No passado
fim-de-semana, por iniciativa do Swiss Federal Council, realizou-se em
Bürgenstock, uma estância turística situada em território suiço, uma cimeira com a
designação de Summit on Peace in Ukraine,
para a qual foram convidados 160 países e organizações internacionais, dos
quais houve a participação de 92 países e 8 organizações.
Na imprensa
internacional de hoje – e tive acesso a várias dezenas de jornais – procurei alguma
informação sobre a cimeira, mas verifiquei que o assunto não teve destaque de
primeira página nos jornais internacionais de referência, como The Washington Post, The Wall Street
Journal, The New York Times, The Times, The Guardian, El País, Le Monde, Le
Figaro e muitos outros. Apenas vi o assunto ser tratado na primeira página
do Le Temps de Genève, do Frankfurter Allgemeine, do La Stampa e do nosso Público, o que mostra que o assunto não
foi notícia, ou não foi notícia importante. De facto, há que reconhecer que se
tratou de uma operação de marketing a
que muita gente se sujeitou desnecessariamente, pois ninguém imagina que o
cessar-fogo, as negociações e a paz, possam nascer de cimeiras deste tipo, com tanta gente e tantos assessores. No
final da cimeira houve 77 países e quatro organizações que assinaram um
comunicado final de apelo à paz com condições simétricas às que a Rússia
anunciara dois dias antes, o que mostra quanto a Diplomacia tem que trabalhar. O Brasil, a Índia, a África do Sul, a Arábia
Saudita, o México e a Indonésia, foram alguns dos países que se recusaram a
assinar o comunicado final. Escreveu-se que a cimeira produziu zero resultados e, de facto, nada de novo aconteceu.
O conflito já
dura há tempo demais e já todos viram que ninguém vencerá. A indústria da guerra enriquece, mas todos perdem,
sobretudo os povos da Ucrânia. Cada uma das partes foi longe demais e os riscos
da escalada são enormes e muito perigosos. Há que procurar a paz com persistência, mas há que fazê-lo com uma abordagem de discrição que gere condições mínimas de confiança entre as
partes, com uma abertura para cedências à rigidez das suas actuais posições e, naturalmente, com a "presença" de Zelenshy, Putin, Biden e Xi Jinping.
Certamente que a paz não se conquista com cimeiras como a de Bürgenstock, nem com os discursos de Stoltemberg, de Von der Leyen e, até, do pequeno Macron.