sexta-feira, 17 de maio de 2024

O Ocidente contra o resto do Mundo

O semanário Courrier International tem a sua sede em Paris e os temas que trata em cada uma das suas edições resultam de escolhas editoriais feitas pelo seu corpo redactorial, depois de previamente debatidos, o que significa alguma independência em relação aos interesses que cada vez mais manipulam a informação, através da desinformação ou das fake news.
Na sua última edição o semanário aborda a questão geopolítica do momento e afirma que “as guerras na Ucrânia e em Gaza ampliaram ainda mais o fosso entre os países ocidentais e o Sul Global” e afirma que estão “a pôr em causa a ordem internacional herdada da Segunda Guerra Mundial e as instituições que a acompanham”. Segundo a revista, a expressão “L’Occident contre le reste du Monde” ou “The West versus the Rest” é cada vez mais utilizada para designar o fosso entre os países ocidentais e a multiplicidade de países que são o resto do mundo e que parece rejeitarem cada vez mais a visão ocidental da ordem internacional, como se verificou na recente votação a favor da Palestina nas Nações Unidas. Quando se esperava que o prestígio histórico das democracias ocidentais assumissem um papel de moderadores ou de esforçados mediadores na reconciliação, na arbitragem e na manutenção da paz e da harmonia, optaram por se tornarem protagonistas activos sob a direcção das Ursulas e dos Stoltenberg e, sobretudo, dos grandes interesses ligados à produção e venda de material de guerra.
No caso da Ucrânia e, sobretudo, na aliança objectiva com o extremismo de Benjamin Netanyahu, o chamado Ocidente parece alucinado e perde terreno face ao dinamismo asiático, comporta-se como um velho aristocrata falido e, muitas vezes, tende a apresentar-se como se ainda fosse o centro do mundo. A sua narrativa conta cada vez menos e, como salienta o Courrier International, temos “l’Occident contre le reste du Monde”.

A aliança “sem limites” entre Xi e Putin

Vladimir Putin iniciou ontem uma visita de Estado à República Popular da China, onde foi recebido por Xi Jinping com todas as honras militares, tendo essa visita tido grande destaque na imprensa chinesa e na imprensa mundial. Nas primeiras declarações conjuntas, os dois líderes reafirmaram a sua parceria “sem limites”, criticaram as alianças militares americanas na Ásia e na região do Pacífico e assinaram uma declaração conjunta sobre aprofundamento dos laços entre os seus países.
Aparentemente, as relações entre a Rússia e a China continuam fortes e têm-se aprofundado devido às crescentes pressões ocidentais, cujos poderes não querem perder o seu estatuto hegemónico no mundo.
Embora a China venha procurando apresentar-se ao mundo como neutra no conflito ucraniano, o facto é que apoiou a narrativa que afirma que a Rússia foi provocada pelo Ocidente e que a tem apoiado diplomaticamente, que lhe forneceu tecnologia avançada para uso civil e militar e se tornou um dos principais mercados do petróleo e do gás natural russos. A China também apresentou um plano de paz para a guerra na Ucrânia, em 12 pontos, que foi rejeitado pelos ucranianos e pelos seus apoiantes ocidentais, pois perrmitia que a Rússia conservasse os seus ganhos territoriais no leste da Ucrânia.
Provavelmente, tanto Putin como Xi pensam na Ucrânia e em Taiwan e, na sua perspectiva, estão sob a mesma ameaça. Entretanto, depois de Pequim, Putin vai visitar a cidade de Harbin, perto da fronteira entre os dois países, que é conhecida como a “Pequena Moscovo da China”, onde se realiza uma feira comercial russo-chinesa.
Esta visita à China tem um importante significado político e confirma que Vladimir Putin, com 71 anos, e Xi Jinping, com 70 anos, têm interesses comuns, pois já se reuniram mais de 40 vezes, pessoal ou virtualmente. Encontraram-se agora, mas Xi Jinping estivera em Moscovo em Março de 2023, enquanto Putin visitara Pequim em Outubro de 2023.