Numa época em que reina uma enorme
desorientação, muita incerteza e até algum medo no seio da população portuguesa,
a carta aberta que o Presidente da Câmara Municipal do Porto dirigiu ao governo
é uma voz que desperta silêncios e que constitui um grito de revolta, como hoje
salienta o Jornal de Notícias. A
carta acentua a importância da reabilitação urbana para inverter as actuais tendências
recessivas e para contribuir para o relançamento da actividade económica,
porque constitui uma alavanca para a regeneração das cidades, a requalificação
da construção civil, a atractividade turística, a animação do comércio, da
restauração e da hotelaria, o repovoamento dos centros urbanos, a defesa do
património histórico edificado e, sobretudo, a criação de emprego.
Acontece que
em 2004 foi criada a sociedade Porto Vivo,
SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana, SA, detida em 40% pela Câmara
Municipal do Porto e em 60% pelo Estado, com a missão de conduzir o processo de
reabilitação da Baixa Portuense. Porém, segundo denuncia a carta, o governo tem
asfixiado a Porto Vivo, o que
constitui “uma incompreensível agressão à economia local e uma notória falta de
respeito pelo Porto”, o que só acontece devido a “uma estranha obsessão
conjugada com um notório desconhecimento da realidade e uma escassa visão
política”. É, portanto, um violento ataque ao governo e a carta foi subscrita
por cinquenta personalidades dos mais diversos quadrantes políticos, incluindo
fundadores do PSD, antigos ministros, empresários, académicos e outros notáveis
da cidade do Porto. Não é habitual este tipo de manifestação das elites que, entre nós, constitui
uma nova e promissora dimensão da acção política.É a voz da sociedade civil, para além da lógica partidária.