Jacinda Ardern, a
primeira-ministra da Nova Zelândia, anunciou ontem que no início do próximo mês
de Fevereiro abandonará o cargo que ocupa desde 2017. Nessa altura tinha apenas
37 anos de idade e nunca no mundo houvera uma mulher tão jovem a chefiar um governo.
Na sua actividade ultrapassou algumas crises que afectaram a Nova Zelândia,
como a erupção do vulcão Whakaari e o massacre da mesquita de Christchurch, o
que a tornou muito popular, tanto no plano internacional como no plano interno.
Ontem, na sua declaração, Jacinda Ardern alegou cansaço no exercício das suas
funções e afirmou que “sou humana" e que "os políticos são humanos”, o que
significa que a sua demissão mostra como é difícil o equilíbrio entre a vida
pública e a vida familiar. Essa dificuldade, terá sido acentuada com as
crescentes campanhas de difamação e os ataques pessoais, com os abusos da imprensa
e com as ameaças de grupos radicais. “É um dia triste para a política, porque
um líder excepcional se cansou da constante difamação”, disse a líder do
partido maori da Nova Zelândia. A notícia encheu a primeira página da edição de
hoje do jornal australiano The Camberra Times e obriga-nos a
reflectir sobre o que se passa em Portugal.
De facto, nas últimas semanas a
comunicação social tem publicado diversas notícias, verdadeiras ou falsas, que
levantam insinuações ou suspeitas sobre o comportamento institucional e sobre a
gestão pública de agentes políticos a vários níveis. Naturalmente, a
comunicação social deve ser livre e independente para defender a verdade e o
sistema democrático, mas tem que ser responsável. A ética jornalística deve
estar acima do protagonismo dos jornalistas, do sensacionalismo mediático e das
instâncias editoriais, porque algumas campanhas de difamação e ataques pessoais
ultrapassam largamente o dever de informar e colidem com o direito ao bom nome
de muitos agentes políticos. Há o risco de muitos agentes políticos portugueses
se cansarem como aconteceu com a Jacinda Ardern.