quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A bela Goa para quem tem frio em Lisboa

Um bom amigo decidiu deixar esta cidade de Lisboa por uns tempos e voar até Dabolim, que é o aeroporto que serve Goa, para fugir ao frio atlântico-europeu e para aproveitar o calor e a amizade dos muitos amigos que tem naquela bela terra virada para o mar Arábico. O meu amigo tem uma enorme notoriedade e prestígio cultural naquela terra e, provavelmente, é o português mais ilustre que nos próximos tempos andará a circular por Caranzalém, Dona Palma, Fontainhas, Altinho, Miramar e outros bairros da cidade de Pangim. Por isso, fui consultar os jornais de Goa para verificar se tinham dado notícia da sua chegada, porque esta sua visita é um facto que merece notícia. Porém, desapontado, verifiquei que ele tem mantido a discrição de que tanto gosta.
No entanto, aproveitei e fiz uma breve leitura do The Navhind Times, um dos mais populares jornais goeses. Na sua edição de hoje, o jornal reflecte na sua primeira página os tempos que se vivem em Goa e a sua rapidíssima entrada na era do consumo de massa, com anúncios de vários modelos de automóveis Chevrolet e de Instant Winter Holidays por 29.000 rupias (400 euros), publicitação do Shopping Festival em Chicalim e da Trade Fair cum Food Festival e de uma Singing Competition em Mapuça. Há dinheiro e vontade de o gastar. Como o mês de Dezembro é o mês em que milhares de goeses da diáspora visitam as suas famílias, sucedem-se todo o tipo de festas, sobretudo as festas religiosas dos católicos e os casamentos, sempre com muitas centenas de convidados. Para esses, também o jornal anuncia as ofertas do Señor, the suit people: um complete wedding package por 4999 rupias (70 euros) e a feitura de fatos simples por 2499 rupias (35 euros), com delivery in 3 to 4 hours.
Seguramente, o meu amigo JML vai estar em vários casamentos e não deixará de ir de fato novo. É só ir ao Señor, ali na Rua Heliodoro Salgado. E aprecie bem essa terra e essa gente!

UNESCO reconheceu a arte chocalheira

Com a surpresa que resulta da minha ignorância nesta matéria, tive ontem conhecimento que a arte chocalheira foi inscrita pela UNESCO na sua lista do Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente. Informei-me ccom a leitura do Público – talvez o único jornal que tratou do assunto  – e passei da surpresa para o aplauso do trabalho pelo feito pela comissão de candidatura, isto é, por aqueles que com entusiasmo, competência e discrição, fazem alguma coisa pelo nosso país. Segundo foi anunciado, a arte chocalheira foi iniciada há mais de dois mil anos, como testemunham os chocalhos celtiberos do século I a.C. que são semelhantes aos que são feitos actualmente. É, portanto, uma arte milenar que tem no território alentejano a sua maior expressão a nível nacional, especialmente nos concelhos de Estremoz, Reguengos de Monsaraz e Viana do Alentejo, com especial destaque para a freguesia de Alcáçovas.
O chocalho português é um instrumento de percussão munido de um só batente interno, que funciona da mesma maneira que um sino e que, habitualmente, é suspenso no pescoço dos animais com a ajuda de uma correia em couro. O chocalho está intimamente associado à pastorícia, sendo utilizado pelos pastores para localizar e dirigir os rebanhos, mas daí também resulta uma paisagem sonora única e característica. A inscrição do fabrico de chocalhos na Lista do Património Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente implica um Plano de Salvaguarda, uma espécie de “caderno de encargos" que visa reverter a tendência de desaparecimento desta arte, garantindo a transmissão do saber-fazer e a sustentabilidade futura da actividade. Daí que tenham sido propostas um conjunto de medidas para promover o ensino do ofício. Depois do cante alentejano e do fabrico de chocalhos que mais nos reservará o património cultural alentejano?