sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Código Civil português inspira lei indiana

A Índia é uma união de 29 estados e 7 Union territories, que tem 1.441 milhões de habitantes e é o mais populoso país do mundo. Herdeira de uma civilização milenar, é hoje um grande país com uma complexa teia de diversidades religiosas, culturais e linguísticas e, com 22 línguas oficiais, centenas de dialectos e vários tipos de escritas.
Depois de muitos anos em que a “dinastia” de Jawaharlal Nehru e o Congress Party estiveram no poder, em 2014 as eleições parlamentares foram ganhas pelo Bharatiya Janata Party (BJP). Com este resultado, o nacionalismo hindu subiu ao poder e Narendra Modi tornou-se primeiro-ministro, com a oposição a acusá-lo de grande radicalismo religioso e de deriva ditatorial.
Ontem, dia 15 de agosto, a Índia celebrou com a pompa do costume, o 77º aniversário da sua independência e Narendra Modi presidiu ao habitual e imponente desfile militar em Nova Delhi e discursou, tendo salientado que a India tem necessidade de “a new ‘secular’ civil code”, como hoje destaca o jornal Hindustan Times e toda a imprensa indiana de referência.
Acontece que as leis indianas têm códigos específicos para as diferentes regiões e religiões, sobretudo muçulmanas e hindus, mas também para as diferentes castas. Porém, os antigos territórios portugueses do Estado da Índia, nomeadamente Goa e Damão são a excepção, pois os goeses e os damanenses têm um único Código Civil Uniforme (UCC), copiado do Código Civil português de 1867 e que abrange todas as religiões, com leis que regem tudo, desde a igualdade de género no casamento, até à herança pessoal.
É realmente espantoso como, depois de terem sido hostilizados muitos daqueles que defenderam a extensão do Código Civil português como modelo para um UCC para toda a Índia, venha agora Narendra Modi dizer que “o UCC já existe no estado de Goa e todos vivem felizes lá”, mas sem nunca referir que o código que existe em Goa e Damão foi criado pelos portugueses. Se fosse vivo, o advogado goês Manohar Usgaocar, de quem fui amigo, haveria de sorrir. Afinal, os portugueses que são atacados por terem levado a Inquisição para Goa, fizeram por lá muitas coisas respeitáveis e que ainda são modelares.