sábado, 3 de abril de 2021

Cabo Delgado e o doloroso caso de Palma

Nunca a província de Cabo Delgado nem o distrito ou a vila de Palma, que se situam no extremo nordeste de Moçambique, tinham sido tão falados como nos últimos dez dias. A vila de Palma foi atacada e ocupada por insurgentes ou terroristas inspirados nas práticas do Daesh, tendo havido um número indeterminado de mortes, vítimas de grande crueldade. A população fugiu em direcção ao cabo Afungi e ao complexo industrial que a petrolífera francesa Total ali vem construindo, situados a cerca de vinte quilómetros. Uma parte dessa população já chegou à cidade de Pemba, a bela cidade que no tempo colonial se chamava Porto Amélia, onde já se concentram muitos milhares de refugiados provenientes das zonas de Cabo Delgado onde os insurgentes afectos ao Daesh têm atacado desde 2017. As notícias são muito contraditórias e os relatos tanto indicam que os insurgentes dominam a vila, como afirmam que as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique continuam a disputar o controlo da vila. A Total terá suspenso os trabalhos em curso no complexo de gás e o seu pessoal, onde haveria cerca de cinquenta portugueses, foi retirado do local onde apenas terá ficado a segurança privada das instalações a cargo de uma empresa sul-africana de segurança.
O semanário Savana, que se publica na cidade de Maputo, destaca na sua última edição os acontecimentos de Palma e, tal como muitos observadores, aponta as principais responsabilidades à inacção das autoridades governamentais, ao presidente Filipe Nyusi e à Frelimo. Para quem conheceu tão bem aquela área que a natureza privilegiou com uma paisagem marítima lindíssima, são muito dolorosas as imagens que nos chegam de Palma e de Pemba que, por vezes, mostram locais que nos foram familiares.