quinta-feira, 19 de maio de 2011

O azar dos Távoras

Lisboa – Beco do Chão Salgado
No bairro de Belém e muito próximo da famosa Fábrica dos Pastéis de Belém, existe o minúsculo Beco do Chão Sagrado, onde está colocado um obelisco comemorativo do suplício dos Távoras. Naquele local, então conhecido por “patíbulo de Belém”, foram supliciados os Marqueses de Távora, os seus filhos, outros dos seus familiares e vários colaboradores, acusados de terem organizado um atentado contra o rei D. José. O sinistro acto concretizou-se no dia 13 de Janeiro de 1759, tendo começado antes das sete horas da manhã e sido prolongado por cerca de 9 horas de vingança, tortura e morte.

O atentado ocorrera na noite de 3 de Setembro de 1758, no local onde hoje se situa a igreja da Memória (Calçada do Galvão), que depois foi mandada construir pelo rei em acção de graças.
O processo que se seguiu, inspirado pelo Marquês de Pombal, foi rápido, sumaríssimo e sem que os acusados tivessem direito à sua defesa. No dia 4 de Janeiro foi formado um tribunal especial e, no dia 12 de Janeiro de 1759, foi lida a ignóbil sentença que foi executada no dia seguinte.
O chamado processo dos Távoras durou apenas 132 dias e as penas aplicadas excederam em violência a legislação penal em vigor e constituíram um acto de vingança ferocíssima. É, certamente, uma das páginas mais negras da História de Portugal que o povo memorizou com a expressão “o azar dos Távoras”.

Tudo azul

O F. C. Porto ganhou ontem em Dublin a Europa League 2011, numa inédita final que colocou frente a frente duas equipas portuguesas. O vencedor de Dublin já tinha triunfado na Liga Portuguesa com um enorme avanço pontual e o título da A Bola justifica-se: tudo azul.
O jogo e a festa correram bem. Milhares de adeptos das vizinhas cidades do Porto e Braga convergiram para Dublin. Os adeptos conviveram, os dirigentes respeitaram-se e os jogadores honraram as suas camisolas. Os elogios foram recíprocos. Todos foram exemplares.
Nos dias e horas que antecederam o acontecimento, todos os canais televisivos nacionais o mediatizaram exaustivamente durante muitas horas. Foi uma cobertura televisiva cansativa, com reportagens de rua demasiado repetitivas e com muita gente a dar opinião. A ideia transmitida de “uma final portuguesa” e os discursos laudatórios emitidos sobre o futebol português, apenas compreensíveis numa lógica de recuperação da nossa abalada auto-estima colectiva, mereciam um tratamento mais cuidadoso por parte dos muitos repórteres que as televisões mobilizaram para "a festa".
Na realidade, os 22 jogadores que entraram em campo para disputar a final eram oriundos de sete países: nove brasileiros, sete portugueses, dois colombianos, um argentino, um uruguaio, um peruano e um romeno. É certo que os treinadores eram portugueses, mas até o golo da vitória foi construído por colombianos, depois de uma falha de um peruano e de um remate que um brasileiro não defendeu.
No fim, viam-se diversas bandeiras nacionais, mas a bandeira portuguesa esteve quase ausente. Era tudo azul.