado contra Donald Trump e o futuro

Donald Trump, o ex-presidente dos Estados Unidos e que actualmente está na corrida presidencial contra Joe Biden, foi alvo de um atentado num comício que se estava a realizar em Buller, no estado da Pensilvânia. Ele discursava, quando foram ouvidos tiros no meio da multidão e se viu que Donald Trump levara a mão direita ao pescoço. As imagens entretanto divulgadas mostram que Trump foi atingido na orelha direita, que sangrou abundantemente, ao mesmo tempo que alguns agentes dos serviços secretos correram para o palco para o proteger. Segundo foi divulgado pelo próprio, o candidato presidencial está fora de perigo.
As consequências políticas deste acontecimento são evidentes e vão beneficiar Trump, consolidando o seu favoritismo para chegar à Casa Branca. Até parece que foi uma montagem destinada a favorecê-lo, mas o jornal The Washington Post foi claro ao noticiar que, segundo o FBI, “o tiroteio em comício de Trump foi tentativa de assassinato”.
Trata-se de mais um caso da extrema violência que atravessa a sociedade americana, neste caso com contornos políticos, cujas consequências se assemelham ao que aconteceu no Brasil em 2018 quando Jair Bolsonaro foi esfaqueado, vindo a vencer as eleições presidenciais brasileiras que se realizaram um mês depois.
Numa altura de grande preocupação universal, como se viu nas conclusões da recente cimeira da NATO e na cegueira de tantos dirigentes mundiais, na guerra da Ucrânia e no continuado massacre do povo palestiniano, no agravamento das consequências das alterações climáticas e na subserviência europeia aos interesses americanos, a tentativa de assassinato de um candidato presidencial americano, tal como o atentado em Maio contra o primeiro-ministro da Eslováquia Robert Fico, mostram como está a intolerância política. 
No caso dos Estados Unidos, que é a mais poderosa nação do mundo, a preocupação é naturalmente maior com tudo o que vamos sabendo sobre a corrida presidencial.

Tadej Pogačar, o ídolo mundial do ciclismo

A 111ª edição do Tour de France está a decorrer e ontem disputou-se a 14ª etapa entre Pau e a estância de Saint-Lary-Soulan, ou pla d’Adet, nos Pirinéus franceses. Depois de subirem várias montanhas, incluindo o famoso Col du Tourmalet, os ciclistas aproximavam-se da meta quando o esloveno, que enverga a camisola amarela e se chama Tadej Pogačar, decidiu arrancar. Estava a cerca de cinco quilómetros da meta e ninguém o conseguiu acompanhar. O dinamarquês Jonas Vingegaard ficou a 39 segundos e o belga Remco Evenepoel chegou 01.10 minutos depois. O português João Almeida, que é companheiro de equipa de Pogačar, conseguiu chegar à meta com um atraso de 01.31 minutos, o que lhe permitiu conservar o 4º lugar da classificação geral.
Vários jornais franceses e espanhóis destacaram a vitória de Tajed Pogačar no pla d’Adet, com fotografias de primeira página, como aconteceu com o L’Esportiu, que se publica em Barcelona. De facto, estamos perante um campeão de eleição. que já é um ícone do ciclismo mundial.
Porém, para além dos aspectos desportivos e competitivos, o aspecto porventura mais relevante desta e das outras etapas do Tour de France é a sua realização televisiva, pois permite viver o desenvolvimento e a emoção da prova, mas também a beleza das paisagens, a monumentalidade do património e a entusiástica adesão popular à prova.
Hoje há mais e os ciclistas terão que subir cinco montanhas de 1ª categoria! Desejamos e até esperamos um bom desempenho de João Almeida.

sábado, 13 de julho de 2024

Brest 2024 Maritime Festival

O Brest 2024 Maritime Festival iniciou-se ontem, vai prolongar-se até ao dia 17 de julho e, como destaca na sua edição de hoje o jornal Le Télégramme, “les brestois pavoisent”, isto é, o povo de Brest exibe-se e mostra toda a sua vocação atlântica.
Brest é a cidade mais ocidental da França, localiza-se na Bretanha e é a sede do departamento da Finisterra. O mar e o Atlântico fazem parte da sua identidade cultural e, oito anos depois da sua última edição, está de volta o já famoso Festival Marítimo Internacional de Brest, agora na sua 8ª edição, reunindo “uma multidão de barcos de todo o mundo”, do passado e do presente, cuja presença mostra as diferentes formas pelas quais se navegou ao longo do processo histórico e como é diversa a herança cultural marítima dos povos.
Destaca-se a presença de alguns navios classificados como tall ships, provenientes de diversos países europeus, entre os quais se anuncia a presença do Santa Maria Manuela, um lugre de quatro mastros português. Porém, a organização tem insistido que o Festival Marítimo Internacional de Brest é muito mais do que um encontro de navios e embarcações, pois preparou um programa para todos os públicos que envolve música, dança, artes de rua, workshops, gastronomia, visitas a navios, desfiles e outras actividades dirigidas aos milhares de visitantes que a cidade e o porto de Brest vão receber.
Depois das frustrações futebolísticas que vieram fdo Euro2024 e das emoções políticas e eleitorais por que passaram nos últimos tempos, os bretões e o povo de Brest talvez se possam divertir.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

75 anos da NATO: a cimeira e a apreensão

Decorreu ontem e anteontem em Washington, a cimeira da NATO que assinalou o 75º aniversário da organização criada em 1949, da qual Portugal é um dos fundadores. 
Segundo foi divulgado, a cimeira tratou especialmente da guerra na Ucrânia, que resultou da invasão russa de Fevereiro de 2022, mas também tratou dos desafios resultantes do forte investimento militar da China e da coesão política entre os membros da NATO. Não sabemos se houve discursos dissonantes, sobretudo por parte de Viktor Órbán e até de Justin Trudeau, como hoje sugere a capa do jornal canadiano National Post, que se publica em Toronto. 
Os chefes de Estado e de governo presentes comprometeram-se com um mínimo de 40 mil milhões de euros para apoiar o esforço de guerra ucraniano, mas parece que nem todos assumiram esse compromisso.
Joe Biden esteve a “fazer prova de vida” em vésperas das eleições americanas e tratou de dizer que “a Ucrânia vai travar Putin” e que “vamos defender cada centímetro da aliança”, esquecendo-se que em Novembro pode haver outras ideias na Casa Branca. Porém, a grande surpresa da cimeira terá sido a declaração de Jens Stoltenberg, o secretário-geral da NATO em fim de mandato, que garantiu o apoio à Ucrânia para a sua futura integração na NATO. Em Moscovo esta declaração foi considerada uma “grave ameaça para a segurança nacional russa” porque a Rússia sempre recusou a expansão da NATO para a Ucrânia e vê agora ser afirmada a garantia da sua futura integração na NATO. Até parece uma declaração de guerra. A Rússia reagiu a essa declaração, acusou a NATO de estar "totalmente envolvida no conflito com a Ucrânia" e os Estados Unidos e a Europa de não serem partidários do diálogo, nem da paz, apostando na confrontação. A cimeira também acusou a China de ser “facilitador da guerra”, pelo que esta condenou a declaração da NATO, acusando-a de usar “retórica beligerante” e de “incitar ao confronto” entre blocos. 
Entretanto, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que esteve na cimeira, manifestou-se apreensivo e assumiu que a perspectiva de um conflito directo entre a NATO e o Kremlin é muito preocupante. Também me parece.

quarta-feira, 10 de julho de 2024

As sucessivas derrotas políticas de Macron

A França é um país muito instável do ponto de vista político, como se verificou nas recentes eleições parlamentares. Na 1ª volta, realizada no dia 30 de junho, o Rassemblement National ou Frente Nacional, assumidamente de extrema-direita, foi a força mais votada, o que deu origem a protestos, confrontos e distúrbios, bem como a uma enorme mobilização das forças políticas que a combatem. Na 2ª volta, realizada no dia 7 de julho, a situação inverteu-se e a Nova Esquerda Popular, uma coligação de esquerda que reúne a França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon, com socialistas, ecologistas e comunistas, foi o grupo mais votado e conseguiu eleger 182 deputados numas eleições que bateram recordes de afluência às urnas. A coligação Ensemble, que inclui o partido Renascença do Presidente Emmanuel Macron, apareceu em segundo lugar, tendo conseguido eleger 168 deputados. Seguiu-se o Rassemblement National de Marine Le Pen e Jordan Bardella, que passou de 88 para 143 deputados, o que sendo um crescimento significativo, foi uma enorme decepção pois ficou aquém das perspectivas sugeridas na 1ª volta. 
O Parlamento francês ficou fragmentado ou tripartido e nenhum dos partidos ou coligações vai poder assegurar os 289 lugares necessários para criar uma maioria absoluta num Parlamento com 577 deputados. Emmanuel Macron está, por isso, a passar por grandes dificuldades e o jornal Le Figaro, escolheu como título de primeira página a frase “la coalition introuvable”, isto é, a coligaçao que não se encontra. Dizem os especialistas que Macron teve uma vitória eleitoral porque travou o avanço da extrema-direita, mas outros dizem que sofreu uma grande derrota pois forçou a realização de eleições antecipadas que levaram o país para uma situação que pode vir a tornar-se caótica. O facto é que ninguém sabe como se vai sair deste imbróglio.
O sonho que Macron alimenta, desde há muito tempo, de se tornar uma figura de referência na Europa, sofreu mais um duro revés.

sábado, 6 de julho de 2024

J. Biden, D. Trump e o drama americano

O debate realizado no dia 27 de junho em Atlanta, em que se enfrentaram os candidatos presidenciais Joe Biden e Donald Trump, trouxe para o primeiro plano da política americana o problema da idade dos candidatos e até a sua saúde mental. O debate foi considerado um desastre e a generalidade da imprensa classificou Biden como senil e Trump como mentiroso. No campo democrata surgiu uma onda de pânico e as capacidades de Joe Biden para um novo mandato estão a ser postas em dúvida. Segundo divulgou o The New York Times, uma recente sondagem revela que como consequência do desempenho de Joe Biden no debate, o candidato Donald Trump ampliou a sua vantagem em seis pontos percentuais e Joe Biden passou a ser considerado “velho demais para o cargo” por 74% dos eleitores.
As dúvidas a respeito de Biden são crescentes em todos os grupos demográficos, geográficos e ideológicos, sobretudo no eleitorado democrata e nos independentes, havendo muita gente que lhe pede que renuncie à sua recandidatura.
Esta embaraçosa situação por que passa a corrida presidencial americana está a ser caricaturada por alguma imprensa internacional, como por exemplo pela revista Newsweek, cuja capa mostra um George Washington assustadoe pela revista The Economist, cuja capa mostra uma cadeira de rodas com os símbolos presidenciais. Porém, a ilustração escolhida como capa da revista alemã Stern trata do “drama americano”, refere “o velho e o mentiroso”, diz que “os Estados Unidos ainda podem ser salvos” e mostra Trump a engolir Joe Biden. Talvez seja a mais expressiva de todas essas capas.

O Reino Unido e a sua viragem política

As eleições realizadas no passado dia 4 de julho no Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte tiveram um resultado demolidor para o governo do Partido Conservador e deram a vitória ao Partido Trabalhista de Keir Starmer, que conquistou 412 dos 650 lugares do Parlamento (antes tinha 205), o que significa que conquistou a maioria absoluta.
Depois dos trabalhistas Tony Blair e Gordon Brown, a partir de 2010 o governo de Sua Majestade foi exercido pelos primeiros-ministros conservadores David Cameron, Theresa May, Boris Johnson, Liz Truss e Rishi Sunak. Foram 14 anos em que aconteceu o Brexit, o covid-19, vários escândalos políticos e a instabilidade global se acentuou nos serviços públicos, na economia, na segurança e na imigração. Os Conservadores foram fortemente penalizados e têm agora 121 deputados (antes tinham 344).
A terceira força política britânica são os Liberais Democratas que passaram a ter 71 deputados (antes tinham apenas 15). Como nota de curiosidade, regista-se a eleição à oitava tentativa de Nigel Farage, lider dos Reformistas de extrema-direita e considerado o pai do Brexit, que passaram a ter 4 deputados.
Os britânicos votaram na 4ª feira e na 6ª feira de manhã o rei Carlos III recebeu Keir Starmer no Palácio de Buckingham e convidou-o a formar governo. Aceite o convite, Starmer foi investido ao início da tarde e dirigiu-se depois para o número 10 de Downing Street, onde fez uma curta declaração a anunciar a necessidade de uma “renovação nacional” e da “devolução da política ao serviço público”, começando de imediato a trabalhar. Tudo rápido como deve ser.
Porém, a maior curiosidade da política britânica é a sua viragem à esquerda, quando na Europa e nos Estados Unidos parece estar em curso uma viragem para a direita.

O Euro 2024 terminou para Portugal

Ontem em Hamburgo estiveram frente a frente as selecções de Portugal e da França para disputar um lugar nas meias-finais do Euro 2024. Durante 120 minutos o jogo foi equilibrado, muito equilibrado, mas nenhuma das equipas marcou golo. Seguiu-se a lotaria dos penaltis, a mesma lotaria que nos permitira ultrapassar a Eslovénia. Tudo podia acontecer e nenhuma das equipas merecia perder.
João Félix acertou no poste, Diogo Costa não fez nenhum milagre, a França acertou nos cinco penaltis e Portugal, que estava entre os oito melhores, não passou ao grupo dos quatro melhores. C’est fini, como diz o título da edição de hoje do jornal O Jogo.
Um outro jornal desportivo português escreveu que houve falta de pontaria e que a selecção esteve “seis horas sem marcar”. É verdade. A equipa portuguesa marcou um golo à República Checa (Francisco Conceição) e dois golos à Turquia (Bernardo Silva e Bruno Fernandes), aproveitou dois auto-golos dos adversários, mas não marcou qualquer golo à Geórgia, nem à Eslovénia, nem à França.
O futebol é uma arte que deve ser representada por artistas de excelência, como são os jogadores portugueses, mas nessa representação artística não podem faltar os golos que são a parte mais emocionante do espectáculo. Muitas vezes, os jogadores portugueses parecem esquecer esse axioma e parecem satisfazer-se com a continuada e inconsequente troca da bola de uns para os outros. Os jogadores portugueses são habilidosos e experientes como poucos, são temidos pelos adversários, mas depois esquecem-se de rematar para fazer golo.
Como disse o seleccionador português Roberto Martinez, “o futebol pode ser cruel”. Desta vez foi mesmo cruel, pois uma equipa onde está a élite do futebol europeu, ficou pelo caminho porque, entre outros erros e adversidades, houve um João Félix que acertou no poste

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Viktor Orbán procura o caminho da paz?

A Hungria é um país da Europa Central que tem fronteira com sete países, é membro da NATO desde 1999 e aderiu à União Europeia em 2004. O seu governo é presidido por Viktor Orbán, que também preside ao partido nacional-conservador, que foi primeiro-ministro entre 1998 e 2002 e que, depois de 2010, ganhou todas as eleições parlamentares húngaras, o que faz dele o primeiro-ministro com mais tempo em funções na União Europeia.
A Hungria assumiu a presidência rotativa e semestral do Conselho da União Europeia no dia 1 de julho e, logo no dia seguinte, Viktor Orbán realizou a sua primeira visita à Ucrânia desde o início da invasão russa. Embora esta viagem possa ter sido resultado de uma vontade autónoma, é bem possível que tenha sido previamente acordada com as várias partes interessadas e, em especial, com Putin e com Zelensky. Curiosamente a imprensa internacional não se interessou por este encontro e o The Wall Street Journal foi a excepção.
Viktor Orbán tinha-se encontrado com Putin em outubro de 2023 e é considerado o seu mais próximo aliado europeu, o que significa que é um dos principais obstáculos aos esforços europeus para ajudar a Ucrânia, financeira e militarmente. Ao contrário dos restantes líderes da União Europeia, a Hungria tem bloqueado sistematicamente o apoio à Ucrânia e tem mantido posições próximas de Moscovo. Durante a sua visita a Kiev, Viktor Orbán apelou a um cessar-fogo imediato que abra as portas a uma negociação de paz, enquanto Zelensky considera que é prioritário falar numa “paz justa e duradoura”. 
Pode ser o início de uma caminhada difícil, mas que é necessário fazer.
Porém, Viktor Orbán também terá estado atento às tensas relações entre a Ucrânia e a Hungria, sobretudo, porque existem minorias húngaras na região da Transcarpátia que os ucranianos têm tentado desnacionalizar, o que pode conduzir a um conflito adicional. 
A Europa é mesmo uma manta de retalhos, com muitas pátrias, pelo que é preciso tratar tudo com muito cuidado.

terça-feira, 2 de julho de 2024

A grandeza de Ronaldo até se vê no choro

A figura de Cristiano Ronaldo é reconhecida e admirada em todo o mundo, não só pelo seu currículo futebolístico, mas também por muitas das atitudes que toma fora dos campos de futebol, sobretudo em acções de solidariedade.
A sua carreira, bem como os seus sucessos ou os seus insucessos, são notícia na imprensa de vários países, sobretudo naqueles onde jogou e entusiasmou multidões. Assim acontece em Espanha, onde jogou na equipa do Real Madrid durante nove anos, tendo feito 438 jogos e marcado 451 golos, o que faz dele o maior marcador de golos da história do clube, onde conquistou quatro Ligas dos Campeões Europeus e quatro Bolas de Ouro. Depois do Real Madrid, jogou em Itália e, com 39 anos de idade, ainda joga na Arábia Saudita e na selecção nacional de futebol.
Cristiano Ronaldo é um ídolo que continua a ser recordado em Espanha, sobretudo pelos adeptos do Real Madrid e, na sua edição de hoje, o jornal desportivo as dedica-lhe a sua primeira página com uma expressiva fotografia, em que ele chora por ter falhado um penalti que podia ter resolvido a favor de Portugal, o jogo que disputava com a Eslovénia. O título diz “a cuartos llorando”, o que significa que Portugal passou aos quartos-de-final apesar do choro de Ronaldo, mas a fotografia também mostra como o futebol desperta emoções profundas nos jogadores.
O jogo veio a ser resolvido por penaltis, tendo Cristiano Ronaldo sido o primeiro a marcar e com sucesso. Porém, a sua fotografia num jornal espanhol, é uma homenagem e exprime a grandeza deste jogador português que marca golos e que é rico e poderoso mas que perante o insucesso chora como o mais comum dos mortais.

Costa só há um, o Diogo e mais nenhum

Que o António Costa, mais o Afonso Costa e o Gomes da Costa, mais todos os Costas do mundo, me desculpem, inclusive os Costas da minha família mas, depois do que vimos ontem, há que afirmar que “Costa só há um, o Diogo e mais nenhum”. Esta revelação começou a afirmar-se ontem no jogo contra a Eslovénia dos oitavos-de-final do Euro 2024, em que Diogo Costa fez uma defesa salvadora aos 115 minutos, quando o esloveno Sesko lhe surgiu isolado pela frente. Não tendo havido golos durante os 120 minutos de jogo, a decisão foi para os penaltis e Diogo Costa lá foi para a baliza para cumprir o seu papel, tendo defendido o primeiro, depois o segundo e, por fim, o terceiro. Nunca se vira nada como isto. Com intuição e com segurança, Diogo Costa defendeu tudo com “as mãos de Portugal”, como se lhe referiu o jornal A Bola. Não foi preciso defender mais porque os jogadores portugueses não falharam o primeiro, nem o segundo, nem o terceiro penalti que marcaram. Depois de tanto sofrimento e tanta emoção desportivas, a selecção portuguesa estava apurada para os quartos-de-final do Euro 2024, em que defrontará a França.
Milhões de portugueses, excitados por longas horas de espaços televisivos, cansativos e repetitivos, apresentados por “jornalistas” medíocres e bajuladores, vibraram com as defesas de Diogo Costa e com a vitória portuguesa, que esteve tão comprometida.
Com 24 anos de idade, este atleta que nasceu em Rothrist, na Suiça, mas que cresceu em Santo Tirso, joga no F.C. Porto desde 2011 e, a partir de ontem, tornou-se o Costa mais conhecido e admirado de todos os Costas de Portugal.

R.I.P. Fausto Bordalo Dias

Deixou-nos aos 75 anos de idade o homem que foi considerado “um monumental criador de canções” e cuja obra maior foi o Por Este Rio Acima, provavelmente o mais importante disco da música portuguesa. Num tempo de grande criatividade musical em que se destacaram criadores famosos como José Afonso, Sérgio Godinho e José Mário Branco, aquele notável disco de Fausto como criador e cantautor, parece ultrapassá-lo a si próprio, pois permanece vivo desde 1982. 
Essa sua obra de referência explora o tema dos descobrimentos marítimos portugueses, um tema simultaneamente grandioso e polémico, tendo procurado inspiração na Peregrinação de Fernão Mendes Pinto e nos seus enredos, como por exemplo o medo, o horror, a escravidão, o sonho e a saudade, que exprime em canções como “O barco vai de saída”, “Navegar, navegar” ou “A guerra é a guerra”, em que se serviu de uma diversidade musical e instrumental invulgares, cujas raízes se encontram no folclore português e na música africana.
Fausto nascera em 1948 a bordo do paquete Pátria em pleno oceano Atlântico, quando o navio navegava de Lisboa para Luanda, tendo vivido em Angola até 1968, ano em que rumou a Lisboa para iniciar os seus estudos universitários. Consigo, trouxe o ritmo musical africano que passou a conjugar com a tradição da música popular portuguesa, que se tornaram marcas distintivas da sua obra.
Fausto Bordalo Dias partiu, mas deixou-nos o Por Este Rio Acima, para ouvirmos muitas mais vezes. Apesar de outros grandes destaques do dia, a morte de Fausto foi noticiada em primeira página pela imprensa portuguesa, designadamente pelo jornal Público, que dedicou três páginas ao "genial alquimista da música portuguesa".