Todos os jornais portugueses
desta manhã dedicaram as suas manchetes aos graves incêndios florestais que têm
afectado de forma trágica o norte e o centro de Portugal, anunciando que já tinha
havido três mortes. O Jornal de Notícias escreveu em
primeira página que “o Diabo andou à solta” e a Protecção Civil classificou o
dia de ontem como o pior do ano, com 523 ocorrências.
Hoje, o centro do
país estava envolvido numa espessa núvem de fumo, muitos incêndios continuavam
activos e anunciavam-se 36 mortes e 63 feridos em consequência do fogo. As
imagens televisivas têm mostrado a violência dos incêndios e o dramatismo da
tragédia, a escassez de meios para combater o fogo, o desespero das populações
e até a imbecilidade de alguns jornalistas, apostados em fazer espectáculo e em
antecipar um julgamento político da tragédia.
O drama que está
a cair sobre Portugal também chegou à Galiza e os jornais galegos escolheram
títulos significativos como “Ataque incendiario y mortal a Galicia” (La Voz de
Galicia da Coruña), “Muerte y horror por el terrorismo incendiario” (Faro de
Vigo) e “Ataque a Galicia” (El Progresso de Lugo).
Porém, enquanto
na Galiza é assumido pela imprensa e pelas autoridades que a vaga de incêndios
resulta de ataques incendiários e terroristas, em Portugal continua a tratar-se
este assunto como resultado da reconhecida falta de cuidado das populações ou
como resultado da actuação casual e criminosa de incendiários, embora já
tivesse aparecido alguém com responsabilidades a declarar que acredita “que
haja uma organização terrorista que esteja premeditadamente a incendiar o nosso
país”.
O país ainda não
estava refeito do choque dos incêndios do passado mês de Junho que afectaram
dramaticamente Pedrógão Grande e agora vê-se confrontado com nova calamidade. Perderam-se
mais de uma centena de vidas nos dois incêndios e as duas tragédias não vão ser esquecidas. O nosso país
está de luto. É preciso um esforço colectivo para ultrapassar esta calamidade
e, tal como em Junho, é despropositado que alguém faça aproveitamentos políticos
desta tragédia. É preciso actuar dando ouvidos a quem sabe.