quarta-feira, 20 de novembro de 2019

R.I.P. José Mário Branco

A inesperada notícia chegou ontem de manhã e anunciava que o músico e compositor José Mário Branco falecera aos 77 anos de idade.
Como resultado da sua actividade política contra a ditadura do Estado Novo foi perseguido e preso pela polícia política, escolhendo depois os caminhos do exílio e foi em Paris que, em 1971, gravou o seu primeiro álbum a solo, intitulado Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades, um título que retirou de um soneto de Camões, a que juntou canções com textos de autores como Natália Correia e Alexandre O’Neill.
Pouco tempo depois, numa altura em que a dureza da guerra se acentuava na Guiné e em que o General António de Spínola procurava uma saída política para um conflito cada dia mais doloroso mas que o intransigente governo de Lisboa nunca aceitou, a voz de José Mário Branco “circulava” em gravações por alguns meios militares nos rios e matas da Guiné e não deixava ninguém indiferente.
José Mário Branco foi, por isso e por tudo o que sempre fez com convicção e coerência, um símbolo da resistência e da insatisfação ao regime político em que Portugal viveu até ao 25 de Abril de 1974. Seguramente, ele é uma referência maior da luta política de antes e depois da revolução de Abril, sem quaisquer cedências ao seu inconformismo político e cultural, seguindo sempre numa linha de intervenção em que revelava a sua inquietação e mostrava que a cantiga é uma arma. Era um inspirado músico, compositor e criador cultural num importante período histórico do nosso Portugal e a sua obra vai permanecer. 
Aqui lhe expresso a minha homenagem pelas suas inspiradoras canções e pela obra musical que nos deixou.