sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Nem sempre há mau tempo no Canal

O canal do Faial separa as ilhas do Faial e do Pico e ficou celebrizado nas palavras de Vitorino Nemésio, o autor do romance Mau tempo no canal. Qualquer viajante que atravesse aquelas três milhas do canal, da ilha do Faial para a ilha do Pico ou da ilha do Pico para a ilha do Faial, nem sempre encontra o mar sereno, mas tem sempre uma paisagem marítima deslumbrante: de um lado a montanha do Pico e do outro lado a baía orlada de morros vulcânicos e a graciosidade da cidade da Horta, pequena e bela, com o seu casario branco descendo pela encosta até ao mar.
Recentemente, já próximo do crepúsculo vespertino, estava sentado no internacionalmente famoso Cella Bar - que já é um ex-libris da ilha do Pico - e tratei de fotografar o canal com o meu Samsung, com os ilhéus da Madalena em primeiro plano e com o Monte da Guia e o Monte Queimado em segundo plano. São três cones vulcânicos que, no seu conjunto, constituem um dos mais expressivos quadros da paisagem marítima açoriana. Não sei se é uma fotografia de artista, mas agrada-me e por isso a partilho com os meus leitores nesta Rua dos Navegantes.

Paris é Paris, mas Lisboa é Lisboa

O movimento dos coletes amarelos está a lançar crescentes preocupações, não só na França, mas um pouco também por toda a Europa, porque já ultrapassou a questão de partida que foi o aumento dos combustíveis e se centra agora na contestação ao modelo de sociedade em que vivem os franceses e os outros europeus. O recuo do Presidente Macron não foi suficiente para travar o protesto, talvez porque tivesse chegado tarde demais e quando o radicalismo já tinha tomado conta do movimento.
Hoje os jornais franceses revelam receios pelo que possa acontecer amanhã em Paris e nas outras cidades francesas, mas as imagens televisivas que nos chegam de outras cidades europeias, por exemplo na Espanha e na Grécia, mostram que a contestação "à francesa" já lá chegou. É um momento de grande preocupação para os europeus, porque acontece quando a instabilidade está a ameaçar todo o continente com o Brexit, com a tensão na Ucrânia e a saída de Angela Merkel, a derrota de Macron, as tensões migratórias e as derivas populistas de alguns países. A Europa parece estar a perder o seu rumo.
Aqui nesta periferia ocidental da Europa também algo de instável está a acontecer, embora pareça estar associado às eleições que se aproximam. Com a recuperação do poder de compra dos trabalhadores e a melhoria global da situação económica do país, era de esperar a paz social. Porém, os partidos políticos e os sindicatos têm apoiado inúmeras greves que, embora possam ser justas e defendam os trabalhadores, não são mais do que instrumentos de luta política. Muitas das greves em curso ocorrem em sectores privilegiados da sociedade, nomeadamente no sector público, onde os direitos e as garantias dos trabalhadores são mais protegidos do que em qualquer outro sector. Os portugueses, e em especial os contribuintes, não compreendem este surto grevista e há fundados receios de que as greves e algum radicalismo a elas associado, possam ter graves consequências para o país. Algumas já estão à vista. Ninguém quer ver aqui o que está a acontecer em Paris. Que cada qual assuma as suas responsabilidades.