sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Ucrânia: a geopolítica em cima da mesa

Ontem foi assinado em Mink um acordo para um cessar-fogo no leste da Ucrânia, devido à acção conjunta de François Hollande e Angela Merkel que, ao contrário dos americanos, pensam que a solução do conflito ucraniano não está na escalada da guerra e, por isso, procuram a paz com muita persistência. Segundo foi difundido, o acordo quase esteve abortado mas acabou por acontecer, embora muitos comentadores não acreditem nele. Depois dos intensos combates que se têm travado e que já causaram tanta morte e tanta destruição, o anunciado cessar-fogo é, para já, um animador primeiro passo para a resolução do conflito.
Porém, a situação é mesmo muito complexa e não pode deixar de causar preocupações. A Ucrânia vive uma situação económica e financeira desesperada que tem gerado muita instabilidade, enquanto os rebeldes pró-russos continuam a ganhar terreno, o que denuncia o forte apoio russo que têm recebido.
A Ucrânia é um enorme país com 603 mil km2 e 50 milhões de habitantes, mas uma análise do seu mapa revela que há duas ucrânias ou há duas nações naquele imenso território: uma ucrânia que tem a capital em Kiev, em que a população fala ucraniano e que votou em Yulia Tymoshenko e, mais recentemente em Petro Poroshenko, mas também uma outra ucrânia que tem a “capital” em Donetzk, que fala russo e que tinha votado em Viktor Yanukovich e que agora não votou em Poroshenko. A primeira quer estreitar os seus laços com o ocidente e com a União Europeia, mas a outra quer reforçar as suas ligações à Rússia. Parece não haver conciliação possível e quando isso acontece, a solução é o divórcio. Nas pessoas como nos países. Porém, como pano de fundo desta questão renasceu a tensão dos tempos da guerra fria, o reaparecimento das áreas de influência e a tensão russo-americana. É uma situação muito perigosa e a geopolítica está em cima da mesa. Para os russos, a ocidentalização da Ucrânia é uma ameaça, mas para os ocidentais a ameaça está em Vladimir Putin e na sua estratégia de manter ou alargar as suas fronteiras de segurança. Cenários destes já não eram imagináveis há muito tempo.

O caça Rafale anima a indústria francesa

A França deve estar eufórica com a notícia hoje divulgada por vários jornais que anunciaram que há “um primeiro cliente estrangeiro para o Rafale” ou que destacaram os trinta anos de que o Rafale necessitou para convencer o mercado internacional, significando não só uma vitória industrial e comercial, mas também um êxito tecnológico.  Foi François Hollande que anunciou, ele próprio, o primeiro contrato de exportação do caça francês fabricado pela Dassault Aviation, no valor de 5 mil milhões de euros, que envolve o fornecimento ao Egipto de 24 aviões de combate e de uma fragata. Em tempo de crise é uma excepcional notícia para a economia e para o orgulho franceses. 
O historial deste avião representa uma persistente luta dos franceses para dispor de um avião concebido para concorrer com outros projectos aeronáuticos europeus e, também, uma resposta ao pedido da Marinha e da Força Aérea francesas para disporem de um aparelho do tipo “canivete suiço”, apto para todo o tipo de missões, incluindo o combate aéreo, o ataque ao solo e a recolha de informações, podendo aterrar ou descolar de um porta-aviões e com a capacidade de transportar um míssil nuclear. Além disso, o novo avião deveria poder substituir com vantagem os Jaguar, Crusader, Mirage F1, Mirage 2000, Etendard e Super-Etendard, tendo a Marinha e a Força Aérea francesas fixado as suas necessidades futuras em 286 unidades.
Marcel Dassault arrancou com o projecto Rafale, mas veio a falecer poucos meses antes do primeiro voo do novo avião, que aconteceu em 1986. Em 1993 o Rafale aterrou pela primeira vez num porta-aviões, em 2001 entrou ao serviço da Marinha francesa e em 2006 da Força Aérea, tendo tido o seu baptismo de fogo no Afeganistão. Depois esteve na Líbia onde atacou as colunas blindadas de Kadhafi às portas de Benghazi, no Mali onde travou os jihadistas na sua marcha para Bamako e, mais recentemente, no Iraque onde atacou o ISIS. O sucesso das suas missões foi reconhecido e daí ter nascido esta primeira encomenda que anima a indústria aeronáutica francesa e que, segundo o jornal  Les Echos, relança o Rafale.