Nas suas últimas
edições a imprensa francesa tem ignorado as guerras da Ucrânia e do Médio
Oriente, concentrando-se nos violentos motins que desde há três dias estão a
agitar a Nova Caledónia e que já levaram o presidente Emmanuel Macron a declarar
o estado de emergência.
A Nova Caledónia
é um território francês com cerca de 18.500 km2, que abrange algumas
dezenas de ilhas do sul do oceano Pacífico e que está situado a leste da
Austrália e a norte da Nova Zelândia. Tem cerca de 270 mil habitantes, dos
quais 45% são os autóctones chamados kanak,
37% são de origem europeia ou descendentes de europeus, havendo também
comunidades de polinésios, vietnamitas, indonésios e chineses.
A onda
independentista que varreu as ilhas do Pacífico também chegou à Nova Caledónia
e em 1980 verificaram-se situações de tensão entre os opositores e os
partidários da independência e, em 1986, o Comité de Descolonização das Nações
Unidas incluiu a Nova Caledónia na sua lista de territórios não-autónomos.
Seguiu-se um referendo sobre a independência que foi rejeitado por larga
maioria da população e, em Outubro de 2020, foi realizado um novo referendo em
que 46,7% dos eleitores votaram a favor da independência e 53,3% votaram
contra. O independentismo crescera com largo apoio da população kanak. Porém, em Paris foram tomadas medidas legislativas atentatórias da vontade e dos direitos dos autóctones que reagiram, com distúrbios nas ruas, motins
violentos e confrontos armados entre manifestantes, milícias e polícias. A
tensão entre as diferentes comunidades acentuou-se. Já há mortes e o caos está
instalado. Nos últimos dias foi imposto o recolher obrigatório, declarado o
estado de emergência e enviados reforços militares para o território. O jornal La
Croix pede urgência no diálogo, mas o jornal Le Monde refere “le spectre de la guerre civile”, significando que
a França e Emmanuele Macron têm um grande problema para resolver a 16.000
quilómetros de distância.