terça-feira, 19 de maio de 2020

O plano MM para vencer a crise na Europa

A União Europeia vive desde há vários anos numa situação de grande fragilidade política, devido à ausência de um verdadeiro projecto comum que mantenha os princípios de solidariedade que presidiram à sua constituição, a que se juntam a falta de lideranças de reconhecido prestígio à escala internacional e o surgimento de nacionalismos regionais que, em cada dia que passa, se tornam incompatíveis com o ideal europeu. As políticas comuns tendem a tornar-se uma ficção que cede aos egoísmos nacionais e daí resulta uma progressiva perda de competitividade científica e industrial relativamente aos gigantes americano e chinês. Bruxelas é cada vez mais uma “arca de Noé”, ou uma nau sem rumo, onde cada um procura satisfazer os seus interesses.
A recente crise pandémica veio mostrar como a União Europeia e o projecto europeu podem entrar em desagregação. Não é necessário ter grandes conhecimentos de Economia, nem consultar estatísticas, nem ouvir o Portas ou o Marques Mendes, para perceber a dimensão da crise que nos entrou em casa. Basta olhar para os aeroportos vazios, para os navios de cruzeiro nos seus terminais, para os restaurantes vazios ou para o número de desempregados a aumentar.
Nesse sentido, ontem estivemos perante um acontecimento de grande importância para o futuro da Europa, que foi o anúncio do lançamento de um fundo de recuperação da ordem dos 500 mil milhões de euros, anunciado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e pela chanceler alemã, Angela Merkel, que se destina à ajuda aos países da União Europeia, no combate à recessão económica e à crise social que se aproxima. Trata-se de um plano que assenta em financiamentos não-reembolsáveis, ou subvenções a fundo perdido, provenientes do orçamento comunitário. É um novo plano Marshall, muito semelhante àquele que os Estados Unidos criaram em 1947 para auxiliar a reconstrução da Europa após a 2ª Guerra Mundial. A concretizar-se este plano, que já pode ser designado por Plano MM (Merkel-Macron), será um sinal de unidade política e um forte apoio para que a Europa saia desta crise mais forte, mais unida e mais solidária. É esse tom de unidade que o Finantial Times utiliza hoje ao anunciar esta iniciativa franco-alemã.