sábado, 15 de novembro de 2014

Um grande quebra-cabeças para a França

A edição de hoje do jornal Le Télégramme que se publica em Lorient, na Bretanha, apresenta como tema de fundo o caso dos dois BPC da classe Mistral (Navio de Projecção e Comando) ou LHD (Landing Helicopter Dock, segundo a designação NATO), que foram encomendados pela Rússia aos estaleiros de Saint-Nazaire.
Estes navios têm um deslocamento de 21.300 toneladas, 199 metros de comprimento, 32 metros de largura, uma guarnição de 160 pessoas e podem transportar uma força de intervenção de 450 militares e 16 helicópteros. Podem acolher 650 refugiados e dispõem de um hospital. A Marinha francesa dispõe ou vai dispor de 4 unidades desta classe e, em face da sua capacidade operacional, em Junho de 2011 a Rússia fez uma encomenda de duas unidades, através de um contrato no valor de 1,2 mil milhões de euros. Embora os navios sejam entregues com todos os equipamentos de navegação, incluindo os sistemas de navegação de combate, todo o armamento será russo, inclusive rampas de lançamento de mísseis de cruzeiro e sistemas de defesa anti-míssil, anti-aérea e anti-submarina. A primeira unidade – o Vladivostok - está pronto para ser entregue e a segunda unidade - o Sébastopol - deverá estar pronto em 2015.
Porém, aconteceu a crise na Ucrânia e sucederam-se as sanções económicas à Rússia determinadas pela NATO e pela União Europeia. A entrega do Vladivostok foi suspensa e a construção do Sébastopol desacelerou, pelo que paira uma ameaça sobre os trabalhadores do estaleiro e sobre os seus inúmeros fornecedores e subcontratados. Trata-se de uma situação a lembrar-nos Viana do Castelo, os ENVC e o caso Atlântida, mas de muito maior dimensão.
As autoridades russas, que pagaram uma parte substancial do contrato por antecipação, estão a pressionar a França  e a fazer-lhe um quase ultimato para que cumpra os seus compromissos contratuais e faça a entrega dos navios, ameaçando-a com um pedido de indemnização de elevado montante, mas também existe a pressão dos falcões para que a França cumpra as sanções impostas à Rússia.  Assim, diz o jornal, uma quebra do compromisso francês será uma catástrofe financeira, mas também uma catástrofe para a imagem da indústria francesa do armamento. É um enorme quebra-cabeças (mais um) para François Holland.

Sem comentários:

Enviar um comentário