quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Um resgate feliz nos confins da Índia

A União Indiana, ou simplesmente Índia, é uma união de 29 estados (incluindo o estado de Goa) e seis Union Territories, directamente dependentes da capital federal New Delhi (incluindo o UT Daman and Diu e o UT Dadra and Nagar Haveli).
O mais recente estado da União chama-se Uttarakhand e resultou da separação do estado de Uttar Pradesh, que é o maior dos 29 estados e que tem 200 milhões de habitantes.
O estado de Uttarakhand fica situado no noroeste da Índia nas proximidades dos Himalaias, pelo que tem vários picos com mais de 7 mil metros de altitude, tendo fronteiras externas com o Nepal e com a Região Autónoma do Tibete da China. É uma região onde se localizam muitos templos hindus, que atraem muitos peregrinos e muitos turistas, pelo que o governo federal decidiu construir modernas autoestradas para acomodar a intensidade do tráfego rodoviário.
Na madrugada do dia 12 de Novembro, devido a um deslizamento de terras, ruiu uma secção de um túnel em construção - o túnel Silkyara - com mais de 4 quilómetros, deixando 41 trabalhadores presos e separados da entrada por uma “parede” de escombros de cerca de 60 metros de espessura. A Índia entrou em pânico perante a possibilidade de uma tragédia. Iniciadas as operações de salvamento foi possível introduzir um tubo de aço de 15 centímetros de diâmetro, através do qual foram fornecidos oxigénio, água, electricidade e refeições quentes aos trabalhadores soterrados. Foi depois introduzido um outro tubo de aço com 90 centímetros de diâmetro, que foi uma operação mais complexa. Após 17 dias, os 41 trabalhadores foram recuperados sãos e salvos, como anunciou por exemplo The Times of India. A televisão indiana transmitiu em directo o resgate de cada um dos trabalhadores e essas imagens transformaram-se numa emocionante festa para os milhões de indianos que durante mais de duas semanas acompanharam esta situação, que ameaçava poder ser uma tragédia.

O brilho artístico dos Joãos em Barcelona

Ontem o Barcelona FC venceu o FC Porto por 2-1 num jogo de futebol a contar para a Liga dos Campeões e toda a imprensa catalã, desportiva ou generalista, destaca hoje em primeira página e com fotografia, o facto dos golos da equipa da Catalunha terem sido marcados pelos jogadores portugueses João Cancelo e João Félix, o que levou um jornal desportivo português a anunciar a derrota dos portistas com a frase “Abatidos por fogo amigo”. Desde que em 2021 a equipa catalã deixou de contar com a estrela Lionel Messi, que o rendimento futebolístico da equipa, tanto no plano nacional como na esfera internacional, desceu muito. Porém, com a chegada dos Joãos, uns artistas da bola que pelo seu valor caíram nas graças da imprensa e dos adeptos catalães, a equipa do Barça tem vindo a melhorar e, com a vitória de ontem, passou aos oitavos de final da Liga dos Campeões, o que já não acontecia há três anos. Os jornais desportivos catalães publicaram a fotografia dos dois portugueses e até o generalista elPeriódico, destacou os dois jogadores com uma fotografia a quatro colunas.
Para o FC Porto, que perdeu os dois jogos com o Barcelona FC por margens tangenciais, ainda há a esperança de passar à fase seguinte, mas estes dois resultados negativos, se não foram injustos foram pelo menos dolorosos. Contudo, ficaram os golos dos Joãos para que a nossa mágoa fique mais amenizada.

domingo, 26 de novembro de 2023

A trégua em Gaza é obra da Diplomacia

Uma janela de esperança foi aberta em Gaza e, por extensão no Médio Oriente, pois está em vigor um cessar-fogo e está suspenso o massacre da inocente população palestiniana. De momento, trata-se de uma trégua de quatro dias apenas, pois é sabido que a facção extremista que domina o governo israelita quer prosseguir a guerra e continuar a massacrar a população palestiniana de Gaza.
A Diplomacia funcionou e os reféns em poder do Hamas começaram a ser trocados por palestinianos presos em Israel. Há festa em Israel pela libertação de reféns e há festa na Palestina pelo regresso de presos. Os camiões de ajuda humanitária voltaram a entrar em Gaza, mas são enormes os receios pelo que poderá acontecer depois da actual trégua. O jornal nova-iorquino Daily News destacava ontem a alegria pela libertação de alguns reféns, embora também destacasse o medo do que possa acontecer às centenas de reféns que ainda estão em poder do Hamas.
As negociações para o cessar-fogo e para a libertação dos reféns têm sido conduzidas por diplomatas de Israel, Estados Unidos, Catar e Egipto e têm sido demoradas, complexas e, como alguém referiu, “cada passo foi como arrancar dentes”. Foi uma vitória da Diplomacia e do diálogo, a mostrar que esse é o melhor caminho para superar e resolver os conflitos que perturbam o mundo. Porém, não deixa de ser surpreendente que a União Europeia, ou alguns dos seus membros mais destacados - que historicamente têm grandes responsabilidades na conflitualidade entre judeus e palestinianos - estejam ausentes destas negociações, o que só se explica porque não têm a confiança das duas partes, o que vem confirmar que o corrupio de dirigentes europeus para Telavive depois de 7 de Outubro, não ia em busca da paz nem da moderação. De resto, vão decorridos quase dois meses de conflito e a União Europeia ainda não conseguiu tomar uma posição condenatória dos extremismos, nem uma declaração inequívoca a favor das Resoluções das Nações Unidas, da moderação e da paz.
A Europa começa a ser demasiado pequena…

sábado, 25 de novembro de 2023

A trégua em Gaza e o alinhamento europeu

A luta entre Israel e o Hamas já dura há cerca de 48 dias e é mais um episódio da guerra que desde 1948 envolve judeus e palestinianos. Desta vez, foram as acções violentas, bárbaras e terroristas do Hamas sobre os kibutz na área de Gaza, que originaram a normal reacção de Israel que, depressa se revelou devastadora, desproporcionada e que o mundo também classificou como terrorismo, devido aos ataques cegos da sua aviação, que tem reduzido a cinzas grandes áreas urbanas e levado a morte a milhares de civis, como o mundo já não via desde 1945. Finalmente, por efeito das pressões internacionais, foi aceite uma breve trégua nos combates por razões humanitárias.
O historial do conflito entre judeus e árabes é bem conhecido, como são conhecidas as repetidas violações israelitas do Direito Internacional e das Resoluções das Nações Unidas e a contínua humilhação do povo da Palestina. A Europa sempre teve responsabilidades geopolíticas nesta região e a União Europeia herdou essas responsabilidades. Porém, desde o dia 7 de Outubro que a maioria dos dirigentes europeus tem repetido o que era óbvio, isto é, que Israel tem o direito a defender-se, mas o facto é que todos sabiam que Israel iria usar todo o seu potencial militar e que iria aproveitar esta oportunidade para empurrar uma vez mais os palestinianos para fora do seu território. A Europa, ou o Ocidente, deveriam ter procurado uma solução de paz e de futuro para aquela região e levar Israel a cumprir as Resoluções das Nações Unidas, como em 1993 fizeram Bill Clinton, Yitzhak Rabin e Yasser Arafat.
Em nome da Europa destacou-se a vaidade narcisista de Ursula von der Leyen que, usando poderes de representação que não tem, apoiou a declaração de vingança de Israel. Foi uma vergonha para os europeus, mas a senhora não esteve só, pois outros líderes europeus também mostraram desprezo pelas leis humanitárias da guerra. Melhor têm andado Joe Biden e Antony Blinken, apesar de estarem envolvidos nas eleições presidenciais. A Europa assiste a tudo isto sem uma condenação conjunta e inequívoca de Israel em nome dos seus princípios e alimenta uma campanha de propaganda, em que a CNN e os seus comentadores aparecem sempre na primeira fila. 
O primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez também foi a Israel mas, como revela o jornal La Vanguardia, atirou uma pedrada no charco e instou o radical Benjamin Netanyahu para que "parasse a catástrofe humanitária em Gaza", porque “o número de palestinianos mortos é insuportável”, além de ter anunciado a possibilidade da Espanha reconhecer o estado palestiniano à margem da União Europeia. No mesmo dia, o ministro Cravinho andou a visitar os kibutz que o Hamas atacara e não se imagina outra coisa tão ridícula para o ministro, como esta sua visita a Israel que, objectivamente, dá o aval português aos bombardeamentos e ao genocídio na Faixa de Gaza. 

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Napoleão e os seus muitos chapéus...

O filme Napoléon do realizador britânico Ridley Scott teve a sua estreia mundial ontem, tendo sido particularmente aplaudido na Córsega, a terra natal do Imperador, e na Provença, a região que conserva muitas das memórias daquele a que os franceses também chamam “le Petit Caporal”. Vários jornais franceses, como por exemplo La Provence que se publica em Marselha, dedicaram grandes crónicas ao filme que mostra as origens e a ascensão política do grande comandante militar que foi Napoleão Bonaparte, através do seu relacionamento íntimo com Josephine de Beauharnais, a “mulher que foi a única pessoa a dominar a fera”, mas que apresenta as principais batalhas da sua carreira militar, como Marengo, Austerlitz, Borodino, Waterloo e o seu exílio na ilha de Santa Helena. Porém, o filme só teve o apreço de 75% dos espectadores franceses, tendo sido muito criticado enquanto versão hollywoodesca da glória napoleónica da França que surge demasiado americanizada e com algumas falhas em relação à verdade histórica.
A estreia do filme despertou uma onda de entusiasmo em torno da figura de Napoleão. Um chapéu que que lhe pertenceu – o famoso bicorne preto com a sua faixa azul, branca e vermelha – foi vendido no passado domingo num leilão realizado em Fontainebleau pela Casa Osenat, pela quantia de 1932 milhões de euros!
Este leilão atraiu coleccionadores de todo o mundo e deu origem a uma verdadeira batalha de licitações na sala, no telefone e na internet, tendo a Casa Osenat batido o seu próprio record que, desde 2014, estava em 1884 milhões de euros. Segundo foi anunciado, conhecem-se vinte chapéus de Napoleão, dos quais quinze estão em museus e cinco em colecções privadas. Muitos chapéus tinha o Napoleão ou, como diria um amigo meu, “chapéus há muitos”

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Houve uma espécie de milagre económico

O desempenho económico de um país depende de muitos factores que estão presentes na sociedade e há as mais diversas opiniões sobre o assunto, umas que tudo criticam e outras que tudo elogiam, quase sempre em função dos seus interesses políticos particulares. O facto é que a avaliação macroeconómica depende de muitos indicadores económicos e sociais que normalmente são tratados pela política económica, sobretudo o crescimento do produto, a taxa de emprego, a inflação, o comércio externo, o desequilíbrio externo, a evolução da dívida e o investimento, mas de muitas outras variáveis estruturais e conjunturais. 
As comparações internacionais são também um instrumento indispensável à avaliação económica, bem como os estudos assinados pelos sindicatos e pelas organizações patronais. Assim, uma opinião fundamentada sobre o desempenho económico exige muito estudo, muita consulta de estatísticas e muitas comparações internacionais, mas também muitas análises sectoriais e regionais, tanto qualitativas como quantitativas. Por isso, são muito raros os especialistas independentes que, normalmente através da televisão, avaliam o desempenho económico do nosso país com base na informação necessária e com seriedade intelectual. O cidadão vive entre os que afirmam que tudo vai bem e aqueles que dizem que tudo vai mal.
Quando um famoso economista como Paul Krugman vem a Portugal, um país que ele bem conhece, é natural que a imprensa o entreviste e foi o que fez o jornal de Negócios, que hoje publicou essa entrevista em primeira página, destacando a sua frase: “Portugal é uma espécie de milagre económico”. Paul Krugman tem 70 anos de idade, é professor na Universidade de Princeton e em Yale, escreve regularmente nos jornais de referência americanos e em 2008 foi o vencedor do Prémio Nobel da Economia. Conhece bem a economia portuguesa e, nesta entrevista, até declarou que “é um pouco misterioso como é que as coisas correram tão bem”. Foi o planeamento económico? Foi a “mão invisível? Que importância teve António Costa e o seu governo para este resultado, com contas certas e queda brutal da nossa dívida externa?

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Argentina escolhe mudança de vida radical

O país que viu nascer Jorge Mário Bergoglio - o 266º Papa da Igreja Católica, chefe de Estado do Estado do Vaticano e também chefe da Igreja Católica - mas que também foi berço de Jorge Luís Borges, Ernesto "Che" Guevara, Eva Péron, Juan Manuel Fangio, Diego Maradona e Lionel Messi, escolheu ontem um novo presidente da República Argentina. Da disputa eleitoral resultou a vitória de Javier Milei, um deputado de 53 anos de idade que derrotou Sergio Massa, o actual ministro da Economia. Toda a imprensa argentina destacou a eleição de Javier Milei, embora tome posições que oscilam entre o entusiasmo e a preocupação.
A Argentina atravessa uma enorme crise económica e social, com aumento do desemprego e da pobreza, para além de estar com uma inflação da ordem dos 150%. Nessas condições, o eleitorado não resistiu ao discurso radical e populista deste candidato ultraliberal da extrema-direita. No seu discurso de vitória afirmou que “hoje começa o fim da decadência da Argentina”, renovando as promessas de um tratamento de choque para a economia e de uma nova vida de prosperidade para os argentinos e, à maneira de Donald Trump, garantiu que vai tornar a Argentina “grande outra vez”. Os seus planos incluem medidas radicais como o encerramento do banco central, o abandono do peso argentino como moeda nacional e a redução drástica dos gastos públicos, o que representa uma dolorosa revolução e um castigo para o eleitorado que o elegeu. As reformas prometidas para combater o marasmo económico argentino vão ser muito duras, bem como a necessárias medidas de austeridade para travar a inflação, pelo que há quem preveja uma forte reacção sindical e muita contestação popular e, outros, prognosticam que o presidente Milei sairá rapidamente de cena e pela porta pequena. 
Os tempos não vão ser fáceis para os 45 milhões de argentinos.

sábado, 18 de novembro de 2023

Só Zelensky acredita na vitória ucraniana

A guerra na Ucrânia já decorre há quase dois anos, com muitas mortes, muita destruição e muito sofrimento, mas nos últimos tempos tem sido esquecida, sobretudo depois dos acontecimentos de Gaza de 7 de Outubro, que alteraram a agenda das preocupações mundiais. Muitos dos dirigentes europeus e americanos que andaram em repetida procissão até Kyev, com destaque para Ursula von der Leyen e Jens Stoltenberg, devem ter-se cansado, ou devem ter feito contas ao dinheiro que estavam a gastar. A tão badalada contraofensiva de Kyev foi mais uma operação de propaganda ocidental do que uma operação militar no terreno. O volume e o ritmo dos apoios militares, financeiros e humanitários de que a Ucrânia necessita para lutar, parece ter abrandado, enquanto Volodymyr Zelensky tem batido a todas as portas possíveis à procura de auxílio. Algumas operações militares ucranianas têm sido bem-sucedidas, mas o facto é que um quinto do território ucraniano continua ocupado pelos russos.
Há dois dias, o jornal DNA de Strasbourg escrevia que “en Ukraine, un nouvel hiver de guerre arrive”, lembrando a dureza dos meses que se aproximam, devido ao frio, à falta de alojamentos e de electricidade em várias regiões, mas também devido à continuada acção dos russos e à indiferença daqueles que podem levar ao cessar-fogo e â paz. Há muito tempo que não se falava da Ucrânia, mas a fadiga e a dúvida quanto ao futuro têm aumentado. Na sua última edição, a revista TIME avisa que “o apoio global à guerra está a diminuir” e reproduz o lamento do próprio Zelensky que quase assume a impossibilidade de continuar a guerra, afirmando: “Ninguém como eu acredita na nossa vitória. Ninguém”.
Prevalece o discurso dos maus e dos bons, da confrontação, da ajuda militar, dos mísseis e dos F-16, dos drones e dos tanques, mas ninguém fala de paz. Neste quadro, é oportuno perguntar a razão por que as partes não se entendem, não só os ucranianos e os russos, mas todos aqueles que têm enganado os ucranianos com promessas de utopias e não acabam com a guerra para sossego do povo ucraniano, mas também de todos nós. Sentem-se à mesa e conversem, pois o que não falta são árbitros.

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

O aperto de mão que o mundo esperava

Os presidentes dos Estados Unidos e da China, ou os senhores Joe Biden e Xi Jinping, encontraram-se frente a frente numa cimeira bilateral em São Francisco, na Califórnia, no âmbito do fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC). 
Como foi noticiado pela imprensa “foi o aperto de mão que o mundo esperava”. 
Segundo foi divulgado pelo The Washington Post e pela imprensa americana, o encontro decorreu durante mais de quatro horas, tendo sido tratados os problemas económicos e comerciais pendentes entre os dois países e discutidas várias questões diplomáticas que preocupam o mundo, como as guerras na Ucrânia e em Gaza e, naturalmente, a questão de Taiwan, que a China pretende integrar pacificamente no seu território através de um processo de reunificação, mas que continua a não ter o apoio americano. Porém, mais importante do que os assuntos que possam ter sido discutidos, a retoma do diálogo entre os dois líderes foi o melhor resultado desta cimeira que o mundo tanto esperava, pois pode travar as escaladas belicistas que por vezes afectam as suas relações, mas também pode ser um contributo para atenuar as actuais tensões internacionais. No fim, realizou-se uma conferência de imprensa em que Joe Biden considerou as conversas havidas como “algumas das discussões mais construtivas e produtivas” que já tivera com Xi Jinping, acrescentando que “o que estamos a tentar fazer é mudar a relação para uma fase melhor”. No entanto, o ambiente de grande cordialidade que caracterizou o encontro entre os dois líderes, não escondeu a enorme competição que travam em todos os domínios e até parece ter sido afectado por algumas declarações finais de Joe Biden, consideradas agressivas pelos chineses, mas que teriam sido utilizadas para servirem na campanha eleitoral americana, o que levou as autoridades chinesas a considerá-las irresponsáveis e inamistosas, ou seja, na cimeira nem tudo aconteceu como parece, apesar de ter acontecido “o aperto de mão que o mundo esperava”.

O rei Carlos III e a nova moeda do Canadá

No passado dias 14 de Novembro o rei Carlos III da Inglaterra celebrou o seu 75º aniversário e a Royal Canadian Mint apresentou em Winnipeg, as novas moedas do sistema monetário canadiano que serão postas em circulação a partir de Dezembro, em que se destaca a efígie de Carlos III.
Formalmente, Carlos III é o rei ou chefe de Estado do Canadá, tal como acontece nos quinze reinos da Comunidade das Nações (Commonwealth of Nations), onde se incluem também a Austrália e a Nova Zelândia. Esta comunidade faz parte da Commonwealth propriamente dita, que é uma organização intergovernamental de 56 estados independentes, sem especial ligação ao rei da Inglaterra, pois até inclui 33 repúblicas.
Portanto, as novas moedas e notas canadianas terão a efígie de Carlos III e substituirão as peças monetárias que circulam desde 1953 com a efígie da rainha Isabel II. O desenho da efigie de Carlos III foi criado pelo artista canadiano Steven Rosati, tendo sido escolhido de entre 350 propostas que se candidararam e que foi aprovado pelo palácio de Buckingham.
A edição de ontem de Le Journal de Montréal, critica subtilmente a decisão de escolher a figura de Carlos III, tal como o Bloc Québécois, um partido nacionalista que defende a independência da província do Quebec, pois “o governo de Trudeau não respeitou a opinião pública” e, em vez de “homenagear aqueles que lutaram pela democracia e contribuíram para a história do país, optaram por promover a monarquia em vez da democracia”. Por caminho diferente andou a Austrália que, sendo uma monarquia da Commonwealth of Nations e ter Carlos III como o seu rei, se recusou a introduzir a sua efígie nas notas e moedas australianas, quebrando uma prática que se verificava desde 1923. Na província do Quebec desabafou-se com um "oh, my God", mas na Austrália o rei foi simplesmente ignorado.

terça-feira, 14 de novembro de 2023

Haja sensatez e respeito na vida pública

A ventania gerada pelo Ministério Público no dia 7 de Novembro afectou a política portuguesa, mas parece que não passou disso mesmo, embora tivesse deixado grandes estragos – a queda de um primeiro-ministro que gozava de elevada reputação e prestígio na Europa e de um governo de maioria absoluta, com a economia em convergência com a União Europeia, com contas certas e com bom nível de emprego, com a dívida pública (em relação ao PIB) a diminuir e que vinha gerindo as incertezas do covid e das guerras, que negociava com médicos, com professores e que assumira a questão da habitação como uma das suas prioridades. Porém, alguém quis introduzir a instabilidade e a incerteza na política portuguesa, sem cuidar de pensar na verdade e nos efeitos induzidos das suas iniciativas, tratando de criar narrativas que sugerem prevaricação, corrupção activa e passiva de titular de cargo político, tráfico de influência e recebimento indevido de vantagem. Tudo suspeitas “vagas e genéricas” como decidiu o juiz de instrução que analisou o processo instaurado pelo Ministério Público e que o jornal Público hoje anuncia.
De acordo com a Constituição da República, “ao Ministério Público compete representar o Estado, exercer a acção penal, defender a legalidade democrática e os interesses que a lei determina”. É caso para perguntar se a procura de investimento estrangeiro em Portugal não é do interesse do Estado e se, perante localizações alternativas desse investimento, não é do interesse do Estado influenciar esses investidores para que invistam em Portugal e não na Eslováquia, em Marrocos ou na Irlanda? Levantou-se a suspeita e esqueceu-se que, segundo os preceitos constitucionais, os cidadãos portugueses têm direito “ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra e à reserva da intimidade da vida privada e familiar”, o que parece não ter sido acautelado.
Dias antes, já o qualificado académico José Pacheco Pereira dissera que “se aquilo é motivo de crime, todos os governos desde o 25 de Abril poderiam ser indiciados” e, interrogado sobre esse assunto, o experiente advogado Manuel Magalhães e Silva disse que “a montanha não pariu um rato, mas tão só uma formiga”.
Os livros de Sociologia ensinam que a vida humana é um processo de interacção social e cultural de influenciação da vida quotidiana, que é muito semelhante aos mecanismos que regem a economia internacional. Alguém se lembraria de instaurar um processo a quem conseguiu que a Volkswagen trouxesse uma das suas fábricas para Palmela? Ou alguém se lembraria de instaurar um processo a quem vier a ser capaz de travar a saída da fábrica de Palmela para Pamplona, ou para Osnabrück, como tanto se tem falado? 
Haja sensatez e respeito na apreciação da vida pública!

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

A enorme agitação da política espanhola

As eleições legislativas espanholas realizadas no passado dia 23 de Julho tiveram resultados muito complexos no que respeita à formação de uma maioria do governo. O partido mais votado foi o Partido Popular (PP) de Alberto Núñez Feijóo, que conseguiu 136 deputados, enquanto o PSOE de Pedro Sánchez se ficou pelos 122 deputados. Assim, cada um destes dois partidos tem procurado fazer alianças para conseguir a maioria de 175 deputados das Cortes, que é necessária para governar. Alberto Feijóo teve o apoio do Vox, o partido franquista de Santiago Abascal, juntando 169 deputados, o que não lhe assegurou a investidura. Pedro Sánchez aliou-se com o Sumar da antiga ministra Yolanda Diaz e conseguiu 153 deputados, mas decidiu fazer acordos com os diversos partidos regionais, incluindo os partidos nacionalistas catalães e bascos, para conseguir a maioria de 175 deputados. Parece que conseguiu esse objectivo. Porém, o partido Junts per Catalunya (JxCat) de Carles Puigdemont, o antigo presidente da Generalitat que está exilado na Bélgica desde 2017, exigiu como contrapartida do apoio do seu partido, a amnistia pelos crimes de que está acusado pela Justiça espanhola, que já foram de sedição e agora são apenas de peculato pelo uso de dinheiros públicos para organizar um referendo ilegal sobre a independência da Catalunha e desobediência.
A opção de Sánchez é controversa e, antes mesmo da sua aceitação ou rejeição pelo Parlamento e pelo rei Filipe VI, ontem mais de um milhão de espanhóis vieram para a rua em todas as cidades espanholas em protesto contra as cedências feitas aos independentistas. A imprensa espanhola é unânime na crítica a Pedro Sánchez e diz que “España se levanta contra la amnistia de Sánchez”, enquanto o jornal ABC dedica toda a sua primeira página a esta crise e escreve: “No” a la amnistía. A agitação política é enorme e, provavelmente, a saída desta crise passará por novas eleições.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

A desordem mundial e a crise portuguesa

Na sua edição de hoje, o jornal católico francês La Croix destaca como manchete um tema de interesse geral que designa como “a desordem mundial”. A análise publicada refere que a ordem mundial resultante da Guerra Fria se está a desmoronar, pois “nem é totalmente unipolar, nem verdadeiramente multipolar”, ao mesmo tempo que estão a emergir médias potências que desafiam a influência americana, como se vê nos conflitos que estão a perturbar a paz mundial. Segundo o citado jornal, “les conflits en Ukraine et au Proche-Orient confirment la perte de vitesse des États-Unis sur la scène internationale”.
O tema desenvolvido pelo jornal é de grande actualidade, como se vê naqueles conflitos, em que parece não haver quem possa travar a guerra e onde as acusações de violação dos direitos humanos e da prática de crimes de guerra são uma constante. Os Estados Unidos podem ser determinantes na resolução destes dois conflitos, mas as suas próximas eleições presidenciais não ajudam, para além de que nos teatros de guerra subsistem questões culturais de fundo a dificultar o encontro de soluções. No caso da Ucrânia é muitas vezes ignorado que há, pelo menos, "duas ucrânias" sob o ponto de vista cultural e religioso, enquanto no Médio Oriente é referido que “il faut sortir de la vision occidentale du conflit”, isto é, não são os mísseis, os tanques, os drones e a destruição de vidas e de cidades que, em ambos os casos, vão decidir os conflitos, mas tão só uma arbitragem que respeite as realidades culturais em conflito.
Bom seria que o jornal La Croix e a sua análise sobre “le désordre mondial”, pudessem ser lidos pelos responsáveis políticos mundiais. É neste preocupante quadro geopolítico mundial que agora vai entrar a crise que, certamente, vai minar a felicidade dos portugueses.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

António Costa, a crise e o que vem aí

O primeiro-ministro António Costa demitiu-se ontem e a sua demissão foi aceite pelo presidente da República. O país que bem conhece aquele governante há muito tempo e que há menos de dois anos lhe dera uma maioria absoluta nas eleições, foi apanhado de surpresa. Agora, aproxima-se uma grande crise política e muita instabilidade em Portugal. 
Ontem, durante a manhã, o Gabinete de Imprensa do Ministério Público tinha emitido um comunicado em que informava que estavam em curso “diligências de busca para identificação e apreensão de documentos e outros meios de prova de interesse para a descoberta da verdade”, pois poderão estar em causa “factos susceptíveis de constituir crimes de prevaricação, de corrupção activa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência”. O comunicado acrescentava que o Ministério Público emitira mandados de detenção do chefe de gabinete do primeiro-ministro e da constituição como arguido de outros suspeitos, designadamente do Ministro das Infraestruturas. Depois, o comunicado levantava suspeitas sobre o próprio primeiro-ministro e informava que “tais referências serão autonomamente analisadas no âmbito de inquérito instaurado no Supremo Tribunal de Justiça, por ser esse o foro competente”.
António Costa deve ter ficado em estado de choque perante este comunicado, tendo entendido que o poder judicial estava a interferir na política governamental e decidiu demitir-se. Foi um acto de grande dignidade e o país avaliará quem tem razão.
Acontece que, nos últimos anos, a sociedade portuguesa tem sido confrontada com frequentes insinuações de supostos ilícitos de muitos dirigentes políticos e empresariais, que mais parecem acções de perseguição pessoal e levam a “julgamentos na praça pública”, em vez de procurarem a verdade. Muitas vezes, os factos nem precisam de ser provados, pois alguma comunicação social encarrega-se da repetição das insinuações que, de tanto repetidas, passam a ser tomadas como verdadeiras, num quase “terrorismo mediático”. A conta-gotas, aparecerão agora as fugas de informação que os "pasquins de serviço" tratarão de manipular, para corromper a democracia e a sociedade. Este tipo de teia judicial-mediática que visa a eliminação política de dirigentes e o descrédito da democracia, é vulgar na América Latina, mas também já chegou a Portugal. Há quem lhe chame “golpe de estado judicial”.
Na política não há insubstituíveis, mas eu presto a minha homenagem a António Costa pela sua dedicação à causa pública.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

MRS: atropelado pelas próprias palavras

Desde o dia 24 de Agosto, quando Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) deixou a algarvia praia de Monte Gordo para visitar a ucraniana cidade de Kyev, que não era sujeito de notícia neste espaço pois, lamentavelmente, o facto de falar sobre tudo e a toda a hora, tornou as palavras presidenciais um não-assunto. Porém, na passada sexta-feira, durante uma visita ao Bazar Diplomático, no Centro de Congressos de Lisboa, MRS encontrou-se com o chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal e disse-lhe que “alguns palestinianos não deviam ter começado” esta guerra com Israel, confundindo a Palestina com o Hamas e esquecendo o historial de conflito entre Israel e a Palestina. O assunto é melindroso e MRS, ou distraiu-se, ou não percebeu isso. Nem o local, nem o tom utilizado foram apropriados e as críticas surgiram de todos os sectores políticos e sociais, incluindo de alguns amigos.
Houve depois uma tentativa de emenda, mas nada foi emendado. No domingo, numa atitude de narcisismo, de grande demagogia e de um populismo insuportável, MRS saiu do seu palácio – não para ir ao Multibanco, nem para comer um gelado – mas para ir ver a manifestação que no Jardim Afonso de Albuquerque exigia um cessar-fogo em Gaza, exactamente como têm feito as Nações Unidas e quase todo o mundo. Porém, o Presidente da República não pode andar a ver manifestações…
Como se viu, MRS rodeou-se de ajudantes de campo e de seguranças, o que significa que este seu capricho presidencial, nos custou bom dinheiro em horas extraordinárias a ser pagas àqueles servidores do Estado. As imagens televisivas mostraram o protesto contra as anteriores declarações presidenciais e o Presidente da República a ser confrontado e insultado por alguns manifestantes, tendo havido quem o acusasse de já não ser comentador e até de ser uma vergonha. Quem anda à chuva molha-se e MRS nunca passara por uma situação como esta, pelo que o humor de Ricardo Araújo Pereira não o poupou.
Muitas prestações presidenciais começam a roçar a banalidade e o ridículo e, nesse aspecto, MRS tende a aproximar-se cada vez mais do venerando Chefe do Estado, que foi o Almirante Américo Tomaz e viveu naquele mesmo palácio entre 1958 e 1974.

domingo, 5 de novembro de 2023

Os condenáveis excessos de Netanyahu

A guerra na Faixa de Gaza prossegue com uma violência extrema que não poupa nada nem ninguém e sem que Israel dê ouvidos à comunidade internacional, que exige uma pausa humanitária ou um cessar-fogo, bem como o estabelecimento de corredores humanitários para assegurar o apoio a cerca de dois milhões de palestinianos que estão cercados e sujeitos a intensos bombardeamentos. As imagens televisivas mostram indescritíveis níveis de destruição, a que se juntam os ataques a campos de refugiados e a ambulâncias, que matam civis e que, como tal, são classificáveis como crimes de guerra, tão graves como as barbaridades cometidas pelo Hamas. O mundo desaprova esta reacção desproporcionada e vingativa do governo de Israel, parecendo evidente que, na linha da política expansionista que adoptou desde 1948, está a aproveitar a crueldade da acção do Hamas para continuar a expulsar os palestinianos dos seus territórios, o que configura uma situação de genocídio. O governo de Israel está cada vez mais isolado e até os Estados Unidos que são os seus principais aliados, defendem uma “pausa humanitária”, a protecção da população civil e muita moderação, enquanto os países árabes da região começam a unir-se contra a intervenção israelita.
A situação é acompanhada em Portugal pelas televisões e custa a ver como há tantos vira-casacas, isto é, gente que passou de um apoio evidente aos israelitas, para a condenação dos seus bárbaros bombardeamentos, ou gente que começou a criticar Guterres e agora considera que ele teve a palavra certa, no local e no tempo certos. Um grande número de comentadores, em vez de mostrar moderação, prefere alinhar com o radicalismo vingativo de Benjamin Netanyahu e da sua gente, defendendo que os bombardeamentos israelitas e as mortes de civis são simples e inevitáveis efeitos colaterais, no que mostram uma enorme insensibilidade.
Na sua edição de hoje, o jornal argelino Le Jeune Indépendant noticia o bombardeamento deliberado de ambulâncias e utiliza a expressão “le nazisme sioniste”, o que parece traduzir uma crescente unidade árabe contra os israelitas e a sua estratégia de expansão territorial à custa dos palestinianos. 

sábado, 4 de novembro de 2023

Invernias e tempestades: elas aí estão!

A costa ocidental da Europa foi afectada esta semana pela tempestade Ciarán, que foi classificada como “uma das mais mortíferas dos últimos anos a atingir o continente”, com ventos que atingiram os 200 quilómetros por hora e que provocaram forte agitação marítima, o que afectou o tráfego marítimo e obrigou ao encerramento de vários portos. Diversos países reportaram situações de chuva e neve intensas, que perturbaram os movimentos aeroportuários, a circulação ferroviária, o fornecimento de energia eléctrica e, de uma forma geral, a vida quotidiana das pessoas. Registaram-se inundações, queda de árvores e houve o registo de, pelo menos, 16 mortes em vários países.
A imprensa espanhola, francesa e inglesa deu notícia desta tempestade e ilustrou várias das suas edições com as imagens, sempre espectaculares, da agitação marítima e dos seus efeitos. As costas basca e cantábrica, na orla sul do golfo da Biscaia, foram particularmente afectadas e a fotografia da capa do jornal El Correo, que se publica em Bilbao, é apenas um exemplo da fúria das ondas. Em Portugal, que não estava no centro da depressão, o mais grave acontecimento provocado pela tempestade Ciarán, foi o naufrágio de um veleiro dinamarquês ao largo de Peniche, no qual pereceram quatro pessoas. Porém, o que é de ter em conta é que o tempo das invernias e das tempestades está de volta...

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

As riquezas naturais e culturais dos Açores

O aeroporto da Ilha do Pico e a montanha
Uma visita às ilhas dos Açores, mesmo nesta época do ano em que a meteorologia é mais imprevista, é sempre um acontecimento muito emocionante. As ilhas açorianas, sobretudo no Grupo Central e em especial nas chamadas ilhas de baixo, mostram sempre “a frescura das manhãs em que se chega”, como se lhes referiu Fernando Pessoa. As suas paisagens marítimas animadas pelo voo das gaivotas, dos cagarros e dos garajaus, mais o intenso azul do mar, o verde das pastagens salpicadas por mansas vacas e o casario branco das povoações onde se destacam as torres das igrejas, são um deslumbramento e moldam um quadro de ruralidade e de tranquilidade que contrasta com o quotidiano agitado que se vive nas cidades.
A situação periférica destas ilhas atlânticas foi sempre um handicap que penalizou os açorianos em muitas das suas aspirações, mas que permitiu o desenvolvimento de práticas culturais específicas de grande qualidade estética, profanas e religiosas, observáveis por exemplo nas festividades do Divino Espírito Santo e na arquitectura dos impérios, mas também na música, na literatura e em diversas artes manuais, desde o scrimshaw ao bordado e, ainda, nas artes da construção naval e da baleação.
Depois de revisitar todo este rico panorama natural e cultural, o visitante fica naturalmente mais enriquecido e, certamente, com vontade de conhecer as particularidades culturais de cada ilha e até de cada comunidade dentro da mesma ilha.
A fotografia aqui publicada foi captada ontem em contraluz e mostra o aeroporto da ilha do Pico e, em segundo plano, a montanha mais alta de Portugal com 2.351 metros de altitude.

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Mesmo na guerra, não pode valer tudo

No passado dia 7 de Outubro os radicais islâmicos do Hamas decidiram atacar Israel a partir da Faixa de Gaza e fizeram-no de uma forma cruel, bárbara e selvagem, provocando muitas mortes e a captura de mais de duzentos reféns. O mundo ficou horrorizado com as atrocidades cometidas e muitas vozes anunciaram o óbvio, isto é, que Israel tinha o direito de se defender.
Desde então já se passaram 25 dias, em que as Israel Defence Forces (IDF) sob o comando de Benjamin Netanyahu, o líder do radical partido Likud, têm punido severamente a Faixa de Gaza sem distinguir o Hamas do povo palestiniano, o que configura uma situação de grave violação das leis da guerra, que é simétrica e tão condenável como o radicalismo do Hamas. Netanyahu tem rejeitado todos os apelos internacionais e das Nações Unidas para um cessar-fogo e tem respondido que “this is time for war”. Ele quer vingança, quer alargar o território de Israel e quer expulsar os palestinianos da sua terra, continuando a ignorar a Resolução 181 de 29 de Novembro de 1947 da Assembleia Geral das Nações Unidas, que determinava a criação de um estado judeu e de um estado árabe no território da Palestina, até então sob mandato britânico. A acção de Netanyahu e das IDF começa a enquadrar-se na prática de genocídio. 
Na sua edição de hoje o jornal The Washington Post noticia com destaque de primeira página que “strikes devastate Gaza refugee camp”. Trata-se do campo de refugiados de Jabaliya, criado em 1948 no norte de Gaza para abrigar parte dos 700.000 palestinianos que os israelitas tinham expulsado das suas terras da Palestina, antes e durante a guerra israelo-árabe de 1948. Actualmente este campo de refugiados terá cerca de 100.000 pessoas e no dia 9 de Outubro já tinha sido alvo de um ataque aéreo que matou 50 pessoas. Ontem o campo de Jabaliya voltou a ser atacado pela aviação israelita, que assumiu a responsabilidade por esse ataque, alegando que visava a eliminação de um alto comandante do Hamas. Segundo a imprensa internacional o ataque matou e feriu centenas de pessoas, mas o resultado ainda está por apurar. António Guterres ficou chocado com o bombardeamento de um campo de refugiados e com esta catástrofe humanitária. Nós também.
Mesmo na guerra, não pode valer tudo.