A inesperada
notícia chegou ontem de manhã e anunciava que o músico e compositor José Mário
Branco falecera aos 77 anos de idade.
Como resultado da
sua actividade política contra a ditadura do Estado Novo foi perseguido e preso
pela polícia política, escolhendo depois os caminhos do exílio e foi em Paris
que, em 1971, gravou o seu primeiro álbum a solo, intitulado Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades,
um título que retirou de um soneto de Camões, a que juntou canções com textos
de autores como Natália Correia e Alexandre O’Neill.
Pouco tempo
depois, numa altura em que a dureza da guerra se acentuava na Guiné e em que o
General António de Spínola procurava uma saída política para um conflito cada
dia mais doloroso mas que o intransigente governo de Lisboa nunca aceitou, a voz
de José Mário Branco “circulava” em gravações por alguns meios militares nos
rios e matas da Guiné e não deixava ninguém indiferente.
José Mário Branco
foi, por isso e por tudo o que sempre fez com convicção e coerência, um símbolo
da resistência e da insatisfação ao regime político em que Portugal viveu até
ao 25 de Abril de 1974. Seguramente, ele é uma referência maior da luta
política de antes e depois da revolução de Abril, sem quaisquer cedências ao
seu inconformismo político e cultural, seguindo sempre numa linha de
intervenção em que revelava a sua inquietação e mostrava que a cantiga é uma
arma. Era um inspirado
músico, compositor e criador cultural num importante período histórico do nosso
Portugal e a sua obra vai permanecer.
Aqui lhe expresso a minha homenagem pelas
suas inspiradoras canções e pela obra musical que nos deixou.