Cartaz da Associação 25 de Abril |
Já lá vai o tempo em que alguns
discutiam se o 25 de Abril tinha valido a pena, mas 48 anos depois daquele dia inicial inteiro e limpo, já ninguém
ousa discutir a importância que tiveram para a sociedade portuguesa as portas que Abril abriu. Hoje, só os
mais velhos sabem o que foram os tempos sombrios da ditadura e das suas verdades
indiscutíveis, das perseguições políticas e da emigração maciça, do
obscurantismo cultural e do subdesenvolvimento económico, da intransigência salazarista-caetanista
e da guerra colonial.
As sociedades são dinâmicas e evoluem
por ciclos. Os nossos quase nove séculos de história mostram-nos isso mesmo,
com ciclos como os tempos faustosos das índias e dos brasis, mas também com os tempos das
humilhações da ocupação filipina e das invasões francesas. Mais recentemente, ao
ciclo da repressão política e do conformismo em que vivemos desde 1926, seguiu-se depois
de 1974 um esperançoso ciclo com a integração no espaço democrático europeu e a
apressada recuperação do tempo perdido, com liberdade, bem-estar económico e
paz social.
Porém, nos tempos que vivemos é imprevisível definir ou
antecipar que outro tipo de ciclo nos espera. Por isso, a evocação do 25 de
Abril não pode ser apenas uma referência histórica e um marco festivo e emocional
para aqueles que viveram a alegria da libertação, mas tem que constituir um
momento de reflexão relativamente aos princípios e valores que esse dia nos
ajudou a adquirir, mas que carecem de aprofundamento no que respeita ao nosso
sistema político e social, designadamente na defesa dos interesses e das causas
públicas, no combate às desigualdades sociais e às assimetrias regionais, no reforço da
solidariedade nacional e na prevenção das alterações climáticas e dos seus efeitos.
Os princípios democráticos e de desenvolvimento que nortearam o 25 de
Abril têm que ser reafirmados a propósito da sua celebração, para mostrar aos cidadãos e
aos que eles escolheram como seus representantes, que desejamos uma sociedade
mais justa e mais solidária, sem corrupção, sem tráfico de influências e sem clientelismo.
Será nesse
espírito que amanhã havemos de celebrar o 25 de Abril.