Desde há muitos
anos que assistimos à deslocação de comitivas ministeriais ou presidenciais,
por vezes bem numerosas, aos mais diferentes lugares do mundo e com os mais
diversos pretextos, embora quase sempre de índole económica, isto é, para
atrair investimento ou para promover a exportação dos nossos produtos. Embora
se trate de acções fundamentais da chamada diplomacia económica, até porque
“quem não aparece esquece”, bem sabemos como a maioria das deslocações dessas
comitivas de alto nível, cheias de assessores e jornalistas, são inconsequentes
e não trazem qualquer benefício ao país. Muitas vezes, as extensas comitivas
até são escandalosas exibições de novo-riquismo e de práticas turísticas. Seria
bem interessante estudar os custos e os benefícios de cada uma dessas
deslocações e, já agora, detectar quem tirou proveito pessoal delas...
A maior parte das
vezes sabemos dessas deslocações apenas porque os jornalistas que nelas tomam
parte as noticiam, sempre muito laudatoriamente, até porque nessas viagens é
tudo em grande e nada lhes falta.
Uma das formas de
perceber o interesse das deslocações dessas comitivas é através da imprensa
local. Nunca, ou muito rarissimamente, a imprensa local noticia uma qualquer visita
ministerial portuguesa. Fartei-me de pesquisar e pouco ou nada encontrei.
Estes comentários
vêm a propósito da deslocação do Primeiro-ministro António Costa à China, que a imprensa chinesa noticiou com
grande destaque em vários jornais de língua chinesa e até inglesa, caso do China
Daily. Não é costume. Para além de ilustrar a notícia com uma
fotografia, o jornal destaca na sua primeira página uma declaração do
Primeiro-ministro Li Keqiang: “Portugal pode ser uma ponte para outras nações”. Outro jornal destaca declarações do Presidente Xi Jimping a encorajar o investimento chinês em Portugal.
São declarações
animadoras, mas não sabemos se têm substância. Veremos. Bom seria que aqui
pudéssemos registar brevemente quaisquer notícias sobre verdadeiros
investimentos chineses em Portugal que gerassem crescimento e emprego, até para
ensinar uns tantos figurões que por aí andam e que tanto nos quiseram enganar, quando chamavam "investimento" à simples compra de casas com dinheiros de que não se sabia a origem.