A edição de ontem
do jornal madrileno ABC destaca que “el odio a España se enseña en las escuelas de
América” e ilustra a sua primeira página com uma fotografia em que um jovem
arrasta uma cabeça de uma estátua de Colombo por uma rua da cidade colombiana
de Barranquilla.
A rejeição das
heranças coloniais, com todas as suas grandezas e desgraças, parece estar a
tornar-se uma moda, em que se acentua a exploração dos colonizados pelos
colonizadores, assim como a escravatura, o trabalho forçado, a apropriação de
terras e recursos, bem como muitas outras facetas do domínio colonial. Aqueles
que a História tem registado como pioneiros do descobrimento do mundo, do
encontro de culturas e da globalização, caso dos Colombos, dos Gamas, dos
Cartier, dos Janszoon ou dos
Cook, tendem a ser contestados nas regiões que procuraram dominar, civilizar,
cristianizar ou simplesmente trazer para o seu convívio cultural de acordo com
os padrões da sua época. Nesse tempo não havia “direitos humanos” e esses
padrões eram por vezes marcados por grande violência e crueldade, mas não eram
uma prática exclusiva dos colonizadores para com os colonizados dos novos
continentes, pois manifestavam-se com iguais características nas sociedades
medievais europeias e algumas chegaram mesmo até aos nossos dias, como se viu
no recente conflito da ex-Jugoslávia.
A actual contestação
africana ou latino-americana que derruba estátuas e contesta a herança colonial,
tem uma narrativa que é tão distorcida como aquela que agora rejeita. A
reescrita da História faz sentido e pode ser necessária, mas não pode ser vista
com os olhos do nosso tempo de modas, de redes sociais e de ajustes de contas. Diz
o ABC
que o ódio a Espanha se ensina nas escolas da América, mas se assim é, não
faltará muito tempo para que essa moda se espalhe e que, em vez de caminharmos
para uma sociedade mundial mais harmoniosa e mais justa, se multipliquem os
factores de conflitualidade.