As relações entre
a Grécia e as chamadas instituições credoras estão demasiado tensas e parece
que já entramos “em águas nunca dantes navegadas”, como disse Mário Draghi. Ninguém quer
assumir a ruptura mas, de facto, ela já aconteceu. As instituições não cedem e
os gregos não aceitam repetir os mesmos caminhos que durante cinco anos lhes
foram impostos e que os levaram à dramática situação em que se encontram,
estando a dar um exemplo de luta contra a prepotência e a arrogância das
instituições e dos seus burocratas. No entanto, é bom lembrar que os gregos têm
uma longa tradição de resistência e recordemos que, há cerca de 25 séculos, os
poderosos exércitos persas invadiram a Grécia mas foram derrotados por Milcíades
na batalha de Maratona e que, alguns anos depois, os mesmos exércitos de Xerxes
regressaram para conquistar toda a Grécia, mas foram derrotados no desfiladeiro
das Termópilas pelo Rei Leónidas de Esparta. Significa que, desde então e ao
longo da História, os gregos sempre deram provas de grande resistência aos
invasores. Os tempos mudaram e agora os invasores têm comportamentos mais
sofisticados, pois já não enviam exércitos como fez Adolfo Hitler durante a 2ª
Guerra Mundial, mas actuam na clausura dos gabinetes e no secretismo das reuniões,
só passando para o exterior aquilo que eles próprios entendem ser útil para
manipular as opiniões públicas e para atingir os seus desígnios pessoais. Wolfgang
Schäuble, Jeroen Dijsselbloem e Christine Lagarde, têm sido os rostos da
intransigência dos credores e da prepotência dos mercados, cujo objectivo é
humilhar a Grécia (e todas as outras “grécias” que queiram despontar) e
impor-lhe mais austeridade, mais sacrifícios e mais empobrecimento, isto é,
prosseguir as desastrosas políticas que conduziram à recessão económica, ao
desemprego e à tragédia social que é hoje a situação grega. Ameaçam e chantageiam. Parecem uma alcateia de lobos esfomeados à volta de uma presa enfraquecida, endividada e humilhada. Nunca se tinha ido tão longe. Os governantes
gregos reagiram democraticamente, não aceitaram o diktat das instituições, resistiram e decidiram interrogar o seu povo soberano, os seus eleitores.
A sua coragem impressionou os burocratas, muito habituados aos “bons alunos”
subservientes. Tsipras e Varoufakis são mesmo uns valentes e defendem os interesses da
Grécia. Merecem o respeito, mesmo daqueles que não concordam com eles. Ocorre-nos a “Trova
do Vento que Passa”, o poema de Manuel Alegre que nos inspirou contra a
prepotência do Estado Novo e que bem se ajusta aos corajosos dirigentes gregos:
“Mesmo na noite mais triste / Em
tempos de servidão Há sempre alguém que resiste / Há sempre alguém que diz não”.