A maioria gostou e aplaudiu de pé, enquanto a oposição não aceitou as explicações e prometeu que este caso não estava encerrado, devido às suas implicações políticas e éticas. Aquilo a que assistimos no debate parlamentar quinzenal foi um exercício de malabarismo, ensaiado para agradar à sua própria claque parlamentar, com demagógicas referências à subvenção vitalícia que não requereu, à sua vida remediada e às poupanças que não tem. Como toda a gente sabe, era comum e talvez ainda o seja em muitas empresas e até organismos estatais, usar “sacos azuis” e “pagamentos por debaixo da mesa” para reduzir a carga fiscal de quem paga e de quem recebe. Ignorar isso é a mesma coisa que ignorar que a Terra é redonda. Na panóplia destes instrumentos de retribuição à margem do fisco estão, por exemplo, o uso de despesas de representação, o pagamento de quilómetros fictícios em viatura própria, o cartão de crédito para despesas pessoais, as senhas de gasolina e de refeição, a atribuição de viatura, o pagamento de viagens, os PPR, os seguros e tantas outras impensáveis benesses.
O ex-deputado Passos Coelho estava em regime de exclusividade, mas viajou para Bruxelas e para Cabo Verde em trabalho para uma organização como facilitador de negócios, declarando que trabalhou sem remuneração e que apenas recebeu ajudas de custo e reembolsos de despesas, mas não se recorda quanto. A dúvida persiste. Eu não fiquei nada esclarecido com esta explicação. Porém, o Presidente da República, que ainda não falou sobre o pandemónio em que vivemos na Justiça e na Educação, apressou-se a dizer que foi informado que “o senhor primeiro-ministro prestou todos os esclarecimentos sobre a sua relação profissional com a Tecnoforma e que o fez no local próprio”.
Que tristeza! Face ao malabarismo do ex-deputado, o governo apoia, os deputados aplaudem e o presidente diz que está tudo bem. Foi por isso que sempre foi desejada “uma maioria, um governo, um Presidente”?